A arte de ensinar sem autoridade
Por Guilherme Wagner (1)
Os problemas mais comuns em uma sala de aula na escola moderna podem
ser resumidos em muita autoridade ou pouca autoridade. Existe dentro
da classe do magistério a concepção de que o professor bom é
aquele que tem o que se chama de “domínio de turma”. Como se
estudantes fossem seres selvagens que precisariam ser domados,
moralmente confeccionados e socialmente inclusos em um grupo, não
obstante se criam os grupos escolares de inteligentes, espertos,
bagunceiros, vagabundos... Tais grupos são exportados para a
sociedade em que vivem e fomentadas expectativas sob tais jovens. Uma
escola que produz diferenciações é uma escola que exclui, seja por
vontade própria ou não. Não vou me ater as questões escolares
gerais nesse artigo, irei me atrelar mais ao convívio de classe de
aula.
Na escola moderna existe uma relação de poder conservadora mantida
e propagada há séculos: o professor é a autoridade máxima de uma
sala de aula. O que é o professor para ser uma autoridade? Quais as
causas dessa necessidade? E se ela não existisse?
O professor enquanto pessoa é um ser que construiu sua consciência
materialmente como qualquer ser humano, concebeu sua cultura
influenciado diretamente por sua realidade política e econômica,
realidade essa mantida e propagada materialmente. Isto é, o
professor é um resultado material da realidade passada e presente, e
fomentador de uma realidade futura, essas relações são questões
sociais, indiferentes a vontade do mesmo. Então o professor não
é nada e ao mesmo tempo é tudo para ser uma autoridade, ou
seja, não há nada no professor em questão que faça com que ele
seja ou não uma autoridade, pois a autoridade é um resultado social
e não individual.
A autoridade socialmente falando é resultado direto da luta de
classes, em que os explorados conflituam em batalhas sociais com seus
exploradores em um local instituído chamado Estado. O Estado é o
conjunto de instituições existentes que determinam e mantém a
dominação de uma classe sobre outra, assim a Escola como uma
instituição do Estado (particular e pública!) reflete essa
dominação mantida sob formas de autoridade, de controle e persuasão
moral. Logo a existência de uma autoridade em sala de aula é
diretamente ligada a existência de privilegiados e explorados na
sociedade, no entanto, engana-se quem crê somente nisso (a escola
também produz explorados e exploradores...). Assim, a causa dessa
necessidade autoritária, muitas vezes justificada pela urgência em
ter silêncio, respeito, ensino-aprendizagem em uma sala, é na
verdade resultado direto da sociedade conflitante.
Mas o eixo fundamental: é possível ensinar sem autoridade? Com toda
a certeza! Por isso vou colocar algumas práticas interessantes para
professores irem educando sem autoridade, seguir elas não fará de
você um grande professor ou coisa do tipo, se buscas reconhecimento
moral na sua profissão, o professor na sociedade capitalista é uma
escolha errada.
Logo na primeira aula coloque sua didática em dúvida, questione-se
e tenha a questionada, só há uma forma dela ser questionada,
abrindo-se para tal. De primeiro assunto, “como vamos organizar
a nossa sala de aula durante nos nossos estudos?”
Coloque sugestões suas, e vá pedindo opiniões de outras, dar esse
poder ao estudante de decidir uma questão tão tradicional promove
confiança, e confiança é a palavra-chave para respeito, educação
e construção. Trabalhando questões assim estás construindo o seu
ambiente de estudos com os estudantes, as primeiras aulas são a
construção desse ambiente, e delas dependem todo o processo
educativo, as próximas são a aplicações dessa construção.
Experiências próprias:
- Estudantes preferem classes organizadas em circunferências, o
contato visual de todos com todos é um semblante de igualdade.
- Na área de matemática evite ficar muito no quadro, isso promove
uma relação de dependência sua com ele e dos estudantes com esse
sistema, procure diversificar e pedir opiniões sobre aplicação do
assunto. (A questão não é você preparar a aula, são todos da
sala construir a aula).
- Faça dinâmicas e debates, sempre participe delas honestamente:
professor não é ser sagrado que precisa ser idolatrado e
resguardado.
- Procure aplicações do assunto na realidade social do estudante,
isso requer um convívio e entrosamento com o estudante, e o
primordial confiança. (Estudante é gente e não número!)
Mas então surgem questões como: “Tenho 60 horas/aula dadas, como
vou trabalhar com isso?” Refaço a pergunta, participas das greves?
Mas não se resume a isso, infelizmente a carreira do professor vem
sendo muito desgastada e por isso muitos métodos que seriam
excelentes tornam-se improdutivos. Ensinar sem autoridade faz com que
você construa as aulas e não as prepare, a obrigação de ensinar
não é somente sua, mas de todos. Existirá uma corrente de
responsabilidades, aplicações e habilidades desenvolvidas por
todos. Cheque-se de poder confiar nos estudantes e de promover a
confiança entre eles.
Recomendo o filme que fala sobre a Escola da Ponte, ela reflete em
alguns momentos essa “construção da aula”. Lembrando que esse é
um método alternativo para uma escola moderna inserida em uma
contexto conflitante de classes.
(1)Estuda Licenciatura em Matemática pela UFSC, colaborador do Memorial dos Direitos Humanos/UFSC (GE Mário Pedrosa e Ditadura Civil-Militar), pesquisa na área de Educação, História e Política
(1)Estuda Licenciatura em Matemática pela UFSC, colaborador do Memorial dos Direitos Humanos/UFSC (GE Mário Pedrosa e Ditadura Civil-Militar), pesquisa na área de Educação, História e Política
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