A onda golpista e conservadora se acirra no Brasil e, com ela, vem o risco de vermos desabar a democracia brasileira, nossa maior conquista depois de duro enfrentamento a mais de duas décadas de ditadura militar.
Como se não bastasse um Congresso Nacional refém do empresariado, infelizmente, temos visto alguns membros do Judiciário totalmente comprometidos com o golpismo, fazendo julgamentos e interpretando as leis da forma que convêm aos seus próprios interesses e dos grupos que representam, não promovendo justiça pela legalidade efetivamente.
O que talvez nenhum desses setores golpistas esperasse é a forte reação que toma conta do país. Pensam que vão nos calar novamente, que vão nos sacar os direitos individuais com a “condução coercitiva” a um ex-presidente, ou que vão por abaixo a democracia e um governo eleito legitimamente pela maioria da população.
Estão enganados, pois nós, dos movimentos sindical e sociais, nunca abandonamos as ruas e não é agora que vamos nos deixar levar pelo golpismo da direita e seus retrocessos.
É fato que um impeachment da presidenta Dilma Rousseff, diante da inexistência de qualquer ponto concreto que desabone seu governo, nada mais é do que um “golpe branco” – sem trocadilho, um golpe dos brancos inconformados com os avanços que mudaram o país na última década – são aqueles que não querem a juventude negra nas universidades, que não suportam nos ver nos aeroportos e restaurantes, que continuam impregnados pela lógica cruel da “casa grande & senzala”.
Quantos negros e negras estão participando das manifestações da direita? É óbvio que o povo negro não está ali representado, exceto pelas tristes cenas de babás e empregadas que, além da exploração do cotidiano, são obrigadas a ir às ruas, à mercê da falta de consciência de seus patrões elitistas.
Também é fato que um golpe será terrível para todo o Brasil, mas será ainda mais devastador para a população negra, sobretudo para as mulheres negras, não tenhamos dúvida disso! No Programa Bolsa Família, 73% dos beneficiários são negros, sendo 68% das famílias chefiadas por mulheres. É graças a políticas como essa de transferência de renda que a extrema pobreza que afligia o povo negro foi reduzida em 72%, de 2003 a 2014.
Está claríssimo que a agenda dos que representam essa onda raivosa é pela redução de direitos e, nesse bojo, lá se vão as ações afirmativas que conquistamos na última década.
Não podemos nos esquecer, entre outros, da importância das políticas públicas voltadas à saúde da população negra, ao empoderamento das mulheres e ao enfrentamento da violência. Não podemos ignorar a ampliação dos espaços aos negros e negras no serviço público, fruto da lei de cotas, nem os embates que resultaram nos direitos às mais de 7 milhões de trabalhadoras e trabalhadores domésticos do Brasil.
- DINO SANTOS / CUT
- Rosana Aparecida da Silva, da CUT
Por isso, companheiros e companheiras, se quisermos dar continuidade a esses avanços e combater o racismo efetivamente, temos que ir todos e todas às ruas, tantas e quantas vezes forem necessárias, até a vitória da democracia.
Vamos nós, povo negro, invocar a força das nossas raízes, de Zumbi dos Palmares e de Dandara, das nossas tantas lideranças que por centenas de anos se rebelaram contra a escravidão.
É esse povo de luta que vai mostrar que com a democracia ninguém brinca! Seja no dia 17 de abril, seja em qualquer outra mobilização, vamos dizer em alto em bom som: NÃO VAI TER GOLPE!
*Rosana Aparecida da Silva é secretária de Combate ao Racismo na CUT São Paulo