Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
sexta-feira, março 30, 2012
Adianta reagir: STJ pode rever decisão pró-pedofilia
Valeu a pena a onda de indignação que tomou conta do país diante da incompreensível
decisão do Superior Tribunal de Justiça de inocentar, na prática, os
“clientes” da prostituição de crianças de 12 anos de idade.
Uma reação que começou na blogosfera e que se agigantou quando foi encampada pelo Governo Federal – veja aqui a reação da Ministra Maria do Rosário – e pela Associação dos Procuradores da República.
Não há vontades imperiais numa república. O dever de acatar decisões
judiciais não se confunde com a perda do direito – e, neste caso, até
mesmo a obrigação, em nome da vida civilizada – de contestá-las, dentro e
fora dos tribunais.
Hoje, o presidente do STJ, Ari Pargendler, admitiu que a corte pode rever o julgamento.
É evidente que o fará provocado pelo recurso que, certamente, se oferecerá contra a sentença.
Ninguém quer fazer o Judiciário funcionar apenas em função do clamor
público e que deixe de lado a lei. Mas não é possível que o tribunal não
atente para o fato de que, ao liberar, apenas com uma leve reprimenda
moral, a prática comercial de sexo com crianças desta idade – na qual
não há confusão física possível com a maioridade, o que evidencia a
exploração deliberada de menor – está, na prática, favorecendo a
prostituição infantil.
Se com o temor de consequências judiciais essa prática já é uma
vergonha disseminada em nosso país, pelas praças, becos e estradas, que
dirá com o “aval” do STJ ao dizer que se a menina já é prostituta, está
tudo “liberado”?
Não existe Direito “neutro”, todo ele é cultural e social. Uma
decisão judicial cumpre um papel educativo. E esta foi, infelizmente, a
de ensinar que, quando se prostitui, não é apenas a vida deformada que
vai tirar das crianças o direito constitucional á proteção que elas
merecem. São os senhores doutores juristas que irão dizer: não, menina,
você não é mais uma menina aos 12 anos, é um lixo que não merece
proteção.
*Tijolaço
Agripino Maia acusado de receber R$ 1 milhão da máfia de inspeção veicular
*comtextolivre
A batata do Agripino (e do Cerra) está assando
No centro da foto, a batata assa: Faustino, Agripino e ele
O
MP do Rio Grande do Norte enviou ao brindeiro Gurgel (isso é um perigo
!) pedido para investigar o presidente, líder e coronel do DEMO,
Agripino Maia, o Varão de Plutarco do Rio Grande do Norte.
Agripino teria – teria – recebido R$ 1 milhão da máfia da inspeção veicular no Estado.
O dinheiro teria sido pago no sotão do apartamento do ilustre senador, em Natal.
Tudo isso está registrado na Operação Sinal Fechado da Polícia Federal.
A cada ano, quando chega a época da Cúpula Presidencial dos BRICS – a
quarta edição desse encontro acaba de terminar em Nova Delhi, a capital
indiana – torna-se cada vez mais evidente, para o observador atento, o
patético esforço da mídia “ocidental” (entre ela boa parte da nossa
própria imprensa) de desconstruir a imagem de uma aliança geopólítica
que reúne quatro das cinco maiores nações do planeta em território,
recursos naturais e população e que está destinada a modificar a o
equilíbrio de poder no mundo, no século XXI.
Essa estratégia – com a relativa exceção dos meios especializados em
economia - vai de simplesmente ignorar o encontro, à tentativa de
diminuir sua importância, ou semear dúvidas sobre a unidade dos
principais países emergentes, tentando ressaltar suas diferenças, no
lugar do reconhecer o que realmente importa: a política comum dos BRICS
de oposição à postura neocolonial de uma Europa e de um EUA cada vez
mais instáveis, que se debatem com um franco processo de decadência
econômica, diplomática e social.
Para isso, a mídia ocidental – incluindo a “nossa” - ignora os despachos
das agências oficiais dos BRICS, principalmente as russas e as
chinesas, que ressaltam a importância do Grupo e de suas iniciativas
para suas próprias nações – o Brasil inexplicavelmente ainda não possui
serviços noticiosos em outros idiomas, coisa que até mesmo Angola
utiliza, e muito bem – e se concentra em procurar e entrevistar
observadores “ocidentais” ou pró-ocidentais situados em esses países,
que se dedicam a repetir a cantilena da “impossibilidade” do
estabelecimento de uma aliança geopolítica de fato entre o Brasil, a
Rússia, a Índia, a China e a África do Sul, baseados nos seguintes
argumentos:
A “distância” entre o Brasil, a África do Sul, e a Rússia, a índia e
a China, como se em um mundo em que a informação é instantânea e um
míssil atinge qualquer ponto do globo em menos de quatro horas, isso
tivesse a menor importância.
O fato de a África do Sul, o Brasil e a Índia serem democracias, e a
China e a Rússia não serem democracias “plenas ” segundo o elástico
conceito ocidental, que não considera a Venezuela uma democracia
“plena”, mas o Kuwait ou a Arábia Saudita – autocracias herdadas e
governadas pelo direito de sangue - sim.
A concorrência da Índia, da China e da índia no espaço asiático,
como se esses três países não cooperassem, até mesmo no campo militar, e
não mantivessem reuniões, há muitos anos, para resolução de problemas
eventuais.
A rotulagem desses países em “exportadores de commodities” como a
Rússia e o Brasil, “provedores de serviços”, como a India, e “fábricas
do mundo”, como a China, como se essa situação, caso fosse verdadeira,
não pudesse ser usada a favor de uma aliança intercomplementar, ou como
se Rússia, Brasil e índia também não produzissem manufaturados, e entre
eles produtos industriais avançados, como aviões, por exemplo.
É óbvio que uma aliança como os BRICS, que reúne um terço do território
mundial, 25% do PIB, e praticamente a metade da população humana não se
consolidará, política e militarmente, de uma hora para a outra. Mas
também é igualmente claro, que não se trata de um grupo heterogêneo de
nações que não tenham nada a ver uma com a outra.
Se assim fosse, o Brasil não estaria fornecendo aviões-radares para a
índia, não estaríamos desenvolvendo mísseis ar-ar e terra-ar com a DENEL
sul-africana, ou comprando helicópteros russos de combate, ou não
teríamos, há anos, um programa de satélites de sensoriamento remoto com a
China.
O primeiro traço comum entre os grandes “brics” como a Rússia, a China, a
índia e o Brasil, e, em menor grau, a África do Sul, é, como demonstra a
sua oposição à política ocidental para com a Libia e a Siria, o
respeito ao princípio de não intervenção.
Porque o Brasil, a Rússia, a índia, a China, não aceitam que se
intervenha em terceiros países, em função de questões relacionadas aos
“direitos humanos”, por exemplo, ou devido à questão nuclear ?
Porque, como são países que prezam a sua soberania, não aceitam que,
amanhã, o mesmo “ocidente” que hoje ataca a Libia, a Siria, ou o Irã,
venha se unir contra um deles, qualquer deles, por causa de outras
questões, como poderia acontecer conosco, eventualmente, no caso dos “
direitos” indígenas, ou da defesa da Amazônia, o “pulmão do mundo”.
Quem tem telhado de vidro não joga pedra nos outros. Que atire a
primeira quem nunca pisou na bola. Qual é o país, hoje, que pode acordar
pela manhã, olhar-se, enquanto sociedade, no espelho, e dizer que não
tem nenhum problema de direitos humanos?
E mais, quem arvorou à Europa e aos norte-americanos a missão de julgar o
mundo? Pode um país como os Estados Unidos, que invadiu e destruiu o
Iraque, por causa de outro mito intervencionista, o da existência –
comprovadamente falsa - de armas de destruição em massa naquele país,
falar em direitos humanos ?
Pode uma Nação que inventou e usou, no Vietnam, centenas de toneladas de
um veneno químico chamado agente laranja, contaminando para sempre o
solo e as águas de milhares de hectares de selva, falar em defesa da
natureza e das florestas tropicais?
Ou pode um país que jogou duas bombas atômicas sobre dezenas de milhares
de velhos, mulheres e crianças desarmadas, queimando-as até os ossos -
quando poderia – se quisesse – tê-las testado sobre soldados do exército
ou da marinha japonesa, falar, em sã consciência, de controle de
armamento atômico e da não proliferação nuclear?
A realidade por trás do discurso de defesa dos direitos humanos e da
natureza é muito mais complexa do que Hollywood mostra às nossas
incautas multidões em filmes como Avatar. Por mais que muitos espíritos
de "vira-lata" queiram - mesmo dentro do nosso país - que Deus tivesse
dado à Europa e aos Estados Unidos o direito de governar o mundo, para
defender seu artificial e efêmero “american way of life”, ele não o fez.
Pequenos países, como a Espanha ou a Itália, na ilusão de se sentirem
maiores, podem – assim o decidiram suas elites - abdicar de sua
soberania política e econômica e bombardear a população civil na Líbia,
no Iraque, no Afeganistão, em defesa de uma impossibilidade quimérica
como a Europa do euro, e do mandato da “Pax Americana”.
Nações como o Brasil, a Índia, a China e a Rússia, se aferram ao direito
à soberania, ao recurso à diplomacia, à primazia da negociação. Não se
pode salvar vidas distribuindo armas para um bando descontrolado de
açougueiros que espanca e mata prisioneiros indefesos, desarmados e
ensanguentados – mesmo que eles se chamem Khadaffi – e obriga jovens
muçulmanos a desfilarem em fila, de joelhos, repetidas e infinitas
vezes, sob a lente da câmera e a ameaça de armas e chicotes, para
mastigar e engolir nacos de cadáveres de cães putrefatos. O futuro da
humanidade no século XXI e nos próximos, depende cada vez mais da
emergência de um mundo multipolar que se oponha à pretensa hegemonia
“ocidental”. E é isso – queiram ou não os jornais e comentaristas
europeus e norte-americanos – que está em jogo a cada nova Cúpula dos
BRICS, como a de Nova Delhi.
Bloqueio dos EUA contra Cuba impede entrada de remédios contra câncer no país e é causa de outras barbáries "democráticas"
*Opensadordaaldeia
ESCOLA DO MST LOCALIZADA NO MUNICÍPIO DE ABELARDO LUZ, EM SANTA CATARINA, TEM A MELHOR NOTA DA CIDADE NO ENEM
Projeto educacional do MST vem dando certo no campo
Em uma sociedade onde, infelizmente, o acesso à cultura e educação
de qualidade chega para poucos, uma escola do MST, localizada no
assentamento 25 de Maio, em Santa Catarina, dirigida por militantes e
com professores indicados pelos próprios assentados do município de
Abelardo Luz, conquistou a melhor nota no Enem (Exame Nacional do Ensino
Médio) em comparação com as outras escolas da cidade.
O fato obviamente não teve muito destaque na mídia, tampouco na
política local, o que não é surpresa diante de um cenário marcado por
fortes cargas de preconceito ideológico que não valoriza o protagonismo
popular e as iniciativas que dão certo, mesmo contra todas as
expectativas.
A educação no campo, de forma geral, vive um sério período de crise.
Nas escolas faltam professores, material didático e até os próprios
alunos que, na maioria das vezes, não conseguem chegar à escola. Diante
dessa realidade, projetos educacionais que dão certo no campo, caso
dessa escola de Abelardo Luz deveriam ser reproduzidos e valorizados em
tudo aquilo que propõe de novo e eficaz na prática educacional.
Não se trata de fazer apologia ao projeto educacional do MST e sim
de reconhcer uma experiência que vem dando certo, mesmo com tantas
dificuldades. Muitos dizem que as escolas do MST servem a uma ideologia e
“doutrinam os alunos”, no entanto, o sucesso dos alunos do município de
SC no Enem revela que, em última instância, a qualidade de um ensino
vai muito além da questão ideológica, mesmo porque ideologia sempre
existe, e as piores são aquelas que se disfarçam sob uma aparente
neutralidade.
O importante é desenvolver diferentes formas de pensar e a
capacidade de escolher, por conta própria, como agir diante da realidade
social. E se os alunos conseguem um bom desempenho em exames de
avalização, já estão neste caminho.
Veja trecho da notícia publicada no Portal do MST:
Em pequenos grupos, carregando instrumentos musicais, os jovens saíram
do centro de São Paulo. Uma hora depois, na zona sul, eles mostraram no
grito o que pretendem. A manifestação é contra o Davi dos Santos Araujo,
conhecido como capitão Lisboa. Ele é apontado como um dos principais
torturadores durante a ditadura.
*esquerdopata
O império mundial da violência contra-insurgente
Sem dúvida que os caminhos da "democracia à maneira dos EUA" são sinistros e fatais.
Através da Wikileaks tive acesso ao Manual de Campo 31-20-3 – Tácticas, técnicas e procedimentos de defesa interna para as Forças Especiais no estrangeiro
, que é o terceiro de uma série produzida pelo
Departamento de Defesa dos Estados Unidos para treinar e guiar a
sua soldadesca nas tarefas intervencionistas e repressivas de
âmbito mundial, sob a capa propagandística de ajudar outros
governos "a libertar e proteger as suas sociedades da subversão, da
desordem e da insurreição". O que seria de nós se os bons
rapazes do tio Sam não estivessem sempre prontos para nos salvar do
caos?
Recorda-se que os intelectuais do
Pentágono inventaram uma quimera eufemística-política-ideológica a
que eles chamam de "país anfitrião", isto é, governos
subservientes aos EUA, que enfrentam situações de
desestabilização de vários tipos, mas principalmente insurreições
armadas e movimentos sociais que têm apoio popular, ante as
quais recorrem à ajuda altruísta da contra-insurreição dos Rambos
das forças especiais. Assim, o Manual de campo afirma: "Uma
premissa básica da nossa política externa é que a segurança dos
EUA, suas instituições e os seus valores (leia-se: o capitalismo)
serão melhor preservados e fortalecidos fazendo parte de uma
comunidade de nações realmente livres e independente (leia-se:
sujeitas à órbita imperial). A este respeito, os Estados Unidos
esforçam-se por incentivar outros países a fazer a sua parte na
preservação dessa liberdade e independência (leia-se: o
regime autoritário e renúncia de soberania). O objectivo é apoiar
os interesses dos EUA através de um esforço conjunto (mais claro
nem a água). Onde os interesses nacionais dos Estados Unidos
estiverem envolvidos (leia-se: corporações, petróleo, territórios
geo-estratégicos) os EUA fornecerão assistência militar e
económica para complementar os esforços desses governos (leia-se:
para manter a ordem estabelecida)". Em resumo, o propósito
político do manual é defender os interesses imperialistas dos EUA
através de aconselhamento e treino em contra-insurreição de
tropas de cipaios do "país anfitrião".
A partir desta proposição essencial, o
manual cobre com detalhe todos os aspectos da guerra de
contra-insurreição, monitorizada pelos militares dos EUA: as
actividades prévias à missão intervencionista, a análise
preliminar, as "autorizações" para a formação, a
instalação no "país anfitrião", programas de instrução das
tropas, as operações tácticas, o controle das populações, as
operações conjuntas, as actividades pós-missão, bem como
anexos que vão desde questões legais (sic) de operações de
informações, forças de auto-defesa civil (paramilitares), o
estabelecimento de bases, técnica de minas, etc.
Como em outros manuais, este texto dá
importância ao verniz culturalista que os colegas antropólogos
dedicados à contra-insurreição aconselharam aos militares. Isso
inclui uma espécie de manual com as regras básicas de etiqueta e
bom comportamento, para que os nativos não se sintam diminuídos,
manipulados ou discriminados pelos assessores gringos,
subitamente transformados em poliglotas, corteses, cuidadosos do
multiculturalismo, as diferenças de género, e guardiões das leis e
dos hábitos democráticos que aprenderam recentemente no Iraque
ou no Afeganistão, pelo baixo preço que essa educação tem
custado em países destruídos e "terroristas" executados,
torturados, desaparecidos ou mantidos em prisão.
O manual não negligencia o papel dos
meios de comunicação de massa nos esforços de contra-insurreição,
inclusive, é claro, o do Serviço de Informação dos EUA (USIA),
ao qual é atribuída a tarefa de influenciar a opinião
pública de outras nações em prol dos objectivos já identificados
da política externa de seu governo, divulgando as suas acções,
fazendo contra-propaganda às opiniões hostis para os EUA,
coordenando operações psicológicas abertas sob a orientação do
Departamento de Estado.
Outro aspecto do manual a destacar é a
importância que atribui ao recrutamento e à integração de forças
paramilitares ou irregulares, como parte integrante da luta
contra-insurreccional, componente clandestina que temos
denunciado várias vezes para o caso do México, que continua a ter
um papel estratégico agora com a acção de grupos de narcotráfico
que actuam como paramilitares.
Além disso, o manual é muito claro sobre
o envolvimento directo de forças de combate norte-americanas,
"se a situação do governo do país anfitrião se deteriorar a tal
ponto que os interesses vitais dos EUA estejam em risco" e para
"fazer uma mudança decisiva no conflito", o qual pode ser, não
só de natureza contra-insurreccional, como também causado pelo
narcotráfico. Este aspecto deve ser levado muito a sério para uma
análise mais responsável da "situação mexicana".
A acção de esquadrões da morte ou grupos
de matadores é discutida no texto comentado, e até mesmo
descrita com precisão e cinismo: "Caçar-matar. As forças amigas
podem usar esta técnica (sic) nas operações de
consolidação... Elas usam essa técnica para caçar e destruir os
inimigos isolados. A equipe de caçar-matar consiste em duas
secções: os caçadores e os assassinos. Os caçadores devem estar
ligeiramente equipados e altamente móveis. A sua missão é
localizar as forças inimigas, enquanto mantêm uma comunicação
constante com os executores, que estão alerta e prontos para a
ação. Quando os caçadores fazem contacto, notificam os
assassinos". Sem dúvida que os caminhos da "democracia à maneira
dos EUA" são sinistros e fatais.
Além
de toda a corrupção da ANJ, a instituição apanha todos os dias com os
escândalos dos ladrões dos partidos seus aliados como o PSDB e o DEM,
que nos mostra o senador Demóstenes Torres, atolado na lama até o nariz e
o privata-mor José Serra, personagem principal do livro, escondido pela
ANJ, "A Privataria Tucana", de Amaury Ribeiro Junior. D.Judith não
soube escolher seus aliados, ou já sabia e queria fazer parte da
quadrilha que rouba o Brasil por mais de quinhentos anos. Deu no que
deu!
Quinta-feira, 29 de Março de 2012 |
ISSN 1519-7670 - Ano 16 - nº 687
Jornal de Debates
INVERSÃO DE PAPÉIS
A imprensa como partido político
Por Washington Araujo em 20/04/2010 na edição 586
Esperei baixar a poeira. Em vão, porque a poeira existiu apenas na
internet. E tudo porque me causou estranheza ler no diário carioca O Globo (18/3/2010)a seguinte declaração de Maria Judith Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e executiva do grupo Folha de S.Paulo:
"A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A
esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade
dos meios de comunicação e, obviamente, esses meios de comunicação
estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país, já que a
oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de
investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo."
E como a poeira não baixou resolvi colocar no papel as questões que
foram se multiplicando, igual praga de gafanhotos, plantação de
cogumelos, irrupção de brotoejas. Ei-las: 1.
É função da Associação Nacional de Jornais, além de representar
legalmente os jornais, fazer o papel de oposição política no Brasil? 2. É de sua expertise mensurar o grau de força ou de fraqueza dos partidos de oposição ao governo? 3.
Expirou aquela visão antiquada que tínhamos do jornalismo como sendo o
de buscar a verdade, a informação legítima, para depois reportar com a
maior fidelidade possível todos os assuntos que interessam à sociedade? 4.
Como conciliar aquela função antiquada, própria dos que desejam fazer o
bom jornalismo no Brasil, como tentei descrever na questão anterior,
com a atuação político-partidária, servindo como porta-voz dos partidos
de oposição? 5.
Sendo o Datafolha propriedade de um dos grandes jornais do Brasil e
este um dos afiliados da ANJ, como deveríamos fazer a leitura correta
das pesquisas de opinião por ele trabalhadas? O Datafolha estaria também
a serviço de uma oposição "que no Brasil se encontra fragilizada"? 6.
Na condição de presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) será
que Maria Judith Brito não se excedeu para muito além de suas
responsabilidades institucionais? 7.
Ou será próprio de quem brande o estatuto da liberdade de imprensa que
entidade de classe de veículos de comunicação assuma o papel de oposição
política no saudável debate entre governo e oposição? 8.
Historicamente, sempre que um dirigente ou líder de partido político de
oposição desanca o governo, seja justa ou injustamente, é natural que o
governo responda à altura e na mesma intensidade com que o ataque foi
desferido. Mas, no caso atual, em que a ANJ toma si para a missão de
atuar como partido político de oposição, não seria de todo natural
esperar que o governo reaja à altura do ataque recebido? 9.
E, neste caso, como deveria ser encarada a reação do governo? Seria
vista como ataque à liberdade de expressão? Ou seria considerado como
legítima defesa de da liberdade de expressão ou de ideologia?
Claro e transparente 10.
Durante o período de 1989 a 2002, em que a oposição política no Brasil
esteve realmente fragilizada, e ao extremo, não teria sido o caso de a
ANJ ter tomado para si as dores daquela oposição, muitas vezes, capenga? 11. E, no caso acima, como a ANJ acha que teriam reagido os governos Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso? 12.
Com o histórico de nossos veículos de comunicação, muitos deles
escorados em sua antiguidade, como aferir se há pureza de intenções por
parte da ANJ em sua decisão de tomar para si responsabilidade que só lhe
poderia ser concedida pelo voto dos brasileiros depositados nas urnas
periodicamente? Não seria uma usurpação de responsabilidade? 13.
Afinal, não é através de eleições democráticas e por sufrágio universal
e secreto que a população demonstra sua aprovação ou desaprovação a
partidos políticos? 14.
Será legítimo que, assinantes de jornais e revistas representados pela
associação presidida por Maria Judith Brito passem, doravante, a
esmiuçar a cobertura política desses veículos, tentando descobrir qual a
motivação dessa ou daquela reportagem, dessa ou daquela nota, dessa ou
daquela capa? 15.
E quanto ao direito dos eleitores de serem livremente informados... que
garantias estes terão de que serão informados, de forma justa e o mais
imparcial possível, das ações e idéias do governo a que declaradamente
se opõe a ANJ? 16.
Para aqueles autoproclamados guardiães da liberdade de expressão e do
Estado democrático de direito: será papel dos meios de comunicação
substituir a ação dos partidos políticos no Brasil, seja de situação ou
de oposição? 17.
Em isso acontecendo... não estaremos às voltas com clássica usurpação
de função típica de partido político? E não seria esta uma gigantesca
deformação do rito democrático? 18.
Repudiam-se as relações deterioradas entre governo e mídia na
Venezuela, mas ao que tudo indica nada se faz para impedir sua
ocorrência no Brasil. Ironicamente, os maiores veículos de comunicação
do país demonizam o país de Hugo Chávez. A origem do conflito político
na Venezuela não está umbilicalmente ligado ao fato que na Venezuela os
meios de comunicação funcionam como partido político de oposição,
abrindo mão da atividade jornalística? 19. Esta declaração da presidente da ANJ, publicada no insuspeito O Globo,
traduz fielmente o objetivo de a ANJ estabelecer a ruptura com o
governo, afetar a credibilidade da imprensa e trazer insegurança a todos
os governantes, uma vez que serve também aos governos estaduais e dos
municípios onde a oposição estiver fragilizada? 20.
Considerando esta declaração um divisor de águas quanto ao sempre
intuído partidarismo e protagonismo político dos grandes veículos de
comunicação do país, será que não seria mais que oportuno e inadiável a
ANJ vir a público esclarecer tão formidável mudança de atitude e de
missão institucional? Por que não abordar o assunto de forma clara e
transparente nas páginas amarelas da revista Veja? Por que não convidar a Maria Judith Brito para ser entrevistada no programa Roda Vida da TV Cultura? Por que não convidá-la para o Programa do Jô?
E para ser entrevistada pelo Heródoto Barbeiro na rádio CBN? Por que
não solicitar a leitura de "Nota da ANJ"sobre o assunto no Jornal Nacional? Por que não submeter texto para publicação na seção "Tendências/Debates" do jornal Folha de S.Paulo, onde a presidente trabalha? De tão interessante não seria o momento de a revista Época traçar o perfil de Maria Judith Brito? E que tal ser sabatinada pela bancada do Canal Livre, da Band?
Prudente e sábio
Já que comecei falando de estranheza, estranhamento etc., achei
esquisito a não-repercussão ostensiva da fala da presidente da ANJ junto
aos veículos de seus principais afiliados. Estratégia política? Opção
editorial? Ou as duas coisas?
Finalmente, resta uma questão de foro íntimo: que critério deverei
usar, doravante, para separar o que é análise crítica própria de um
partido político, para consumo interno de seus filiados, daquilo que é
matéria propriamente jornalística, de interesse da sociedade como um
todo?
Todos nós, certamente, já ouvimos centenas de vezes o ditado "cada
macaco no seu galho". E todos nós o utilizamos nas mais diversas
situações. O ditado é um dos mais festejados da sabedoria popular, é
expressão de conhecimento, nascido da observação de fatos; um
aprendizado empírico. Vem de longa data e se estabelece porque pode ser
comprovado através da vivência e mais recentemente foi citado por Michel
Foucault e Jurgen Habermas. No caso aqui abordado, o ditado popular cai
como luva assim como as palavras de Judith Brito ficarão por muito
tempo gravadas no bronze incorruptível da nossa memória.
Mesmo assim sinto ser oportuno aclarar que entendo como papel da
mídia atividades como registrar, noticiar os fatos, documentar,
fiscalizar os poderes, denunciar abusos e permitir à população uma
compreensão mais ampla da realidade que nos abarca. Neste rol de funções
não contemplo o de ser porta-voz de partido político, seja este qual
for. Ora, o governo tem limites de ação: operacionais, constitucionais,
políticos. A mídia, quando não investida de poderes
supraconstitucionais, também tem seus limites que não são tão flexíveis a
ponto de atender as conveniências dos seus proprietários ou
concessionários. É prudente e sábio reconhecer que em uma sociedade
democrática todos os setores precisam de regulação – e a mídia não é
diferente. E é bom que não seja. Afinal, a lei é soberana e a ela todos
devem se submeter, já escrevia o pensador Shoghi Effendi (1897-1957) na
segunda metade de 1950. Nada mais atual que isto.