Nesta aula, o professor clóvis realiza a
explicação sobre a concepção de tempo em Agostinho. Afinal, o que é o
passado e o que é o futuro? O nosso tempo é o mesmo tempo que o do
mundo?
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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
sexta-feira, março 30, 2012
Como foi e é construída a privatização do ensino superior no Brasil
Otaviano Helene no CORREIO DA CIDADANIA |
Uma das características do ensino
superior brasileiro nas últimas várias décadas é a constante redução da
participação das instituições públicas na sua oferta: em 1960, cerca
de 60% das matrículas eram em instituições públicas; atualmente, elas
são da ordem de 25% e com uma tendência a continuar aumentando (veja
gráfico).
Nas décadas de 1960 e 1970,
período marcado pelo regime militar, a participação do setor privado
cresceu de 40% até pouco mais do que 60% das matrículas. Após uma
década sem aumento dessa participação, a privatização voltou a crescer
após 1990, período marcado pela expansão do neoliberalismo, continuando
a aumentar ao longo da década seguinte.
O que aconteceu na década de
1980, quando a taxa de privatização permaneceu praticamente estável, ao
contrário de ter sido um sinal de que o setor público passou a ter uma
postura mais positiva, ilustra um dos muitos problemas que a
privatização apresenta. A década de 1980 foi marcada por uma profunda
recessão econômica e, consequentemente, redução de renda e aumento do
desemprego. Como consequência, aquela crise econômica afetou fortemente
as possibilidades que as pessoas tinham de arcar com as mensalidades
escolares, afastando os estudantes, como, obviamente, seria esperado.
Esse fato ilustra bem um dos graves problemas da privatização da
educação: a educação, quando privatizada, ao invés de ser um
instrumento que possa ajudar a suportar uma crise econômica (fixando os
jovens por mais tempo no setor educacional e reduzindo, assim, a
pressão sobre os empregos) e a criar as condições necessárias para
superá-la (preparando a força de trabalho do país), passa a ser um
fator a intensificação da própria crise.
Subsídios
Se “conseguimos” atingir a taxa
de privatização de 75%, é porque, ao longo do tempo, todos os níveis
governamentais contribuíram para isso, por meio de incentivos
financeiros diretos e indiretos, por meio de legislações e por deixarem
espaço livre para a atuação do setor privado.
No campo financeiro, tanto a
União como os estados e municípios têm contribuído, ao longo dos
últimos 50 anos, cada um de sua forma, para o aumento da privatização.
Essas subvenções ocorrem na forma de isenções de taxas, contribuições e
impostos (nacionais, estaduais e municipais), abatimento de despesas
com educação privada no imposto de renda de pessoa física, repasses
diretos de recursos públicos para entidades privadas, pagamento das
mensalidades dos alunos ou financiamento delas pelo setor público,
convênios com ONGs ligadas a instituições privadas, entre diversas
outras.
Como já estamos acostumados com
todas essas práticas, o que faz com que muitas pessoas as achem
positivas, vale a pena esmiuçar uma delas, talvez até a mais aceita
como sendo adequada, justa e necessária: o abatimento no imposto de
renda de pessoas físicas das despesas educacionais. Esse abatimento,
que encontra enorme apoio nas classes mais privilegiadas e mesmo
reclamações por considerarem-na pequena, é, na prática, uma distorção
do que se esperaria de um sistema tributário ou de um subsídio a uma
atividade essencial.
Como o abatimento das despesas
educacionais ocorre antes do cálculo do imposto devido, quanto maior
for a renda de uma pessoa, maior será o abatimento do imposto. Vejamos.
No caso de pessoas com altas rendas, os governos subsidiam em 27,5%
das despesas com educação privada passíveis de serem abatidas. Já no
caso de uma pessoa com renda modesta, eventuais despesas educacionais
podem ser subsidiadas em proporções bem menores do que aqueles 27,5 %
ou mesmo não terem subsídio algum.
Uma espécie de Robin Hood às
avessas. Embora possa parecer que é o contribuinte que está sendo
beneficiado, quem de fato recebe aquela subvenção é a instituição de
ensino. Por exemplo, alguém de alta renda que tenha pago R$ 1.000 para
uma instituição de ensino, receberá do governo, na forma de abatimento
de imposto, R$ 275,00; ou seja, gastou, de fato, R$ 725,00, enquanto a
instituição recebeu, também de fato, os R$ 1000 pagos. Alguém de baixa
renda que tenha gasto os mesmos R$ 1.000 não terá redução alguma do
imposto devido.
Em última instância, o
abatimento no imposto de renda é um subsídio indireto às instituições
privadas de educação. Embora este seja apenas um exemplo, mostra como
as políticas de transferência de recursos ao setor privado podem ser
distorcidas. Uma redução dos impostos por causa de despesas
educacionais só seria justificável (embora inadequado) se a redução
fosse inversamente proporcional à renda, subsidiando mais quem ganha
menos, não da forma que é hoje. Evidentemente, não há nenhuma
dificuldade técnica para se fazer isso: se subsidiamos mais quem menos
precisa e menos quem mais precisa, é porque é para ser assim mesmo.
Legislação
Além das ações financeiras e
econômicas em favor da privatização da educação, há muitas ações no
campo legal que vão no mesmo sentido. Novamente, ao invés de detalhar
as muitas formas com que isso ocorre, vamos ilustrar algumas delas. Uma
universidade é um tipo de instituição cujas atribuições incluem,
segundo a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional),
desenvolver a pesquisa científica e tecnológica, conferir diplomas com
validade nacional, criar e extinguir cursos e definir seus currículos,
desenvolver atividades de extensão universitária, entre outras. Para
isso, seria esperado que tal tipo de instituição tivesse, em seu
quadro, pessoas altamente qualificadas para aquelas atividades, o que
no mundo acadêmico significa doutores.
Entretanto, ainda que possa
parecer absurdo, a LDB não exige doutores no corpo docente de uma
universidade: a sutil redação daquela lei exige que pelo menos um terço
do seu corpo docente tenha “titulação acadêmica de mestrado ou
doutorado”. A partícula “ou” revela a real intenção do legislador: uma
universidade, no Brasil, não precisa de doutores! Essa redação é
desrespeitosa e mesmo um escárnio, na medida em que a palavra doutorado
está apenas enfeitando o texto, sem nenhuma consequência prática; se a
frase acabasse em “mestrado”, estaria dizendo exatamente a mesma
coisa.
Além disso, exigir uma terça
parte dos docentes com determinada titulação não significa que eles
venham a exercer a terça parte das atividades desenvolvidas pelas
instituições, pois pode se atribuir a essa terça parte uma carga
horária pequena, com apenas algumas poucas horas semanais de trabalho.
E tem mais: para desenvolver
aquelas atividades, os docentes universitários deveriam contar com as
necessárias condições de trabalho, o que significaria, na prática
acadêmica, contratos em tempo integral e, preferencialmente, com
dedicação exclusiva à instituição. Mas a mesma LDB exige que uma
universidade tenha pelo menos “um terço do corpo docente em regime de
tempo integral”. Ora, se a essa terça parte do corpo docente for
atribuída uma carga didática alta e/ou muitas tarefas administrativas, a
lei estará sendo cumprida, sem, de fato, garantir as condições
necessárias para a pesquisa e as atividades de extensão universitária
previstas pela LDB.
Evidentemente, essa legislação,
que não está respondendo a nenhuma necessidade real das instituições
universitárias públicas, favorece, e muito, as instituições privadas.
A ausência do setor público abre espaço ao setor privado
Uma terceira forma de
favorecimento do setor privado ocorre por meio da restrição de vagas
oferecidas pelo setor público, o que abre o necessário espaço para o
crescimento das instituições privadas. Uma evidência dessa prática é
que a falta de vagas públicas nada tem a ver com as dificuldades
financeiras do setor público, diferentemente do que é dito com
frequência. Tanto é assim que a privatização é maior exatamente nos
estados com maiores possibilidades econômicas e orçamentárias e que
maiores contribuições dão ao governo federal.
São Paulo é o caso exemplar:
exatamente nesse estado em que a ausência do setor público é mais
marcante, como mostra a tabela. A porcentagem de matrículas em
instituições privadas em São Paulo, 87%, é bem maior do que nos demais
estados (69%). Mesmo quando comparada com a população total ou com o
número de concluintes do ensino médio, a privatização paulista é maior
do que nos outros estados por um fator dois, como mostram os dados da
tabela.
Essa maior privatização em São
Paulo é totalmente compatível com a hipótese de que a ausência do setor
público é estratégica, não fruto de uma impossibilidade econômica ou
financeira.
Conseqüências
As políticas de privatização,
quando associadas com a distribuição dos cursos oferecidos pelas
instituições privadas pelas diferentes áreas do conhecimento, fazem com
que alguns indicadores da educação superior no Brasil estejam em
completo desacordo com o que se observa em outros países com
possibilidades econômicas equivalentes ou mais modestas que as nossas.
Essa característica nos coloca em uma situação bastante frágil.
Evidentemente, não se está
defendendo que haja uma competição entre os países, coisa que, ao
contrário, devemos combater. Entretanto, uma força de trabalho mal
preparada, distribuída de forma inadequada pelas diferentes áreas
profissionais, e quantitativamente insuficiente, fragiliza o país nos
embates internacionais e compromete nossa soberania. Consequentemente,
não conseguimos sequer criar um ambiente que permita lutar por uma
relação mais saudável entre as nações e que priorize as cooperações em
lugar das competições.
Otaviano
Helene, professor no Instituto de Física da USP, foi presidente do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(Inep).
*Turquinho
|
Adianta reagir: STJ pode rever decisão pró-pedofilia
Valeu a pena a onda de indignação que tomou conta do país diante da incompreensível decisão do Superior Tribunal de Justiça de inocentar, na prática, os “clientes” da prostituição de crianças de 12 anos de idade.Uma reação que começou na blogosfera e que se agigantou quando foi encampada pelo Governo Federal – veja aqui a reação da Ministra Maria do Rosário – e pela Associação dos Procuradores da República.
Não há vontades imperiais numa república. O dever de acatar decisões judiciais não se confunde com a perda do direito – e, neste caso, até mesmo a obrigação, em nome da vida civilizada – de contestá-las, dentro e fora dos tribunais.
Hoje, o presidente do STJ, Ari Pargendler, admitiu que a corte pode rever o julgamento.
É evidente que o fará provocado pelo recurso que, certamente, se oferecerá contra a sentença.
Ninguém quer fazer o Judiciário funcionar apenas em função do clamor público e que deixe de lado a lei. Mas não é possível que o tribunal não atente para o fato de que, ao liberar, apenas com uma leve reprimenda moral, a prática comercial de sexo com crianças desta idade – na qual não há confusão física possível com a maioridade, o que evidencia a exploração deliberada de menor – está, na prática, favorecendo a prostituição infantil.
Se com o temor de consequências judiciais essa prática já é uma vergonha disseminada em nosso país, pelas praças, becos e estradas, que dirá com o “aval” do STJ ao dizer que se a menina já é prostituta, está tudo “liberado”?
Não existe Direito “neutro”, todo ele é cultural e social. Uma decisão judicial cumpre um papel educativo. E esta foi, infelizmente, a de ensinar que, quando se prostitui, não é apenas a vida deformada que vai tirar das crianças o direito constitucional á proteção que elas merecem. São os senhores doutores juristas que irão dizer: não, menina, você não é mais uma menina aos 12 anos, é um lixo que não merece proteção.
*Tijolaço
Agripino Maia acusado de receber R$ 1 milhão da máfia de inspeção veicular
*comtextolivre
A batata do Agripino
A batata do Agripino
(e do Cerra) está assando
Saiu no Estadão, na pág. A8: “MP pede que José Agripino seja investigado”.
O MP do Rio Grande do Norte enviou ao brindeiro Gurgel (isso é um perigo !) pedido para investigar o presidente, líder e coronel do DEMO, Agripino Maia, o Varão de Plutarco do Rio Grande do Norte.
Agripino teria – teria – recebido R$ 1 milhão da máfia da inspeção veicular no Estado.
O dinheiro teria sido pago no sotão do apartamento do ilustre senador, em Natal.
Tudo isso está registrado na Operação Sinal Fechado da Polícia Federal.
O MP do Rio Grande do Norte enviou ao brindeiro Gurgel (isso é um perigo !) pedido para investigar o presidente, líder e coronel do DEMO, Agripino Maia, o Varão de Plutarco do Rio Grande do Norte.
Agripino teria – teria – recebido R$ 1 milhão da máfia da inspeção veicular no Estado.
O dinheiro teria sido pago no sotão do apartamento do ilustre senador, em Natal.
Tudo isso está registrado na Operação Sinal Fechado da Polícia Federal.
*PHA
Visita oficial da presidenta Dilma à Índia
A cúpula dos BRICS e o boicote da mídia ocidental
A cada ano, quando chega a época da Cúpula Presidencial dos BRICS – a
quarta edição desse encontro acaba de terminar em Nova Delhi, a capital
indiana – torna-se cada vez mais evidente, para o observador atento, o
patético esforço da mídia “ocidental” (entre ela boa parte da nossa
própria imprensa) de desconstruir a imagem de uma aliança geopólítica
que reúne quatro das cinco maiores nações do planeta em território,
recursos naturais e população e que está destinada a modificar a o
equilíbrio de poder no mundo, no século XXI.
Essa estratégia – com a relativa exceção dos meios especializados em
economia - vai de simplesmente ignorar o encontro, à tentativa de
diminuir sua importância, ou semear dúvidas sobre a unidade dos
principais países emergentes, tentando ressaltar suas diferenças, no
lugar do reconhecer o que realmente importa: a política comum dos BRICS
de oposição à postura neocolonial de uma Europa e de um EUA cada vez
mais instáveis, que se debatem com um franco processo de decadência
econômica, diplomática e social.
Para isso, a mídia ocidental – incluindo a “nossa” - ignora os despachos
das agências oficiais dos BRICS, principalmente as russas e as
chinesas, que ressaltam a importância do Grupo e de suas iniciativas
para suas próprias nações – o Brasil inexplicavelmente ainda não possui
serviços noticiosos em outros idiomas, coisa que até mesmo Angola
utiliza, e muito bem – e se concentra em procurar e entrevistar
observadores “ocidentais” ou pró-ocidentais situados em esses países,
que se dedicam a repetir a cantilena da “impossibilidade” do
estabelecimento de uma aliança geopolítica de fato entre o Brasil, a
Rússia, a Índia, a China e a África do Sul, baseados nos seguintes
argumentos:
- A “distância” entre o Brasil, a África do Sul, e a Rússia, a índia e a China, como se em um mundo em que a informação é instantânea e um míssil atinge qualquer ponto do globo em menos de quatro horas, isso tivesse a menor importância.
- O fato de a África do Sul, o Brasil e a Índia serem democracias, e a China e a Rússia não serem democracias “plenas ” segundo o elástico conceito ocidental, que não considera a Venezuela uma democracia “plena”, mas o Kuwait ou a Arábia Saudita – autocracias herdadas e governadas pelo direito de sangue - sim.
- A concorrência da Índia, da China e da índia no espaço asiático, como se esses três países não cooperassem, até mesmo no campo militar, e não mantivessem reuniões, há muitos anos, para resolução de problemas eventuais.
- A rotulagem desses países em “exportadores de commodities” como a Rússia e o Brasil, “provedores de serviços”, como a India, e “fábricas do mundo”, como a China, como se essa situação, caso fosse verdadeira, não pudesse ser usada a favor de uma aliança intercomplementar, ou como se Rússia, Brasil e índia também não produzissem manufaturados, e entre eles produtos industriais avançados, como aviões, por exemplo.
É óbvio que uma aliança como os BRICS, que reúne um terço do território
mundial, 25% do PIB, e praticamente a metade da população humana não se
consolidará, política e militarmente, de uma hora para a outra. Mas
também é igualmente claro, que não se trata de um grupo heterogêneo de
nações que não tenham nada a ver uma com a outra.
Se assim fosse, o Brasil não estaria fornecendo aviões-radares para a
índia, não estaríamos desenvolvendo mísseis ar-ar e terra-ar com a DENEL
sul-africana, ou comprando helicópteros russos de combate, ou não
teríamos, há anos, um programa de satélites de sensoriamento remoto com a
China.
O primeiro traço comum entre os grandes “brics” como a Rússia, a China, a
índia e o Brasil, e, em menor grau, a África do Sul, é, como demonstra a
sua oposição à política ocidental para com a Libia e a Siria, o
respeito ao princípio de não intervenção.
Porque o Brasil, a Rússia, a índia, a China, não aceitam que se
intervenha em terceiros países, em função de questões relacionadas aos
“direitos humanos”, por exemplo, ou devido à questão nuclear ?
Porque, como são países que prezam a sua soberania, não aceitam que,
amanhã, o mesmo “ocidente” que hoje ataca a Libia, a Siria, ou o Irã,
venha se unir contra um deles, qualquer deles, por causa de outras
questões, como poderia acontecer conosco, eventualmente, no caso dos “
direitos” indígenas, ou da defesa da Amazônia, o “pulmão do mundo”.
Quem tem telhado de vidro não joga pedra nos outros. Que atire a
primeira quem nunca pisou na bola. Qual é o país, hoje, que pode acordar
pela manhã, olhar-se, enquanto sociedade, no espelho, e dizer que não
tem nenhum problema de direitos humanos?
E mais, quem arvorou à Europa e aos norte-americanos a missão de julgar o
mundo? Pode um país como os Estados Unidos, que invadiu e destruiu o
Iraque, por causa de outro mito intervencionista, o da existência –
comprovadamente falsa - de armas de destruição em massa naquele país,
falar em direitos humanos ?
Pode uma Nação que inventou e usou, no Vietnam, centenas de toneladas de
um veneno químico chamado agente laranja, contaminando para sempre o
solo e as águas de milhares de hectares de selva, falar em defesa da
natureza e das florestas tropicais?
Ou pode um país que jogou duas bombas atômicas sobre dezenas de milhares
de velhos, mulheres e crianças desarmadas, queimando-as até os ossos -
quando poderia – se quisesse – tê-las testado sobre soldados do exército
ou da marinha japonesa, falar, em sã consciência, de controle de
armamento atômico e da não proliferação nuclear?
A realidade por trás do discurso de defesa dos direitos humanos e da
natureza é muito mais complexa do que Hollywood mostra às nossas
incautas multidões em filmes como Avatar. Por mais que muitos espíritos
de "vira-lata" queiram - mesmo dentro do nosso país - que Deus tivesse
dado à Europa e aos Estados Unidos o direito de governar o mundo, para
defender seu artificial e efêmero “american way of life”, ele não o fez.
Pequenos países, como a Espanha ou a Itália, na ilusão de se sentirem
maiores, podem – assim o decidiram suas elites - abdicar de sua
soberania política e econômica e bombardear a população civil na Líbia,
no Iraque, no Afeganistão, em defesa de uma impossibilidade quimérica
como a Europa do euro, e do mandato da “Pax Americana”.
Nações como o Brasil, a Índia, a China e a Rússia, se aferram ao direito
à soberania, ao recurso à diplomacia, à primazia da negociação. Não se
pode salvar vidas distribuindo armas para um bando descontrolado de
açougueiros que espanca e mata prisioneiros indefesos, desarmados e
ensanguentados – mesmo que eles se chamem Khadaffi – e obriga jovens
muçulmanos a desfilarem em fila, de joelhos, repetidas e infinitas
vezes, sob a lente da câmera e a ameaça de armas e chicotes, para
mastigar e engolir nacos de cadáveres de cães putrefatos. O futuro da
humanidade no século XXI e nos próximos, depende cada vez mais da
emergência de um mundo multipolar que se oponha à pretensa hegemonia
“ocidental”. E é isso – queiram ou não os jornais e comentaristas
europeus e norte-americanos – que está em jogo a cada nova Cúpula dos
BRICS, como a de Nova Delhi.
*comtextolivre
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