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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, novembro 16, 2015

‪#‎VÍDEO‬ Pescadores convocaram mutirões para transferir os peixes do rio Doce


compartilhou o vídeo de BBC Brasil.
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BBC Brasil
‪#‎VÍDEO‬ Pescadores convocaram mutirões para transferir os peixes do rio Doce, contaminado pela lama que escoa das duas barragens rompidas em Mariana (MG) na quinta-feira, para lagoas. Batizada de "Operação Arca de Noé", a força-tarefa operará em locais que ainda não foram atingidos. Leia a reportagem completa -->http://bbc.in/1LdxrTz


Roseli Henriques compartilhou o vídeo de Canal Rural.
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Canal Rural
Você já viu o sofrimento nos distritos de Mariana em texto e foto. Agora, assista ao vídeo e solidarize-se com o povo de lá!

Os equivocos do Império no Oriente: Putin sai forte e Obama fraco da crise do terrorismo

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Se continuar fazendo o papel de poodle de Obama, Hollande vai ser bombardeado pela opinião pública francesa (mviva)

Tanto é assim que, horas antes do atentado em Paris, Barack Obama havia dado uma declaração, de rara infelicidade” de que os grupo estava abalado e contido. O “inimigo a ser batido” era Assad, não o Isis.
Os tiros na noite parisiense mostraram que não.
O jogo duplo da OTAN, que fechava os olhos às possibilidades de que os grupos rebeldes tivessem ligações com o Isis – a própria França admitiu estar armando os rebeldes – criou uma situação de completo vazio de poder e de generalização dos conflitos, formando a maré humana que se despejou sobre a Europa, na qual os simpatizantes do grupo terrorista, claro, usam como covarde cobertura para suas ações.

Resultado de imagem para the russian president Putin and BacharHoje, na reunião do G-20, o presidente russo Vladimir Putin capitalizou a ofensiva de seu país contra o Exército Islâmico: “Infelizmente, ninguém está a salvo de atentados terroristas.a França estava entre os países que mantinham uma postura muito firme contra o presidente sírio, Bashar al Assad”, disse.”Isto salvou Paris dos ataques terroristas? Não”.
Putin já disse que não pretende a continuidade incondicional de Assad, mas não aceita – e não considera viável – qualquer acordo na Síria do qual o governo do país seja excluído. Sugeriu que a “oposição armada” a Assad ataque o Isis e ofereceu até apoio aéreo para isso.
Está emparedando os americanos, porque a Europa, assustada, quer uma solução de curto prazo para o Isis, sabe que não a terá sem presença física de seus opositores e que a tal “oposição síria” não passa de grupos sem coordenação e sem identidade. Muito provavelmente, boa parte dela é composta de grupos tribais – como aconteceu na Líbia – que não tem capacidade de impor uma ordem em escala nacional, como não têm os governos instalados pelo Ocidente no Iraque e no Afeganistão.
Putin, o “duro”, está dando um banho diplomático nos americanos. Já fez a sua exibição de força, exibiu seu poderio bélico – sobre o qual havia dúvidas tecnológicas – e estabeleceu um planejamento coordenado entre bombardeios aéreos e operações terrestres do exército sírio, o qual nem a velhinha de Taubaté acredita, a esta hora, que atua sem a orientação dos russos.
E sabe que, com a inevitável adesão da Europa a uma operação coordenada entre seus países com a presença da Rússia, seu país terá uma posição de protagonismo na rearrumação de forças naquela parte do Oriente Médio, com o Irã, a maior potência local (porque a Arábia Saudita fica capenga por seu apoio aos sunitas do Isis) a tiracolo.
O videogame da guerra aérea é importante, decisivo e, por conta da tecnologia, devastador. Mas a guerra se ganha ou perde em terra e quem tem presença no tabuleiro, sabe Putin, é a Rússia.

Gigante (por conta da ditadura) da mídia cativa os telespectadores com novelas vazias e comentários ineptos no noticiário.

New York Times diz que a Globo é a TV que ilude o Brasil
Da Redação conexaojornalismo















Um artigo publicado no jornal New York Times, e reproduzido por aqui no site UOL, é de causar constrangimento a todo brasileiro mais crítico. Nele, Vanessa Bárbara revela com contundente precisão o quanto a TV Globo historicamente interfere no cotidiano de um país que figura entre os de mais baixa qualificação de ensino do planeta. Lembrar que William Bonner comparou o telespectador médio de TV do país com Homer Simpson chega a ser obrigatório.

Gigante da mídia cativa os telespectadores com novelas vazias e comentários ineptos no noticiário.

Vanessa Barbara, no International New York Times, via UOL
Em São Paulo

No ano passado, a revista "The Economist" publicou um artigo sobre a Rede Globo, a maior emissora do Brasil. Ela relatou que "91 milhões de pessoas, pouco menos da metade da população, a assistem todo dia: o tipo de audiência que, nos Estados Unidos, só se tem uma vez por ano, e apenas para a emissora detentora dos direitos naquele ano de transmitir a partida do Super Bowl, a final do futebol americano".

Esse número pode parecer exagerado, mas basta andar por uma quadra para que pareça conservador. Em todo lugar aonde vou há um televisor ligado, geralmente na Globo, e todo mundo a está assistindo hipnoticamente.

Sem causar surpresa, um estudo de 2011 apoiado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou que o percentual de lares com um aparelho de televisão em 2011 (96,9) era maior do que o percentual de lares com um refrigerador (95,8) e que 64% tinham mais de um televisor. Outros pesquisadores relataram que os brasileiros assistem em média quatro horas e 31 minutos de TV por dia útil, e quatro horas e 14 minutos nos fins de semana; 73% assistem TV todo dia e apenas 4% nunca assistem televisão regularmente (eu sou uma destes últimos).

Entre eles, a Globo é ubíqua. Apesar de sua audiência estar em declínio há décadas, sua fatia ainda é de cerca de 34%. Sua concorrente mais próxima, a Record, tem 15%.

Assim, o que essa presença onipenetrante significa? Em um país onde a educação deixa a desejar (a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico classificou o Brasil recentemente em 60º lugar entre 76 países em desempenho médio nos testes internacionais de avaliação de estudantes), implica que um conjunto de valores e pontos de vista sociais é amplamente compartilhado. Além disso, por ser a maior empresa de mídia da América Latina, a Globo pode exercer influência considerável sobre nossa política.

Um exemplo: há dois anos, em um leve pedido de desculpas, o grupo Globo confessou ter apoiado a ditadura militar do Brasil entre 1964 e 1985. "À luz da História, contudo", o grupo disse, "não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original".

Com esses riscos em mente, e em nome do bom jornalismo, eu assisti a um dia inteiro de programação da Globo em uma terça-feira recente, para ver o que podia aprender sobre os valores e ideias que ela promove.

A primeira coisa que a maioria das pessoas assiste toda manhã é o noticiário local, depois o noticiário nacional. A partir desses, é possível inferir que não há nada mais importante na vida do que o clima e o trânsito. O fato de nossa presidente, Dilma Rousseff, enfrentar um sério risco de impeachment e que seu principal oponente político, Eduardo Cunha, o presidente da Câmara, está sendo investigado por receber propina, recebe menos tempo no ar do que os detalhes dos congestionamentos. Esses boletins são atualizados pelo menos seis vezes por dia, com os âncoras conversando amigavelmente, como tias velhas na hora do chá, sobre o calor ou a chuva.

A partir dos talk shows matinais e outros programas, eu aprendi que o segredo da vida é ser famoso, rico, vagamente religioso e "do bem". Todo mundo no ar ama todo mundo e sorri o tempo todo. Histórias maravilhosas foram contadas de pessoas com deficiência que tiveram a força de vontade para serem bem-sucedidas em seus empregos. Especialistas e celebridades discutiam isso e outros assuntos com notável superficialidade.

Eu decidi pular os programas da tarde -a maioria reprises de novelas e filmes de Hollywood- e ir direto ao noticiário do horário nobre.

Há dez anos, um âncora da Globo, William Bonner, comparou o telespectador médio do noticiário "Jornal Nacional" a Homer Simpson -incapaz de entender notícias complexas. Pelo que vi, esse padrão ainda se aplica. Um segmento sobre a escassez de água em São Paulo, por exemplo, foi destacado por um repórter, presente no jardim zoológico local, que disse ironicamente "É possível ver a expressão preocupada do leão com a crise da água".

Leia também: JN omite notícias importantes enquanto audiência despenca

Assistir à Globo significa se acostumar a chavões e fórmulas cansadas: muitos textos de notícias incluem pequenos trocadilhos no final ou uma futilidade dita por um transeunte. "Dunga disse que gosta de sorrir", disse um repórter sobre o técnico da seleção brasileira. Com frequência, alguns poucos segundos são dedicados a notícias perturbadoras, como a revelação de que São Paulo manteria dados operacionais sobre a gestão de águas do Estado em segredo por 25 anos, enquanto minutos inteiros são gastos em assuntos como "o resgate de um homem que se afogava causa espanto e surpresa em uma pequena cidade".

O restante da noite foi preenchido com novelas, a partir das quais se pode aprender que as mulheres sempre usam maquiagem pesada, brincos enormes, unhas esmaltadas, saias justas, salto alto e cabelo liso. (Com base nisso, acho que não sou uma mulher.) As personagens femininas são boas ou ruins, mas unanimemente magras. Elas lutam umas com as outras pelos homens. Seu propósito supremo na vida é vestir um vestido de noiva, dar à luz a um bebê loiro ou aparecer na televisão, ou todas as opções anteriores. Pessoas normais têm mordomos em suas casas, que são visitadas por encanadores atraentes que seduzem donas de casa entediadas.

Duas das três atuais novelas falam sobre favelas, mas há pouca semelhança com a realidade. Politicamente, elas têm uma inclinação conservadora. "A Regra do Jogo", por exemplo, tem um personagem que, em um episódio, alega ser um advogado de direitos humanos que trabalha para a Anistia Internacional visando contrabandear para dentro dos presídios materiais para fabricação de bombas para os presos. A organização de defesa se queixou publicamente disso, acusando a Globo de tentar difamar os trabalhadores de direitos humanos por todo o Brasil.

Apesar do nível técnico elevado da produção, as novelas foram dolorosas de assistir, com suas altas doses de preconceito, melodrama, diálogo ruim e clichês.

Mas elas tiveram seu efeito. Ao final do dia, eu me senti menos preocupada com a crise da água ou com a possibilidade de outro golpe militar -assim como o leão apático e as mulheres vazias das novelas.

* Vanessa Barbara é uma colunista do jornal "O Estado de São Paulo" e editora do site literário "A Hortaliça".

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sábado, novembro 14, 2015

Hollande admite que França entregou armas a rebeldes na Síria 

Fonte AlManar/Spanish
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O presidente francês, François Hollande, admitiu hoje pela primeira vez, a entrega de armamento do seu país aos grupos que  ao longo de três anos tem tentado derrubar o legítimo governo sírio.
Em uma extensa entrevista ao jornal Le Monde, Hollande disse que o armamento estava dirigido a apoiar o que ele chamou de “oposição democrática” e, segundo ele, os materiais doados cumprem os “compromissos europeus.”
Enquanto o Ocidente tenta separar os chamados “moderados” de grupos terroristas, outros países têm alertado para a impossibilidade de fazer essa diferença, porque seus membros mudam frequentemente de lado, dependendo da remuneração recebida.
Sem citar nomes, esta semana o governo de Damasco criticou alguns países que pretendem “combater o terrorismo”, quando na verdade o patrocinam.
Em suas declarações ao jornal Le Monde, o presidente francês também se referiu à situação no Iraque e disse que a França e os EUA são os únicos que estão armando os curdos para enfrentar os extremistas do chamado Estado Islâmico (EI) no norte desse território.
Segundo Hollande, a entrega de armamento está sendo feita “com o consentimento das autoridades de Bagdá para que não haja nenhuma dúvida sobre o uso desses meios.”
De acordo com o presidente francês, a ameaça de EI é pior do que a Al-Qaeda em 2001.
“Diante de um estado quase terrorista, não podemos mais manter a discussão tradicional de intervenção ou não intervenção. Devemos considerar uma estratégia global”, disse o presidente.
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DW- Em junho deste ano, o presidente de EUA, Barack Obama, aprovou o uma ajuda financeira de 500 milhões de dólares destinada a “treinar e equipar” os rebeldes sírios “moderados” que combatem tanto o presidente Bashar al-Assad como o grupo extremista sunita Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) segundo o site DW.
Oficialmente, o apoio dos EUA aos rebeldes sírios foi limitado logo no início do conflito, em março de 2011: 287 milhões de dólares em material não letal. Entretanto, a CIA participou de um programa secreto de treinamento militar dos rebeldes “moderados” na Jordânia.
Os 500 milhões pedidos em junho por Obama fazem parte de um pacote de 1,5 bilhão de dólares dedicado a uma “iniciativa de estabilização regional” para ajudar a oposição a Damasco e os vizinhos da Síria – Jordânia, Líbano, Turquia e Iraque – a lidarem com as consequências da guerra civil síria nos seus territórios.
O 1 bilhão restante destina-se aos países vizinhos, para fortalecerem a segurança interna, as fronteiras e a capacidade de receberem refugiados sírios.
O presidente americano anunciou a decisão num discurso na Academia Militar de West Point, no qual também revelou a criação de um fundo de 5 bilhões de dólares para financiar a luta contra o terrorismo.

*http://www.orientemidia.org/hollande-admite-que-franca-entregou-armas-a-grupos-armados/

quinta-feira, novembro 12, 2015

Globo enquadra Aécio e manda PSDB baixar a bola


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Por meio do colunista Merval Pereira, o mais alinhado com o PSDB e com os interesses do editor João Roberto Marinho, o jornal O Globo mandou um duro recado ao senador Aécio Neves (PSDB-MG); “O PSDB errou muito ao jogar todas as suas fichas no impeachment e, mais que isso, apostar que poderia encontrar atalhos para chegar a ele sem respeitar os prazos, pulando etapas”, afirmou Merval; outros erros, disse ele, foram a aliança com Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e os votos contra a estabilidade fiscal; “Todo o conjunto de ações para minar o governo da presidente Dilma acabou minando também a credibilidade do PSDB”, disse Merval, afirmando que tucanos terão que recomeçar tudo de novo; coincidência ou não, desde ontem o PSDB parou de sabotar o País e assumiu o compromisso de não apoiar as pautas-bomba do Congresso
Desde ontem, o PSDB assumiu um novo discurso. Não só rompeu a aliança com Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como também assumiu o compromisso em votar alinhado com temas que promovam a estabilidade fiscal.
Até então, a política do PSDB, sob a gestão de Aécio, era o “quanto pior, melhor” – o jogo consistia em sabotar a economia, para criar condições para um golpe, pactuado com Cunha. Por isso mesmo, os tucanos votaram contra o fator previdenciário e deram aval a todas as pautas-bomba do Congresso.
O PSDB, no entanto, foi chamado à razão por setores da elite econômica e empresarial e por grupos de mídia. Um exemplo, foi o jornal O Globo, em texto publicado nesta quinta-feira por Merval Pereira, o colunista mais alinhado com o PSDB e com os interesses do editor João Roberto Marinho.
“O PSDB errou muito ao jogar todas as suas fichas no impeachment e, mais que isso, apostar que poderia encontrar atalhos para chegar a ele sem respeitar os prazos, pulando etapas”, disse Merval. “Aprovar a DRU (Desvinculação de Receitas da União), instrumento fundamental para o governo ter margem de manobra dentro do Orçamento, e que foi criado pelo próprio PSDB para contornar a rigidez das verbas vinculadas, é perfeitamente aceitável”, pontuou ainda o colunista.
Coincidência ou não, o PSDB ontem afirmou que votará a favor da DRU, mecanismo que dá maior liberdade orçamentária ao governo (confira aqui). Leia, abaixo, a coluna do jornalista do Globo:
De volta ao começo
POR MERVAL PEREIRA
O PSDB parece que voltou a fazer política de maneira mais conseqüente. Passada a fase de buscar a qualquer custo apressar o impeachment, agora vai retomar o seu caminho natural.
O rompimento com Eduardo Cunha e a negociação para pontos importantes do ajuste fiscal fazem parte dessa nova postura de oposição consciente. Ser a favor do impeachment da presidente Dilma – e há motivos claros para isso –  não significa que se deva trabalhar para inviabilizar seu governo naquilo que concerne a questões do Estado brasileiro.
Aprovar a DRU (Desvinculação de Receitas da União), instrumento fundamental para o governo ter margem de manobra dentro do Orçamento, e que foi criado pelo próprio PSDB para contornar a rigidez das verbas vinculadas, é perfeitamente aceitável. Aprovar a volta da CPMF, não.
O PSDB errou muito ao jogar todas as suas fichas no impeachment e, mais que isso, apostar que poderia encontrar atalhos para chegar a ele sem respeitar os prazos, pulando etapas.
Pressionado pelos movimentos de rua, os jovens deputados do PSDB – eles chamam “cabeças negras” contra “cabeças brancas” – foram muito afoitos achando que poderiam apressar o processo de impeachment da presidente Dilma, não entendendo que com isso estavam dando condições ao governo de denunciar um golpe.
Não há golpe por que o instrumento democrático está previsto na Constituição, mas a partir do momento em que se quer encontrar caminhos mais curtos para chegar ao impeachment e para isso se conta com o apoio de um político como o Eduardo Cunha, completamente desacreditado mesmo antes de aparecerem as provas das contas ilegais na Suíça, é claramente um equívoco político.
Estava evidente desde o início que não valia a pena se aproximar tão efusivamente de Cunha, mesmo para alcançar um objetivo político maior, que é o afastamento da presidente Dilma.

Pouparam Eduardo Cunha imaginando que através dele poderiam chegar ao impeachment, e agora entenderam  que ele apenas faz chantagem com o governo e com a oposição para tudo ficar como sempre esteve, enquanto ele tiver esse poder na mão, está garantido.
Até agora, quem se salvou foi só ele, e, em conseqüência, a presidente Dilma. Na sua atuação oposicionista, o PSDB fez um trabalho retórico correto. Não houve uma decisão do governo que merecesse crítica que não recebesse do presidente do partido, senador Aécio Neves, a devida contestação, em notas oficiais, entrevistas coletivas ou discursos no Senado.
A atuação parlamentar do PSDB melhorou muito de intensidade e qualidade neste ano, tanto no Senado quanto na Câmara. Mas errou na questão propositiva. A proposta de governo apresentada pelo PMDB, elaborada pelo Instituto Ulysses Guimarães, é uma peça muito bem feita que deveria ter sido produzida pelo PSDB, que teoricamente tem mais condições estruturais para apresentar à sociedade propostas alternativas, e está na oposição, ao contrário do PMDB, que é governo.
Mas foi o PMDB que saiu na frente, graças a um trabalho coordenado pelo presidente da Fundação Ulysses Guimarães ex-ministro Moreira Franco. A tarefa da oposição é essa, apresentar alternativas ao governo que critica, e não ficar apenas pensando no fim do governo.
No afã de encurtar o mandato de Dilma, o PSDB ajudou a aprovar medidas que são verdadeiras bombas no orçamento do país, medidas que os tucanos não podiam apoiar, como o fim do fator previdenciário. O paradoxo é evidente: enquanto o PSDB apoiou o fim do fator previdenciário, o PMDB em seu documento faz a proposta de idade mínima para aposentadoria.
Todo o conjunto de ações para minar o governo da presidente Dilma acabou minando também a credibilidade do PSDB. Agora, o maior partido da oposição que aparece em todas as pesquisas como o favorito para eleger o próximo presidente da República, tem que refazer seu caminho, começar tudo de novo.


Leia a matéria completa em: Globo enquadra Aécio e manda PSDB baixar a bola - Geledés http://www.geledes.org.br/globo-enquadra-aecio-e-manda-psdb-baixar-a-bola/#ixzz3rKcIopyV