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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
quarta-feira, setembro 08, 2021
terça-feira, setembro 07, 2021
Órfão de pai e mãe vivos
7 de setembro de 2021
Órfão de pai e mãe vivos
Por Luiz Fernando Leal Padulla*
Há quase três anos ameacei escrever um artigo com esse mesmo título, uma vez que tive a tristeza de constatar que meu pai e minha mãe eram apoiadores do lesa-pátria Bolsonaro. Relutei e não escrevi. A meu ver, após o golpe de 2016, todas as mazelas e crimes – ambientais, políticos e sociais – fariam com que parte desses alienados, incluindo meus genitores, abrissem os olhos.
Mas não foi o que aconteceu. E ainda tento entender o que leva essa gente, que se diz cristã, que frequenta missas, que se dizem patriotas, continue a acreditar nas mentiras alienáveis que esse criminoso continua a fazer. Pessoas que, inclusive, tiveram a oportunidade de estudar, mas preferem o desvio de caráter.
Hoje, definitivamente, torno-me órfão de pai e mãe vivos, pois desde 2016 começaram a morrer para mim, mas tinha a esperança de uma sobrevida e cura da doença bolsonarismo, fazendo-os perceber que foram enganados. Optaram pela morte ignorante que me machuca e me envergonha.
Não vou enumerar aqui todos os adjetivos desqualificáveis que seriam perfeitos para Bolsonaro em mais uma tentativa de mostrar quem ele realmente é e o que representa. Ao invés disso, queria entender como esses “cristãos e cristãs” continuam a apoiar esse canalha que ataca nossa jovem democracia. Como pode alguém, no mínimo humano, defender falas e atitudes contra os pobres, homossexuais, negros e indígenas?
O discurso de ódio me fere não apenas por ser esquerdista, mas por notar claramente que o que se passa na cabeça dessa gente não é o bem-estar, igualdade e melhoria para a sociedade, mas apenas o ódio a quem defende isso a ponto de desejarem nossa morte.
Será que realmente acreditam no “fantasma do Comunismo” que, infelizmente, jamais aconteceu nem mesmo na “comunista” China, cuja política não apenas é capitalista, mas a maior economia do mundo? E o que dizer desses acéfalos que, na mesma frase, combinam as palavras LIBERDADE e INTERVENÇÃO MILITAR?
Como olhar nos olhos raivosos de um pai e uma mãe que apoiam crimes contra o ambiente e o aparelhamento do Estado? Que são coniventes com o desmatamento e os incêndios criminosos na Amazônia e Pantanal, sem que percebam que isso reflete diretamente na crise hídrica e, consequentemente, no custo da energia? Como conviver com essa gente que apoia um corrupto escancarado – não por convicções e perseguição política, mas com provas e laranjas! – que não apenas rouba, mas esfrega na cara da população?
Será que realmente esses analfabetos políticos estão concordando em pagar R$7,00 o litro da gasolina, mesmo sendo o Brasil um dos maiores produtores do combustível, mas graças às políticas entreguistas e lesa-pátria do “patriota”, sujeita-se à dolarização do mercado, prejudicando o mercado interno? Estarão esses alienados contentes com mais de 584 mil mortes que a Covid-19 causou graças ao apoio do “cidadão de bem” ao defender o uso de medicamentos superfaturados que não têm eficácia comprovada, recusa da compra de vacinas e incentivar aglomerações e o não uso de máscaras?
Comemoram o fato do BraZil ser o 3º país da América Latina no ranking da inflação? Ou ainda os 14,5 milhões de desempregados? Será mesmo que estão vibrando com o retorno do país ao Mapa da Fome, com 20 milhões de pessoas sem ter o que comer e outras 120 milhões (sobre)vivendo em insegurança alimentar? Seria isso o que o deus dessa gente faria?
Realmente não está sendo fácil descobrir que muita gente ainda não quer enxergar todo o retrocesso e o caminho ao caos que Bolsonaro nos colocou. Não é mais uma questão de disputa partidária. É a DEMOCRACIA contra a barbárie antidemocrática!
Como se sentar à mesa com pessoas que não apoiam incentivo à Educação, que aplaudem a destruição da Ciência e os desmontes das políticas públicas, e ainda te ofendem quando você defende evidências científicas e critica a cloroquina e ivermectina como prevenção à Covida-19?
Esse irresponsável, eleito com o apoio das mesmas instituições que hoje ele critica, as quais perseguiram opositores políticos, assim como pelas “fake news”, conseguiu fazer do país um pária mundial com suas bravatas e sandices. Conseguiu, inclusive, destruir famílias.
Lamentável, inacreditável, surreal que certas pessoas ainda comprem esse discurso vazio de Bolsonaro e não enxerguem que essa tentativa de novo golpe visa a autoproteção dele e de sua faMILÍCIA, uma vez que as instituições que ele critica e tenta jogar a opinião pública contra, na verdade estão cumprindo seu papel democrático, investigando e punindo os responsáveis pela corrupção e desmandos contra o país. E ele sabe que as investigações da “rachadinha”, “fake news”, a corrupção envolvida na compra de vacinas e remédios, e até mesmo do assassinato de Marielle Franco estão avançando e chegarão até eles. O ataque ao STF é sua cartada final que visa desviar o foco de seu desgoverno. O cerco está fechando. A casa – ou melhor, as mansões compradas em plena pandemia – está caindo. Essa tentativa de insurreição é sua única alternativa. E para isso, muito dinheiro – ilícitos, é bom que se diga! – está sendo investido e derramado nas manifestações.
Sinceramente, entristece-me olhar e presenciar fascistas que ainda apoiam esse sujeito vil. Ao mesmo tempo, motiva-me a seguir na luta por uma educação emancipadora, ainda que tentem nos calar com ameaças constantes de censura por justamente educarmos e apresentarmos os fatos que vão além da desinformação dos grupos de WhatsApp e memes das redes sociais.
Mas tenho esperança – do verbo esperançar, como diz nosso eterno Paulo Freire – de que esses dias turbulentos irão acabar. Que seja pelo impeachment (ainda que tardio!) ou pelas eleições democráticas que defenderemos e deixaremos essa triste parte da história apenas registrado nas páginas obscuras do verdadeiro BraSil. Já essa gente que se viu representada pelos discursos racistas, homofóbicos, xenofóbicos, deverá ser combatida diariamente.
*Professor, Biólogo, Doutor em Etologia, Mestre em Ciências, Especialista em Bioecologia e Conservação.
domingo, setembro 05, 2021
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