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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, setembro 06, 2014

Otan, o braço armado dos EUA

Editorial do site Vermelho:



A cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) reuniu os principais líderes políticos dos países membros e serviu para mostrar mais uma vez a atitude belicista que as potências imperialistas têm em relação ao resto do mundo. No encontro, ocorrido no País de Gales e encerrado na sexta-feira (5), a organização subiu o tom em relação à Rússia e contribuiu, mais uma vez, para desestabilizar relações regionais.

O ponto mais grave desta cúpula foi o anúncio da formação de uma força militar, composta por entre quatro e cinco mil soldados, preparados para se mobilizar em um período de 48 horas diante da “necessidade” de alguma intervenção. Some-se a isso a pretensão de intensificar a presença da Otan nos países bálticos e as declarações do presidente dos EUA,Barack Obama, que na quarta-feira (3) confirmou um acordo de colaboração militar com a Estônia. É mais um fator de tensão nas fronteiras da Rússia.

Tensão desnecessária, que se agrega à já existente, decorrente do conflito com a Ucrânia, e não contribui para a pacificação nesse país. A proposta da Otan foi divulgada exatamente no mesmo dia em que as autoridades de Kiev e os representantes dos insurretos do leste ucraniano assinaram uma trégua. O anúncio da maior presença da Otan na região serve somente, neste caso, para causar desconfiança em um processo de paz que já não é fácil.

Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, já alertou os EUA e seus aliados sobre a presença militar nas proximidades das fronteiras russas. Tal atitude da Aliança Atlântica novamente deixa os ânimos exaltados. Em meados de 1997, a Otan firmou um acordo com o governo de Moscou, comprometendo-se a não instalar bases militares na vizinhança russa. A quebra de tal acordo é mais uma prova de que o único compromisso desta organização é com os seus próprios interesses, mais uma prova de que não é digna de confiança no que tange à paz.

A tentativa de integrar a Ucrânia à Aliança Atlântica é provocativa e perigosa e gera discordância entre os próprios membros. Alemanha e França estão reticentes em relação a esta decisão. Temem que a presença ucraniana na organização contribua ainda mais paraintensificar a tensão na região.

Esta postura da organização usa como pretexto a suposta presença militar da Rússia no território ucraniano. Os Estados Unidos e a União Europeia acusas o governo de Moscou de interferir nos assuntos internos de Kiev. Obama e seu “quase compatriota”, o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, foram na reunião da Otan os mais efusivos na acusação que a Rússia nega. Na verdade, o apoio dos EUA e seus aliados à Ucrânia, as diversas sanções impostas à Rússia e a intenção de movimentar tropas da Otan é que configuram uma intervenção das potências ocidentais nos assuntos internos russos.

Os exercícios militares Saber Junction (Espadas Cruzadas), concebidos inicialmente como apenas norte-americanos, e agendados para acontecer no mês de setembro em países como Alemanha, Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia, acaso são coisas válidas e aceitáveis? E o que dizer dos exercícios militares programados para acontecer em Lemberg, na Ucrânia, também no mês de setembro, coordenados pelas forças militares dos EUA?

Se agregarmos a estes fatos que a crise ucraniana foi desencadeada a partir de uma interferência dessas mesmas potências, podemos ajuizar a que fins se destina a decisão da Otan. Em fevereiro deste ano, as atuais autoridades ucranianas, apoiadas por europeus e norte-americanos, depuseram o governo de Kiev porque este resistiu a assinar acordos com a União Europeia e se inclinava a uma maior cooperação com Moscou.

A Otan revela-se a cada reunião de cúpula que realiza como um braço armado do imperialismo estadunidense e das potências da União Europeia e um fator de intervencionismo e instabilidade internacional. Os norte-americanos são os mais engajados em aparelhar a Aliança Atlântica como seu principal instrumento para a realização de intervenções.

No momento em que a China se consolida como uma força mundial, com influência em vários continentes; que a Rússia reorganiza sua presença global (apenas como exemplo da importância estratégica, os russos possuem grandes reservas de gás e petróleo, essenciais para os europeus e que tem como canal de ligação com a União Europeia justamente a Ucrânia) e os Brics aparecem como uma alternativa econômica em seus subcontinentes, os EUA vivem problemas econômicos, assim como a Europa.

Já se discute, mesmo entre os aliados dos Estados Unidos, se o “protagonismo” norte-americano é factível. Daí a necessidade desse imperialismo mostrar força e tentar expandir o espectro de sua influência.

As decisões da Otan demonstram que as potências imperialistas não tendem à paz, mas ao militarismo e à guerra.

Precisa dizer mais? É óbvio que o vazamento de supostas declarações de Costa às autoridades visa matar dois coelhos com uma cajadada só.

Mídia usa "delação" para ajudar Aécio

Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:

A última sexta-feira foi permeada por especulações e até pânico da classe política por conta do conteúdo dos depoimentos que o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto da Costa – preso em março pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lava Jato – vem dando após acordo de “delação premiada” que fez com o Ministério Público e a Justiça.

Costa propôs acordo de “delação premiada” que pode lhe valer a quase absolvição dos crimes cometidos. Por esse acordo, tem que denunciar envolvidos em um suposto esquema de corrupção que haveria na Petrobrás. Tem que denunciar, sobretudo, políticos envolvidos.

O vazamento do que Costa está afirmando em sua “delação premiada” é uma irresponsabilidade da mídia, com destaque para o papel da Veja – sempre ela – no que, aliás, é uma ilegalidade.

Para os que acham que contra o PT vale-tudo, porém, convém refletir sobre odenunciante.

Quando Costa foi preso, em março, a Polícia Federal encontrou em sua residência 180 mil dólares e 720 mil reais – tudo em espécie. Além disso, o ex-executivo da Petrobrás ganhou um caro automóvel Land Rover do doleiro Alberto Yousseff, também preso nessa operação da PF e condenado no caso Banestado.

Costa teme acabar como Marcos Valério, que pode terminar seus dias na cadeia. O acordo de delação premiada pode salvá-lo desse destino; sua pena seria praticamente extinta. Porém, delatando supostos comparsas ou não esse indivíduo é um criminoso e tudo que disser no âmbito do acordo que fez com as autoridades é suspeito até prova em contrário.

O que Costa está dizendo terá que ser tudo muito bem checado porque alguém como ele pode mentir para prejudicar quem ele julga que não o apoiou ou para preservar quem acha que vale a pena, por esta ou aquela razão. Ou seja: enquanto as “delações” do sujeito não forem verificadas, tudo que está dizendo é suspeito.

processo de verificação dessas informações deve levar meses e terminará muito depois das eleições em segundo turno. Neste momento, portanto, os meios de comunicação que estão divulgando nomes e partidos dos acusados por Costa estão sendo irresponsáveis e agindo com claro objetivo eleitoral.

Como sempre, coube à Veja, de forma criminosa e eleitoreira, divulgar o conteúdo não verificado das denúncias do ex-diretor da Petrobrás. E para saber o que Veja pretende o leitor nem precisa se submeter à pena de ler aquele lixo de publicação. Na porta da Veja há uma lixeira que chamam de blog do Reinaldo Azevedo que já delata a intenção da revista.




Por contraditório que pareça, as denúncias de Veja são sempre muito “transparentes” quanto a suas intenções, ainda que esse não seja o objetivo da revista. Nesse caso em particular, a “transparência” é gritante. Um outro trecho do post de Azevedo sobre a denúncia da revista que o emprega, deixa tudo ainda mais claro.

“(…) VEJA teve acesso a parte do depoimento de Paulo Roberto e traz reportagens exclusivas na edição desta semana, com a lista dos nomes citados por Paulo Roberto. Entre eles, estão cabeças coroadas da política brasileira, como o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que morreu numa acidente aéreo no dia 13 de agosto (…) Uma coisa é certa: as revelações de Paulo Roberto atingem em cheio as duas candidatas que lideram a disputa pela Presidência da República: Dilma, por razões óbvias, e Marina, por razões menos óbvias, mas ainda assim evidentes. Ela é a atual candidata do PSB à Presidência. Confirmadas as acusações de Paulo Roberto, é de se supor que o esquema ajudou a financiar as ambições políticas de Campos, de que ela se tornou a herdeira (…)”

Precisa dizer mais? É óbvio que o vazamento de supostas declarações de Costa às autoridades visa matar dois coelhos com uma cajadada só.

Não se tem garantia de não haver tucanos ou demos envolvidos nas “denúncias” de Costa. O vazamento das informações pode ser seletivo ou, pior, Costa pode estar mentindo, inventando acusações para ter o que oferecer às autoridades em troca de sua liberdade.

Essa é a última cartada que a mídia tucana tem para tentar reverter o que lhe constitui um verdadeiro desastre político, ou seja, a eleição presidencial ficar restrita entre duas candidatas que, por razões distintas, não lhe interessa.

Não, Marina não interessa à mídia. Aliás, a tucanérrima imprensa paulista tem produzido crescentes colunas, artigos e editoriais anti Marina. O Estadão já divulgou editorial atacando a “fadinha da floresta”, Reinaldo Azevedo e congêneres vêm batendo pesado nela, dizendo-a “até pior” do que Dilma. Neste sábado, a Folha, em editorial, também atacou a candidata do PSB.

As razões da tucanérrima imprensa paulista para temer Marina explicam-se pela charge do blogueiro, no alto da página. Ainda que o banco Itaú tenha escrito o programa de governo de Marina, ela, assim como o PSOL e o PSTU, esteve por trás dos protestos tresloucados de 2013 e deste ano. No fim, os sócios “de esquerda” desse consórcio ficaram a ver navios e Marina foi quem lucrou.

Seja como for, as relações pretéritas de Marina com a esquerda e suas sistemáticas idas e vindas sobre vários assuntos estão metendo medo na direita midiática, apesar do aval do Itaú e de um economista cabeça-de-planilha que assessora a candidata do PSB.

Por que Veja cuidou de atingir Dilma e Marina? Porque se focasse só em Dilma a beneficiária seria Marina. Atacando a ambas, a mídia acredita que o beneficiário natural será Aécio. Pode até não ser suficiente para levá-lo de volta ao segundo lugar, mas a ideia é vitaminar o tucano para que o PSDB não eleja só meia dúzia de deputados. É simples assim.

Marinamorfose ambulante


ny3Uma greve dos trabalhadores das redes de comida rápida dos Estados Unidos (McDonald-s, KFC, Burguer King etc.) ocorreu ontem na cidade de Nova Iorque e mais 150 cidades do país. Na principal economia capitalista do mundo, os trabalhadores reivindicam o direito de se organizarem livremente em sindicatos e receberem um salário mínimo vital.
O Estado dos EUA, que se gaba de ser o maior defensor mundial da democracia, reprimiu os trabalhadores. Apenas em Nova Iorque, 19 trabalhadores foram presos ao exercer seu legítimo direito de greve e manifestação.
Para os grevistas, o salário mínimo de 7,5 dólares por hora que os trabalhadores recebem não permite o pagamento do aluguel e outras necessidades básicas desde o custo de vida vem crescendo de maneira absurda nos EUA a partir da crise de 2008. O movimento reivindica o salário de 15 dólares por hora.
O movimento dos trabalhadores em restaurantes de fast food vem crescendo bastante nos EUA desde o lançamento da campanha Low Pay is not Ok (Baixos salários não estão legais, em tradução livre), no ano de 2012. São, em sua maioria, trabalhadores negros, latinos e imigrantes que experimentam nos Estados Unidos toda a mentira do capitalismo como solução para os problemas sociais.
Mais informações podem ser encontradas no site: strikefastfood.org

Da Redação, São Paulo
*Averdade
DENÚNCIA DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER PELO TELEFONE DEVE FICAR MAIS FÁCIL
É lei. A presidente Dilma Rousseff sancionou nesta quinta-feira (04) o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 59/2014, que autoriza o Poder Executivo a tornar disponível, em âmbito nacional, um número telefônico para receber as denúncias de violência contra a mulher. A proposta é de autoria da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Violência contra a Mulher.
Com a nova legislação (Lei 13.025/2014), o serviço de recebimento dessas denúncias – o Ligue 180 – vai ser operado pela Central de Atendimento à Mulher, hoje coordenada pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), vinculada à Presidência da República. Até então, cabia às delegacias municipais cuidar disso.
Saiba mais: http://bzz.ms/1yqp

Dilma hoje SIND BANC PARA TAXISTAS


Plano de Governo de Marina tirarão direitos trabalhistas dos trabalhadores.
Além de desregulamentar leis para que haja maior terceirização dos trabalhadores, o que aumentaria o arrocho salarial, diminuição de salários, mais demissões e menos segurança no emprego, Marina também quer mudar a Justiça do Trabalho.
Na página 240 prega o fim da Justiça do Trabalho tal como a conhecemos. Olha só o que diz o programa de governo de Marina:
A elevada rotatividade da mão-de-obra e a negociação de direitos individuais na Justiça tornam muito precárias as relações de trabalho.
(…)
Há que buscar um modelo onde os atores coletivos sejam mais representativos, cabendo ao Estado impulsionar a organização sindical e a contratação coletiva. O novo modelo diminuiria o papel do Estado na solução dos conflitos trabalhistas coletivos, e Justiça do Trabalho se limitaria à nova função de arbitragem pública.
Ora, o que significa esse trecho destacado em negrito e escrito em linguagem barroca? Que a Justiça do Trabalho não mais processaria causas individuais. Um ataque frontal a um dos direitos trabalhistas mais importantes da pessoa no Brasil.
Plano de Governo de Marina tirarão direitos trabalhistas dos trabalhadores.
Além de desregulamentar leis para que haja maior terceirização dos trabalhadores, o que aumentaria o arrocho salarial, diminuição de salários, mais demissões e menos segurança no emprego, Marina também quer mudar a Justiça do Trabalho.
Na página 240 prega o fim da Justiça do Trabalho tal como a conhecemos. Olha só o que diz o programa de governo de Marina:
A elevada rotatividade da mão-de-obra e a negociação de direitos individuais na Justiça tornam muito precárias as relações de trabalho.
(…)
Há que buscar um modelo onde os atores coletivos sejam mais representativos, cabendo ao Estado impulsionar a organização sindical e a contratação coletiva. O novo modelo diminuiria o papel do Estado na solução dos conflitos trabalhistas coletivos, e Justiça do Trabalho se limitaria à nova função de arbitragem pública.
Ora, o que significa esse trecho destacado em negrito e escrito em linguagem barroca? Que a Justiça do Trabalho não mais processaria causas individuais. Um ataque frontal a um dos direitos trabalhistas mais importantes da pessoa no Brasil.

Fundador da Rede Sustentabilidade declara voto em Dilma

Para Charles Alcântara, há dois projetos de país em jogo: a adesão ao neoliberalismo, proposta por Aécio e Marina, e o tensionamento do modelo, por Dilma.


Najla Passos
Arquivo

Brasília - Oauditor fiscal da Receita Charles Alcântara participa da Rede Sustentabilidade desde as discussões iniciais que resultaram na sua criação. Também foi um dos seus coordenadores nacionais e trabalhou firme nacoleta de assinaturas para viabilizar o registro eleitoral, o que acabou não acontecendo. Esta semana, porém, decidiu retirar seu apoio à candidatura de Marina Silva pelo PSB. Segundo ele, a adesão da presidenciável ao neoliberalismo não coaduna com os princípios da nova política que o levaram a apoiá-la.

Em entrevista exclusiva à Carta Maior, ele declara que irá votar na presidenta Dilma Rousseff, candidata pelo PT à reeleição. “O governo da Dilma também cede ao receituário neoliberal. A diferença é que a Dilma não cede a isso porque acredita na receita, mas porque não há força suficiente na sociedade para enfrentar, para subverter este sistema. Isso é diferente de aderir a ele com a convicção de que é o melhor caminho, como a Marina vem dando demonstrações explícitas e efetivas que o fez. (...) Isso significa que Marina vai apertar ainda mais, com mais arrojo salarial e juros mais alto”, afirma.

Confira a entrevista completa:

Carta Maior - Apesar de ser um dos fundadores da Rede Sustentabilidade e ter assumido a coordenação nacional do pretenso partido, você retirou seu apoio à candidatura de Marina. Por quê?
 
Charles Alcântara - Até por dever de ofício, já que sou auditor da Receita, é muito caro para mim saber como são alocados os recursos provenientes da sociedade através dos impostos. Então, o fundamento da minha crítica à Marina é justamente o fato dela ter aderido a essa lógica neoliberal de perseguir um conceito de “estabilidade” a um custo social muito alto. A Marina converteu-se a esse pensamento e isso está muito evidente. Eu não sei se essa conversação vem de mais tempo e eu não tinha percebido, mas muito recentemente ela fez declarações muito definitivas sobre a linha econômica que vai seguir, e isso para mim foi fundamental. 

Existe um consenso na sociedade de que diminuir gasto público é um crime. E eu não concordo com essa lógica. Não estou falando de gastos com educação e saúde, lógico. Mas concordaria em reduzir o gasto com a dívida pública, por exemplo, que é sagrado, intocado. É o maior gasto do país e o maior responsável pela desigualdade social. Mas, em nome do famigerado superávit primário, quase um deus para os neoliberais, se tira recurso das áreas primárias para saldar a dívida pública. E quando a Marina se propõe a fazer isso e ainda critica a Dilma por desarrochar a política econômica, significa que ela irá apertar ainda mais, com mais arrocho salarial, jutos mais altos e etc.

Então, ela precisa pelo menos dizer para a sociedade, para quem ela está pedindo apoio e voto, que há um custo alto desta medida. E não fazer como o Aécio, que diz que não se furtaria a tomar medidas amargas, mas, quando perguntado, não responde quais medidas são essas. Quem está pedindo o voto das pessoas precisa ser honesto com elas. Precisa dizer que medidas amargas são estas. E, principalmente, amargas para quem. A Marina não fala em medidas amargas, mas o discurso é o mesmo do Aécio: apertar no tripé, institucionalizar a autonomia do Banco Central. Isso, definitivamente, me impede de continuar com ela.

CM – Na Rede sustentabilidade, vocês chegaram discutir que modelo econômico apoiar?

CA - Sou fundador da Rede, participei inclusive das discussões que levaram a sua criação, compus a primeira coordenação nacional e fui porta-voz da Rede no Pará. Mas as discussões a este respeito foram muito embrionárias, porque estávamos muito focados em conseguir as assinaturas para ter o registro da rede. Não chegamos ao ponto de discutir programa da Rede, porque sequer tínhamos um partido. O que discutimos foram princípios estatutários da Rede, princípios para a antecipação de uma eventual reforma política. Havia indícios de discussão programática, e eu já me posicionava internamente, desde aquela época, contra qualquer inclinação da Rede de sustentar as formulas neoliberais. Eu tensionei internamente, inclusive com documentos, já propondo desde aquela época um seminário da Rede sobre programa econômico. Tudo bem levarem o Eduardo Gianette e o André Lara Rezende [economistas identificados com o receituário neoliberal tucano], mas eu queria que levassem também economistas de outras escolas. Porque não dá para discutir apenas com o “pensamento único”. Acontece que, quando houve o indeferimento da Rede em outubro e, logo em seguida, a decisão de aliança com o PSB, eu divergi e me afastei da coordenação da Rede. Então, eu não tenho elementos para dizer como se deu o debate interno entre Rede e PSB.

CM - Por que você divergiu da decisão da Rede de se aliar com o PSB? 
 
CA - Eu achei que a Marina deveria manter-se sem partido, que isso tinha mais coerência com a nova política. Tudo bem, ela não seria candidata, mas não se faz política só seno candidato. Você faz política emitindo sua opinião. A Marina poderia exercer um papel político importante no cenário nacional, ela é uma liderança nacional, mesmo não disputando a eleição e até mesmo denunciando a forma como a Rede foi indeferida por um excesso de preciosismo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na minha avaliação, o PSB não representa a nova política. No Pará, por exemplo, é um partido familiar, que passa de pai para filho. Eu não tinha a menor condição de acompanhá-la no PSB. Até porque eu não iria me reconhecer naquele partido. Então, eu divergi e me afastei. Mas sem fazer alarde, sem fazer um debate público. Mas, apesar disso, eu estava inclinado a apoiá-la. Acontece que tem coisas da velha política de que não abro mão, como a convicção. Porque pra defender uma candidatura, é preciso acreditar nela. É fundamental que não seja por conveniência, por adesismo, por cálculo político.

CM - Um possível governo Marina pode ser melhor para a maioria do povo brasileiro do que um segundo mandato de Dilma?

CA - Eu tenho profundas críticas ao governo Dilma. Mas eu não posso negar que é um governo extremamente includente, que melhorou a vida de milhões de brasileiros que vivam esquecidos pelos governos anteriores. Não que isso seja suficiente para mudar a desigualdade que marca nossa sociedade. O governo da Dilma também cede ao receituário neoliberal. A diferença é que a Dilma não cede a isso porque acredita na receita, mas porque não há força suficiente na sociedade para enfrentar, para subverter este sistema. Isso é diferente de aderir a ele com a convicção de que é o melhor caminho, como a Marina vem dando demonstrações explícitas e efetivas que o fez. Ela critica a Dilma justamente por não ter aderido ao neoliberalismo como ela acha que deveria. Ora bolas, isso quer dizer que Marina vai apertar ainda mais, apesar de não ser honesta o suficiente para admitir isso para a sociedade.
 
CM - Sua crítica à Marina é fundamentalmente econômica?

CA – Sim. Outra coisa que me tocou profundamente no discurso da Marina foi essa história de que ela vai reunir todas as pessoas de bem na mesma mesa pra discutir o Brasil. Porque, pela primeira vez, a Marina disputa uma eleição com condições de ganhá-la. É isso é diferente da eleição passada, quando ela estava em terceiro lugar. Ela está mais exposta, sujeita a mais questionamentos, sendo submetida a uma bateria de questões que não foram perguntadas antes. E não dá para unir todas as pessoas de bem no mesmo projeto. Não me parece uma coisa de quem está, de fato, sintonizada com nossa realidade social e política. Não há como governar sequer um condomínio sem contrariar interesses. Imagina um país complexo, com uma série de conflitos e tensões. Não tem jeito. Os interesses dos banqueiros não são convergentes com os interesses de quem está atravessando dificuldades, de quem precisa de saúde pública, de quem carece de mais qualidade na educação. Não tem como. É uma coisa ecumênica demais para mim. E não é a religião que vai governar o país. Se eleita, ela vai ter que governar com o Sarney [ex-presidente do PMDB], com o Renan [Calheiros, presidente do Senado, também do PMDB]. Ou ela acha que não vai? Ela já está com Heráclito e Bornhausen, dois legítimos representantes da velha política. E vai ter que ceder cada vez mais. Aliás, já cedeu para o Malafaia [o pastor que preside a Assembleia de Deus], e nem governa ainda.

CM - Sua posição teve impacto entre seus companheiros da Rede? Já recebeu manifestações favoráveis ou contrárias?
 
CA - Eu até me surpreendi. Não sou uma figura pública, embora seja conhecido da militância pelos espaços públicos que ocupei no governo Ana Júlia [ele foi secretário da Casa Civil da governadora do PT no Pará] e como sindicalista da área do Fisco [foi presidente do Sindfisco Pará e hoje é diretor da Fenafisco]. Eu publiquei um texto no meu Facebook para justificar minha posição, e fiquei muito surpreso com a repercussão disso entre muitos companheiros e jornalistas. Recebi as manifestações de muitos militantes intermediários da Rede, digamos assim.
 
Alguns discordaram de mim, mas uma parte concordou comigo e já está desembarcado. Eu não tive a pretensão de convencer ninguém. Não convoquei ninguém pra discutir posição coletiva. Foi uma posição solitária em um espaço meu. Quem quiser concordar, concorde. Quem quiser discordar, discorde. Quem quiser me atacar, me ataque. Tudo isso faz parte. Mas várias pessoas estão concordando comigo.

CM - A Marina vinha afirmando que permaneceria no PSB somente até a Rede conseguir o registro eleitoral. Essa semana, porém, ela voltou atrás e disse, na sabatina do G1 que, se eleita, vai ficar no PSB até o final do mandato. Como você vê o futuro da Rede sem sua principal líder?

CA - Eu não sabia disso, mas prefiro não opinar sobre o futuro da Rede, porque ainda está tudo muito confuso. Agora, o mais importante é nos concentrarmos nas eleições, é percebermos que, a grosso modo, tem dois projetos disputando o país: um genuinamente neoliberal, que é o de Marina e o de Aécio, e um outro que conflita com o modelo neoliberal, que é do da Dilma. Um projeto que também está amarrado com o neoliberalismo, porque é isso o que quer nossa sociedade, mas que tenciona com ele. Ao mesmo tempo que adere, também nega. Então, tem uma relação conflituosa com ele.

CM - Você vai votar na Dilma?

CA – Então, o próximo passo é decidir... Aliás, eu vou sim. E te digo isso em primeira mão. Eu saí do PT em 2010, mas uma das coisas mais lamentáveis que considero na nossa sociedade é este sentimento antipetista. Uma coisa tão absurda, doentia. Eu não sou antipetista, mas ex-petista. Não tenho nenhuma relação de mágoa ou ressentimento com o partido. Pelo contrário. Minhas divergências com o PT se deram no campo político. Eu deixei no partido muitos amigos, pessoas admiráveis que eu respeito e que eu sei que querem construir um país melhor, um mundo melhor. Então, eu não tenho nenhum constrangimento em declarar meu voto à Dilma. Ao contrário, eu ficaria constrangido de continuar com Marina nessas condições. Eu ficaria envergonhado de continuar com ela sem acreditar, embora respeite sua pessoa.




Créditos da foto: Arquivo


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"E aqui nesse palanque temos a certeza de que o Brasil precisa de ter um compromisso fundamental com a criação de emprego,

Em comício com Lula em Brasília Teimosa, no Recife, a presidenta lembrou que lá se reuniam os que não aceitavam a receita velha de desempregar e arrochar salários para defender o País da crise.
"E aqui nesse palanque temos a certeza de que o Brasil precisa de ter um compromisso fundamental com a criação de emprego, com a valorização do salário mínimo. Não podemos aceitar aqueles que negociam o emprego e o salário", disse.
Dilma também destacou a importância dos bancos públicos no enfrentamento da crise e também para manter programas importantes para o Brasil, como o Minha Casa, Minha Vida.