Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
do ex-presidente, que falou para uma grande plateia em Milão via videoconferência, o encontro contou com a presença do primeiro ministro da Itália, Matteo Renzi, e com um vídeo do Papa Francisco. Lula falou sobre como as políticas de transferência de renda realizadas nos últimos 12 anos incluíram os mais pobres e mostraram que eles não são um problema, mas protagonistas das soluções. Assista:
Cunha: “Aborto e regulação da mídia só serão votados por cima do meu cadáver”
Eleito presidente da Câmara em primeiro turno, depois de uma tensa disputa com o petista Arlindo Chinaglia (PT-SP), o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) teve uma reunião com a presidente Dilma Rousseff na tarde de quinta-feira, 5, para “quebrar o gelo”, segundo definiu a correligionários. Considerado um parlamentar incômodo e pouco confiável, por causa dos episódios em que liderou rebeliões na base aliada, Cunha diz que não tem problemas no trato com Dilma, mas não alivia o PT e os ministros responsáveis pela articulação política, em especial Pepe Vargas, da Secretaria de Relações Institucionais. “Ele é inábil no trato, errado na forma e no conteúdo”, critica. Também reclama do presidente do PT, Rui Falcão: “Só o atendo quando ele me pedir desculpas por ter dito que faço chantagem”. O deputado chegou ao Rio na noite de quinta-feira e foi homenageado em um jantar na casa do prefeito Eduardo Paes, com a presença dos principais líderes do PMDB fluminense, como o governador Luiz Fernando Pezão, o ex-governador Sérgio Cabral e o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani. No início da tarde de sexta, 6, recebeu o blog Estadão Rio em seu escritório, no centro. Passou o fim de semana com a família, na Barra da Tijuca (zona oeste), onde mora. Na primeira semana como presidente, Cunha avançou na discussão de uma proposta de reforma política que garante o financiamento de campanhas por empresas privadas, condenado pela maioria dos petistas. Também instalou a CPI da Petrobrás, que voltará a investigar o esquema de corrupção na estatal. O deputado está decidido sobre o que quer votar e também sobre os temas que não aceita levar ao plenário, como a legalização do aborto, a união civil de pessoas do mesmo sexo e a regulação da mídia. “Aborto e regulação da mídia só serão votados passando por cima do meu cadáver”, diz, irredutível, o deputado evangélico de 56 anos, fiel da Igreja Sara Nossa Terra. Diante da reação negativa de militantes de movimentos em defesa dos direitos dos homossexuais à sua eleição, Cunha não faz concessões. “Não tenho que ser bonzinho. Eles querem que esta seja a agenda do País, mas não é”.
ATO DOS PETROLEIROS DESMASCARA MÍDIA. “DESCOBERTA DO PRÉ-SAL FERIU INTERESSES INTERNACIONAIS”
O representante da FUP (Federação Única dos Petroleiros ) João Antônio de Morais deu uma entrevista esclarecedora para a Rede Record
” Nós trabalhadores, que somos mais de 85 mil diretos e 300 mil indiretos, estamos preocupados com toda essa movimentação da mídia. A descoberta do pré-sal feriu interesses internacionais e também de grupos nacionais ” (João Antônio de Morais)
vale a pena assistir:
Militar diz que arrancava dedos, dentes e vísceras de preso morto na Ditadura
Em um dos mais importantes e verossímeis depoimentos já prestados por agentes da ditadura (1964-85), o coronel reformado Paulo Malhães afirmou que ele e seus parceiros cortavam os dedos das mãos, arrancavam a arcada dentária e extirpavam as vísceras de presos políticos mortos sob tortura antes de jogar os corpos em rio onde jamais viriam a ser encontrados.
O relato histórico do oficial do Exército foi feito à Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro e revelado nesta sexta-feira pelo repórter Chico Otávio.
Malhães se referia a presos políticos assassinados na chamada Casa da Morte, um imóvel clandestino na região serrana fluminense onde servidores do Centro de Informações do Exército detinham, torturavam e matavam opositores da ditadura.
De acordo com o coronel, os cadáveres eram ensacados junto com pedras. Dedos e dentes eram retirados para impedir a identificação, na eventualidade de os restos mortais serem encontrados. As vísceras, para o corpo não boiar. Veterano da repressão mais truculenta do passado, Malhães figura em listas de torturadores elaboradas por presos. É ele quem assumiu ter desenterrado em 1973 a ossada do desaparecido político Rubens Paiva (post aqui).
Seu testemunho, sem vestígios de arrependimento, contrasta com o de aparente mitômano surgido em anos recentes. Malhães não é um semi-anônimo,mas personagem marcante para seus pares em orgãos repressivos e para presos políticos.
Dois trechos do seu depoimento à comissão, conforme reprodução de “O Globo'' (a reportagem pode ser lida na íntegra clicando aqui): 1) “Jamais se enterra um cara que você matou. Se matar um cara, não enterro. Há outra solução para mandar ele embora. Se jogar no rio, por exemplo, corre. Como ali, saindo de Petrópolis, onde tem uma porção de pontes, perto de Itaipava. Não (jogar) com muita pedra. O peso (do saco) tem que ser proporcional ao peso do adversário, para que ele não afunde, nem suba. Por isso, não acredito que, em sã consciência, alguém ainda pense em achar um corpo.” 2) “É um estudo de anatomia. Todo mundo que mergulha na água, fica na água, quando morre tende a subir. Incha e enche de gás. Então, de qualquer maneira, você tem que abrir a barriga, quer queira, quer não. É o primeiro princípio. Depois, o resto, é mais fácil. Vai inteiro.” Com a frieza de quem conta ter ido à padaria, Malhães afirmou, referindo-se ao local onde vive, a Baixada Fluminense: “Eu gosto de decapitar, mas é bandido aqui''.
Mulheres escrevem no corpo o que o feminismo significa para elas
O feminismo não é uma simples ideia, mas uma ideologia que muda percepções, aumenta a autoestima, empodera e transforma vidas. Como forma de provar isso, a fotógrafa Maria Ribeiro deu início ao projeto fotográfico Nós, Madalenas, uma série de retratos em que mulheres escrevem em seus próprios corpos o que o feminismo significa para cada uma delas.
Em preto e branco e sem qualquer tipo de tratamento digital, significados particulares da ideologia aparecem ao lado de rostos, histórias, marcas, celulites e estrias. Essas mulheres não aceitam as regras de beleza ou de vida impostas por uma sociedade que tem o homem como centro e descobriram-se ainda mais poderosas e plenas dentro do feminismo. “O projeto tem por objetivo expressar, através da arte, o que a luta pelo direito de ser mulher representa e o que os movimentos que têm unido as mulheres para criar força e transformar esse quadro representam na vida de cada uma – e, consequentemente, na sociedade“explicou a fotógrafa à Revista Fórum.
Mais do que uma sensível série de fotografias, o projeto Nós, Madalenas é uma proposta de reflexão sobre como o feminismo tem mudado vidas e dado novos fôlego e perspectivas às mulheres. Confira algumas das imagens:
ELE VOLTOU: “NÃO PODEMOS PERMITIR QUE QUEM NÃO TEM MORAL, VENHA DAR MORAL NA GENTE”
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta sexta-feira (6), durante reunião do Diretório Nacional do PT em Belo Horizonte (BH), que o governo da presidenta Dilma Rousseff tem todas as condições para ser exitoso. Para isso, lembrou, é preciso um esforço concentrado do PT para combater a campanha de ódio instaurada contra o partido, seu governo e militantes.
“Se a ficarmos quietos, a sentença já está dada”, declarou.
Ele conclamou todos os dirigente e detentores de cargos no Legislativo e Executivo a dedicarem um tempo ao partido, para auxiliar na reestruturação de sua imagem.
“A briga é política. O PT tem que ter essa consciência. Tem que usar a tribuna, tem que responder, tem que votar, tem que gritar tanto quanto eles, tanto na Câmara, quanto no Senado”, declarou.
Para Lula, este é um momento de enfrentamento para o partido, de fazer uma reflexão sobre os erro do passado e voltar para a rua.
Segundo Lula, o PT governa o País, cinco estados e está fortemente presente no Congresso Nacional, mas isso não é suficiente para enfrentar as tentativas de destruição que a agremiação sofre.
“O PT vai ter que voltar pra luta”, afirmou.
” Não podemos permitir que quem não tem moral, venha dar moral na gente”, disse.
Para o ex-presidente Lula, o governo Dilma tem todas as condições de manter o sucesso de suas ações. “Sou extremamente otimista. Acredito que 2015 tem tudo para ser um ano promissor”, confessou.
“Eu acho que o Brasil tem possibilidade de melhorar e melhorar muito, nos próximos meses”, declarou.
Repúdio - O ex-presidente aproveitou para se solidarizar com o secretário nacional de Finanças do PT, João Vaccari Neto, intimado a depor pela Polícia Federa,l na quinta-feira (5). “O que aconteceu ontem é repugnante”, declarou.
Para Lula, quem acompanha as investigações da Operação Lava Jato, da PF, sabe que a divulgação do depoimento do ex-gerente de Engenharia da Petrobras, Pedro Barusco, foi feita de forma articulada para criar manchetes em jornais.
“Eu já vi esse filme, já aconteceu em outros lugares do mundo”, recordou.
“Não e fácil um partido de esquerda governar um país importante como o Brasil. Eles não querem nem deixar concluir o mandato da Dilma, tentando criar todo e qualquer processo de desconfiança. Querem que o PT seja desacreditado na sociedade brasileira”.
Henrique de Souza Filho (Ribeirão das Neves, MG, 5 de fevereiro de 1944 — Rio de Janeiro, 4 de janeiro de 1988)
Inquieto e determinado desde criança, Henrique de Souza Filho, o cartunista Henfil, alugava bicicleta escondido dos pais, apesar dos perigos que corria, já que era hemofílico. Um simples tombo seria fatal. “No início do namoro com a minha mãe, não contou que era hemofílico, sentia dores nas articulações, mas escondia dela. Procurava viver uma vida praticamente normal. E conseguiu. Dizia que a hemofilia não iria impedi-lo de fazer o que amava”, relembra Ivan Cosenza de Souza, fundador do Instituto Henfil e único filho do cartunista.
Henfil cresceu na periferia de Belo Horizonte, onde fez os primeiros estudos, frequentou um curso supletivo noturno e um curso superior em sociologia na Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, que abandonou após alguns meses. Foi embalador de queijos, contínuo em uma agência de publicidade e jornalista, até especializar-se, no início da década de 1960, em ilustração e produção de histórias em quadrinhos.
Na adolescência, Henrique frequentou o Centro de Estudos Cinematográficos (CEC), fundado por seu irmão Herbert de Souza. A influência do irmão mais velho foi inegável. Pelas mãos dele participou ainda dos encontros promovidos pela Juventude Estudantil Católica (JEC). Esta vivência seria de oportunidade inestimável, afinal de contas foi em um periódico da JEC, o jornal Resmungo, que publicou seu primeiro cartum, aos 17 anos.
Em 1964, foi para a revista Alterosa, quando surgiria um traço marcante na produção de Henfil: a criação de personagens. Por encomenda do editor Roberto Drummond, Henfil desenhou os fradinhos Cumprido e Baixinho. Com o golpe de 1964, a revista foi fechada pela ditadura. A partir de então Henfil não parou mais de produzir. Em 1965 passou a colaborar com o jornal Diário de Minas, onde fazia caricatura política. Uma antologia com esta produção resultou na publicação do primeiro livro de charges, Hiroshima, meu humor, uma paródia ao famoso filme de Alan ResnaisHiroshima, mon amour.
Em 1967, é convidado pelo filho do teatrólogo Nelson Rodrigues, Jofre Rodrigues, para mudar-se para o Rio de Janeiro e desenhar no popular Jornal dos Sports, para ilustrar os anúncios do jornal O Sol que viria encartado no JS. Os desenhos faziam parte da coluna Dois Toques, feita a quatro mãos com Márcio Rubens Prado. Já se notabilizou ao criar em suas charges novos mascotes para os clubes, o que lhe conferiu grande popularidade, além de politizar a charge esportiva, criando personagens que representavam a realidade social dos torcedores cariocas através da luta de classes: de um lado, a elite burguesa caracterizada pelo Pó de Arroz (Fluminense) e o Cri-Cri (Botafogo); do outro, os populares Urubu (Flamengo) e Bacalhau (Vasco). Começando a ir ao maracanã descobriu que a torcida do botafogo xingava a do flamengo de urubu. Então já tinha um personagem pronto. Já a torcida do vasco era chamada de bacalhau pela do flamengo, por causa dos portugueses. A torcida do fluminense era gozada pelo padrão social elevado da sua torcida, sendo chamados de Pó de arroz. Cri-Cri foi inspirado em cartas de flamenguistas que se queixavam do jeito implicante e chato dos botafoguenses; e Gato Pingado retratava a pequena torcida americana.
Passa então a contribuir também para as revistas Realidade, Visão, Placar e O Cruzeiro
São vários os personagens criados por Henfil: os fradinhos Cumprido e Baixinho, Inspirados nos frades dominicanos de Belo Horizonte, os dois personagens questionavam, com humor ácido e direto, o comportamento da sociedade Estavam lá as críticas mais ferrenhas aos preconceitos raciais e de gênero, ao poder público e seu descaso para com as classes mais pobres e, sobretudo, às contradições da Igreja Católica como instituição de fé; a turma da caatinga, que apareceu pela primeira vez em 21 de agosto de 1972, no caderno B do Jornal do Brasil, formada pela Graúna, Zeferino e o bode Orelana; Ubaldo e o Cabôco Mamadô; a feminista Zilda-Lib e o operário Orelhão, que tinha um companheiro negro, vestido como um típico malando carioca (utilizado em piadas que lidavam com o cotidiano da população, como a inflação e o custo dos alimentos). Havia ainda Xabu – o provocador; Ovídio – representante dos caretas; Tamanduá, o chupa-cérebros; o Preto-que-ri, que reage ao racismo com sonoras gargalhadas; o delegado Flores, que reprime às avessas; o Flautista de Ramelin, persuasivo em seus argumentos e os Três Cangaceiros do Apocalipse.
Sem contar os coadjuvantes dignos de registro, como os Caverinos, os irmãos Lati e Fundi e a onça Glorinha, todos figurantes de charges no alto da caatinga. Para completar, restam as variações de Ubaldo – o Paranóico, que são: Ufaldo, seu irmão empresário; Sam, seu tio e Fonaldo, censor exclusivo do personagem.
Nas páginas de O Pasquim, uma publicação que seria um marco na resistência à ditadura, surgiu do traço de Henfil um de seus personagens mais polêmicos, o Cabôco Mamadô, que estreou em 1972. Em um cemitério atípico, o Cabôco só enterrava pessoas que estavam vivas. O cartunista utilizou a situação para criticar personalidades públicas, que no entendimento de Henfil, haviam colaborado de alguma forma com a ditadura.
Henfil lançaria a Revista Fradim no ano de 1973 .
Em 1976, foi lançado Ubaldo, o paranóico, nascido da aliança entre a criação artística de Henfil e o jornalista Tárik de Souza em outubro de 1975. Tárik esclarece o surgimento do personagem Ubaldo, na abertura do livro A volta de Ubaldo, o paranóico: "Ambos nos acusávamos de paranóicos – e não faltavam razões de todas as ordens para que estivéssemos certos. (...). Até que resolvemos transformar num personagem de papel e traço essas inquietações comuns. Naquele tempo, os arrastões eram feitos pelos militares, que já manifestavam preferência tétrica por finais de semana. Muitos amigos desapareceram assim".
Ainda em 1976, Publicado em 1976, Diário de um Cucaracha narra a passagem de Henfil pelos Estados Unidos.
De 1977 a 1980, fez participação da revista Isto É onde escrevia uma coluna chamada Cartas da Mãe. Dirigidas a sua mãe, as cartas comentam os assuntos mais importantes do momento com o estratagema lúdico de se aproveitar da intimidade e liberdade da relação entre mãe e filho para falar dos assuntos mais prementes.
Henfil trabalha na imprensa sindical como cartunista no fim dos anos 1970. É um dos fundadores do Partido do Trabalhadores - PT, em 1980.
Henfil costumava encher os ouvidos do compositor Aldir Blanc, de suas memórias do "mano" Betinho, exilado desde 1971. Sensibilizado com o falecimento de Charlie Chaplin, João Bosco compôs uma linda melodia em sua homenagem e chamou Aldir para mostrá-la. Aldir letrou a música e fez uma singela homenagem ao rimar "Brasil" com "irmão do Henfil", esta rima, que por sua vez teve papel de emoção, mobilizição, transformação e incentivo a uma nação reprimida. Aldir afirmou que se dissesse "Betinho", ninguém reconheceria, a referência ao irmão Henfil era mais forte, ele já tinha fama na época, enquanto a imagem pública de Betinho veio a se formar com força já pelos anos noventa, principalmente após a criação da "Ação da Cidadania". Herbert de Souza, o Betinho, ouviu pela primeira vez a canção, na doce voz de Elis, exilado no México. Seu irmão o telefonou e pôs, sem nada avisar, para que ouvisse. Ao enviar a fita cassete, Henfil escreveu um recado: "Mano velho, prepare-se! Agora nós temos um hino e quem tem um hino faz uma revolução!". Dito e feito! A campanha pela anistia irrestrita foi a primeira movimentação nacional que obteve sucesso desde o início da sangrenta ditadura militar no Brasil.
Além dos quadrinhos a obra de Henfil conta ainda com um filme, uma peça de teatro, diversos livros e um quadro fixo na televisão. No filme “Tanga – deu no New York Times?”, lançado em 1988, Henfil fez o roteiro, dirigiu e atuou, interpretando o personagem Kubanin (cujo nome foi inspirado no anarquista russo Mikhail Bakunin).
Responsável por batizar o movimento das "Diretas Já!", Henfil teve uma importante participação nesta nova fase política do Brasil, influenciando a vida política e social, participando de movimentos políticos importantes, como o da Anistia,envolvendo-se em comícios, arrecadação de fundos, elaboração de material de propaganda, dentre outras ações.
De origem familiar modesta, desenvolveu sua formação individual e política naquilo que ele chamava de “complexo hospitalar-favelado”, situado no bairro de Santa Efigênia, periferia de Belo Horizonte. Essa vivência comunitária, que ele buscava reforçar ao afirmar: “sou fiel ao útero onde cresci e de onde trouxe as marcas do que sou hoje”, não só lhe ofereceu intimidade com um universo misto de pobreza, solidariedade e morte, como aprofundou sua preocupação com as questões ligadas à política e aos problemas sociais.
No dia 4 de janeiro de 1988 o Brasil perdia o humor do cartunista, jornalista e escritor. Henfil morreu no Rio de Janeiro, vítima de Aids, doença contraída em uma transfusão de sangue, ocorrência comum na época, já que havia ainda pouco conhecimento sobre a doença e a necessidade de cuidados específicos para preveni-la. Ele tinha a saúde precária, assim como seus dois irmãos, Herbert de Sousa, o Betinho, e Chico Mário, que também morreram de Aids. Henfil ainda tinha outras cinco irmãs. Tornou-se, infelizmente, símbolo de outra luta, assim como seus irmãos Betinho e Chico Mário.