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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, junho 01, 2014

Programa Vida Iinteligente o ódio

    O LEGADO DA COPA DO MUNDO NO BRASIL - EM VÍDEO !


VAI TER COPA !
Uma parte das OBRAS - AEROPORTOS - ESTÁDIOS - MOBILIDADE URBANA E PORTOS NAS CIDADES SEDE.

TEM MUITO MAIS POR VIR

 Precisa-se de rebeldes: somente indivíduos podem se inscrever


Pergunta a Osho:


Amado Osho,
O que um cara bonito e iluminado como você está fazendo com um grupo heterogêneo como o nosso?
Na verdade, não quero realmente saber o que você está fazendo. Apenas, por favor, não o pare de fazer.


Toda multidão é uma multidão heterogênea, mas nenhum indivíduo o é. Cada indivíduo é uma consciência autêntica. No momento em que ele se toma parte da multidão, ele perde a sua consciência; então ele é dominado pelo coletivo, pela mente mecânica.

Você está me perguntando o que estou fazendo? Estou fazendo uma coisa simples - tirando indivíduos para fora das multidões, devolvendo-lhes a sua individualidade e dignidade.

Eu não quero multidão alguma no mundo. Não importa se eles se juntaram em nome de religiões, ou em nome de nacionalidades, ou em nome de raças. Como tal, a multidão é feia, e as multidões cometeram os maiores crimes no mundo, porque a multidão não tem consciência. Ela é uma inconsciência coletiva.

A consciência torna a pessoa um indivíduo - um pinheiro solitário dançando ao vento, um solitário e ensolarado pico de montanha em sua completa glória e beleza, um solitário leão e seu rugido tremendamente belo que ecoa por quilômetros nos vales.

A multidão é sempre de ovelhas, e todo o esforço do passado tem sido o de converter cada indivíduo em uma peça de engrenagem, em uma parte morta de uma multidão morta. Quanto mais inconsciente ele é, e quanto mais o seu comportamento é dominado pela coletividade, menos perigoso ele se toma. Na verdade, ele se toma quase inofensivo. Ele não pode destruir nem mesmo sua própria escravidão.

Pelo contrário, ele começa a glorificar sua própria escravidão - sua religião, sua nação, sua raça, sua cor. Essas são as suas escravidões, mas ele começa a glorificá-las. Como indivíduo ele não pertence a nenhuma multidão. Toda criança nasce como um indivíduo, mas raramente um homem morre como um indivíduo.

Meu trabalho é fazer com que você encontre a sua morte com a mesma inocência, com a mesma integridade, com a mesma individualidade que você tinha ao nascer. Entre o seu nascimento e a sua morte, a sua dança deveria permanecer um consciente, um solitário alcançar as estrelas... sozinho, incorruptível - um espírito rebelde. A menos que você tenha um espírito rebelde, você não tem espírito algum. Não existem outros tipos de espíritos.

E você pode ficar descansado que eu não irei parar! Essa é a minha única alegria - tomar o maior número possível de pessoas livres de seus cativeiros, de suas celas escuras, de suas algemas, de suas correntes, e trazê-las para a luz, de tal forma que elas também possam conhecer as belezas deste planeta, a beleza deste céu, as belezas desta existência. Além disto, não existe Deus e nem qualquer templo de Deus.

Em liberdade, você pode entrar no templo.

Em uma coletividade, em uma multidão, você simplesmente se apega aos cadáveres do passado. Um homem, vivendo de acordo com a multidão, parou de viver. Ele está simplesmente seguindo como um robô.

Talvez os robôs sejam também um pouco mais indivíduos do que os assim-chamados indivíduos na multidão... porque justamente agora, no Japão, existem cem mil robôs - homens mecânicos - trabalhando nas fábricas. De repente, nos últimos dois meses, um estranho fenômeno está acontecendo. O governo está preocupado, os cientistas estão preocupados, e eles não foram capazes de encontrar qualquer explicação. Até agora os robôs tinham trabalhado silenciosamente; ninguém jamais pensou que eles iriam, de repente, começar uma rebelião. Mas dez pessoas foram mortas nos últimos dois meses.

Um robô está trabalhando - e um robô trabalha de acordo com um computador, de acordo com um plano pré-programado; ele não pode agir, de forma alguma, diferentemente do programa com que foi alimentado. Mas por estranho que pareça, de repente esses dez robôs pararam de trabalhar, agarraram algum homem que estava por perto e simplesmente o mataram. A cifra de dez homens mortos é dada pelo governo - não pode ser verdade. Nenhum governo fala a verdade.

Minha própria experiência é a de que é sempre bom multiplicar todos os números dados pelo governo pelo menos por dez. Se eles estão dizendo que dez pessoas morreram, cem pessoas devem ter morrido, ou mais. Eles estão tentando acalmar as massas - “Não se preocupem, nós descobriremos o que saiu errado.” Mas eles não têm ideia alguma.

Na verdade, o robô não é capaz de fazer qualquer ato que não esteja programado no computador - e esses não eram os programas. Os robôs mostraram algum sinal de liberdade, mostraram algum sinal de individualidade, alguma indicação de rebeldia.

Os computadores não podem responder a uma questão nova. Eles podem responder somente a questões para as quais informações já lhes foram dadas. Naturalmente - eles não têm inteligência, eles têm somente um sistema de memória, um sistema de arquivo que registra. E claro, eles são perfeitos em sua eficiência. Nenhum homem pode ser tão perfeito; de vez em quando você esquece.

E é absolutamente necessário, para que a vida continue, esquecer-se da maioria das coisas desnecessárias que estão acontecendo a cada dia, do contrário, seu sistema de memória ficará sobrecarregado. Mas o computador é um mecanismo. Você não o pode sobrecarregar demais, ele não tem vida.

Ouvi contar... um homem estava perguntando a um computador: “Você pode me dizer onde está meu pai?” Ele estava apenas brincando com o cientista que trabalhava naquele grande computador, e o computador disse: “Seu pai? Ele saiu para pescar há três horas.” O homem riu e disse ao cientista: “Você está criando um computador estúpido. Meu pai morreu há três anos.” E ele ficou chocado porque o computador deu uma gargalhada - para a qual nunca havia sido programado - e disse: “Não seja ingênuo. Não foi o seu pai que morreu há três anos, esse foi somente o esposo de sua mãe. Seu pai foi pescar há três horas; você pode ir para a praia e o encontrará.” No momento, essa é apenas uma história, mas olhando os fatos reais que estão acontecendo no Japão, a história toma uma certa realidade.

Mas o homem na multidão tem sempre agido cegamente. Se você puxa o mesmo homem para fora da multidão e lhe pergunta: “O que você estava fazendo? Você pode fazer isso sozinho, por você mesmo?” Ele se sentirá embaraçado. E você ficará surpreso ao ouvir a sua resposta: “Por minha própria conta não posso fazer uma coisa tão estúpida, mas quando estou numa multidão, algo estranho acontece.”

Por vinte anos vivi em uma cidade que era dividida proporcionalmente, meio a meio, entre hindus e muçulmanos. Eles eram igualmente poderosos, e quase todo ano aconteciam motins. Eu conhecia um professor na universidade onde eu ensinava. Eu nunca poderia ter sonhado que esse homem poderia atear fogo em um templo hindu; ele era um cavalheiro — gentil, bem-educado, de boa cultura. Durante um motim entre hindus e muçulmanos, eu estava observando da calçada. Os muçulmanos estavam queimando um templo hindu, os hindus estavam queimando uma mesquita muçulmana.

Eu vi esse professor envolvido na queima do templo hindu. Eu o puxei para fora e lhe perguntei:“Professor Farid, o que você está fazendo?

Ele ficou muito envergonhado. Ele disse: “Sinto muito, eu me perdi na multidão. Porque todos os outros estavam fazendo isso, eu esqueci de minha própria responsabilidade. Pela primeira vez eu me senti tremendamente livre de responsabilidade. Ninguém poderia me acusar. Era uma multidão de muçulmanos, e eu era apenas parte dela.”

Em uma outra ocasião, uma relojoaria muçulmana estava sendo saqueada. Ela tinha a mais preciosa coleção de relógios. Um velho sacerdote hindu... as pessoas que estavam roubando esses relógios e destruindo a loja — eles haviam assassinado o dono da loja - eram todos hindus.

Um velho sacerdote que eu conhecia estava de pé nas escadas, gritando com muita raiva para as pessoas: “O que vocês estão fazendo? Isso vai contra nossa religião, contra nossa moralidade, contra nossa cultura. Isso não está certo.”

Eu estava vendo toda a cena de uma livraria no primeiro andar do prédio exatamente em frente à loja, do outro lado da rua. A maior surpresa ainda estava por vir. Quando as pessoas haviam levado todos os artigos de valor da loja, restou somente um velho relógio - muito grande, muito antigo. Vendo que as pessoas estavam indo embora, o velho colocou esse relógio sobre os seus ombros. Para ele era difícil carregá-lo, porque o relógio era pesado demais. Eu não podia acreditar em meus olhos! Ele estivera impedindo as pessoas, e esse era o último artigo da loja.

Eu tive que descer da livraria e parar o sacerdote. Eu perguntei-lhe: “Isso é estranho. O tempo todo você estava gritando, ‘Isso vai contra a nossa moralidade! Isso vai contra a nossa religião, não façam isso!’ E agora você está pegando o maior relógio da loja.”

Ele replicou: “Eu gritei o bastante, mas ninguém ouviu. E então, finalmente veio-me a ideia de que eu estou simplesmente gritando e desperdiçando o meu tempo, e todos os outros estão pegando alguma coisa. Então, é melhor pegar este relógio antes que algum outro o pegue, porque ele era o único artigo deixado.”

Eu perguntei: “Mas o que aconteceu com a religião, a moralidade, a cultura?”

Ele disse isto com uma cara envergonhada - mas disse: “Quando ninguém se preocupa com religião, cultura e moralidade, por que eu deveria ser a única vítima? Também sou parte da mesma multidão. Fiz o possível para convencê-los, mas se ninguém vai seguir a religião, a moralidade e o caminho correto, então não vou ser apenas um perdedor e parecer um estúpido parado aqui. Ninguém nem mesmo me escutou, ninguém me deu atenção.” E ele levou o relógio.

Eu vi pelo menos uma dúzia de motins naquela cidade, e perguntei aos indivíduos que haviam participado de atos incendiários, de assassinatos, de estupros: “Você é capaz de fazer isso sozinho, por você mesmo?” E todos eles, sem exceção, disseram: “Por conta própria não o podemos fazer. Foi porque tantas pessoas estavam fazendo aquilo e não havia responsabilidade pessoal. Não tínhamos que responder por aquilo, a multidão era a responsável.”

O homem perde tão facilmente sua pequena consciência no oceano coletivo da inconsciência. Essa é a causa de todas as guerras, de todos os motins, de todas as cruzadas, de todos os assassinatos.

Indivíduos cometeram muito poucos crimes comparados aos da multidão. E as razões dos indivíduos que cometeram crimes são totalmente diferentes - eles nasceram com uma mente criminosa, nasceram com uma química criminosa, necessitam de tratamento. Mas o homem que comete um crime porque ele é parte de uma multidão nada tem que deva ser tratado. Tudo o que é necessário é tirá-lo da multidão. Ele deveria ser limpo; limpo de todas as escravidões, limpo de todo o tipo de coletividade. Ele deveria se tomar um indivíduo novamente - assim como era quando veio ao mundo.

As multidões devem desaparecer do mundo.

Somente indivíduos deveriam permanecer.

Então, os indivíduos podem ter encontros, os indivíduos podem ter confraternizações, os indivíduos podem ter diálogos. No momento, sendo parte de uma multidão, eles não são livres, nem mesmo conscientes para terem um diálogo ou uma comunhão.

Meu trabalho é tirar os indivíduos para fora de qualquer multidão - cristã, muçulmana, hindu, judia... qualquer multidão política, qualquer multidão racial, qualquer multidão nacional - indiana, chinesa, japonesa. Eu sou contra a multidão e absolutamente pelo indivíduo, porque somente o indivíduo pode salvar o mundo. Somente o indivíduo pode ser o rebelde e o novo homem, a base para uma humanidade futura.

A professora está perguntando a três meninos em sua classe: “O que as suas mães estavam fazendo quando vocês saíram para a escola esta manhã?”

“Lavando roupa”, disse Tom.

“Limpando o quarto”, disse Dick.

“Aprontando-se para sair e caçar patos”, disse Harry.

“O quê? Do que você está falando, Harry?”, perguntou a professora.

“Bem, professora”, disse Harry, “meu pai fugiu de casa, então ela atirou suas calcinhas no fogo e disse que estava voltando à ação.”

As pessoas são imitadoras. Não estão agindo por conta própria; estão reagindo. O marido abandonou-a; isso se tomou uma reação nela, uma vingança - ela está voltando à ação. Essa não é uma ação vinda da consciência, não é uma indicação de individualidade.

É assim que a mente coletiva funciona - sempre de acordo com alguma outra pessoa. Contra ou a favor, não importa; conformista ou não-conformista, não importa. Mas ela está sempre dirigida, motivada, comandada por outros. Deixada por si mesma, ficará completamente perdida - o que fazer?

Estou ensinando o meu povo a ser meditador: a ser pessoas que possam desfrutar a solidão, que possam respeitar a si mesmas sem pertencerem a qualquer multidão, que não vendem as suas almas por recompensa, honraria, respeitabilidade e prestígio algum que a sociedade possa lhes dar. A sua honra, o seu prestígio e o seu poder estão dentro de seus próprios seres - na sua liberdade, no seu silêncio, no seu amor, na sua ação criativa - e não em sua reação. O que os outros fazem não é o que determina a sua vida.

A sua vida emerge do seu próprio interior. Ela tem as suas raízes na terra e os seus ramos no céu. Ela tem a sua aspiração própria de alcançar as estrelas.

Somente tal homem tem beleza e graça. Somente tal homem cumpriu o desejo da existência ao dar-lhe nascimento, ao dar-lhe uma oportunidade. Aqueles que permanecem parte da multidão perderam o trem.

Osho, "O Rebelde: O Verdadeiro Sal da Terra"

*IsisCastro

Caminhada de paraplégico na Copa é apenas 1º passo, diz Nicolelis

Nicolelis
Colocar um paciente paraplégico para caminhar dentro de campo e dar o pontapé inicial da Copa do Mundo no Brasil será apenas o primeiro passo de um projeto que continuará a ser desenvolvido, com o objetivo de ajudar pessoas com paralisia a andar novamente, afirmou o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis.
À frente de uma equipe de 156 cientistas de 25 países, Nicolelis está concentrado na reta final para a demonstração na abertura do Mundial, em 12 de junho, quando um paciente paraplégico caminhará pelo campo da Arena Corinthians usando uma estrutura robótica chamada de exoesqueleto e dará o pontapé inicial da partida entre Brasil e Croácia.
"A demonstração da Copa é simbólica... Não é ciência. A ciência nós fizemos aqui (no laboratório). Está sendo feita aqui... É quase que um presente do Brasil para a humanidade, mas é só o começo, é um primeiro passo, literalmente", disse o neurocientista em entrevista à Reuters no laboratório instalado desde novembro na zona sul de São Paulo.
"O intuito, a longo prazo, de toda a rede Walk Again pelo mundo afora, é criar tecnologias que possam ser usadas pelos pacientes. Não só o exoesqueleto, existem outras tecnologias em que estamos trabalhando", acrescentou.
Todos os oito pacientes que participam do projeto já caminharam com o exoesqueleto, usando comandos cerebrais.
Eles também passaram pelo que Nicolelis chama de "treinamento cerebral" num sofisticado simulador em que os pacientes comandam os movimentos de um avatar na tela e recebem, por meio de sensores táteis, a sensação de estarem caminhando.
Para realmente deixá-los preparados para o ambiente da abertura do Mundial, o som ambiente é o de uma barulhenta torcida. Entre as torcidas ruidosas escolhidas pela equipe de Nicolelis estão a alemã e a turca.
"(A ideia) é fazer o cérebro imaginar que as pernas funcionam de novo", explica o cientista sobre o simulador, que foi testado, inclusive, pelo ex-atacante da seleção brasileira Ronaldo, numa visita que fez ao laboratório de Nicolelis.
Após este treinamento cerebral, os pacientes passaram a usar o exoesqueleto, ferramenta que permitirá não apenas que eles andem novamente usando os comandos cerebrais, mas também que sintam a sensação de caminhar, graças a uma "pele artificial" coberta por sensores, que vai revestir o aparelho.
E a equipe de Nicolelis já mira melhorias no exoesqueleto, como a redução do peso dos atuais 70 quilos para 50 quilos, já antes da abertura da Copa, e num prazo um pouco maior, a inclusão de braços no aparelho para que ele também seja usado por pacientes tetraplégicos.
O projeto Walk Again (Andar de Novo) teve sua ciência básica --experimentos em animais, por exemplo-- financiada pelo National Institutes of Health (NIH), órgão do governo dos Estados Unidos que é a maior agência de pesquisa biomédica do mundo. A fase clínica, que está sendo feita no Brasil, tem financiamento de 34 milhões de reais da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa de fomento à pesquisa ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia.
MAIS FÁCIL PALMEIRAS CAMPEÃO
Formado em medicina pela USP e professor da Universidade Duke, nos Estados Unidos, Nicolelis é frequentemente apontado como favorito para se tornar o primeiro brasileiro a vencer o Prêmio Nobel. Perguntado sobre a possibilidade, o palmeirense roxo que não tirou o boné do alviverde em nenhum momento da entrevista, faz graça.
"É certamente bem mais fácil o Palmeiras ser campeão", ri, antes de dar de ombros para a premiação sueca. "Existe um certo fetiche por prêmios no Brasil, é parte, num certo sentido, do nosso complexo de vira-lata, que saiu do futebol, mas não saiu de vários aspectos da nossa cultura", comentou o cientista, que tem em Santos Dumont uma grande inspiração.
"Cientistas que eu conheci na minha carreira que não ganharam o Prêmio Nobel, fenomenais, nunca perderam o sono da noite, porque eles sabem que a contribuição deles vai entrar para a história, a despeito do que um grupo de pessoas decida na Suécia."
O neurocientista, que mostra seu patriotismo com uma bandeira do Brasil sempre ao lado do exoesqueleto e com fotos da seleção brasileira espalhadas pelo laboratório, manifesta confiança na realização da Copa e vê um "pessimismo exacerbado" vigente hoje no país.
Reclama ainda do fato de que algumas pessoas "jogaram contra" seu projeto no Brasil, e atribui o fato à uma "polarização" que o país vive sem, no entanto, entrar em detalhes.
Nicolelis, de 53 anos, guarda ainda um grande segredo: usará ou não o inseparável boné do Palmeiras diante de 68 mil torcedores na Arena Corinthians, estádio do maior rival do alviverde?
"Essa é a pergunta mais importante de todo projeto. É a pergunta que aterroriza o meu pai corintiano", brinca. "Vou deixar em segredo isso, até o momento final."
(Com reportagem da Reuters TV)

Dilma oficializa Hino à Negritude no Brasil


Música será tocada em cerimônias para homenagear a comunidade negra. Primeiro projeto de lei para institucionalizar o hino foi proposto em 1966

A presidente Dilma Rousseff sancionou lei que oficializa, em todo o país, o Hino à Negritude, música que exalta a população negra brasileira. Publicada no Diário Oficial da União nesta quinta (29), a Lei 12.981 prevê a execução do hino em cerimônias públicas organizadas para homenagear a comunidade negra.
A letra é de autoria do professor Eduardo Oliveira, ex-vereador da cidade de São Paulo, líder do movimento negro no Brasil e um dos principais articuladores do Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB).
A primeira tentativa de institucionalizar o Hino à Negritude ocorreu em 1966, ano em que foi apresentada a primeira proposta sobre o tema. Em 1993 e 1997, foram protocolados novos projetos para institucionalizar o hino, mas as matérias não avançaram no Congresso.
Em 2007, a proposta voltou a ser debatida no Legislativo por meio de um projeto de lei de autoria do deputado Vicentinho (SP), atual líder da bancada do PT na Câmara.
Na justificativa de seu projeto de lei, o petista, que é negro, argumentou que a homenagem ajudaria a valorizar “a trajetória do negro na formação da sociedade brasileira e a inexistência de símbolos que enalteçam e registrem esse sentimento de fraternidade entre as diversas etnias que compõem a base da população brasileira”.
Leia abaixo a letra do Hino e assista ao vídeo:

Sob o céu cor de anil das Américas
Hoje se ergue um soberbo perfil
É uma imagem de luz
Que em verdade traduz
A história do negro no Brasil
Este povo em passadas intrépidas
Entre os povos valentes se impôs
Com a fúria dos leões
Rebentando grilhões
Aos tiranos se contrapôs
Ergue a tocha no alto da glória
Quem, herói, nos combates, se fez
Pois que as páginas da História
São galardões aos negros de altivez

Levantado no topo dos séculos
Mil batalhas viris sustentou
Este povo imortal
Que não encontra rival
Na trilha que o amor lhe destinou
Belo e forte na tez cor de ébano
Só lutando se sente feliz
Brasileiro de escol
Luta de sol a sol
Para o bem de nosso país
Ergue a tocha no alto da glória
Quem, herói, nos combates, se fez
Pois que as páginas da História
São galardões aos negros de altivez

Dos Palmares os feitos históricos
São exemplos da eterna lição
Que no solo Tupi
Nos legara Zumbi
Sonhando com a libertação
Sendo filho também da Mãe-África
Arunda dos deuses da paz
No Brasil, este Axé
Que nos mantém de pé
Vem da força dos Orixás
Ergue a tocha no alto da glória
Quem, herói, nos combates, se fez
Pois que as páginas da História
São galardões aos negros de altivez

Que saibamos guardar estes símbolos
De um passado de heróico labor
Todos numa só voz
Bradam nossos avós
Viver é lutar com destemor
Para frente marchemos impávidos
Que a vitória nos há de sorrir
Cidadãs, cidadãos
Somos todos irmãos
Conquistando o melhor por vir
Ergue a tocha no alto da glória
Quem, herói, nos combates, se fez
Pois que as páginas da História
São galardões aos negros de altivez
(bis)

*pragmatismo politico

sábado, maio 31, 2014

Lula: A mídia lambia as botas da ditadura, deu apoio a FHC e foi contra o meu governo e o de Dilma






Entrevista de Lula a Luiz Gonzaga Belluzzo e Mino Carta, em CartaCapital, via e-mail de  Julio Cesar Macedo Amorim

Antes de mais nada, impressiona a paixão. Aos 68 anos, Luiz Inácio Lula da Silva não perdeu o vigor com que arengava à multidão reunida no gramado da Vila Euclides no fim dos anos 70. E nos momentos em que sustenta algo capaz de empolgá-lo, ocorrência frequente, aperta com força metalúrgica o pulso do entrevistador mais próximo, como se pretendesse transmitir-lhe fisicamente sua emoção. Assim se deu nesta longa entrevista que o ex-presidente Lula deu a CartaCapital. No caso de Mino, esta foi mais uma das inúmeras, a começar pela primeira, em janeiro de 1978.
CC: O senhor enxerga alguma relação entra a Copa do Mundo e a eleição? Se enxerga, por que e de que maneira?
Lula: Eu acho difícil imaginar que a Copa do Mundo possa ter qualquer efeito sobre a preferência por este ou aquele candidato. Por outro lado, se o Brasil perder, acho que teremos um desastre similar àquele de 1950. Temo uma frustração tremenda, e a gente não sabe com que resultado psicológico para o povo. Em 50 jogaram o fracasso nas costas do goleiro Barbosa.
CC: Em primeiro lugar o Barbosa.
Lula: O Barbosa carregou por 50 anos a responsabilidade, e morreu muito pobre, com a fama de ter sido quem derrotou o Brasil. É uma vergonha jogar a culpa num jogador. Se o Brasil ganha, a campanha passa a debater o futuro do País e o futebol vai ficar para especialistas como eu.

CC: E as chamadas manifestações?

Lula: Ainda há pouco tempo a gente não esperava que pudessem acontecer manifestações. E elas aconteceram sem qualquer radicalização inicial, porque as pessoas reivindicavam saúde padrão Fifa, educação padrão Fifa; poderiam ter reivindicado saúde padrão Interlagos, quando há corrida, ou padrão de tênis, Wimbledon, na hora do tênis. Eu acho que isso é até saudável, o povo elevou seu padrão reivindicatório. E é plenamente aceitável dentro do processo de consolidação democrático que vive o Brasil. Eu acho que, ao realizar a Copa, o governo assumiu o compromisso de garantir o bem-estar e a segurança dos brasileiros e dos torcedores estrangeiros. Quem quiser fazer passeata que faça, quem quiser levantar faixa, que levante, mas é importante saber que, assim como alguém tem o direito de protestar, o cidadão que comprou o ingresso e quer ir ver a Copa tenha a garantia de assistir aos jogos em perfeita paz.

CC: O povo brasileiro amadureceu e nós entendemos que o resultado da Copa será bem menos importante do que foi em 1950. Mesmo que a seleção perca, não haverá tragédia. Deste ponto de vista. Efeitos sobre as eleições podem ocorrer em função das chamadas manifestações.

Lula: Eu tenho certeza de que a presidenta Dilma e os governos estaduais estão tomando toda a responsabilidade para garantir a ordem. Com isso podemos ficar tranquilos, é questão de honra para o governo brasileiro. O que está em jogo é também a imagem do Brasil no exterior. De qualquer maneira, acho que não vai ter violência, e, se houver será tão marginal a ponto de ser punida pela própria sociedade. Agora se um sindicato quer fazer uma faixa “abaixo não sei o quê, 10% de aumento”, é seu direito.
Eu me lembro que disse ao ministro José Eduardo Cardozo, quando começou a se aventar a possibilidade de uma lei contra os mascarados: “Olha, gente, nem brincar com lei contra mascarados porque a primeira coisa que iremos prejudicar vai ser o Carnaval, não os mascarados”.
A Constituição e o Código Penal definem claramente o que é ordem e o que é desordem e, portanto, o governo tem mecanismos para evitar qualquer abuso. Recomenda-se senso comum. Nesses dias tentaram até confundir uma frase minha sobre uma linha de metrô até os estádios. Em 1950, no Maracanã cabiam 200 mil pessoas, mais de duas vezes as assistências atuais. É verdade, havia menos carros nas ruas, infinitamente menos carros, mas também não havia metrô.

CC: De todo modo, vale a pena realizar uma Copa?

Lula: Discordo daqueles que defendem a Copa no Brasil dizendo que vão entrar 30 bilhões, ou que geraremos novos empregos. O problema não é econômico. A Copa do Mundo vai nos permitir, no maior evento de futebol do mundo, mostrar a cara do Brasil do jeito que ele é. O encontro de civilizações, o resultado dessa miscigenação extraordinária entre europeus, negros e índios que criou o povo brasileiro. Qual é o maior patrimônio que temos para mostrar? A nossa gente.

CC: Em que medida essas manifestações nascem do fato de que houve uma ascensão econômica? Aqueles que melhoraram de vida reivindicam mais saúde, mais educação.

Lula: Eu acho que não há apenas uma explicação para o que está acontecendo. Precisamos aprender a falar com o povo, para que entenda o momento histórico.
O jovem hoje com 18 anos tinha 6 anos quando ganhei a primeira eleição, 14 anos quando deixei de ser presidente da República. Se ele tentar se informar pela televisão, ele é analfabeto político. Se tentar se informar pela imprensa escrita, com raríssimas exceções, ele também será um analfabeto político. A tentativa midiática é mostrar tudo pelo negativo.
Agora, se nós tivermos a capacidade de dizer que certamente o pai dele viveu num mundo pior do que o dele, e se começarmos a mostrar como a mudança se deu, tenho certeza de que ele vai compreender que ainda falta muito, mas que em 12 anos, passos adiante foram dados.
CC: O governo não soube se comunicar?
Lula: Eu acho. Eu de vez em quando gosto de falar de problema histórico, para a gente entender o que de fato aconteceu neste país. Já disse e repito: Cristóvão Colombo chegou em Santo Domingo, em 1492, e em 1507 ali surgia a primeira faculdade. No Peru, em 1550, na Bolívia, em 1624. O Brasil ganhou a primeira faculdade com dom João VI, mas a primeira universidade somente em 1930. Então você compreende o nosso atraso.
Qual é o nosso orgulho? Primeiro, em 100 anos, o Brasil conseguiu chegar a 3 milhões de estudantes em universidades. Nós, em 12 anos, vamos chegar a 7,5 milhões de estudantes, ou seja, em 12 anos, nós colocamos mais jovens na universidade do que foi conseguido em um século. Escolas técnicas. De 1909 até 2002, foram inauguradas 140. Em 12 anos, nós inauguramos 365. Ou seja, duas vezes e meia o número alcançado em um século.
E daí você consegue imaginar o que significa o Reuni ao elevar o número de alunos por sala de aula, de 12 para 18. Ou o que significa o Ciências Sem fronteiras, o Fies: 18 universidades federais novas. Pergunta o que o Fernando Henrique Cardoso fez? Se você pensar em 146 campi novos, chegará à conclusão de que foi preciso um sem diploma na Presidência da República para colocar a educação como prioridade neste País.
Nós triplicamos o Orçamento da União para a educação. É pouco? É tão pouco que a presidenta Dilma já aprovou a lei permitindo 75% dos royalties para a educação. É tão pouco que a Dilma criou o Ciência Sem Fronteiras para levar 65 mil jovens a estudar no exterior. É tão pouco que ela criou o Pronatec, que já tem 6 milhões de jovens se preparando para exercer uma profissão. Isso tudo estimula essa juventude a querer mais.
Tem de querer mais. Quanto mais ela reivindicar, mais a gente se sente na obrigação de fazer. Quem comia acém passou a comer contrafilé e agora quer filé. E é bom que seja assim, é bom que as pessoas não se nivelem por baixo. Eu sempre fui contra a teoria de que é melhor pingar do que secar. Quanto mais o povo for exigente e reivindicar, forçará o governo a fazer mais. O que é ruim? A hipocrisia.
Nós temos um setor médio da sociedade, que ficou esmagado entre as conquistas sociais da parte mais pobre da população e os ricos, que ganharam dinheiro também. A classe média, em vários setores, proporcionalmente ganhou menos. Toda vez que um pobre ascende um degrau, quem está dez degraus acima acha que perdeu algumas coisas. A Marilena Chauí tem uma tese que eu acho correta: um setor da classe média brasileira que às vezes também é progressista, do ponto de vista social, mas não aprendeu a socializar os espaços públicos e então fica incomodado.

CC: Nós entendemos que o problema é representado pela elite brasileira. Quem se empenha contra a igualdade?

Lula: Eu sou o mais crítico do comportamento da elite brasileira ao longo da história. Este país foi o último a acabar com a escravidão, foi o último a ser independente. Só foi ter voto da mulher na Constituição de 34. Tudo por aqui resulta de um acordo, inclusive um acordo contra a ascensão social. Na Guerra dos Guararapes, quando pretos e índios quiseram participar, a elite disse “não, não vai entrar, porque depois que terminar essa guerra vão querer se voltar contra nós”.
Esta é a história política do Brasil. Ocorre, porém, que a ascensão dos pobres levou empresas brasileiras a ganhar como nunca. Não sou eu quem lembra – em 1912, Ford dizia: “Quero pagar um bom salário para meus trabalhadores para que eles possam consumir”. Por exemplo, pobre em shopping dá lucro. Muitas vezes os donos não aceitam num primeiro momento, mas depois percebem que é bom. Tínhamos 36 milhões de brasileiros viajando de avião, agora temos 112 milhões.
CC: Notáveis avanços são inegáveis. Mas como vai ser daqui para a frente?
Lula: Eu fazia debates mundo afora, com o Mantega, o Meirelles, às vezes a Dilma. E eu dizia: esses ministros meus, eles falam de macroeconomia, mas o que eles não dizem é que essa macroeconomia só deu certo por causa da minha microeconomia. O que foi a microeconomia? Foi o aumento de salário, foi a compra de alimentos, a agricultura familiar, foi o financiamento, foi o crédito consignado, foi o Bolsa Família. Foi essa microeconomia que deu sustentabilidade à macroeconomia.
Na Constituição de 46, quando o trabalho era o assunto, concluía-se: “Não pode dar 30 dias de férias para o trabalhador, porque o ócio o prejudica”. Chamavam férias de ócio. Agora, as pessoas dizem que o Bolsa Família cria um exército de vagabundos. E o futuro? Numa escada de dez degraus, os pobres só subiram dois, um e meio, ainda falta muito para subir. Por isso eu tenho orgulho da presidenta Dilma, ela sabe que muita gente vai se bater contra ela a sustentar que, para controlar a inflação e fazer o País crescer, é preciso ter um pouco de desemprego, arrocho no salário mínimo, ou seja, que é preciso fazer o que sempre foi feito neste País e que não deu certo.
Então, o que o governo tem de garantir é o aumento da poupança interna, mais investimento do Estado, mais junção entre empresa privada e pública, mais capital externo para investir no setor produtivo. Para tanto, é indispensável dar continuidade à ascensão dos mais pobres. Porque é isso que também vai garantir a ascensão do Brasil no mundo desenvolvido, com alto padrão de qualidade de vida, renda per capita de 20 mil, 30 mil dólares, e até mais. O Brasil não pode parar agora. Está tudo mais difícil, mas temos agora o que a gente não tinha há cinco anos, vamos contar com o pré-sal daqui a pouco.
CC: Temos um agronegócio muito exuberante, muito produtivo e competitivo: é possível mobilizar essa capacidade para estimular a indústria de equipamentos agrícolas?
Lula: Nós já temos uma indústria de equipamentos agrícolas muito boa. Quando na Presidência, cansei de discutir com empresários que feiras de agronegócio nós precisamos é fazer na Argentina, no México, Nigéria, Angola, Índia. Temos de mostrar nossa capacidade nos outros mercados. Esta é uma área na qual o Brasil está pronto, não só porque tem conhecimento tecnológico, mas também porque tem capacidade de área agricultável, terra, sol e água. Sem a vergonha de dizer que exportamos commodities. Hoje, a commodity tem preço. O que nós precisamos é produzir não só o alimento, mas a indústria de alimentos, não só a soja, mas o óleo de soja.
CC: Permita-nos insistir: como vencer as resistências da elite, atiçada pela mídia?
Lula: No movimento sindical, em 1969, comecei a negociar com a Fiesp, certamente a elite era muito mais retrógrada do que hoje. Eu lembro quando nós constituímos a primeira grande comissão de fábrica na Volkswagen nos anos 80, nós fomos pedir a Antônio Ermírio de Moraes a criação de uma comissão de fábricas na sua indústria química de São Miguel Paulista, e significava trabalhador querendo mandar na empresa dele.
Hoje tem uma classe empresarial, mais jovem, que já compreende a importância da negociação coletiva. Mesmo assim, permanecem setores retrógrados. Ainda temos coronel que mata gente por este Brasil afora por briga de terra. Nesses dias a Nissan americana não queria deixar seu pessoal sindicalizar-se por lá mesmo e eu tive de mandar uma carta para o presidente da empresa. Mas voltemos à mídia.
CC: A mídia nutre essa elite.
Lula: Eu certamente não sou especialista nesta questão da mídia e nunca tive muita simpatia dos seus donos. Toda vez que tentei conversar com eles, cuidei de explicar que ao governo não interessa uma mídia chapa-branca, como foram no governo Fernando Henrique Cardoso. Eu não quero isso, não quero que tratem o PT como trataram a turma do Collor nos dois primeiros anos do seu mandato.
Agora, também é inaceitável a falta de respeito com Dilma. Se querem falar mal, façam-no no editorial do jornal. Na hora da cobertura do fato, publiquem o fato como ele é. Nunca liguei para o dono de mídia pedindo para fazer essa ou aquela matéria, mas o respeito há de ter, tanto mais por parte da comunicação, que é concessão do Estado. Respeito à instituição, e acho que eles saíram de um momento em que lambiam as botas da ditadura e evoluíram para o pensamento único a favor de FHC, e contra o meu governo e contra o da Dilma, e contra a presidenta com agressividade ainda maior.
CC: E em termos de informação?
Lula: Quando eu cito os números da educação, por exemplo, é porque nunca foram divulgados por esta mídia. É como se houvesse a obrigação de omitir, sem perceber que com isso se desrespeita o próprio público, que lê, ouve ou assiste. Nem o recente Ibope eles divulgaram. Nem comentaram a inauguração da Rodovia Norte-Sul, que passaram três anos criticando. Há uma predisposição ao negativismo, e isso contribui para uma desinformação da sociedade brasileira. E uma questão é ideológica, se fosse econômica, eles deveriam ir todo dia à igreja acender uma vela para mim, porque muitos estão quebrados e se salvaram no meu governo. Eu estou com a alma tão leve, eu até acho normal o que eles fazem. Vem esse metalúrgico, que a gente supunha destinado a um fracasso total, e é um sucesso. Vem essa mulher aí, que a gente achava um poste, e ela não é um poste. E essa mulher vai se eleger outra vez.
CC: Na verdade, o que está esmaecendo no Brasil e no mundo é o espírito crítico.
Lula: Porque interessa a uma parte da elite brasileira a negação da política. O que vem depois é sempre pior, quando você nega a política. A ditadura brasileira foi a negação da política. O que é muito grave, porque, se você atravessa um momento sem nenhuma referência, sem ninguém em condições de controlar a situação, o próprio Estado vai à deriva.
CC: Insistimos novamente: o governo não se comunica?
Lula: Vocês estão certos, não se comunica, eu tenho falado para o Guido Mantega, para a Dilma: vendo como está o mundo hoje, a cada dois meses o governo tem de fazer igual uma empresa com seus acionistas, que têm fundos de pensão. Ou seja, você tem de fazer viagens e convencer o fundo de que a sua empresa é rentável e vale a pena investir. Então, a cada dois meses o governo brasileiro tem de ir a Nova York, não para falar com aposentados brasileiros, mas com o investidor.
Já falei co m o Itamaraty, com Bradesco, Santander, todos se dispõem a articular os maiores debates brasileiros para mostrar ao mundo realizações e potencialidades. A Petrobras tem de viajar a cada 30 dias para onde tem investidor. Não podemos ficar por conta de um jornalista inglês que copiou matéria de um jornalista que vive no Rio de Janeiro e fica procurando matéria em jornal para se inspirar.
O Brasil precisa reconhecer enquanto vira a sétima economia mundial com viés de ser a quinta, que lá fora já não se fala bem da gente. José Luis Fiori escreveu um artigo comparando Brasil e México para acabar com o complexo de vira-lata de quem fala que o Brasil está pior que o México. O que o México tem melhor que o Brasil? Eu quero que o México fique cada dia mais rico, mas a comparação com o Brasil é inadequada, porque o Brasil é maior que o México em tudo.
Dias atrás, estava aqui com meu amigo Gerdau e perguntei: como está o setor siderúrgico? E ele: não está muito bem. Perguntei: quanto é que você está ganhando no Brasil? Somente aqui, respondeu. Perguntem para o Josué Gomes da Silva, da Coteminas, onde ganha dinheiro? No Brasil. O mercado interno brasileiro é uma bênção de Deus que a elite não sabia existir, eles nunca imaginaram que podíamos ultrapassar os 35 milhões de consumidores.
CC: Que chances há de mudar essa falha do governo?
Lula: Não é fácil, eu sei o que foram meu primeiro e segundo mandatos. Tenho dito com a Dilma que não tem de dar ouvidos a quem fala que gastamos muito com publicidade. Eu acho que, se foi anunciado um programa hoje, e no segundo dia não houve repercussão, vai em rede nacional. O governo tem de dizer o que a mídia não divulgou, porque se não disser, o silêncio se fecha sobre o fato. Dois dias de tolerância, e coloca um ministro em rede nacional, não precisa ir a presidenta todo dia. Mas não fiquemos nisso.
O Marco Regulatório tem de ser compreendido. Não é censura, queremos é fazer valer a Constituição de 88, tanto mais quando entram em cena Facebook e companhia, eu nem sei o nome de tudo. Existe Marco Regulatório de 1962. O Franklin Martins foi feliz ao observar: “Em 62, a gente tinha mais televizinhos do que televisores”.
Eu lembro que menino ia à casa do vizinho ver televisão, a gente só podia sentar no chão, o sofá era do dono da casa e ele ainda pisava no dedo da gente. Para assistir luta livre, tinha de gastar dinheiro no bar, o dono cobrava. Hoje acontece essa revolução tecnológica e você não quer discutir sua regulamentação? Então, o Marco Regulatório e a reforma política são dois temas de ponta que o PT tem de assumir. Temos de convocar uma Constituinte própria para fazer uma reforma política.
CC: O que seria esta Constituinte própria?
Lula: Não se destinaria a elaborar uma nova Constituição, e sim discutir a reforma política, exclusivamente. O Congresso tem de aprovar a ideia do plebiscito, e na convocação você diz o que é. E aí, não faltam recursos jurídicos para adotar a nomenclatura adequada. É insuportável governar com o Congresso tomado por tantos partidos. É preciso ter critério para organizar um partido, tem de haver cláusula de barreira.
CC: Este problema não resulta do fato de que os partidos brasileiros nunca foram o intermediário necessário entre a nação e o governo?
Lula: o Brasil não tem tradição de partido nacional, a tradição são tribos locais, com caciques regionais. Depois do PCB, o PT tornou-se o único partido nacional, cuja atuação partidária a direção decidia. Mas o PT erra quando começa a entrar na mesmice dos outros partidos. Erra quando usa a mesma prática dos outros partidos. Eu não quero voltar às origens, briguei a vida inteira para ser classe média e agora vou voltar a brigar. O PT, tem que saber, criar esse partido não foi fácil. Lembro de alguém que vendeu uma cabrita, que dava leite para amamentar o filho, para legalizar o PT. E até hoje há gente que anda três, quatro dais de canoa para participar de uma convenção. A gente não pode permitir que meia dúzia de pessoas deformem esse partido, ele é muito grande. É um partido que o próprio povo dirige. Não é uma coisa simples, nós temos de valorizar isso. Já disse na convenção do PT: quero ajudar o PT a voltar ao seu leito natural. Se tem uma coisa que o PT tem de se notabilizar é voltar à sua tradição política. É isso que dá autoridade moral e força para a gente.
CC: Não é fácil manter a coerência na hora da coalisão…
Lula: Não é vergonha você repartir administração com outros partidos, sempre que pastas sejam definidas na base da afinidade. A reforma política é a briga que nós temos de ter hoje. Não acho que tenha de ser da Dilma. Ela é candidata, acho que a briga tem de ser de todo o partido. O Rui Falcão tem sido de grande valia nessa luta. Agora vou fazer campanha pelo Nordeste, essa é a contribuição que me cabe no momento. E, se eu fosse o governo, ficaria ouvindo todo programa de rádio, de televisão, e o que não for verdade, pedir direito de resposta. Utilizar a internet e não ficar chorando “a Globo não me dá espaço”. A gente tem outros instrumentos para dizer o que quer. Estou muito disposto, física e psicologicamente, para rodar o Brasil.
CC: A campanha, assumir os palanques…
Lula: Assumir os palanques. Estarei com Dilma onde ela achar conveniente estar. Preciso tomar muito cuidado, porque haverá na base aliada interesses de que eu não vá, porque a Dilma não pode ir, ela é candidata e da base aliada, mas eu tenho compromisso com o meu partido. Eu sei que isso vai ser um problema, a gente vai ter de conversar e negociar muito.
Estou feliz, sabe por quê? Eu sempre achei que quem deixa a presidência fica pensando: como eu estarei daqui a algum tempo? Porque as pessoas vão esquecendo, você vai perdendo importância. Eu lembro que em 2002, 2006, ninguém queria o FHC no palanque. Nem Serra colocou. Em 2010, Serra me apresentou como amigo dele e não colocou o FHC. Então, eu me sinto feliz, eu estou bem, eu ainda tenho consciência de que sou uma pessoa importante na política brasileira, e como tal direi que Dilma é a pessoa mais talhada para cuidar do Brasil.
CC: E essa história que a imprensa criou do “Volta Lula”?
Lula: O “Volta Lula” começou já na época que eu era presidente, quando pediam o terceiro mandato. Eu, graças a Deus, aprendi a ter responsabilidade muito cedo. E aprendi que, ao aceitar o terceiro mandato, por me achar insubstituível, poderia permitir que outros também achassem, com a possibilidade de alguém, algum dia, tentar o quarto. Não é prudente brincar com a democracia. Cumpri meus dois mandatos, saí cercado pelo carinho do povo. Se, em algum momento, tiver de voltar, posso daqui a 4 anos. Mas não é a minha prioridade. Estarei então com 72 e acho que tem de ser gente mais jovem, com mais vigor físico e capacidade de administração. Mas em política a gente não pode dizer que não, nem sim. Nunca me passou pela cabeça voltar.
Em todo caso, minha relação com a Dilma é muito forte, e de muito respeito e admiração pelo caráter dela. Bem formada ideologicamente e muito leal. Nunca iria disputar sua candidatura. Não faltou quem quisesse minha volta, mas quando o Rui Falcão botou em votação, deixei claro: “Quero que saibam, sou candidato a cabo eleitoral da companheira Dilma Rousseff para o segundo mandato à Presidência da República”.
CC: E quanto aos adversários?
Lula: Conheço o Eduardo Campos, é meu amigo, gosto dele profundamente. Conheço o Aécio, ele não tem a mesma firmeza ideológica do Eduardo, tem outro compromisso, é um representante mais afinado com a elite. Mas a Dilma é a mais preparada. Fico triste que não conseguimos construir algo capaz de manter o Eduardo Campos junto da gente. Mas era destino.
CC: E a Marina?
Lula: Eu gosto muito da Marina, como figura humana. Foi minha companheira no PT por 30 anos, tenho por ela um carinho muito grande, mas acho que, de vez em quando, comete equívocos na análise política dela, meio messiânica. Imaginei-a candidata e agora entra de vice. Nisso não consigo entender a Marina. Mas não confundo relação de amizade com a minha decisão política. Tenho amizade com o Aécio mais formal do que com o Eduardo e sua família.
CC: Dilma ganha no primeiro turno?
Lula: A ganhar no primeiro turno por 51% a 49% prefiro ganhar no segundo turno, com 65% a 35%. Reeleição é sempre muito difícil, mas no segundo turno você pode consolidar um processo de alianças com a coalisão e você é eleito com mais desenvoltura, e também permite fazer um debate mais profundo. No primeiro turno todo mundo fala a mesma coisa, promete tudo para o povo. Eu acho que a Dilma está tranquila. Se em 2002 a esperança venceu o medo, acho que agora a esperança e a certeza do que pode ser feito pode vencer o ódio.
CC: A campanha será sangrenta?
Lula: Pelas características dos candidatos, acho que não. De resto, o resultado de uma campanha não define apenas vencedor e derrotados, é o grau de politização da sociedade, é o gosto pela política, é perceber que durante a campanha os candidatos aprenderam alguma coisa e deram um salto de qualidade. Quando disputei com o Serra, nós tivemos uma campanha mais civilizada do que com o Alckmin. Ele se apresenta como cidadão refinado, mas foi de extrema agressividade.
CC: Qual seria o adversário mais provável para o segundo turno?
Lula: Eu acho que, em um segundo turno, será tucano. O PSDB tem base partidária mais organizada, governam São Paulo, Paraná, alguns estados importantes no Nordeste, e tem mais tradição de palanque. Já o PSB tem pouco palanque estadual, a campanha do Eduardo vai ser mais difícil do que em 1989.
CC: E o Padilha, candidato petista em São Paulo?
Lula: O Padilha é um daqueles fenômenos. Eu disse outro dia em Sorocaba ao Padilha: “Depois de quem o precedeu, Arruda Sampaio, Suplicy, Dirceu, Marta, Genoino, Mercadante, você é o melhor candidato de todos nós, o mais alegre, o mais simpático, sua capacidade de comunicação com o povo é fantástica, unificou o partido”.
Mas é uma campanha difícil. Primeiro, porque os tucanos têm uma base sólida em São Paulo, e há conservadorismo no estado e isso dá quase uma garantia. Não sei se Paulo Skaff vai ser candidato, há dois anos que faz campanha não como candidato, mas como presidente da Fiesp. Agora o desafio para o PT é ter os votos que o partido tem habitualmente na cidade, todas as eleições.
CC: Fale da central de boatos a respeito do seu filho Fábio.
Lula: Ao mesmo tempo que sou defensor intransigente da liberdade que temos na internet, acho que somos vítimas dessa liberdade, porque o cidadão entra no seu quarto, seu escritório, e fala a besteira que quiser. Há muito tempo vêm denúncias, outro dia mostraram a sede da Esalq e disseram que era a casa do meu filho, outro dia ele era dono da Friboi, um dia desses ele estava fazendo negócios, inventaram que ele tem um jato.
Conseguimos detectar o paradeiro de dez pessoas, uma era do Instituto Fernando Henrique Cardoso, filho do ex-ministro Graziano. Os envolvidos foram acionados, um veio prestar depoimento, disse: “Mas eu sou eleitor do Lula, eu só citei, não sabia se era verdade, mas coloquei”. Muitos pedem desculpas. O Graziano veio aqui também.
Quando, muito tempo atrás, eu fui contra a invasão do Afeganistão pela então URSS, diziam que eu era da CIA, depois eu era visto pela direita como o cara do Partidão. Isso me permitiu continuar percorrendo o caminho do meio. Mas vale acentuar que nós chegamos à excrescência da excrescência do comportamento humano. Um dia desses eu vejo O Que Sei de Lula, um livro. O autor não conviveu comigo um único segundo para escrever a orelha do livro. Fico pensando: o que faço com um cidadão desse? Acabo percebendo que o melhor é a desmoralização pela mentira. O Romeu Tuma Jr. não merece o comportamento do pai dele. O pai dele foi um cidadão digno. Quando a minha mãe estava para morrer, ele, meu carcereiro, me deixava sair da cadeia às 2 da manhã para visitá-la. Então, quando um cidadão conta uma mentira dessa, o que fazer? Processar? Acho que falta um pouco de senso de responsabilidade no comportamento das pessoas. De verdade, falta reconstruir a estrutura social da família. Quando eu era pequeno, tinha vontade de comer uma maçã embrulhada em papel azul, e ficava diante da barraca olhando e olhando, e sabe por que eu não pegava e não saía correndo? Para não envergonhar a minha mãe. Ela era a minha referência de comportamento.
CC: Mas uma política social que conseguisse alcançar certo grau de igualdade, isso não recriaria automaticamente valores perdidos?
Lula: Há todo um conjunto de fatores viáveis, não concordo com diminuir a idade penal e colocar mais polícia na rua para coibir a violência. Isso não vai funcionar. Eu acho que, se houver mais gente na escola e mais gente trabalhando, vamos caminhar no rumo certo.
CC: Seria correto dizer que há uma concepção errada da polícia num Estado democrático. Trata-se de instituição absolutamente necessária, mas muito maltratada, porque ela não é para reprimir, é para prevenir. Será que não vivemos uma crise institucional dos poderes que haveriam de constituir um Estado moderno?
Lula: Quando a gente fala em reforma, precisamos reformar também o Poder Judiciário. É tudo muito lento. Mas a Justiça pede por uma reforma, porque é justo exigir mais competência, é preciso ter mais estrutura para chegar a um cargo na Justiça. Quanto à polícia, tenho uma observação.
A nossa polícia sabe que em muitos casos o crime organizado está mais preparado do que ela. Todo ser humano tem medo. Há casos em que o policial tira a farda para ninguém saber que ele é policial. Ele vai trabalhar com um pouco de medo, e o medo faz você mais violento. Se você aborda o suspeito, já de revólver em punho, caso este reaja, você puxa o gatilho.
Como é que você resolve isso? Nós cometemos um erro na Constituição, que foi dar muita autonomia aos estados para que sua polícia se desvincule com muita autonomia da PM. Dá a impressão de que os estados saberiam lidar com a criminalidade, mas na prática muitos estados ficam reféns da própria polícia. Primeiro, seria preciso que os policiais se formassem por cursos de inteligência, assim como se formam em tiro ao alvo e arte marcial. Segundo, é preciso pagar melhor. Acho que, no caso da organização da polícia, o problema está na Constituição de 1988. Nas Forças Armadas, nós liberamos 7 mil, 8 mil fardados por ano, que poderiam ser chamados diretamente para a polícia. Mas não, têm de prestar concurso. É preciso rediscutir a respeito. Sem deixar de partir do pressuposto de que nenhum governador quer abrir mão do controle da polícia. Decisivo seria definir o papel de cada um. Porque, quando um governador prende um bandido, ele gosta de aparecer na televisão, mas, quanod ele não prende, o governo federal é o culpado. Essa ponderação explica-se a outros campos. A educação. Quem é que cuida? O governo federal, estadual ou prefeitura? E no ensino técnico? Saúde? Nós precisamos definir tudo isso.
Temos de repactuar os entes federados. Construir um pacto federativo, não só a partir da discussão financeira, mas também de acordo com a responsabilidade de cada um. Penso que no segundo mandato a Dilma terá de fazer coisas novas, é importante promover debates que ainda não foram feitos. Só se fala em política tributária. Eu tentei implementar duas vezes, ninguém quis. Dilma tem de fazer um esforço muito grande para destravar este país.
CC: Até que ponto o senhor pode influenciar Dilma na escolha dos futuros ministros?
Lula: Eu não quero influenciar a Dilma. Faço política por uma transferência de confiança. Eu confio na Dilma. Se for eleita, vai fazer suas escolhas, vou torcer para dar certo. Se achar que ela está errada, vou dar uns palpites. Se em algum momento ela resolver discutir comigo alguns nomes, eu também não terei dúvidas em ajudá-la.
CC: Digamos que a presidente não queira ouvir ninguém, quem quer que seja.
Lula: Não existe isso.
CC: Admitamos uma sugestão não solicitada: “Este cara é muito bom”.
Lula: Vamos supor que a Dilma seja eleita e eu resolva indicar o Belluzzo. E ela falasse “não”. O que iria acontecer? Ia ficar um arranhãozinho na nossa relação de amizade. Daí eu preferir não indicar. É mais saudável, nem eu nem ela teremos decepções. Agora, se o partido vier discutir comigo quais nomes vai indicar, eu direi o que acho a respeito. Com ela, não. A não ser que a escolha me pareça absurda e então não hesitarei: “Este é problema”.
CC: Como analisar o avanço na relação dos BRICS?
Lula: Neste mundo globalizado a gente tem de procurar parceiros. Acabou o tempo em que o mundo pobre esperava tudo da Europa e dos Estados Unidos. Então, eu penso que o Brasil tem de fortalecer as suas relações. Eu sou da tese de que a gente tem de criar um colchão de proteção do Brasil em suas relações externas, do ponto de vista estratégico, do ponto de vista da segurança, econômico, do ponto de vista estratégico do desenvolvimento científico-tecnológico. Porque quem já tem não quer repartir com a gente.
Por isso o Brasil há de fortalecer cada vez mais sua participação, sobretudo na América do Sul. E ter aqui, na América do Sul, algo muito forte na área do comércio e da interação das nossas empresas. Ter empresas fortes e bancos de desenvolvimento fortes. O BNDES tem de arcar com um papel mais importante e a gente tem de construir o Banco Sul. Acho que temos de fazer o mesmo com a África, porque agora, no século XXI, a África dará um salto de qualidade. E com os BRICS, precisamos tomar decisões políticas.
Nós somos uma espécie de pêndulo do planeta, então não podemos ficar dependendo do dólar para fazer negócio. Temos de construir, e não esperar que o mundo construído no século XIX, no começo do século XX, venha nos salvar. Nós podemos fazer a diferença. Eu acho que esse acordo da Rússia com a China, esse negócio do gás, foi um tapa de pelica na cara da Aliança do Atlântico.
Acho que os BRICS devem funcionar como uma espécie de segurrança na relação de cinco economias importantes. Por que eu falo isso? O Mercosul, quando cheguei à Presidência, não valia nada. A Alca é que estava na moda. Nós não implantamos a Alca e o Mercosul passou de 10 bilhões para 49 bilhões de fluxo de comércio exterior. A América do Sul não valia nada, o Brasil não conversava com ninguém, ninguém conversava com o Brasil.
CC: Não é de interesse da elite que esses dados apareçam.
Lula: O Brasil é o primeiro produtor, e primeiro exportador, de carne processada, suco de laranja, tabaco, o segundo de soja. Tudo que você imaginar, o Brasil está entre os cinco do mundo. Vamos gostar deste País!

VI Cúpula dos BRICS

Em Fortaleza, mais um passo para detonar Bretton Woods


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Os BRICS e o fim de Bretton Woods
Fatos históricos importantes, muitas vezes, passam em branco para seus contemporâneos. Nos dias 15, 16 e 17 de julho, em Fortaleza, ocorre a VI Cúpula dos BRICS. As Cúpulas têm reunido os Chefes de Estado de Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul anualmente desde 2009. A reunião de Fortaleza deverá consolidar os BRICS como uma organização dotada de instrumentos concretos para influir na economia e política internacionais. Este evento não tem merecido a atenção devida na mídia, na academia e nos debates da internet.
por Igor Grabois, especial para o Viomundo, 25 de maio de 2014 às 13:07
Os círculos bem-pensantes e a mídia no Brasil se espelham na Europa e nos EUA. Desprezam a integração sul-americana e torcem o nariz para as iniciativas Sul-Sul. Uma política brasileira para a África provoca reações entre o escárnio e a ojeriza.
Promovem uma campanha sistemática contra o MERCOSUL. Querem a ALCA e o TAFTA (acordo de comércio e investimentos entre EUA e União Européia).
Quanto aos BRICS, a conversa é de que eles não têm nada em comum, exceto o tamanho. Pois eles têm muitas coisas em comum: o inimigo.

Os BRICS representam 43% da população mundial, 27% do PIB mundial e apenas 15% das cotas do FMI. Pelo critério do poder de compra, a China é a primeira economia mundial, a Índia a quarta, o Brasil a sétima e a Rússia a décima economia mundial. Estão fora do G-8, que voltou a ser G-7, após a expulsão da Rússia em função da crise ucraniana.
Crescimento econômico, agricultura, participação no comércio exterior, indústria, produção de energia etc, todos os dados mostram a ascensão dos BRICS e a estagnação do G-7.
 
Rússia, Índia. China e Brasil aumentam a cada ano fiscal seus gastos militares. Do G-7, apenas o Japão amplia seus gastos militares para se contrapor à China. Os outros cortam gastos, inclusive os EUA, apesar do gigantismo de sua máquina militar. A despeito da projeção dos países BRICS, há um movimento para obstar a influência política e econômica desses países.
Neste quadro, nada mais lógico do que a associação de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Desde a primeira cúpula dos BRICS em Ekaterinenburgo, em 2009, os acordos multilaterais e bilaterais se multiplicaram. Ciência e tecnologia, energia, compartilhamento de estatísticas, agricultura, energia, educação, defesa, espaço, em suma, a materialização de uma tirada de um diretor do Goldman Sachs é veloz.
Enquanto os BRICS aprofundam os laços, a reação de EUA, União Européia e Japão é cada vez mais barulhenta.
Não pode haver dúvidas dos verdadeiros alvos dos ataques dos EUA e União Européia na Ucrânia, na Síria e na Venezuela. Os EUA resolveram, agora, indiciar oficiais chineses por ciberespionagem... Snowden que o diga.
The Economist e Financial Times assumiram o papel de porta-voz dos rentistas brasileiros e estrangeiros na luta contra o que a política econômica brasileira pode ter de intervenção estatal e distributivista.
Desde 1945, o mundo capitalista foi regido pelos acordos de Bretton Woods, cidade do Massachusets, onde os vitoriosos da segunda guerra - sem a União Soviética - se reuniram para elaborar medidas para evitar crises como a de 1929.
Foi criado um banco de desenvolvimento, o Banco Mundial e um fundo para prevenir e combater crises cambiais, o FMI. E mais importante, elegeram o dólar como moeda de conversibilidade internacional. A solvência de um país passou a ser medida pela quantidade de dólares que possui.
Porém, o arranjo de Bretton Woods mostrou sinais de esgotamento a partir da crise do petróleo nos anos 70. A dívida dos países latino-americanos e do leste europeu explodiu. A terapia do FMI matava os doentes, ao invés de curá-los.
A América Latina enfrentou a recessão econômica e a tragédia social sob a égide do Fundo. E a política do Fundo não preveniu as crises cambiais, ao contrário, contribuíram para agravá-las.
China e Rússia, após a queda do socialismo real em 1989/90, não foram absorvidos no sistema Bretton Woods. Argentina e Brasil, principais clientes do Fundo, se livraram dos "empréstimos-ponte" na década passada. O Fundo passa a ser visto como um estorvo, não uma solução. O FMI se dedica, agora, a detonar as economias da Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda para garantir o euro e as aplicações de banqueiros alemães.
Em 2010, no auge da insolvência dos países do sul da Europa, chegou-se a um acordo no Conselho de Governadores do FMI. Haveria nova distribuição das cotas do Fundo, diminuindo o poder de EUA, União Européia e Japão. Em troca, os BRICS compareceriam com 70 bilhões de dólares. Um alívio para a Europa em crise. O Congresso estadunidense, simplesmente, rejeitou o acordo no início deste ano. A gestão do FMI continua como dantes e os 70 bilhões não vão aparecer. Como diz aquela subsecretária, f*-se a União Européia.
Fortaleza, julho de 2014. Os Chefes de Estado dos BRICS assinarão o acordo de criação do Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco dos BRICS. Mais, assinarão um Acordo Contingente de Reservas. Um Banco Mundial e um FMI dos BRICS. China e Rússia fecharam acordo de fornecimento de gás nominado em rublos e yuans. Brasil e China já fazem parte do seu comércio nominado nas respectivas moedas nacionais.
As duas entidades financeiras, inicialmente, terão atuação nos países signatários. Nada impede que atuem junto a países fora dos BRICS. É só o começo. Afinal, para que acumular dólares, aturar as idiossincrasias das autoridades monetárias estadunidenses se os ventos batem em outra direção?
*Pravda