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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 03, 2013

Grupo Abril usa o nome de Aloyzio Nunes

 
Hoje de manhã, a senhora Higes Andrés Manara, assessora de Relações Governamentais da Editora Abril esteve com assessores parlamentares de um senador da base governista, visando amaciar o projeto de Direito de Resposta apresentado pelo Senador Roberto Requião.
Na conversa, duas vezes ela falou que "nós vamos apresentar emendas". Na terceira vez, os assessores perguntaram "nós, quem?". E ela respondeu ser o Senador Aloyzio Nunes Ferreira.
Aloyzio deverá discursar daqui a pouco. Mas, antecipadamente, duvido que ele se disponha a ser porta-voz da Abril contra um projeto de lei que visa resguardar direitos individuais e que deveria se constituir em consenso entre os senadores, acima das divergências partidárias.
A Abril especializou-se em assassinatos de reputação, valendo-se de parceria com criminosos, como revelou a CPMI de Carlinhos Cachoeira. Mesmo com restrições às alianças políticas de Aloyzio, duvido que vá encampar essa tese.
Estou propenso a acreditar que seu nome foi mencionado em vão pela assessora.
Vamos conferir seu discurso. A ver!
Luis Nassif
* Amoral Nato

Índios no museu, só embalsamados 

 

Via Diario Liberdade

“O que não faltam são declarações oficiais reconhecendo que os índios formam o povo original das terras americanas. Mas isso não leva a qualquer respeito por suas terras e tradições. Os grandes empreendimentos capitalistas e os governos governados por eles só aceitam os indígenas como peça de antiguidade. Nos museus, sim, mas embalsamados.”
Sergio Domingues

Em 22/03, muita gente acompanhou ao vivo e em cores a violência com que foi tratado um grupo de indígenas na Aldeia Maracanã, na capital carioca.

O Batalhão de Choque invadiu o antigo Museu do Índio com a orientação de sempre: se o problema é povo revoltado, pode baixar a porrada.

As cenas são de uma covardia óbvia. Mas a grande imprensa teimou em culpar a intransigência dos índios pelo episódio vergonhoso. Só admitiu "ouvir o outro lado" quando seus profissionais também passaram a ser agredidos. Mesmo assim, timidamente.

O que aconteceu no Maracanã trouxe para o meio de uma cidade grande aquilo que acontece com muito mais frequência e silêncio nos sertões do País: o uso das forças de segurança para assegurar os negócios de empresários bilionários. E a cumplicidade das autoridades diante dos massacres cometidos por jagunços.

Os indígenas sofrem um racismo diferente. Os negros devem se comportar como brancos porque ficou estabelecido que não há discriminação de cor no País. Já os indígenas, precisam reafirmar sua condição o tempo todo. Devem parecer típicos, pitorescos, diferentes. Ficar longe da tecnologia e dos costumes de origem branco-europeia.

O que não faltam são declarações oficiais reconhecendo que os índios formam o povo original das terras americanas. Mas isso não leva a qualquer respeito por suas terras e tradições. Os grandes empreendimentos capitalistas e os governos governados por eles só aceitam os indígenas como peça de antiguidade. Nos museus, sim, mas embalsamados.
*GilsonSampaio

Marcha da Maconha distribui drogas no centro de São Paulo


O movimento Marcha da Maconha distribuiu drogas legalizadas como tabaco, álcool, açúcar e energético no centro de São Paulo nesta terça-feira 2 de abril. Eles protestavam contra o projeto de uma nova lei de drogas que está pronto para votação no plenário da Câmara dos Deputados. Segundo a polícia, cerca de 120 pessoas participaram da manifestação.

Durante a manifestação, no Viaduto do Chá, região central de São Paulo, os organizadores distribuíram bebidas alcoólicas, cigarros, chás e doces. Foto: Marcelo Camargo/ABr
Durante a manifestação, no Viaduto do Chá, região central de São Paulo, os organizadores distribuíram bebidas alcoólicas, cigarros, chás e doces. Foto: Marcelo Camargo/ABr

Cigarros, trouxas de açúcar, cachaça, chimarrão, conhaque e outros produtos foram colocados no viaduto do Chá. Lá, as pessoas poderiam pegá-los gratuitamente. Substâncias ilícitas não foram distribuídas no local.

A militante e jornalista Gabriela Moncau, de 23 anos, disse que a ideia era escancarar a “hipocrisia das políticas sobre drogas”, que, segundo ela, não é baseada em critérios de saúde ou de segurança pública. “A guerra as drogas define algumas que podem e outras que não podem ser consumidas. Esse critério não tem nada a ver com saúde, tem a ver como questões políticas e econômicas,” diz Moncau.

Moncau diz que o movimento adotou um formato irônico para gerar mais curiosidade sobre o assunto.  “No momento em que distribuímos álcool, queremos chamar a discussão que ele é uma das drogas mais prejudiciais e que mais causam malefícios. Atinge muito mais pessoas, por exemplo, que o crack. No entanto, ele é estimulado, naturalizado e tem até propaganda.”

“Projeto de lei é retrocesso”

O grupo organizador da Marcha da Maconha critica o projeto de lei do deputado Osmar Terra (PMDB-RS), que está pronto para ser votado no plenário da casa. Segundo o movimento, a proposta é um retrocesso, pois “mantém a falta de critérios para diferenciar usuário e traficante, dando margem a interpretações subjetivas e preconceituosas.”
Entre os pontos criticados do projeto está a criação de um Cadastro Nacional de Usuários da Droga. Para o movimento, isso aprofundaria o preconceito já sofrido pelos usuários.

O projeto também deve aumentar o número de encarcerados no país, já que estabelece penas maiores para quem portar substâncias com “alto poder de causar dependência”.
Outro ponto criticado na lei é o aumento do investimento em equipamentos privados e religiosos. Para os militantes “trata-se da privatização da saúde e de violação do estado laico”.
*Cappacete

DOIS TEXTOS IMPERDÍVEIS SOBRE NEOFASCISMO x FUNDAMENTALISMO

Maior teatrólogo brasileiro das últimas décadas, José Celso Martinez Correa tem também muito faro político, como o atesta o artigo Feliciano é a ponta de lança de um golpe de estado, que disponibilizou no seu blogue (vide aqui).

Meu único reparo é quanto a este trecho:
"Todos que trabalham com a arte ou mesmo com seres humanos e os que se sentem mortais, humanos, estão putos com esta situação na Comissão dos Direitos Humanos que anuncia coisa pior: o Congresso agora vai votar por uma proposta-lei dos evangélicos Fundamentalistas pra derrubar o Estado laico brasileiro".
Refere-se a uma proposta do deputado evangélico João Campos, no sentido de estender às organizações religiosas a prerrogativa de contestar a constitucionalidade de leis no Supremo Tribunal Federal. Atualmente, quem pode propor a chamada Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) são o presidente da República; as Mesas do Senado, Câmara e Assembleias Legislativas; os governadores; o procurador-geral da República; a OAB; os partidos com representação no Congresso; confederações sindicais e entidades de classe de âmbito nacional.

Evidentemente, entre tantos proponentes possíveis, os pastores ensandecidos sempre encontrarão algum disposto a assumir a paternidade de suas contestações à modernidade, em nome dos valores de dois milênios atrás.

Ou seja, mesmo que se abra esta porta para o passado brigar com o presente e o futuro (o projeto ainda tem de ser aprovado por duas comissões do Congresso e em duas votações no plenário), ruim mesmo seria o precedente, não o efeito concreto. Até porque tais bizarrias acabariam sendo inevitavelmente fulminadas pelo STF.

Quanto ao restante da catalinária do Zé Celso, aplaudo e subscrevo:
"A regressão aos estados fundamentalistas tem sido a causa de inúmeras guerras e de situações estupradoras monstruosas dos direitos humanos em todo Planeta Terra.
Precisamos todos nos movimentar urgentemente (...) para não sermos condenados a desumanidade das ditaduras das religiões fundamentalistas.
Este Infeliz Feliciano é a ponta de lança da ameaça de um golpe de estado tão nefasto quanto o de 1964.

Além dos artistas, nós todos, mortais humanos, que assim se aceitam e que não temos versão única da vida, da 'verdade', nem somos proprietários dela, que amamos a liberdade temos de criar juntos meios para que esta regressão nefasta de aprisionamento da vida aqui no Brasil não aconteça.

É trabalho não somente de artista, mas de todos os humanos que tem amor ao poder de nossa condição humana livre de tutela da boçalidade fundamentalista de uma verdade única".
O ESPAÇO PARA UMA AGREMIAÇÃO TRIPLAMENTE
CONSERVADORA NA POLÍTICA BRASILEIRA

Quanto ao filósofo Vladimir Safatle, cumpre admiravelmente sua missão de dimensionar este novo fenômeno: a emergência de um populismo de extrema-direita encabeçado pelos mercadores do templo e tendo como exército os milhões de coitadezas mesmerizados por sua lavagem cerebral.

Desde a última campanha eleitoral, quando a Igreja Universal quase catapultou Celso Russomanno para o 2º turno em São Paulo, venho alertando para tal perigo. Vide, p. ex., a advertência que lancei neste artigo:
"...os  pa$tore$ eletrônico$, que propagam e tornam cada vez mais rentável o culto ao bezerro de ouro, podem se tornar uma força política de primeira grandeza caso se apossem do governo e passem a gerir o orçamento da principal cidade brasileira.
Lembrem-se: Hitler só foi tão longe porque suas futuras vítimas o subestimaram. Começando pelos socialistas que, desatinadamente, atacaram a democracia alemã pela esquerda enquanto os nazistas o faziam pela direita.  

Contando com um exército de zumbis que atuarão como cabos e tarefeiros eleitorais gratuítos, até onde os exploradores da fé poderão chegar? O céu é o limite.

Mas, para a democracia brasileira, o quadro que se delineia é o de um inferno. Deus nos acuda!"
Recomendando a leitura na íntegra do artigo do Safatle, O primeiro embate (vide aqui), destaco os trechos principais:
"Os embates em torno da presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara talvez sejam o primeiro capítulo de um novo eixo na política brasileira.
A maneira aguerrida com que o deputado Marco Feliciano e seus correligionários ocupam espaço em uma comissão criada exatamente para nos defender de pessoas como eles mostra a importância que dão para a possibilidade de bloquear os debates a respeito da modernização dos costumes na sociedade brasileira. Pois, tal como seus congêneres norte-americanos, apoiados pelo mesmo círculo de igrejas pentecostais, eles apostam na transformação dos conflitos sobre costumes na pauta política central. Uma aposta assumida como missão.

Durante os últimos anos, o conservadorismo nacional organizou-se politicamente sob a égide do consórcio PSDB-DEM. Havia, no entanto, um problema de base. O eleitor tucano orgânico é alguém conservador na economia, conservador na política, mas que gosta de se ver como liberal nos costumes. Quando o consórcio tentou absorver a pauta do conservadorismo dos costumes (por meio das campanhas de José Serra), a quantidade de curtos-circuitos foi tão grande que o projeto foi abortado. Mesmo lideranças como FHC se mostraram desconfortáveis nesse cenário.

Porém ficava claro, desde então, que havia espaço para uma agremiação triplamente conservadora na política brasileira. Ela teria como alicerce os setores mais reacionários das igrejas, com suas bases populares, podendo se aliar aos interesses do agronegócio, contrariados pelo discurso ecológico das 'elites liberais'. Tal agremiação irá se formar, cedo ou tarde".
*naufragodautopia

"Fascismo cristão" ganha força nos EUA



 Dezenas de milhões de cidadãos estadunidenses, reunidos em um movimento difuso e rebelde conhecido como a direita cristã, começam a desmantelar o rigor científico e intelectual do Iluminismo.

Eles estão a criar um Estado teocrático, baseado na lei bíblica, e buscam aniquilar a todos aqueles que definem como inimigos. Esse movimento, que vai cada vez mais se aproximando ao fascismo tradicional, procura forçar um mundo recalcitrante à submissão ante uma América imperial. Ele defende a erradicação dos “desviantes sociais”, a começar pelos homossexuais, e avança sobre os imigrantes, os humanistas seculares, feministas, judeus, muçulmanos e aqueles que rejeitam como "cristãos nominais", como são denominados os fiéis que não aceitam a sua interpretação pervertida e herética da Bíblia. Os que se opõem a este movimento de massas são condenados por constituírem uma ameaça à saúde e higiene do país e da família. Todos devem ser expurgados.
Os seguidores das religiões desviantes, do judaísmo ao islamismo, deverão ser convertidos ou reprimidos. Os meios de comunicação desviantes, as escolas públicas desviantes, a desviante indústria do entretenimento, os desviantes governos e judiciários seculares e humanistas e as igrejas desviantes serão enquadradas, ou fechadas. Haverá uma promoção implacável de "valores cristãos", que já ocorre nas cadeias de rádios e televisões cristãs e nas escolas cristãs, com informações e fatos sendo substituídos por formas abertas de doutrinação. A marcha em direção a essa terrível distopia já começou. Isso está acontecendo nas ruas do Arizona, nos canais de notícias a cabo, nos comícios do Tea Party, nas escolas públicas texanas, entre membros de milícias e no interior de um Partido Republicano que está sendo açambarcado por estes lunáticos.Elizabeth Dilling, que escreveu "The Red Network" (A Rede Vermelha) e foi simpatizante do nazismo, é leitura recomendada por apresentadores de TV trash-talk como Glenn Beck. Thomas Jefferson, que favoreceu a separação entre igreja e estado, é ignorado nas escolas cristãs e em breve será ignorado nos livros das escolas públicas do Texas. A direita cristã passou a saudar a contribuição "significativa" da Confederação sulista [que reunia os estados separatistas durante a Guerra Civil]. O senador Joseph McCarthy, que comandou a caça às bruxas anticomunista na década de 1950, foi reabilitado, e o conflito entre Israel e a Palestina é definido como parte da luta mundial contra o terror islâmico. Leis semelhantes às recém-aprovadas Jim Crow [conjunto de leis que definiam a segregação racial nos EUA] do Arizona estão em discussão em 17 outros estados do país.

A ascensão do fascismo cristão, que temos ignorado por nossa conta e risco, é alimentada por uma classe dirigente liberal[1] ineficaz e falida, que tem se mostrado incapaz de reverter o desemprego crescente, proteger-nos dos especuladores da Wall Street, ou salvar a nossa desafortunada classe trabalhadora das retomadas de casas hipotecadas, da falência pessoal e da miséria. A classe dirigente revelou-se inútil na luta contra o maior desastre ambiental da nossa história, incapaz de encerrar caras e inúteis guerras imperiais ou de parar a pilhagem do país por suas empresas. A covardia dessa classe dirigente e os valores que ela representa acabaram por se tornar injuriados e odiados.

Os democratas se recusaram a revogar as graves violações ao direito internacional e nacional transformadas em lei pela administração Bush. Isto significa que, quando o fascismo cristão ascender ao poder, terá à disposição as ferramentas legais para espionar, capturar, negar habeas corpus e torturar ou assassinar cidadãos estadunidenses, como faz o governo Obama.

As pessoas que vivem no mundo real muitas vezes imaginam que essa massa de descontentes é constituída por bufões e imbecis. Eles não levam a sério aqueles que, como Beck, cultivam seus desejos primitivos de vingança, nova glória e de renovação moral. Os críticos do movimento continuam a empregar as ferramentas da razão, da pesquisa e dos fatos para contestar os absurdos propagados pelos criacionistas, que crêem que boiarão pelados no céu quando Jesus retornar à Terra. O pensamento mágico, a interpretação flagrantemente distorcida da Bíblia, as contradições abundantes em seu conjunto de crenças e a pseudociência ridícula são, no entanto, impermeáveis à razão. Não podemos convencer aqueles que se engajam nesse movimento a despertar. Nós é que estamos a dormir.

Aqueles que abraçam este movimento veem a vida como uma batalha épica contra as forças do mal e do satanismo. O mundo é em preto-e-branco. Eles precisam ver-se, mesmo que imaginariamente, como vítimas cercadas por bandos sombrios e sinistros empenhados na sua destruição. Eles precisam crer que conhecem a vontade de Deus e podem cumpri-la, principalmente através da violência. Eles precisam santificar sua raiva, uma raiva que está no cerne da ideologia. Eles buscam a dominação cultural e política total. Eles estão usando o espaço que a sociedade lhes oferece para destruí-la. Estes movimentos trabalham dentro das regras estritas do Estado secular porque não têm escolha. A intolerância que promovem é suavizada em público por seus operadores mais sagazes. Uma vez que reúnam energia suficiente, e eles estão a trabalhar duramente para obtê-la, tal cooperação desaparecerá. Em seus templos, fica evidente a ideia de construção de uma nação cristã baseada em controle total sobre os indivíduos e na recusa a permitir que qualquer dissidência se manifeste explicitamente. Estes pastores criaram, dentro de suas igrejas, pequenos feudos despóticos, e buscam replicar essas pequenas tiranias em uma escala maior.

Muitas dessas dezenas de milhões de pessoas que hoje se encontram na direita cristã vivem no limite da pobreza. A Bíblia, interpretada por pastores cuja conexão direta com Deus os coloca à prova de questionamentos, é o seu manual para a vida diária. A rigidez e simplicidade de suas crenças são armas potentes na luta contra seus próprios demônios e no combate diário pela sobrevivência. O mundo real, no qual Satanás, os milagres, o destino, os anjos e a magia não existem, golpeia-os como a troncos de árvore em um rio. Leva seus empregos e destroi o seu futuro. Este mundo apodreceu as suas comunidades e inundou as suas vidas com álcool, drogas, violência física, privação e desespero. E então eles descobriram que Deus tem um plano para eles. Deus vai salvá-los. Deus intervirá em suas vidas para promovê-los e protegê-los. A distância emocional que separa o mundo real do mundo da fantasia cristã é imensa. E as forças seculares e racionais, aquelas que falam a língua dos fatos e dados, são odiadas e temidas, em última instância, porque puxam os fiéis de volta para a “cultura da morte” que quase os destruiu.

Há contradições selvagens neste sistema de crenças. A independência pessoal é exaltada ao lado de uma subserviência abjeta aos líderes que afirmam falar por Deus. O movimento diz que defende a santidade de vida e defende a pena de morte, o militarismo, a “guerra justa” e o genocídio. Ele fala de amor e promove o medo da condenação e o ódio. Há uma dissonância cognitiva aterrorizante em cada palavra que proferem.

O movimento é, para muitos, um salva-vidas emocional. É tudo o que os une. Mas a ideologia, que rege e ordena suas vidas, é impiedosa. Aqueles que dela se desviam, como "apóstatas" que deixam as organizações da igreja, são marcados como heréticos e submetidos a pequenas inquisições, que surgem como conseqüência natural de movimentos messiânicos. Se o fascismo cristão vier a conquistar os poderes republicanos, as pequenas inquisições pouco a pouco se tornarão grandes.

O culto da masculinidade permeia o movimento. Os crentes são levados a pensar que o feminismo e homossexualidade tornaram o homem estadunidense física e espiritualmente impotente. Jesus, para a direita cristã, é um vigoroso homem de ação, que expulsa demônios, luta contra o Anticristo, ataca hipócritas e castiga os corruptos. Este culto da masculinidade, com sua glorificação da violência, é profundamente atraente para aqueles que se sentem impotentes e humilhados. Ele transmite a raiva que levou muitas pessoas para os braços do movimento. Ele os incita a chicotear aqueles que, dizem, procuram destruí-los. A paranóia sobre o mundo exterior é alimentada através de bizarras teorias da conspiração, muitas delas defendidas em livros como o de Pat Robertson, “The New World Order", uma tirada xenófoba que inclui ataques contra os liberais e as instituições democráticas.

A obsessão com a violência permeia os romances populares como o escrito por Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins. Em seu apocalíptico “Glorious Appearing” (Glorioso Aparecimento) , baseado na interpretação própria de LaHaye das profecias bíblicas sobre o Segundo Advento, Cristo volta e estripa a carne de milhões de não-crentes com o som de sua voz. Há descrições longas de horror e sangue, de como “as palavras do Senhor haviam superaquecido seu sangue, fazendo com que estourassem suas veias e pele. Olhos se desintegraram. Línguas derreteram. A carne se dissolveu.” A série Left Behind (Deixados para Trás), à qual pertence este romance, é a mais vendida para adultos no país.

A violência deve ser usada para purificar o mundo. Os fascistas cristãos são chamados a um permanente estado de guerra. “Qualquer ensinamento de paz antes do retorno [de Cristo] é uma heresia...” diz o televangelista James Robinson.

Os desastres naturais, ataques terroristas, a instabilidade em Israel e até mesmo as guerras no Iraque e no Afeganistão são vistos como indícios gloriosos. Os fiéis insistem que a guerra no Iraque está prevista no nono capítulo do Apocalipse, onde quatro anjos “que estão presos no grande rio Eufrates serão libertados, para matar a terça parte dos homens.” A marcha é inevitável e irreversível e exige que todos estejam prontos para lutar, matar e talvez morrer. A guerra mundial, até mesmo nuclear, não é para ser temida, mas sim celebrada como precursora do Segundo Advento. À frente dos exércitos vingadores virá um bravo e violento Messias que condenará centenas de milhões de apóstatas a uma morte terrível e horripilante.

A direita cristã, enquanto abraça o primitivismo, procura legitimar suas mitologias absurdas nos marcos do direito e da ciência. Seus membros o fazem, a despeito de suas idéias retrógradas, porque se constituem em movimento totalitário distintamente moderno. Eles tratam de cooptar os pilares do Iluminismo, a fim de aboli-lo. O criacionismo, ou o “projeto inteligente”, assim como a eugenia para os nazistas ou a “ciência” soviética de Stalin, deve ser introduzido no mainstream como uma disciplina científica válida – daí, portanto, a reescrita dos livros didáticos. A direita cristã defende-se no jargão jurídico-científico da modernidade. Fatos e opiniões, a partir do momento em que são utilizados “cientificamente” para apoiar o irracional, tornam-se intercambiáveis. A realidade não é mais baseada na coleta de fatos e provas, e sim, baseada em ideologia. Fatos são alterados. Mentiras se tornam verdades. Hannah Arendt chamou a isso “relativismo niilista”, embora uma definição mais adequada pudesse ser “insanidade coletiva”.

A direita cristã tem, assim, o seu próprio corpo de “cientistas” criacionistas que usam a linguagem da ciência para promover a anticiência. Ela lutou, com sucesso, para ter seus livros criacionistas vendidos em livrarias como a do parque nacional do Grand Canyon e ensinados nas escolas públicas de estados como Texas, Louisiana e Arkansas. O criacionismo molda a visão de centenas de milhares de estudantes nas escolas e faculdades cristãs. Esta pseudociência alega ter provado que todas as espécies animais, ou pelo menos seus progenitores, couberam na arca de Noé. Contesta as pesquisas sobre a AIDS e a prevenção da gravidez. Ela corrompe e desacredita as disciplinas de biologia, astronomia, geologia, paleontologia e física.

No momento em que os criacionistas podem argumentar em pé de igualdade com geólogos, afirmando que o Grand Canyon não foi criado há 6.000.000.000 de anos, e sim há 6.000 pela grande enchente que ergueu a arca de Noé, estamos perdidos. A aceitação da mitologia como uma alternativa legítima à realidade é um duro golpe para o Estado racional e secular. A destruição dos sistemas de crença racional e empiricamente fundamentados é essencial para a criação de todas as ideologias totalitárias. A certeza, para aqueles que não podem lidar com as incertezas da vida, é um dos apelos mais poderosos do movimento. A desapaixonada curiosidade intelectual, com suas correções constantes e sua eterna procura de provas, é uma ameaça às certezas. Por isso, a incerteza deve ser abolida.

“O que convence as massas não são fatos”, Arendt escreveu nas “Origens do Totalitarismo”, “nem sequer a invenção dos mesmos, mas apenas a coerência do sistema de que presumivelmente fazem parte. A repetição, com sua importância um pouco exagerada devido à crença difundida na capacidade inferior das massas de compreender e lembrar, é importante porque as convence de que há uma consistência ao longo do tempo”.

Santo Agostinho definiu a graça do amor como Volo ut sis – Desejo que sejas. Há – escreveu – uma afirmação do mistério do outro nas relações baseadas no amor, uma afirmação de diferenças inexplicáveis e insondáveis. As relações baseadas no amor reconhecem que os outros têm o direito à existência. Essas relações aceitam a sacralidade da diferença. Esta aceitação significa que nenhum indivíduo ou sistema de crenças apreende ou defende uma verdade absoluta. Todos se esforçam, cada um à sua maneira, uns fora dos sistemas religiosos e outros dentro deles, para interpretar o mistério e a transcendência.

A sacralidade do outro é um anátema para os cristãos de direita, que não reconhecem a legitimidade de outras formas de ser e de pensar. Caso se reconheça que outros sistemas de crenças, inclusive o ateísmo, têm uma validade moral, a infalibilidade da doutrina do movimento, que constitui o seu principal apelo, é destruída. Não pode haver formas alternativas de pensar ou de ser. Todas as alternativas devem ser esmagadas.

Debates teológicos, ideológicos e políticos são inúteis com a direita cristã. Ela não responde a um diálogo. É impermeável ao pensamento racional e à discussão. As tentativas ingênuas de aplacar um movimento voltado à nossa destruição, através de provas de que nós, também, temos "valores", só reforça a sua legitimidade e a nossa própria fraqueza. Se não temos o direito de ser, se nossa existência não é legítima aos olhos de Deus, não pode haver diálogo. A esta altura, trata-se de uma luta pela sobrevivência.

As pessoas arregimentadas para o fascismo cristão lutam desesperadamente para sobreviver em um ambiente cada vez mais hostil aos seus olhos. Nós falhamos e estamos em dívida para com eles e não o contrário: esta é sua resposta. As perdas financeiras, o enfrentamento da violência doméstica e sexual, a luta contra os vícios, a pobreza e o desespero que muitas delas têm de suportar são trágicas, dolorosas e reais. Elas têm direito à sua raiva e alienação. Mas elas também estão sendo usadas e manipuladas por forças que buscam desmantelar o que resta da nossa democracia e eliminar o pluralismo que um dia foi um marco da nossa sociedade.

A faísca que poderá atear as chamas deste movimento pode estar adormecida nas mãos de uma pequena célula terrorista islâmica. Pode estar nas mãos de gananciosos especuladores de Wall Street que jogam com dinheiro do contribuinte no elaborado sistema global do capitalismo de cassino. O próximo ataque catastrófico, ou o colapso econômico seguinte, podem ser o nosso incêndio do Reichstag[2]. Pode vir a ser a desculpa empregada por essas forças totalitárias, este fascismo cristão, para extinguir o que resta da nossa sociedade aberta.

Não nos deixemos ficar humildemente aos portões da cidade, esperando que os bárbaros apareçam. Eles já estão chegando. Eles estão indo tranquilamente para sua Belém. Deitemos fora nossa complacência e nosso cinismo. Desafiemos abertamente o establishment liberal, que não irá nos salvar, para exigir e lutar por reparações econômicas para a nossa classe trabalhadora. Vamos reintegrar esses despossuídos em nossa economia. Vamos dar-lhes uma esperança real para o futuro. O tempo está se esgotando. Se não agirmos, os fascistas estadunidenses, empunhando cruzes cristãs, agitando bandeiras nacionais e orquestrando corais do Juramento à Bandeira[3], usarão essa raiva para nos destruir a todos.

Chris Hedges é formado na escola teológica de Harvard e foi, por quase vinte anos, correspondente estrangeiro para o New York Times. É autor de vários livros, entre estes War Is A Force That Gives Us Meaning, What Every Person Should Know About War, e American Fascists: The Christian Right and the War on America. Seu livro mais recente é Empire of Illusion: The End of Literacy and the Triumph of Spectacle.

Notas:

[1] Nos EUA, o termo “liberal” corresponde à definição dada, aqui, a “social-democrata”.
[2] Episódio que precipitou a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha.
[3] Em inglês, Pledge of Allegiance. Trata-se da cerimônia de juramento de fidelidade ao país e à bandeira dos EUA.

Regulamentação da mídia: o PT quer, a Dilma quer. Quando na política real a vontade política não basta


por Paulo Jonas de Lima Piva


Não é fácil governar. Criticar quem governa, por ouro lado, é muito, mas muito fácil. A esquerda sabe disso. Criticar é seu oficio. Aliás, qualquer um é capaz de criticar. Uns com mais inteligência, outros com menos. E nem sempre quem critica com mais inteligência é o mais lúcido e sensato em suas críticas. Qualquer um tem solução para todos os problemas políticos, econômicos e sociais. Acham que vencer uma eleição, chegar a um prefeitura ou a uma presidência da república é sinônimo de adquirir poderes absolutos. É prefeito, pode tudo. Se não faz é porque não quer. Simples assim.
Muitos partidos que se dizem de esquerda, mesmo na prática funcionando como cabos eleitorais da pior direita, nunca foram governo de fato, nunca pegaram um rojão de um executivo na mão. Por isso deliram como deliram, esbravejavam como esbravejam, arrogam como arrogam, teorizam como teorizam, pois o compromisso desses partidos não é com o real e com o simulacro, mas sim com o conceito, com o ideal, com a teoria, a fábula da utopia, enfim, com o paradigma .

Nossa visão de poder e de política é muito livresca, muito idealista, muito teórica, muito classe média universitária, muito alienada, a priori e moralista. Há um intelectualismo deslumbrado, embevecido e neopetencostal, que se crê onipotente, que se diz "dialético"(?!), mas que só sabe negar, dizer que tudo está uma bosta, que nada avançou, e fugir por meio de uma lógica formal para o mundo confortável das teorias e dos discursos de teletubies. Por isso acaba no sectarismo, como piada.

O PT quer sim a regulamentação da mídia. A militante de esquerda Dilma quer isso mais do que ninguém. Ninguém sofre mais com o jogo sujo do oligopólio das comunicações do que o seu governo. A democratização da mídia por meio da sua regulamentação é uma necessidade explícita, porém, para satisfazê-la, é preciso força política, muita força política, não só para enfrentar os setores poderosos que não a querem, mas para vencê-los. O fato é que, apesar de toda vontade política do PT e da presidenta, a regulamentação da mídia como projeto aprovado no Congresso é uma briga que o governo Dilma não tem munição para encarar. A bancada dos meios de comunicação é enorme, dá sustentação ao governo e brigar com ela pode representar uma crise na base governista, pois o que não falta é disposição dessa máfia para fazer dos seus noticiários campos de linchamento contra o PT e o governo federal caso seus interesses sejam feridos.

A Carta Capital e a blogosfera de esquerda estão fazendo o seu papel de pressionar o governo e o ministro Paulo Bernardo para declarar guerra à máfia midiática brasileira. Acontece que se o PT e  a esquerda tivessem uma bancada forte no Congresso, ou se as grandes massas organizadas das quais tanto fala a extrema esquerda estivessem lotando as ruas, a regulamentação, a essa altura, já estaria aprovada. Infelizmente, essa realidade ainda não existe. Confrontar, declarar guerra sem ter a capacidade de ganhá-la, é fanfarronice suicida. Em outras palavras, na política real, na política que acontece fora dos livros encantados e encantadores da Boitempo, não basta vontade política.

"Em nome da decência, exigimos uma retratação e um pedido de desculpas do Governo do Estado de SP" 

exige-se uma retratação 

Marcelo Rubens Paiva


Nesta semana, na cerimônia de entrega de parte dos arquivos do DOPS-SP digitalizados, o governador do Estado, Geraldo Alckmin, apareceu com o novo secretário particular, o advogado Ricardo Salles, que já disse coisas como “felizmente tivemos uma ditadura de direita no Brasil”.
Ele já concorreu duas vezes, a deputado federal e estadual, pelo PFL e depois pelo DEM, mas não conseguiu se eleger.
Minha colega do ESTADÃO, Júlia Duailibi, lembrou ontem no jornal: Salles é fundador do radical Instituto Endireita Brasil, que, na rede social, entre outras pérolas, como criticar o casamento gay e a Comissão da Verdade, já publicou que Dilma é uma terrorista. Segundo o analista Glauco Cortez: “Salles cuidará de toda a agenda do governador do estado mais rico do País. Aparentemente uma função burocrática, mas o fato é que, com essa nomeação, o político tucano instala, dentro do Palácio dos Bandeirantes, um movimento que exala obscurantismo.”
Mas a declaração mais chocando embrulha o estômago de muitas famílias vítimas da Ditadura, como a minha.
Segundo o assessor do governador de SP: “Não vamos ver generais e coronéis acima dos 80 anos presos por crimes de 64, se é que esses crimes ocorreram.”
Sim, crimes ocorreram.
Nem precisamos citar a extensa biografia à respeito, nem os testemunhos colhidos há décadas, no projeto TORTURA NUNCA MAIS, da Igreja Católica. Nem depoimentos de gente das fileiras do partido do governador, como FHC e José Serra, que foram exilados pela ditadura, ou da liderança e base tucana que foi torturada.
Sou testemunha viva. Eu e minhas irmãs. Vimos nossa casa no Rio de Janeiro ser invadida por militares armados com metralhadoras em 20 de janeiro de 1971.
Vimos meu pai, minha mãe e irmã Eliana serem levados.
Minha mãe ficou 13 dias presas no DOI/Codi, sem que o Exército reconheça ou tenha feito qualquer acusação.
Meu pai entrou no quartel do II Exército e não saiu vivo de lá. Também não sabemos o motivo da prisão, a acusação. Não entendemos as negativas posteriores de que estivesse preso.
Abaixo, documentos que provam que, sim, crimes ocorreram.
Em nome da decência, exigimos uma retratação do secretário e um pedido de desculpas do Governo do Estado.
Que está onde está graças aos que lutaram e derramaram vida pela redemocratização do País.

DOCUMENTO DE ENTREGA À MINHA TIA RENNÉ PAIVA DO CARRO QUE MEU PAI DIRIGIU ESCOLTADO ATÉ A PRISÃO


DOCUMENTO DA ENTRADA DELE NO DOI, DESCOBERTO RECENTEMENTE EM ARQUIVO DO EX-CHEFE, CORONEL REFORMADO JOSÉ MIGUEL MOLINA


ATESTADO DE ÓBITO DE 1996, 25 ANOS DEPOIS DO DESAPARECIMENTO, POSSÍVEL GRAÇAS À LEI DE RECONHECIMENTO DOS DESAPARECIDOS POLÍTICOS, ENVIADA PELO PRESIDENTE FHC AO CONGRESSO

*Mariadapenhaneles

O MUNDO DAS REDES SOCIAIS AJUDOU A CRIAR A ERA DAS IMAGENS EM QUE VALE MAIS REGISTRAR PARA MOSTRAR DO QUE VIVER

A fotografia não existe mais para lembrar, mas para esquecer
A fotografia não existe mais para lembrar, mas para esquecer
Mallarmé, o mais lógico dos estetas do século XIX, disse que tudo no mundo existe para terminar num livro. Hoje, tudo existe para terminar numa foto.” (Susan Sontag. “Sobre fotografia”)
Da Carta Capital
Clicar, em vez de viver, tornou-se norma Por Marsílea Gombata
Em meio ao burburinho da sala onde fica o quadro Mona Lisa, no Museu do Louvre, em Paris, o fotógrafo Fabio Seixo percebeu algo não exatamente errado, mas exagerado. Os visitantes se espremiam para disparar os flashs da máquina e ter a foto de uma das imagens mais intrigantes e conhecidas do mundo. A guerra para fotografar a musa enigmática imortalizada por Leonardo da Vinci revelava, ali, algo maior: a necessidade de se vivenciar, por meio da foto, a experiência do presente.
“É uma imagem tão icônica quanto aquela de Che Guevara (feita por Alberto Korda em 1960). Pensei: ‘Nossa, que loucura. Será que as pessoas não conhecem a Mona Lisa?’ Então tive um estalo e vi que elas, na verdade, viajam muito mais para marcar território e dizer que estiveram lá do que para curtir a viagem”, reflete.
A experiência em 2005 fez germinar uma semente batizada de Photoland. O projeto, que tem pretensão de virar livro depois de ter ganho exposições no Rio de Janeiro e espaço no festival Paraty em Foco, busca refletir de que modo o ato de fotografar se tornou mais importante do que a vivência e como, em uma espécie de compulsão, ganha fôlego no fértil terreno da tecnologia digital. “Quando você está na Torre Eiffel, se fotografa ali e posta essa imagem, está afirmando sua presença nesse lugar, dizendo que esteve lá”, fala o autor sobre o que considera uma experiência narcisista. “A câmera é um anteparo entre você e as coisas. Então, quando se fotografa, deixa-se de viver o presente para vivenciar a experiência de estar fotografando.”
Foi a possibilidade de mergulhar no universo da escrita com luz que lhe permitiu a reflexão sobre essa dinâmica. O fotógrafo nascido no Rio de Janeiro tem contato com o ofício desde a infância, quando frequentava a redação da extinta Iris Foto, revista histórica com auge nos anos 1970 e 1980, cuja editora era da família de sua tia. Ao concluir a faculdade de jornalismo, não teve dúvida sobre qual caminho seguir e foi trabalhar como fotógrafo de jornal diário. A experiência durou cinco anos. Em 2004, tornou-se autônomo.
Ao refletir sobre a experiência do mundo da fotografia digital atrelada ao narcisismo, existe a intenção de transformar o ato de fotografar em paisagem. A fotografia passa a fazer o papel da natureza, instaurando-se como realidade física. Seixo observa que a intenção de debater os fotógrafos amadores em ação como se fossem paisagem vem da própria imagem autobiográfica. Até que ponto o autor da foto faz parte da cena? “Nesse ato, acabamos perdendo a paisagem. É como se ela não tivesse importância e nós nos tornássemos a própria.”
Na fotografia da fotografia, os cartões-postais não são a Torre Eiffel, o Coliseu, o Empire State Building ou o Buckingham Palace. São, no lugar, quem ali esteve na busca por um arquivo fotográfico cada vez mais amplo. Os traços sobre a necessidade de ser visto são propositais na obra. “O projeto esbarra na questão da visibilidade. Não basta ser um bom médico, um bom professor ou um bom jornalista se você não estiver referendado pelos dispositivos de visibilidade, como mídia e redes sociais”, analisa. “Isso, paradoxalmente, denota o quanto estamos nos tornando uma fotografia de nós mesmos. Não sabemos mais quando estamos posando ou sendo natural. É como se estivéssemos o tempo todo representando um personagem”. (Texto completo)
*Educação Política:

terça-feira, abril 02, 2013

Abaixo-assinado contra a redução de cotas para pessoas com deficiência; Participe e divulgue!

Abaixo-assinado contra a redução de cotas para pessoas com deficiência; Participe e divulgue!

O Projeto de Lei 112/2006 de autoria do Senador José Sarney, com relatoria do Senador Romero Jucá (PMDB), que poderá desempregar milhares de pessoas com deficiência já contratadas pela Lei de Cotas e reduzirá drasticamente o potencial das vagas reservadas, caso seja aprovado vai reduzir as cotas para deficientes.
Entre as alterações está a redução do limite da cota para 3%. Na região de Osasco, isso significaria o desemprego de cerca de 300 pessoas com deficiências hoje incluídas pelas cotas nas metalúrgicas de 12 municípios. Justo num setor onde a inclusão chega a 82,4%.
O Senador José Sarney, com o Projeto de Lei nº 112/2006, reduz o número de contratações de pessoas com deficiência nas empresas, dos atuais 5% para 3%, e confina milhares de pessoas com deficiência nas oficinas de trabalhos manuais e artesanato; ainda terceiriza a mão-de-obra de pessoas com deficiência como forma de cumprir a Lei de Cotas 8.213/91, existente há mais de 20 anos.
O Senador Benedito de Lira, com o Projeto de Lei nº 234/2012, propõe desviar para o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) a verba destinada para a contratação de pessoas com deficiência pelas empresas.
O relator, Senador Romero Jucá, propõe a redução do número de contratações de 5% para 0,5%.
Estes projetos contrapõem às leis atuais que já beneficiam 45 milhões de pessoas com deficiência, remetendo –as novamente à exclusão social e profissional! (Fonte Deficiente Online)
Não permita o retrocesso e o desamparo legalizado para uma população que sempre foi excluída!
Se esses Projetos forem aprovados e virarem leis, NUNCA MAIS as pessoas com deficiência terão direito ao trabalho e ao convívio com a sociedade. E aqueles que hoje já trabalham serão demitidos.
Veja como participar do abaixo-assinado: http://www.peticaopublica.com.br/?pi=PL112