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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
sexta-feira, novembro 06, 2015
Quando o homem coloca o arreio e o cabresto no cavalo ele sente que existe poder nele e a satisfação que ele sente em submeter o outro é a mesma sensação experimentada por um pastor, padre, e semelhantes
O casulo, a baia e a igreja
Por Ana Burke
Eu tenho a impressão, isto é, eu tenho a certeza, de que grande parte dos seres humanos morrerão dentro do seu casulo na fase de larva; alguns, talvez, venham a atingir a fase de pupa, mas o fato é que a maioria nunca passará por uma metamorfose completa e satisfatória a ponto de se tornar “borboleta”. Por que eu tenho esta certeza? Porque eu já fui uma larva que não se contentou em ser larva para sempre. A metamorfose é dolorida demais e não é para todos. É necessário um grande dispêndio de energia para romper o casulo e deixar de ser uma pupa. As larvas ganham o mundo e a liberdade, quando rompem o seu casulo, e abrem as suas asas. Já com o ser humano é diferente e ele continua dependente e se arrastando por toda a sua vida, esperando, que após a morte, ele consiga romper o casulo, e completar a sua metamorfose. E isto não depende dele, mas da vontade do seu Deus.
Ele espera pela vontade de Deus como uma criança espera que o Papai Noel lhe traga um presente no Natal pelo seu bom comportamento. E então, ele se encolhe e congela os seus desejos, que tem que coincidir com os desejos do seu deus, e os desejos do seu Deus, é que ele afogue os seus instintos naturais assim como o dono faz com o cavalo quando lhe coloca os arreios.
Escoicear é pecado para o cavalo assim como também é pecado olhar para os lados e para o alto. E para evitar que pequem, os seus donos inventaram a viseira (antolhos), o arreio, o cabresto e o chicote. A baia mantêm os cavalos nos seus devidos lugares, e separados do resto do mundo, assim como o casulo tenta manter a larva na sua forma de pupa, que só deixará de ser pupa, se usar de muita energia para romper, destruir e abandonar a comodidade, conforto e a suposta proteção que o casulo lhe oferece.
Quando o homem coloca o arreio e o cabresto no cavalo ele sente que existe poder nele e a satisfação que ele sente em submeter o outro é a mesma sensação experimentada por um pastor, padre, e semelhantes, em relação às pessoas evangelizadas ou doutrinadas. Tais pessoas aceitam o arreio e o cabresto com docilidade e reagem violentamente a qualquer estímulo que tenta afastá-las da sua servidão.
Os caprichos de deus quando exige ser amado, adorado e glorificado são os mesmos caprichos do Ser humano. Ser um ídolo, amado e admirado pelos seus iguais é a luta da maioria, que usa de todos os artifícios ao seu alcance para obter atenção, e respeito. A fama e o prestígio é o meio mais eficiente de dominação de um, e submissão do outro. É o mesmo que dizer a si próprio, “Eu sou o que você não é, e eu tenho, o que você não têm”.
A vontades humanas são vontades que não passam de instintos de dominação. O Ser Humano caça como qualquer outro animal, luta pela sobrevivência como qualquer outro animal, nasce, cresce, envelhece e morre como qualquer outro animal, ou ser vivo. O que o diferencia dos outros animais são as suas crenças e entendimentos de que ele é um animal diferenciado com alma, espírito e pode evoluir…errado. Supondo que existam apenas dois seres humanos no planeta, um deles, com certeza, vai subjugar o outro e, se faltar alimento, um comerá o outro. É assim que somos…e a evolução espiritual ou síndrome de…“ tornar-se um deus”…igualar-se a um deus…não passa de uma síndrome, de uma patologia que atinge principalmente os mais fracos desta teia “alimentar” que o próprio ser humano criou para si mesmo. Um está sempre pronto para comer o outro e, falando do cristianismo, uma grande parte dos seres humanos comem todos os dias o corpo de Cristo. Este é um ensinamento e um adestramento importante. Se um dia for necessário, basta dar a ordem: Pega, mata…e come.
*https://jarconsian.wordpress.com/2015/10/13/o-casulo-a-baia-e-a-igreja/
quinta-feira, novembro 05, 2015
O fechamento das 94 escolas impactará, a vida de um milhão de alunos.
E agora, Geraldo? Paulistas rejeitam fechamento de escolas
59% da população de São Paulo não aceita medida adotada pelo governador
Escrito por: CUT •
Foto: Portal Vermelho
De acordo com o Instituto Datafolha, 59% dos paulistas são contra o fechamento das escolas no estado. Somente 28% aprovam a medida. A pesquisa foi divulgada nesta quarta-feira (04).
Utilizando o pretexto de que promoverá uma reorganização dos ciclos de ensino, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), ordenou o fechamento de 94 escolas no estado. Para além da pesquisa do Datafolha, os inúmeros protestos em todo o território paulista mostram a rejeição à medida.
De acordo com o levantamento do Datafolha, 62% dos paulistas estão pessimistas com os resultados da nova política do governo Alckmin para a Educação. Para apenas 27% haverá mais benefícios com a medida.
O fechamento das 94 escolas impactará, diretamente, a vida de um milhão de alunos. Alguns estudantes precisarão percorrer mais de três de quilômetros para chegar até a unidade de ensino onde será transferido.
*http://www.cut.org.br/noticias/e-agora-geraldo-paulistas-rejeitam-fechamento-de-escolas-b049/
Petrobras sai das transmissões da Fórmula 1 e piora a crise da Globo
Por audiência em queda ou por “irregularidades” em contratos, perda do milionário patrocínio é mais um acidente no percurso ladeira abaixo da antes todo-poderosa emissora dos Marinho.
Helena Sthephanowitz, via RBA em 1º/11/2015
A nova diretoria da Petrobras, sem gente como Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco, ex-diretores pegos pela Operação Lava-Jato em milionários esquemas de corrupção, cancelou o patrocínio às transmissões da Fórmula 1 pela Rede Globo a partir de 2016.
Pode ter sido uma decisão técnica devido à audiência da antes todo-poderosa emissora ter despencado. Mas ainda há de se esclarecer se alguma auditoria nos contratos da estatal com a Globo, no âmbito da própria Lava-Jato, encontrou algo escuso e que a boa prática administrativa desaconselha, para dizer o mínimo.
O direito sobre as transmissões da temporada 2016 da principal categoria do automobilismo mundial só foram garantidas à Globo faltando dois meses para o fim do ano, o que indica que as negociações foram difíceis e faz imaginar um provável rebaixamento no valor da cota de patrocínio, ainda não divulgado.
A Rede Globo vende seis cotas de patrocínio para o “produto” Fórmula 1. Para a temporada que vem, continuaram a cerveja Itaipava, a Renault, o banco Santander e a TIM. Na cota que foi da Petrobras entra a Unilever. Estas empresas cortaram verbas publicitárias para o veículo Televisão no primeiro semestre deste ano, conforme noticiamos aqui na Rede Brasil Atual. Com a Fórmula 1 não deve ser diferente.
A sexta cota foi preenchida em 2015 pela Zap Imóveis, empresa relativamente pequena do próprio Grupo Globo. A empresa foi incorporada pelo grupo em 2013, ano em que faturou R$60 milhões, com o objetivo de faturar R$100 milhões até o fim deste ano. Com esse porte, porém, a Zap não teria cacife para ser uma das patrocinadoras da Fórmula-1, caso tivesse que pagar de fato. Para se ter uma comparação, a empresa fabricante da Itaipava iniciou 2015 com estimativa de faturamento na casa dos R$12 bilhões.
Ou seja, sem conseguir mais um patrocinador de peso, os irmãos Marinho irão patrocinar eles mesmos. A Globo cobre a falta de um sexto patrocinador do peso de uma Petrobras com um subproduto do próprio Grupo Globo, sem receber nada de fato. Ainda que seja rubricado comoinvestimento e contando com o retorno que pode resultar da publicidade, é certo que a operação é na verdade (mais um) rombo no caixa da Globo.
Mas os problemas da Globo não estão apenas na programação esportiva, o que inclui o futebol brasileiro. Já há um crescente movimento de consumidores e torcedores, descontentes com a imposição pela emissora de jogos às 22 horas das quartas-feiras e a relação da Globo com a CBF, recheada de denúncias de corrupção e propinas sobre a venda de direitos de transmissão das partidas, já causa impactos na audiência.
Mas a emissora amarga o fato de que, pela segunda vez em sua história, uma de suas novelas perde para uma emissora concorrente a audiência no chamado horário nobre e, pior, com um produto na qual a Globo sempre foi referência, a novela. Segundo o Ibope, “Os Dez Mandamentos”, a novela bíblica da Record, tem batido diariamente os dois principais produtos da Globo: o Jornal Nacional e a novela das 21 horas, A Regra do Jogo. Nunca uma novela de outra emissora venceu o principal produto do jornalismo da Globo e a principal novela da “excelência” em novelas do país.
Na briga pela audiência, a Globo chegou a espichar a edição do último dia 14 do Jornal Nacional em 14 minutos, que teve 58 minutos no total, só para a sua novela não começar já apanhando da rival. Mesmo assim perdeu a briga no Ibope.
Para a outrora “vênus platinada” o ano de 2016 promete. Com a audiência despencando, o faturamento com anúncios e patrocínios também rolam ladeira abaixo. A ver.
*http://limpinhoecheiroso.com/2015/11/04/petrobras-sai-das-transmissoes-da-formula-1-e-piora-a-crise-da-globo/
Helena Sthephanowitz, via RBA em 1º/11/2015
A nova diretoria da Petrobras, sem gente como Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco, ex-diretores pegos pela Operação Lava-Jato em milionários esquemas de corrupção, cancelou o patrocínio às transmissões da Fórmula 1 pela Rede Globo a partir de 2016.
Pode ter sido uma decisão técnica devido à audiência da antes todo-poderosa emissora ter despencado. Mas ainda há de se esclarecer se alguma auditoria nos contratos da estatal com a Globo, no âmbito da própria Lava-Jato, encontrou algo escuso e que a boa prática administrativa desaconselha, para dizer o mínimo.
O direito sobre as transmissões da temporada 2016 da principal categoria do automobilismo mundial só foram garantidas à Globo faltando dois meses para o fim do ano, o que indica que as negociações foram difíceis e faz imaginar um provável rebaixamento no valor da cota de patrocínio, ainda não divulgado.
A Rede Globo vende seis cotas de patrocínio para o “produto” Fórmula 1. Para a temporada que vem, continuaram a cerveja Itaipava, a Renault, o banco Santander e a TIM. Na cota que foi da Petrobras entra a Unilever. Estas empresas cortaram verbas publicitárias para o veículo Televisão no primeiro semestre deste ano, conforme noticiamos aqui na Rede Brasil Atual. Com a Fórmula 1 não deve ser diferente.
A sexta cota foi preenchida em 2015 pela Zap Imóveis, empresa relativamente pequena do próprio Grupo Globo. A empresa foi incorporada pelo grupo em 2013, ano em que faturou R$60 milhões, com o objetivo de faturar R$100 milhões até o fim deste ano. Com esse porte, porém, a Zap não teria cacife para ser uma das patrocinadoras da Fórmula-1, caso tivesse que pagar de fato. Para se ter uma comparação, a empresa fabricante da Itaipava iniciou 2015 com estimativa de faturamento na casa dos R$12 bilhões.
Ou seja, sem conseguir mais um patrocinador de peso, os irmãos Marinho irão patrocinar eles mesmos. A Globo cobre a falta de um sexto patrocinador do peso de uma Petrobras com um subproduto do próprio Grupo Globo, sem receber nada de fato. Ainda que seja rubricado como
Mas os problemas da Globo não estão apenas na programação esportiva, o que inclui o futebol brasileiro. Já há um crescente movimento de consumidores e torcedores, descontentes com a imposição pela emissora de jogos às 22 horas das quartas-feiras e a relação da Globo com a CBF, recheada de denúncias de corrupção e propinas sobre a venda de direitos de transmissão das partidas, já causa impactos na audiência.
Mas a emissora amarga o fato de que, pela segunda vez em sua história, uma de suas novelas perde para uma emissora concorrente a audiência no chamado horário nobre e, pior, com um produto na qual a Globo sempre foi referência, a novela. Segundo o Ibope, “Os Dez Mandamentos”, a novela bíblica da Record, tem batido diariamente os dois principais produtos da Globo: o Jornal Nacional e a novela das 21 horas, A Regra do Jogo. Nunca uma novela de outra emissora venceu o principal produto do jornalismo da Globo e a principal novela da “excelência” em novelas do país.
Na briga pela audiência, a Globo chegou a espichar a edição do último dia 14 do Jornal Nacional em 14 minutos, que teve 58 minutos no total, só para a sua novela não começar já apanhando da rival. Mesmo assim perdeu a briga no Ibope.
Para a outrora “vênus platinada” o ano de 2016 promete. Com a audiência despencando, o faturamento com anúncios e patrocínios também rolam ladeira abaixo. A ver.
*http://limpinhoecheiroso.com/2015/11/04/petrobras-sai-das-transmissoes-da-formula-1-e-piora-a-crise-da-globo/
Quem paga mais imposto no Brasil?
Quem paga mais imposto no Brasil?
Por Fernando Nogueira da Costa, no site Brasil Debate:
Estratificação, em Sociologia, é o processo de diferenciação das diversas camadas sociais que compõem uma sociedade, agrupadas a partir de suas relações e dos valores culturais, o que vem a constituir sua separação em classes, estados ou castas. É também a operação que, em uma sondagem estatística, consiste em distribuir previamente por estratos determinado conjunto que se quer estudar.
Tenho achado o conceito de castas mais útil para entender a estratificação social brasileira. Ele é mais abrangente do que classe, segmentando os vários tipos de grupos funcionais, desde os burocratas e sacerdotes até os capitalistas e trabalhadores. Quem fica de fora? O pária – ele é o indiano não pertencente a qualquer casta, considerado impuro e desprezível pela tradição cultural hinduísta. Casta inclui a perspectiva cultural, além dos interesses econômicos.
As castas constituem-se por membros de diversas redes e instituições de poder, cada uma apresentando sua própria cultura e incentivando determinado estilo de vida. Elas tendem a dar a seus integrantes determinadas atitudes para com a autoridade, a organização e a política. Permitem ilustrar melhor a complexidade social de toda a História da Humanidade do que o simplista modelo dicotômico – tipo “nós” (pobres) contra “eles” (ricos) – do século 19.
Como eu resumo, em números, a estratificação social no Brasil? Em uma população economicamente ativa em torno de 100 milhões de pessoas, 9 milhões aplicam no mercado financeiro e recebem também renda do capital. É o mesmo número de pessoas (8.979.706) que tem formação universitária completa.
Além dessas, 451.209 pessoas têm mestrado e 170.247 têm doutorado. Pelos cálculos da OCDE, um adulto com idade entre 25 e 64 anos que termina o ensino superior, no Brasil, receberá em média 157% mais renda do que quem só terminou o ensino médio. Essa média nos países da OCDE é de 57%.
Nos últimos 13 anos, a taxa de juros média real foi de 6,6% aa, cinco vezes maior do que o aumento anual do salário médio real, isto é, da renda do trabalho (1,3% aa). Reconhecendo esta dependência de trajetória em relação ao juro real médio de 0,5% am, os profissionais com ensino superior estabelecem sua estratégia de complementar a Previdência Social. Cominvestimento perseverante de 20% de sua renda mensal, em 360 meses (30 anos) eles já obtêm renda do capital equivalente à renda do trabalho.
Se, a cada 10 anos, ele muda de faixa salarial (graduado com R$ 5.000, mestre com R$ 10.000 e doutor com R$ 15.000), devido à titulação (mestrado-doutorado) ou à experiência, fazendo aporte inicial com o acumulado na faixa anterior, com mais 18 anos ele terá acumulado o suficiente para poder se aposentar com renda do capital similar à renda de trabalho dessa última faixa salarial.
Essa classe média se distingue da maioria da população brasileira em investimentos financeiros. Em março de 2015, 8.940.787 pessoas (descontando dupla contagem de CPFs) investiam em fundos e títulos e valores mobiliários (ações, títulos públicos e privados). A média de cada qual era de R$ 79.299,53.
Enquanto isso, eram cerca de 98 milhões de depositantes de poupança com a média individual de R$ 6.690,33. Deles, 87,4% do total de clientes (cerca de 85 milhões) tinham depósitos em média per capita de apenas R$ 481,79, ou seja, a grande maioria das cadernetas de poupança tinha apenas uma espécie de saldo de conta corrente. Era forma de evitar o pagamento de tarifas bancárias.
O top dosinvestidores pessoas físicas era constituído de 57.919 clientes de Private Banking. A média per capita de investimentos financeiros dessa casta era de – pasmem – R$ 11.507.492,23.
Pelas declarações de Imposto de Renda, os “super-ricos” no Brasil representam só 0,3% do total de contribuintes do IR ou 0,05% da PEA do país. Os 71.440 indivíduos que receberam no mínimo 160 salários mínimos (R$ 126.080,00) ao mês ou R$ 1,5 milhão no ano, obtiveram renda anual média, no ano-base de 2013, de R$ 4,170 milhões.
Sem abater as dívidas, a média per capita de bens e direitos desta faixa mais rica atingiu R$ 17,7 milhões. Este patrimônio líquido (contendo imóveis registrados em valores históricos) desse reduzido grupo equivale a 22,7% de toda a riqueza em bens e direitos no DIRPF 2014/13.
No entanto, o imposto de renda pago por essa faixa de rendimento acima de 160 salários mínimos equivale apenas a 6,51% de sua renda total. A faixa entre 20 e 40 salários mínimos (com renda anual per capita de R$ 226.273,37) é a que paga percentual maior: 11,96%.
Quanto à reforma tributária, imposto sobre herança e/ou doação os demais grandes países emergentes do BRIC não cobram, o que incentivará a fuga de capital caso o Brasil eleve suas alíquotas. Imposto sobre grandes fortunas quase nenhum país adota, devido ao mesmo risco de fuga. Porém, isenção sobre lucros e dividendos pagos por Pessoa Jurídica para Pessoa Física, só a Estônia, além do Brasil, concede! Cerca de 51 mil daqueles 71 mil “super-ricos” recebem essa isenção. Esta casta de comerciantes-financistas deveria dar sua contribuição ao ajuste fiscal.
O fim dessa isenção evitaria a ressurreição da CPMF. Esta, de fato, representa aumento da carga tributária. Mas, devido a seus poucos defeitos – cumulatividade e regressividade – as castas dos sábios e comerciantes-financistas usam a ignorância econômica das outras castas como massa de manobra, escondendo as maiores virtudes desse “imposto do cheque”: fácil arrecadação e difícil sonegação; tributar o setor informal; combater a sonegação de outros impostos pelo cruzamento de dados de movimentações financeiras; permitir a arrecadação independentemente de ciclo econômico.
Com alíquota de 0,38%, as receitas com a CPMF, antes de 2007, eram praticamente constantes, em torno de 1,3% do PIB ao ano. Esse montante arrecadado hoje seria o suficiente para o cobrir o déficit orçamentário.
Estratificação, em Sociologia, é o processo de diferenciação das diversas camadas sociais que compõem uma sociedade, agrupadas a partir de suas relações e dos valores culturais, o que vem a constituir sua separação em classes, estados ou castas. É também a operação que, em uma sondagem estatística, consiste em distribuir previamente por estratos determinado conjunto que se quer estudar.
Tenho achado o conceito de castas mais útil para entender a estratificação social brasileira. Ele é mais abrangente do que classe, segmentando os vários tipos de grupos funcionais, desde os burocratas e sacerdotes até os capitalistas e trabalhadores. Quem fica de fora? O pária – ele é o indiano não pertencente a qualquer casta, considerado impuro e desprezível pela tradição cultural hinduísta. Casta inclui a perspectiva cultural, além dos interesses econômicos.
As castas constituem-se por membros de diversas redes e instituições de poder, cada uma apresentando sua própria cultura e incentivando determinado estilo de vida. Elas tendem a dar a seus integrantes determinadas atitudes para com a autoridade, a organização e a política. Permitem ilustrar melhor a complexidade social de toda a História da Humanidade do que o simplista modelo dicotômico – tipo “nós” (pobres) contra “eles” (ricos) – do século 19.
Como eu resumo, em números, a estratificação social no Brasil? Em uma população economicamente ativa em torno de 100 milhões de pessoas, 9 milhões aplicam no mercado financeiro e recebem também renda do capital. É o mesmo número de pessoas (8.979.706) que tem formação universitária completa.
Além dessas, 451.209 pessoas têm mestrado e 170.247 têm doutorado. Pelos cálculos da OCDE, um adulto com idade entre 25 e 64 anos que termina o ensino superior, no Brasil, receberá em média 157% mais renda do que quem só terminou o ensino médio. Essa média nos países da OCDE é de 57%.
Nos últimos 13 anos, a taxa de juros média real foi de 6,6% aa, cinco vezes maior do que o aumento anual do salário médio real, isto é, da renda do trabalho (1,3% aa). Reconhecendo esta dependência de trajetória em relação ao juro real médio de 0,5% am, os profissionais com ensino superior estabelecem sua estratégia de complementar a Previdência Social. Com
Se, a cada 10 anos, ele muda de faixa salarial (graduado com R$ 5.000, mestre com R$ 10.000 e doutor com R$ 15.000), devido à titulação (mestrado-doutorado) ou à experiência, fazendo aporte inicial com o acumulado na faixa anterior, com mais 18 anos ele terá acumulado o suficiente para poder se aposentar com renda do capital similar à renda de trabalho dessa última faixa salarial.
Essa classe média se distingue da maioria da população brasileira em investimentos financeiros. Em março de 2015, 8.940.787 pessoas (descontando dupla contagem de CPFs) investiam em fundos e títulos e valores mobiliários (ações, títulos públicos e privados). A média de cada qual era de R$ 79.299,53.
Enquanto isso, eram cerca de 98 milhões de depositantes de poupança com a média individual de R$ 6.690,33. Deles, 87,4% do total de clientes (cerca de 85 milhões) tinham depósitos em média per capita de apenas R$ 481,79, ou seja, a grande maioria das cadernetas de poupança tinha apenas uma espécie de saldo de conta corrente. Era forma de evitar o pagamento de tarifas bancárias.
O top dos
Pelas declarações de Imposto de Renda, os “super-ricos” no Brasil representam só 0,3% do total de contribuintes do IR ou 0,05% da PEA do país. Os 71.440 indivíduos que receberam no mínimo 160 salários mínimos (R$ 126.080,00) ao mês ou R$ 1,5 milhão no ano, obtiveram renda anual média, no ano-base de 2013, de R$ 4,170 milhões.
Sem abater as dívidas, a média per capita de bens e direitos desta faixa mais rica atingiu R$ 17,7 milhões. Este patrimônio líquido (contendo imóveis registrados em valores históricos) desse reduzido grupo equivale a 22,7% de toda a riqueza em bens e direitos no DIRPF 2014/13.
No entanto, o imposto de renda pago por essa faixa de rendimento acima de 160 salários mínimos equivale apenas a 6,51% de sua renda total. A faixa entre 20 e 40 salários mínimos (com renda anual per capita de R$ 226.273,37) é a que paga percentual maior: 11,96%.
Quanto à reforma tributária, imposto sobre herança e/ou doação os demais grandes países emergentes do BRIC não cobram, o que incentivará a fuga de capital caso o Brasil eleve suas alíquotas. Imposto sobre grandes fortunas quase nenhum país adota, devido ao mesmo risco de fuga. Porém, isenção sobre lucros e dividendos pagos por Pessoa Jurídica para Pessoa Física, só a Estônia, além do Brasil, concede! Cerca de 51 mil daqueles 71 mil “super-ricos” recebem essa isenção. Esta casta de comerciantes-financistas deveria dar sua contribuição ao ajuste fiscal.
O fim dessa isenção evitaria a ressurreição da CPMF. Esta, de fato, representa aumento da carga tributária. Mas, devido a seus poucos defeitos – cumulatividade e regressividade – as castas dos sábios e comerciantes-financistas usam a ignorância econômica das outras castas como massa de manobra, escondendo as maiores virtudes desse “imposto do cheque”: fácil arrecadação e difícil sonegação; tributar o setor informal; combater a sonegação de outros impostos pelo cruzamento de dados de movimentações financeiras; permitir a arrecadação independentemente de ciclo econômico.
Com alíquota de 0,38%, as receitas com a CPMF, antes de 2007, eram praticamente constantes, em torno de 1,3% do PIB ao ano. Esse montante arrecadado hoje seria o suficiente para o cobrir o déficit orçamentário.
Postado por Caio Botelho
*soletrandoaliberdade
Série inédita brasileira mostra salto da desigualdade no começo da ditadura
Com método de Piketty, estudo de Pedro Ferreira de Souza constrói histórico desde 1927
Dados do 1% mais rico pós-64 refutam ideia de desigualdade como efeito do milagre
É preciso crescer o bolo para depois distribuí-lo. O debate sobre a frase clássica da ditadura brasileira para explicar o salto dadesigualdade na década de 1960 acaba de ganhar um novo capítulo. Série histórica inédita sobre a concentração de renda nas mãos do 1% mais rico da população do Brasil, de 1927 a 2013, mostra que a acumulação de renda no topo da pirâmide deu um salto nos primeiros anos de regime militar. Os novos números identificam um aumento do fosso entre os mais ricos e os mais pobres antes domilagre econômico. Ou seja, não foi apenas em decorrência do crescimento acelerado da economia iniciado em 1968 —e da demanda insatisfeita por trabalhadores mais qualificados provocado por ele— que a alta da desigualdade se deu. As medidas dos anos de recessão e o ajuste do começo do período, que incluíram isenções fiscais, arrocho salarial e repressão a sindicatos, foram determinantes para a reversão rápida, entre 1964 e 1968, de uma trajetória de queda da disparidade.
Em 1965, a fração recebida pelo 1% mais rico, considerando apenas os rendimentos tributáveis brutos (só o passível de pagar tributo), era cerca de 10% do bolo total. Apenas três anos depois, a cifra vai a 16%. Em outras palavras, se em 1965 o 1% mais rico ganhava cerca de 10 vezes a renda média do país, em 1968 esse número subiu para 16 vezes. É a partir desse patamar, já alto, que durante o milagre, a disparidade segue aumentando.
O assalariado vai querer ganhar mais apenas para consumir; a empresa desejará maiores lucrospara investir , criar novas fábricas, novos empregos, de que o país precisa – logo, ela tem prioridadeTexto da Veja, em 1972, em reportagem que citava a visão da ditadura: crescer primeiro
As conclusões acima fazem parte dos resultados preliminares do estudo feito por Pedro Ferreira de Souza, pesquisador do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e da UnB. Souza integra um núcleo pioneiro do estudo da desigualdade no Brasil, que vem usando, pela primeira vez sistematicamente, informações das declarações doImposto de Renda de quase um século de registros tributários brasileiros. Ao lado de Fabio Castro e do orientador Marcelo Medeiros (UnB e IPEA), utiliza a mesma metodologia do francês Thomas Piketty, que deu novo impulso ao debate global sobre as consequências econômicas e sociais da desigualdade com seu livro O Capital do Século 21 (2014).
Piketty não tratou de Brasil em seu livro —há dados apenas de Argentina e algo da Colômbia— e a maior parte da reflexão do francês está voltada às economias desenvolvidas. Por isso, os dados de Souza também ajudam a inserir a economia brasileira e da América Latina nos novos estudos sobre a desigualdade e a trajetória dela no tempo. O pulo do gato desta linha de pesquisa está em, ao usar dados do imposto de renda, corrigir distorções na medição de desigualdade que aparecem quando se utilizam pesquisas de amostragem como a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE. No Brasil e no resto do mundo, esse tipo de pesquisa acaba subestimando a renda dos ricos: quer porque eles são menos acessíveis, quer porque têm menos habilidade ou intenção de falar de maneira precisa sobre seus ganhos.
"A emergente literatura sobre 'top incomes' (a concentração de renda no topo) conseguiu operar uma mudança nas interpretações da desigualdade nos países desenvolvidos. A ambição da análise dos meus dados é contribuir para isso no Brasil. Mudar o ponto de vista ajuda tanto a iluminar novas dimensões de antigos fenômenos quanto a revelar mudanças e características até então pouco visíveis”, escreve Souza.
Um debate acalorado
Com seus dados sobre o período da ditadura, o pesquisador de 33 anos está enveredando por uma discussão que movimentou os principais nomes da literatura econômica do país nos últimas décadas. Foi um debate extremamente acalorado nos anos 70, quando saíram os dados do Censo daquele ano. As cifras registraram, em comparação ao Censo de 60, uma alta da desigualdade.
Numa época de polarização ideológica e rejeição à ditadura, duas principais correntes se firmaram. De um lado, estavam o brasileiro Rodolfo Hoffmann e o americano Albert Fishlow que apontavam para o arrocho salarial —o salário mínimo, já descontada a inflação, perdera 20% do seu valor real entre 1964 e 1967—, além da repressão, como fator de importância na desigualdade. O outro lado se firmaria em 1972, quando veio à luz o hoje clássico estudo de Carlos Langoni, que seria depois presidente do Banco Central nos anos 80. Usando dados exclusivos do Censo e outros dados tributários cedidos pelo então ministro Delfim Netto, Langoni usou a chamada teoria do capital humano para apontar o nível de educação como principal fator isolado para explicar o aumento da desigualdade. Como o Brasil crescia a taxas altas no milagre, a demanda por profissionais qualificados era maior que a oferta deles no mercado, forçando o aumento dos salários e, portanto, da renda, dos que estavam nesse topo.
Obviamente, nenhuma das duas correntes explicava o todo, ainda mais quando se levaria tempo até ter dados organizados e anuais. Para complicar o panorama, a ditadura viu no estudo de Langoni um meio de construir a narrativa do “bolo em crescimento”, o que carimbaria a análise dele por muito tempo.
A solução que a ditadura deu para a crise econômica e fiscal de 1964 a 1967 foi fazer um ajuste recessivo brutal. Por vários caminhos, as decisões político-econômicas diminuíram o custo do trabalho e aumentaram os ganhos de capitalPedro Ferreira de Souza
"A filosofia do ministro pode ser assim entendida: se a riqueza nacional cresce de 100, não é possível distribuir senão esses 100; daí uma política ter que optar: quem ficará com essa nova fatia, ou com a maior parte dela? A resposta é esta: o assalariado vai querer ganhar mais apenas para consumir; a empresa desejará maiores lucros para investir, criar novas fábricas, novos empregos, de que o país precisa – logo, ela tem prioridade”, escreve a revista Veja em 1972 sobre a filosofiade Delfim Netto citando o trabalho de Langoni. Pelo texto, o jornalista Paulo Henrique Amorim ganharia o Prêmio Esso, o mais prestigioso do jornalismo.
Na interpretação de Souza, a série histórica da desigualdade no Brasil que ele produziu faz o debate pender para Fishlow e Hoffmann quase quatro décadas depois. “Tudo mudou muito rapidamente após a ruptura institucional em 1964 e não há nenhuma explicação melhor para o salto da desigualdade. A solução que a ditadura deu para a crise econômica e fiscal de 1964 a 1967 foi fazer um ajuste recessivo brutal. Por vários caminhos, as decisões político-econômicas diminuíram o custo do trabalho e aumentaram os ganhos de capital”, descreve o pesquisador.
A questão está longe de soar ultrapassada. No prefácio da terceira edição do estudo de Langoni lançado em 2005, outro expoente do estudo da desigualdade do Brasil, Marcelo Neri, da FGV e ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos sob Dilma Rousseffescreve: "Ouso dizer que o estudo de Langoni não foi superado. Seja pela atualidade da técnica utilizada (...), seja pelos resultados substantivos, que permanecem tão atuais quanto antes".
"A ironia da história é que o argumento de Langoni pode ter sido relativamente pouco relevante para entender a mudança na desigualdade na década de 1960, mas certamente é relevante, pelo menos parcialmente, para entender os níveis e tendências da desigualdade no Brasil nas últimas décadas”, diz Souza, que passou o último ano na Universidade da Califórnia (Berkeley), sob a supervisão do francês Emmanuel Saez, parceiro de Piketty.
Com a série histórica, Souza não joga luz apenas no imbróglio da ditadura. Em seu trabalho, o pesquisador relaciona os ciclos políticos brasileiros e a desigualdade. Houve aumento dela durante a Segunda Guerra Mundial, quando a incipiente indústria nacional foi beneficiada pela forçada substituição de importações. No período depois e até a chegada na ditadura, há queda no índice, que chegou ao ponto histórico mais baixo. Sobre os dados de antes de 60, também inéditos, o pesquisador diz que ainda não tem uma interpretação definitiva sobre a queda da desigualdade: era um ciclo democrático, de substituição de importações, de urbanização. Uma pista é que na Argentina, também uma economia primária em transformação, o comportamento é parecido.
"O que os dados do Pedro (Souza) estão mostrando é que o caso brasileiro, de certa forma alinhado com o caso argentino, sinalizam que as explicações clássicas da desigualdade talvez não sirvam para todos os países do mundo. Talvez a gente precise de um outro tipo de explicação. Talvez não exista uma explicação geral, mas sim explicações locais", diz Medeiros, seu orientador na UnB.
Assim como nos anos 60 e 70, os 80 são de alta da desigualdade mais uma vez, mas, pondera o pesquisador, há “ruído” na tabela por causa da hiperinflação. É possível, afirma, apontar que a partir de "algum momento dos anos 1990", já na democracia, a desigualdade começa a cair.
O 1% mais rico na França tem 10% da renda, nos EUA a taxa é de 20%. No Brasil, 25%, a mais concentrada e desigual entre as grandes economias
Ciclos políticos e Governo Lula
Parte dos dados tributários, usados em trabalhos conjuntos dele com Medeiros e Fabio Castro, também complexifica a trajetória da desigualdade na era Lula-Dilma. Se as medições baseadas na PNAD mostraram uma queda da desigualdade depois de 2001, os números calculados com base nos dados tributários mostram uma estabilidade (mesmo na PNAD, há estabilidade em 2012 e 2013 no índice). Ou seja: pode ter havido redistribuição de renda, e consequente maior bem-estar, para grupos da base da pirâmide sem que isso tenha mexido na fatia relativa ao 1% mais rico. Por causa disso, na tabela da desigualdade no topo, há pouca alteração. O dado que contestava a narrativa sobre queda de desigualdade sob Lula provocou controvérsia durante as eleições presidenciais no ano passado.
“A pergunta que mais me fascina é: sob que condições sociedades democráticas e capitalistas conseguem redistribuir renda? A ênfase da literatura de top incomes é no papel de choques mais ou menos exógenos, principalmente a Segunda Guerra, para a queda da desigualdade”, conta Souza. Ele lembra que, ao contrário do que o senso comum pode induzir a pensar, os países desenvolvidos tiveram, no começo do século 20, patamares de desigualdade próximos ao dos países latino-americanos e do Brasil na mesma época. Agora, as taxas se afastaram: enquanto o 1% mais rico na França tem 10% da renda, nos EUA a taxa é de 20%. No Brasil, 25%, a mais concentrada e desigual entre as grandes economias para as quais há dados.
“Não há casos bem conhecidos de países que tenham saído de um nível brasileiro e gradualmente, sem sobressaltos ou catástrofes, tenham chegado a níveis de desigualdade franceses, por exemplo. Não quero soar pessimista, talvez inventemos algo para resolver isso”, lança o pesquisador, sem muita convicção. É um pensamento sombrio, ainda mais quando o país em crise discute como sair do maior retrocesso do PIB em 25 anos sem perder o que avançou em termos de combate à desigualdade e pobreza no período.
*http://brasil.elpais.com/brasil/2015/10/29/economia/1446146892_377075.html
FHC concedeu 841 licenças de frequências de rádio para os EUA espionarem o Brasil. 16 ainda estão ativas
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) realizou operações de contra-espionagem em território brasileiro. Entre os diversos alvos estavam, segundo apurou a Folha de S.Paulo, salas alugadas pela embaixada dos Estados Unidos em Brasília.
Em agosto de 2013, a revista CartaCapital publicou a reportagem abaixo, na qual revela que algumas instalações usadas pela Embaixada americana em Brasília continuam ativas. Confira a íntegra:
(Leandro Fortes)
Um grupo de assessores brasileiros liderados pelo Ministério das Comunicações esteve em Washington para ouvir as explicações do Departamento de Estado americano sobre as denúncias de espionagem contra o País. Nas principais instâncias de inteligência do governo federal e, portanto, no Palácio do Planalto, desde sempre se sabe, ou se deveria saber, da movimentação de espiões dos Estados Unidos no território nacional sob proteção da Embaixada em Brasília.
O problema é que os norte-americanos vão além, operam com uma liberdade incomum e extrapolam os limites da soberania. Segundo os documentos vazados pelo ex-funcionário da CIA Edward Snowden, até 2002 o Tio Sam valia-se de 16 instalações em território nacional para atividades de “inteligência”.
A série de documentos secretos e reservados do governo federal obtidos pela revista, vários deles encaminhados a assessores diretos da presidenta Dilma Rousseff, relata o funcionamento de ao menos seis endereços em Brasília utilizados pela Embaixada dos EUA como centros de operação e análise de inteligência.
Os imóveis, casas e salas comerciais, cobrem com frequências de rádio toda a extensão do Plano Piloto de Brasília, a partir de antenas de radiocomunicação e telefonia exclusivas autorizadas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que tem um representante na missão enviada pelo governo aos Estados Unidos.
A outorga para o uso “limitado-privado” foi concedida à Embaixada dos EUA no fim do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1997, e tem validade até 20 de julho de 2019. Ao todo, abrange 841 licenças de frequências de rádio para uso exclusivo dos americanos em solo brasileiro.
Segundo documentos publicados pelo jornal O Globo, uma unidade de espionagem funcionou em Brasília, até 2002, controlada pela Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA, em inglês), em conjunto com a CIA. Era parte da rede de 16 bases das agências de inteligência dos EUA que coletavam informações em todo o País, a partir de satélites de outros países.
Ao longo dos oito anos da era fernandina, portanto, a principal prestadora de serviço da CIA no esquema de espionagem mundial não só foi contratada pelo governo brasileiro como teve acesso a dados privilegiados das ações administrativas do País e a informações completas de toda a movimentação financeira nacional. Isso incluía livre trânsito pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Um dos projetos em conjunto entre Brasília e a Bozz Allen, pago com dinheiro nacional, foi batizado de Brasiliana e traçou os “Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento”.
Apesar dessas relações carnais, como diria o argentino Carlos Menem, FHC veio a público, logo após os vazamentos, negar qualquer conhecimento a respeito da espionagem dos EUA. A respeito, o ex-presidente construiu uma daquelas frases consideradas brilhantes por seus admiradores: “Nunca soube de espionagem da CIA em meu governo, mesmo porque só poderia saber se ela fosse feita com o conhecimento do próprio governo, o que não foi o caso”. Em seguida, sugeriu à presidenta Dilma Rousseff tomar uma atitude. “Cabe ao governo brasileiro, apurada a denúncia, protestar formalmente pela invasão de soberania e impedir que a violação de direitos ocorra.”
FHC talvez tenha sofrido um lapso de memória. Ele mal iniciava seu segundo mandato quando CartaCapital publicou reportagens sobre a influência dos serviços de inteligência dos Estados Unidos na Polícia Federal. A DEA e a CIA financiavam atividades da PF: pagavam agentes, davam treinamento, pagavam hotéis, aluguéis de carros e até de imóveis utilizados pela força federal. Em troca, circulavam livremente pelo Brasil.
(leia a matéria completa na Carta Capital)
FHC uma vergonha para nosso país... Um brasileiro a serviço dos EUA...(Paulo Ribeiro)
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