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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, novembro 02, 2012

Porque hoje é Finados, os índios Guarani-Kaiowá



Os Guarani-Kaiowá e o Dia de Finados


Se estivesse vivo, no último dia 26 de outubro, Darcy Ribeiro teria completado 90 anos e estaria possesso com a forma como hoje se trata a questão indígena no Brasil.
Dos maiores antropólogos do País, após passar a vida dedicando-se a pensar a educação e os índios brasileiros, o mineiro de Montes Claros morreu, em 1997, na Brasília que viu dele nascer a UNB, uma universidade criada à frente de seu tempo.
Prezada leitora escreve estranhando não ter visto aqui comentado o episódio com os índios Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul.
Fosse apenas uma confusão na titulação de terras, como querem fazer-nos crer, seria apenas mais uma bobagem de órgãos governamentais mal geridos. Não é.
Explico: assim como o retrocesso na preservação ambiental, que trouxe o novo Código Florestal, também as terras indígenas logo servirão interesses financeiros que cobrem o país de cabo a rabo.
O cabo no setor de mineração e o rabo na expansão estatal e privada do setor energético.
Entre os dois, a falácia de sempre: o uso de folhas e telas cotidianas para nos convencer de que o crescimento da produção agropecuária se faz ao custo da destruição da vida. Nesta, entendidos fauna, flora, índios, valores culturais e paremos por aí, para não excitar a repressão comentarista.
Em discussão, 170 índios que não querem sair de uma área de 10.000 m². Ou um hectare, sabem os leitores. Vamos repetir: um hectare.
Se procurarmos áreas particulares de lazer com essa dimensão, apenas ao redor da capital paulista, as encontraremos em milhares.
O último Censo Agropecuário (IBGE 2006) revelou utilizarmos 250 milhões de hectares em lavouras e pastagens. Pelo menos, outros 150 milhões ainda poderão ser usados para alimentar, fibrilar e energizar o planeta no futuro.
Poder-se-ia, pois, recomendar paciência com os Guarani-Kaiowá.
Também do IBGE, é uma pesquisa divulgada neste ano, com dados de 2010, mostrando que 817.963 pessoas se autodeclararam indígenas, o equivalente a 0,4% dos residentes no Brasil.
 http://www.ibge.gov.br/indigenas/indigena_censo2010.pdf
Deles, quase 40% vivem em áreas urbanas. Já quase eram. Os demais 500 mil são os que se irritam quando autoridades, como o governador do Mato Grosso do Sul, Antônio Puccinelli (PMDB), impedem-nos de viverem onde sempre viveram.
A taxa de crescimento populacional entre indígenas diminuiu 10 vezes na última década se comparada ao período 1991/2000. Deu para perceber o que está rolando, certo?
Mais: a maior concentração deles localiza-se na Região Norte, ambiente amazônico onde predominam seus meios de cultura e vivência.
No resto do País, com o nome de etnogênese, repete-se com os índios o mesmo êxodo que trouxe massas rurais para o convívio urbano, com resultados conhecidos.
Taí, dirão os de sempre, se são tão poucos, pra que tanta terra?
Taí, direi eu, travestido da crueldade que se costuma dedicar às minorias, se eles estão acabando, não dá para esperar?
*Nassif


Dilma tem pela frente nomear outros dois ministros do Supremo. Faça como os tucanos, Presidenta. Escolha ministros “imparciais”. Como o Gilmar.
Saiu no Globo:

Lula no seu labirinto


O julgamento do mensalão, que se encaminha para seu término com a definição das penas dos condenados depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter decidido que houve, sim, desvio de verba pública para a compra de apoios políticos, clareou o cenário para a discussão sobre se o ex-presidente Lula sabia ou não do que acontecia “entre quatro paredes” no Palácio do Planalto, o aspecto mais delicado politicamente desse processo.

(…)

O tema saiu da redoma que o protegia há sete anos e está colocado publicamente. Seria bom se o ex-presidente Lula viesse a público dar a sua versão dos fatos, em vez de querer negá-los. Mas teria que ser uma versão definitiva, com começo, meio e fim, e não as versões desencontradas que vem dando ao longo desse tempo, quando já vestiu a roupa de traído, já pediu desculpas “pelos graves erros cometidos”, já disse que se tratava de Caixa 2 e, por fim, prometeu provar que tudo não passara de uma “farsa” cujo objetivo final teria sido a sua deposição.
Navalha
A única prova do mensalão (o do PT) foi o depoimento do Guardião da Moral da Elite, Thomas Jefferson.
O Conversa Afiada tinha previsto que, condenado Dirceu, o PiG (*) partiria para o pescoço do Lula e, na sequência, da Dilma.
Seria a evolução natural do Golpe paraguaio.
Que se concretizará no Supremo.
O Supremo do Ministro Celso de Mello, que não teve nenhum constrangimento em apoiar o mensalão do Sarney.
Do Ministro Marco Aurélio de Mello, que solta o Cacciola, diz que o Lula é “safo” e que o Golpe de 1964 foi “um mal necessário”.
O Supremo do “meu presidente !”, do que “mandou subir”, do que deu dois HCs Canguru ao imaculado banqueiro, mesmo depois de reportagem do jornal nacional, que foi chantageado e não denunciou o chantagista à Polícia, esse Supremo é que vai algemar o Dirceu, o Lula e depor a Dilma.
Ataulfo Merval de Paiva se porta como o porta-voz do Golpe paraguaio.
Ninguém expressa com mais contundência e “perfume de veracidade” as informações que emanam de certa facção Suprema.
O Golpe paraguaio se acelerou com a acachapante derrota dos tucanos em São Paulo.
(Como se sabe, o Lula, porém, perdeu a eleição numa certa banca da GloboNews.)
E a Dilma deveria se inspirar no Farol de Alexandria.
Ela tem pela frente nomear outros dois ministros do Supremo.
Faça como os tucanos, Presidenta.
Escolha ministros “imparciais”.
Como o Gilmar Dantas (**).




Paulo Henrique Amorim


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) Clique aqui para ver como eminente colonista do Globo se referiu a Ele. E aqui para ver como outra eminente colonista da GloboNews e da CBN se refere a Ele. E não é que o Noblat insiste  em chamar Gilmar Mendes de Gilmar Dantas ? Aí, já não é ato falho: é perseguição, mesmo. Isso dá processo…”

A sinuca americana

 

Os Estados Unidos advertiram o governo de Israel contra seu projeto de ataque preemptivo às instalações nucleares do Irã, conforme noticiou The Guardian, em sua edição de quarta-feira. O aviso não foi das autoridades civis de Washington e, sim, dos comandantes das tropas militares norte-americanas em operação na região do Golfo — o que, ao contrário do que se pode pensar, é ainda mais sério. O argumento dos militares é o de que esse ataque, além de não produzir os efeitos desejados — porque o Irã teria como retomar o seu programa nuclear — traria dificuldades políticas graves aos aliados ocidentais na região, sobretudo a Arábia Saudita e os Emirados Árabes — de cujo abastecimento direto depende a 5ª Frota e as bases das forças terrestres e aéreas que ali operam.
Embora as dinastias árabes pró-ocidentais temam o poderio militar do Irã, temem mais a insurreição de seus súditos, no caso de que se façam cúmplices de novo ataque a outro país muçulmano. Nunca é demais lembrar que os Estados Unidos e a Europa dependem também do petróleo que passa pelo golfo e atravessa o Canal de Suez, controlado pelo Egito.
Há, nos Estados Unidos — e, entre eles, alguns estrategistas do Pentágono — os que pensam ser hora de ver em Israel um país como os outros, sem a aura mitológica que o envolve, pelo fato de servir como lar a um povo milenarmente perseguido e trucidado pela brutalidade do nacional-socialismo. Uma coisa é o povo — e todos os povos têm, em sua história, tempos de sacrifício e de heroísmo, embora poucos com tanta intensidade quanto o judeu e, hoje, o palestino — e outra o Estado, com as elites e os interesses que o controlam.
Nenhum outro governo — nem mesmo o dos Estados Unidos — é tão dominado pelos seus militares quanto o de Israel. Eminente pensador judeu resumiu o problema com a frase forte: todos os Estados têm um exército; em Israel é o exército que tem um Estado.
O Pentágono acredita que uma guerra total contra o Irã seria apoiada pelos seus aliados da região, mas os observadores europeus mais sensatos não compartilham do mesmo otimismo. A ofensiva diplomática de Israel na Europa, em busca de apoio para — em seguida às eleições norte-americanas — uma ação imediata contra Teerã, não tem surtido efeito. Londres avisou que não só é contrária a qualquer ação armada mas, também, se nega a permitir o uso das ilhas de Diego Garcia e Ascensão (cedidas pela Inglaterra para as bases ianques no Oceano Índico), como plataforma para qualquer hostilidade contra o país muçulmano.
Negativa da mesma natureza foi feita pela França, que, conforme disse François Hollande a Netanyahu, não participará, nem apoiará, qualquer iniciativa nesse sentido. É possível, embora não muito provável, que Israel conte com Ângela Merkel. Israel tem esperança na vitória de Romney, e a comunidade israelita dos Estados Unidos se encontra dividida. Os banqueiros e grandes industriais de armamento, de origem judaica, trabalham com afã para a derrota de Obama. E há o temor de que, no caso da vitória republicana, os israelitas venham a aproveitar o esvaziamento do poder democrata para o ataque planejado.
Além disso, Netanyahu não tem o apoio unânime entre os militares de seu país para esse projeto. Amy Ayalon, antigo comandante da Marinha, e dos serviços internos de segurança, o Shin Bet, disse que Israel não pode negar a nova realidade nos países islâmicos: “Nós vivemos — avisa — em novo Meio Oriente, onde as ruas se fortalecem e os governantes se debilitam”. E vai ao problema fundamental: se Israel quer a ajuda dos governos pragmáticos da região, terá que encontrar uma saída para a questão palestina. É esta também a opinião, embora não manifestada com clareza, do governo de Obama, de altos chefes militares americanos, e dos círculos mais sensatos da comunidade judaica naquele país.
O fato é que os Estados Unidos se encontram em uma situação complicada. Eles não têm condições militares objetivas para entrar em nova guerra na região, sem resolver antes o problema do Iraque e do Afeganistão. Seus pensadores mais lúcidos sabem que invadir o Irã poderá significar a Terceira Guerra Mundial, com o envolvimento do Paquistão no conflito e, em movimento posterior, da China e da Rússia. Washington, na defesa de seus interesses geopolíticos, deu autonomia demasiada a Israel, armando seu exército e o ajudando a desenvolver armas atômicas. Já não conseguem controlar Tel Aviv.
Estarão dispostos, mesmo com o insensato Romney, a partir para uma terceira guerra mundial? No tabuleiro de xadrez, se trata de “xeque ao rei”; na mesa de bilhar, de sinuca de bico.
*comtextolivre

A volta do filho (de papai) pródigo ou a parábola do roqueiro burguês


Nem todo direitista é derrotista, mas todo derrotista é direitista. Reparem no capricho do léxico: as duas palavras são quase idênticas. Ambas têm dez letras, soam similares e até rimam. Se você tem dúvida se alguém é de direita observe essas características. Começou a falar mal do Brasil e dos brasileiros, a demonstrar desprezo por tudo daqui, a comparar de forma depreciativa com outros países, é batata. Derrotista/direitista detectado.
Temos hoje no Brasil duas personalidades célebres pelo derrotismo explícito e pelo direitismo não assumido: os roqueiros Lobão e Roger Moreira, do Ultraje a Rigor. Eu ia citar também Leo Jaime, outro direitoso do rock nacional, mas não posso classificá-lo como um derrotista típico –fora isso, no entanto, cabe perfeitamente no figurino que descreverei aqui. Os três são cinquentões: Lobão tem 57, Roger, 56 e Leo, 52.
Da geração dos 80, Lobão sempre foi meu favorito. Eu simplesmente amo suas canções. Para mim, Rádio Blá, Vida Bandida, Vida Louca Vida e Decadence Avec Elegance são clássicos. Além de Corações Psicodélicos, em parceria com Bernardo Vilhena e Julio Barroso, ai, ai… Adoro. E não é porque Lobão se transformou em um reacionário que vou deixar de gostar. Sim, Lobão virou um reaça no último. Alguém que voltasse agora de uma viagem longa ao exterior ia ficar de queixo caído: aquele personagem alucinado, torto, jeitão de poeta romântico, que ficou preso um ano por porte de drogas, se identifica hoje com a direita brasileira mais podre.
Não me importa que Lobão critique o PT ou qualquer outro partido. O que me entristece é ele ter se unido ao conservadorismo hidrófobo para perpetrar barbaridades como a frase, dita ano passado, em tom de pilhéria: “Há um excesso de vitimização na cultura brasileira. Essa tendência esquerdista vem da época da ditadura. Hoje, dão indenização a quem seqüestrou embaixadores e crucificam os torturadores, que arrancaram umas unhazinhas”. No twitter (@lobaoeletrico), se diverte esculhambando o país e os brasileiros, sempre nos colocando para baixo. “Antigamente éramos um país pobre e medíocre… terrível. Hoje em dia somos um país rico e medíocre… pior ainda”, escreveu dia desses.
Os anos não foram mais generosos com Roger Moreira, do Ultraje. O cara que cantava músicas divertidíssimas como Nós Vamos Invadir Sua Praia, Marylou ou Inútil virou um coroa amargo que deplora o Brasil e vive reclamando de absolutamente tudo com a desculpa de ser “contra os corruptos”. É um daqueles manés que vivem com a frase “imagine na Copa” na ponta da língua para criticar o transporte público, por exemplo, sem nem saber o que é pegar um ônibus. Os brasileiros, segundo Roger, são um “povo cego, ignorante, impotente e bunda-mole”. Sofre de um complexo de vira-lata que beira o patológico. Ao ver a apresentação bacana dirigida por Daniela Thomas ao final das Olimpíadas de Londres, tuitou, vaticinando o desastre no Rio em 2014: “Começou o vexame”. Não à toa, sua biografia na rede social (@roxmo) é em inglês.
Muita gente se pergunta como é que isso aconteceu. O que faz um roqueiro virar reaça? No caso de ambos, a resposta é simples. Tanto Roger quanto Lobão são parte de um fenômeno muito comum: o sujeito burguês que, na juventude, se transforma em rebelde para contrariar a família. Mais tarde, com os primeiros cabelos brancos, começa a brotar também a vontade irresistível, inconsciente ou não, de voltar às origens. Aos poucos, o ex-revoltadex vai se metamorfoseando naqueles que criticava quando jovem artista. “Você culpa seus pais por tudo, isso é um absurdo. São crianças como você, é o que você vai ser quando você crescer” –Renato Russo, outro roqueiro dos 80′s, já sabia.
O carioca Lobão, nascido João Luiz Woerdenbag Filho, descendente de holandeses e filhinho mimado da mamãe, estudou a vida toda em colégio de playboy, ele mesmo conta em sua biografia. O paulistano Roger estudou no Liceu Pasteur, na Universidade Mackenzie e nos EUA. Nada mais natural que, à medida que a ira juvenil foi arrefecendo –infelizmente junto com o vigor criativo– o lado burguês, muito mais genuíno, fosse se impondo. Até mesmo por uma estratégia de sobrevivência: se não estivessem causando polêmica com seu direitismo, será que ainda falaríamos de Roger e Lobão? Eu nunca mais ouvi nem sequer uma música nova vinda deles. O Ultraje, inclusive, se rendeu aos imbecis politicamente incorretos e virou a “banda do Jô” do programa de Danilo Gentili.
Enfim, incrível seria se Mano Brown ou Emicida, nascidos na periferia de São Paulo, se tornassem, aos 50, uns reaças de marca maior. Pago para ver. Mas Lobão e Roger? Normal. O bom filho de papai à casa torna. A família deles, agora, deve estar orgulhosíssima.
*socialistamorena

quinta-feira, novembro 01, 2012

Deleite - Gilberto Gil - Nao tenho medo da morte

Acusada de corrupção, prefeita de Natal é afastada pela Justiça

Foto: Fábio Cortez/DN/D.A.Press
Micarla de Sousa (PV) teria
envolvimento em esquema de desvio
de verbas no sistema de
saúde da capital potiguar.
Foto: Fábio Cortez/DN/D.A.Press
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN) afastou nesta quarta-feira 31 a prefeita de Natal, Micarla de Sousa (PV), de suas funções devido à suspeita de seu envolvimento com um esquema de corrupção no sistema de saúde da capital potiguar. O pedido, realizado pelo Ministério Público estadual em 18 de outubro, foi deferido pelo desembargador Amaury de Moura.
Segundo a assessoria de imprensa do TJRN, o vice-prefeito, Paulinho Freire (PP), deve assumir em caráter imediato. Micarla e o presidente da Câmara já foram oficiados sobre a decisão, que corre sob segredo de Justiça. A mandatária, que tem sua administração reprovada por 92% dos habitantes de Natal, tem que deixar o cargo ainda nesta quarta. A decisão é em caráter liminar e cabe recurso.
O pedido de afastamento foi realizado pelo Procurador-Geral de Justiça do Estado, Manoel Onofre Neto, com base em descobertas das Operação Assepsia, deflagrada em 27 de junho deste ano. A ação desarticulou um esquema que promoveu contratos da capital com organizações sociais para a administração da UPA Pajuçara e dos Ambulatórios Médicos Especializados (AMES), por meio de fraudes nos processos de qualificação e seleção das entidades.
De acordo com o MP, os contratos respectivos foram anulados pela Justiça e ficou apurado que as organizações contratadas apresentaram despesas fictícias nas prestações de contas da Secretaria Municipal de Saúde com intuito de desviar verbas.
Em 11 de outubro, o MP protocolou no TJRN requerimento de afastamento da prefeita devido “os fortes indícios de envolvimento” da pevista “nos fatos referentes à denominada Operação Assepsia”. “A análise da documentação apreendida durante a referida operação e outros elementos colhidos na investigação que tramita sob sigilo no Tribunal de Justiça revelaram fortes indícios do envolvimento da Chefe do Executivo Municipal no esquema fraudulento instalado no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde e em outros órgãos da Administração Municipal”, disse o MP à época.
*comtextolivre


Missão gaúcha a Cuba tem “overbooking” de empresários

Marco Aurélio Weissheimer.

A bandeira de Cuba já não assusta ninguém no Rio Grande do Sul. Pelo menos não aqueles setores responsáveis pelo desenvolvimento do Estado, pela geração de emprego e renda. Uma missão político-empresarial articulada pelo governo gaúcho desembarca nesta quinta-feira (1º) em Havana, com uma extensa agenda de acordos de cooperação e negócios. “Houve overbooking de empresários querendo viajar a Cuba”, brincou Marcelo de Carvalho Lopes, diretor-presidente do Badesul Desenvolvimento – Agência de Fomento RS, ao comentar, durante entrevista coletiva no palácio Piratini, o grande interesse, por parte do empresariado gaúcho, em participar da missão a Cuba. Dos 56 integrantes da comitiva, 35 são empresários de diferentes setores da economia do Estado, principalmente dos de máquinas e implementos agrícolas e alimentação.
“A visão que orienta nossa política de desenvolvimento econômico e social está baseada numa conexão entre o local, o regional e o global”, disse o governador do Estado, Tarso Genro, ao falar sobre o objetivo da missão. “Cito um exemplo concreto disso. Neste momento, nós temos algumas dificuldades importantes para acelerar nossas exportações de máquinas agrícolas para a Argentina. De outra parte, o governo cubano inicia uma distribuição de 100 mil pequenas propriedades, dentro de um plano de desenvolvimento da agricultura familiar cubana que não tem o maquinário e os insumos necessários para responder a essa nova necessidade da economia. Então, temos trabalhado, desde o início do nosso governo um conjunto de relações que tem atraído investimentos para o Rio Grande do Sul”.
O governo gaúcho identificou, nas relações comerciais do Estado com Cuba, uma oportunidade de ampliação do comércio exterior do Rio Grande do Sul. As exportações gaúchas para a ilha caribenha representam hoje 38,6% do total das exportações brasileiras para aquele país. Os principais produtos dessa pauta de exportações são derivados de soja, arroz, móveis e construções pré-fabricadas. Cuba ocupa hoje a 23ª posição no ranking de destinos dos produtos gaúchos, segundo dados do Badesul, relativos ao período entre janeiro e setembro de 2012. Com o objetivo de ampliar esses números, o Badesul colocou à disposição das empresas do Rio Grande do Sul uma linha de financiamento de R$ 40 milhões. Os beneficiários da linha Pró Exportación Cuba serão as empresas que tem em Cuba um de seus mercados externos e que, preferencialmente, já tem uma tradição de exportação para aquele país.
Liderada pelo governador Tarso Genro, a missão formada por secretários de Estado, empresários e representantes de instituições de ensino e pesquisa participará, de 2 a 5 de novembro, de uma série de encontros com autoridades do governo cubano. O objetivo é consolidar acordos de cooperação técnica nas áreas de medicamentos, biofertilizantes, agricultura familiar, economia solidária e cultura. Um dos temas centrais da agenda é a produção de máquinas agrícolas. O Programa Mais Alimentos, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, tem uma linha de crédito de US$ 200 milhões para financiar esse setor. As negociações entre Cuba e o Rio Grande do Sul envolvem a produção de tratores em território cubano, por meio de uma associação entre empresas gaúchas e companhias locais.
Outra possibilidade é abrir novos mercados para cooperativas gaúchas de suínos, frango e leite. Para tanto, o Estado pode aproveitar a criação de uma linha de crédito de US$ 350 milhões, por meio do Programa de Financiamento às Exportações (Proex) para fortalecer a venda de produtos dessas cooperativas. Espumantes produzidos no Rio Grande do Sul também devem ser incluídos na pauta de negociações. A comitiva gaúcha contará, ainda, com representantes de setores de fármacos, calçados e cutelaria.
Essa missão dará continuidade as tratativas iniciadas em março deste ano, quando ocorreu a primeira viagem oficial do governo gaúcho a Cuba. O setor empresarial participa da missão com representantes das seguintes empresas e cooperativas: Cooperativa Central Gaúcha (CCGL), Stara, Agritech Lavrare, Fitarelli, Vence Tudo, Di Solle, Marcopolo, Martinazzo, Perfilline, além da Odebrecth, Dimed Panvel e cooperativas de agricultores familiares. Também compõem a comitiva entidades representativas, como Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no RS (Simers), Federação do Comércio do RS (Fecomércio), Federação das Indústrias do RS (Fiergs) e Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin).
Cultura e Economia Solidária
Nem tudo serão negócios na missão do governo gaúcho a Cuba. O secretário adjunto da Cultura, Jéferson Assumção, participa da comitiva com a missão de ampliar as parcerias institucionais na área cultural. Entre os temas que serão discutidos na missão estão a retomada da participação cubana no Festival de Cinema de Gramado, a publicação de edição bilíngue com autores gaúchos e cubanos e a criação de programas de formação cinematográfica a partir da experiência da Escola Internacional de Cinema e Televisão San Antonio de los Baños (EICTV). No sábado, o governador Tarso Genro visitará a EICTV, considerada uma das principais escolas de cinema do mundo.
A Secretaria da Economia Solidária e Apoio à Micro e Pequena Empresa, por sua vez, apresentará os projetos desenvolvidos no Estado, como o Programa Gaúcho de Microcrédito, a Cadeia Solidária Binacional do PET e Reciclagem de Resíduos Sólidos. O governo gaúcho também vai mostrar a experiência da Cadeia Solidária Binacional do PET às autoridades cubanas. O projeto integra a cadeia produtiva no setor de reciclagem da garrafa PET no RS. A ideia é desenvolver um projeto de intercâmbio entre o RS e Cuba – por meio da Secretaria de Economia Solidária Empresa (Sesampe) e um grupo de empresas de recuperação de matérias primas do país caribenho.
Foto: Caco Argemi/Palácio Piratini
*Gilsonsampaio