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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, julho 02, 2014

Ameaça ao AMOR PELA SELEÇÃO

PML e o amor pela SeleçãoQual brasileiro após ler o magnífico texto de Paulo Moreira Leite (publicado em seu blog na ISTO É)continuará a torcer contra a Seleção?

Os nordestinos estão se organizando e vão realizar no dia 03/07, quinta-feira, O NORDESTE ABRAÇA A SELEÇÃO (clique aqui). E que a iniciativa dos nordestinos sirva de incentivo para que em outras regiões do Brasil possamos resgatar nosso AMOR PELA SELEÇÃO.

*

O AMOR PELA SELEÇÃO
Choro dos craques vem do abismo entre os craques e o país,
aberto pelo anti-Copa e pelo VTNC. É preciso fechá-lo

por Paulo Moreira Leite

A conversa do dia é o choro dos meninos da seleção.

Nossa seleção chora de medo, um pavor profundo, um abismo, um buraco escuro na terra. Felipão, o verdadeiro, perdeu a energia e ficou desorientado. O capitão Tiago Silva sentiu medo de cobrar pênalti. Não conseguia nem olhar o chute dos outros. Chorou tanto que ninguém entendeu.

Julio Cesar também chorou e todo mundo entendeu.

Neymar seria o primeiro a bater o pênalti. Preferiu ficar por último. Vencemos, apesar de tudo. Mas não sabemos até onde vamos caminhar. Que importância tem isso?

Nada, quem sabe.

Hoje, tudo.

Eu tinha 5 anos quando o Brasil ganhou a primeira Copa. Estava no terraço – na época não se dizia varanda – do apartamento onde morava, ali na rua Cincinato Braga, no bairro paulistano do Paraíso. Lembro do barulho do alto falante de um caminhão que passava pela rua, no volume máximo, antes de desaparecer no paralelepípedo:

--A Copa do mundo é nossa

Com o brasileiro não há quem possa...

Eeeeeeta esquadrão de ouro

É bom no samba, é bom, no couro

Nem meus pais nem meus irmãos conheciam a música da seleção. Quem cantava era Lola, a babá, uma quase adolescente levada para trabalhar em nossa casa por Alaíde, a irmã mais velha, mais durona. Lola, que era muito mais bonita, sambava e cantarolava no terraço – quando os patrões estavam longe – com sua voz suave, o sorriso sempre nos lábios, os cabelos grandes e crespos, de um jeito que só ficaria na moda dez anos depois.

Fui bicampeão quando estava de cama, em 1962.

Doente, ouvi a final contra a Checoslováquia no quarto de casal dos meus pais. Lembro da voz de Fiori Gigliotti narrando cada gol pelo rádio, um Emerson num estojo de couro marrom. O locutor mobilizava o país inteiro numa vibração emocionada, em que os objetos inanimados daquele quarto – o criado mudo, o abajur, as roupas dentro do armário, os cabides, os ternos do meu pai, o sapato de couro e sola de borracha do meu pai, aquelas gravatas bonitas como nunca vi igual, as bolsas que minha mãe guardava em caixas de papelão, e até o revolver 32 que meu pai manteve guardou até descobrir que os filhos estavam brincando com ele – pareciam fazer parte da torcida.

Quando a partida foi chegando ao final, eu estava tão emocionado que tive um delírio, coisa de Jorge Luís Borges. Imaginei que do outro lado do mundo, numa pequena casa na Checoslováquia, um menino ouvia o mesmo jogo ao lado do pai. Mas, na partida transmitida de rádio para aquele país, os checos é que venciam os brasileiros, também por 3 a 1. Os gols haviam sido feitos na mesma sequencia, no mesmo minuto – e lá, como na minha casa, todos estavam em festa, participando da mesma alegria única, inocente, que só o futebol permite.

Esta era minha final imaginária. Eu pulava e abraçava meu pai em São Paulo, e, no mesmo minuto, na Checoslováquia, em movimentos sincronizados e simétricos, aquele menino e seu pai também se abraçavam. Eu dava socos no ar, gritava o nome dos nossos jogadores, o menino gritava o nome dos jogadores da seleção deles, com aqueles nomes esquisitos. Aos poucos, eu via que as ruas de São Paulo e da Checoslováquia estavam ficando cheias, eram duas multidões comemorando a Copa do Mundo, sem perceber que, no país do time adversário, também havia uma grande festa, que as pessoas que falavam outra língua e usavam roupas diferentes – além de tudo, os checos eram comunistas -- também eram campeãs mundiais, porque tudo não havia passado de uma magia, de um sonho, embalado pelos locutores de rádio, onde ninguém era derrotado, e só haviam vencedores e todos podiam ficar alegres.

Antes que alguém pergunte, cinco décadas depois, eu respondo.

Não. Não havia mensagem nessa fantasia. Nem utopia. Era pura maravilha, dos bons contos de fada, que são belos porque não querem nos levar a lugar algum, apenas a mundos que não existem, onde vigoram ideias que nunca pensamos, sonhos que nunca tivemos.

Um pouco como acontece com o futebol, vamos reconhecer.

Em 1970, repórter esportivo, cheguei a ouvir num vestiário do time que ia para o México, de onde voltou com o tri, um comentário pavoroso: “Por que o Médici não manda dar porrada nos jornalistas que só falam mal da seleção?”

A natureza humana é crítica, os motivos para queixas existem.

Sempre houve torcida mau humorada e até contra. Até quando isso era arriscado porque vivíamos numa ditadura. Esse direito é inegociável e deve ser respeitado.

Meio século depois, estamos em julho de 2014.

Mas, pela primeira vez na história do conto de fadas do futebol, é proibido torcer a favor. É suspeito. Quem sabe, corrupto. Em alguns ambientes até provoca risadinhas de malícia.

Agora há uma raiva grande contra as alegrias do povo. Há o cinismo.

Isso arranca lágrimas dos meninos. No time de 2014, não há nenhum adulto. Ninguém com autoridade para gritar, levantar a cabeça e reagir.

É um problema real, do time, mas não é só.

No começo, era chique pensar que o concreto dos estádios não era concreto. Também valia questionar estatísticas sem estatísticas. Foi daí que veio o VTNC.

Depois, vieram os estrangeiros, que nunca tiveram dificuldade para se impor sobre a multidão de vira-latas que perambulam pelo país, buscando oportunidades para o bolso em várias formas de lixo humano.

Eles projetaram detalhadamente um apocalipse final, que deixasse a todos com culpa, a todos irmanados naquele que é o sentimento mais profundo e necessário a sua visão de mundo – a vergonha de ser brasileiro. É este sentimento que leva a oferecer tudo, até nossas moças, a estrangeiros, sem o menor respeito, sem perceber que mesmo as mais humildes podem nos dar lições preciosas, ingênuas só na aparência, como fez a babá Lola naquele terraço de 1958.

Não basta ganhar. É preciso merecer. Holandês pode cavar pênalti. Brasileiro não pode.

Vamos pressionar os juízes para que, na dúvida, fiquem contra o Brasil.

É por isso que os meninos choram. Craques têm o temperamento delicado, são verdadeiros animais de raça, fáceis de assustar, a tal ponto que alguns cavalos de raça correm com viseira. Têm a sensibilidade absoluta, como grandes artistas. Sentem-se abandonados pela falta de um sonho que ninguém sonhou, pela ausência de palavras que ninguém disse. O nome disso é angustia.

E é ela que ameaça nossos craques.

O país já venceu o primeiro combate, de fazer a Copa. Não foram só os aeroportos, os estádios, as melhorias que, mesmo entregues pela metade, ou três quartos, ou 100%, ou 0%.

Quem garantiu uma grande Copa foi o povo brasileiro, com sua hospitalidade, seu humor, seu amor pelo futebol. Imagine se fosse um campeonato de críquete.

A auto crítica universal de tantos medalhões confirma que a partir de 2013 se produziu uma Escola Base. Na versão original, ocorreu uma denúncia a partir de um engano, do serviço mal feito, do exibicionismo, do sensacionalismo.

Desta vez, criou-se um ambiente negativo contra um país inteiro, que não se baseava num erro nem em vários erros – mas no oportunismo político. No quanto pior, melhor.

Até hoje o anti Copa não desistiu de ver a derrota de brasileiros em sua própria casa. Espera colher frutos em outubro. Quer o povo de cabeça baixa.

Isso abriu um abismo entre a seleção e o país. Por essa razão os craques choram, não se equilibram, sentem medo com facilidade.

Essa distância precisa ser vencida. Quem diz é o craque Tostão:

“O que salva a seleção é o envolvimento emocional dos jogadores, empurrados pela torcida e pela pressão de jogar em casa.”


*megacidadania

terça-feira, julho 01, 2014

Joaquim Barbosa ameaça séria

Wadih: A volta da normalidade do STF


A palavra de um jurista que acredita na democracia, e tem coragem de afirmá-lo.
A volta da normalidade no STF
Uma ausência percebida preencheu uma lacuna na última sessão do STF.
Por Wadih Damous, ex-presidente da OAB-RJ e atual presidente da Comissão da Verdade do RJ.
Publicado na Carta Maior.
O Supremo Tribunal Federal, finalmente, volta à sua normalidade institucional.
Sem mais arroubos autoritários; sem mais decisões monocráticas que, a despeito da interposição do respectivo recurso, não são levadas a plenário sem qualquer fundamento e subvertendo preferências legais (em outras palavras, restabelecendo o princípio da colegialidade); sem incidentes envolvendo a violação de prerrogativas de advogados nem acusações e ataques mútuos entre Ministros. Enfim, uma sessão normal de um órgão colegiado sério e respeitoso, tanto no trato entre seus membros, quanto na relação entre estes, os advogados e a sociedade em geral. A ausência percebida preencheu uma lacuna.
Assim foi a sessão da última quarta-feira (25), presidida pelo Ministro Ricardo Lewandovski, que está próximo de assumir definitivamente o cargo de Presidente da Corte. Nela, o Pleno do Supremo (e não a vontade isolada de um Ministro), decidiu dois recursos referentes à Ação Penal 470: um, referente ao direito ao trabalho externo de alguns réus, condenados ao regime semiaberto; o outro, referente ao pedido de prisão domiciliar de José Genoino, por razões de saúde.
Feitas essas observações gerais, vamos aos julgamentos em si.
Com relação ao trabalho externo, o Supremo apenas restaurou a aplicação da Jurisprudência amplamente majoritária sobre o tema – majoritária não apenas no próprio Supremo, mas em todo o Judiciário Nacional, no sentido de que o trabalho externo, no regime semiaberto, não depende do cumprimento de 1/6 da pena, caso em que não diferiria em nada do regime fechado e não levaria em consideração a realidade do sistema carcerário brasileiro.
Além disso, acertou o Supremo ao considerar insignificante, ao menos do ponto de vista jurídico, a suposta relação de amizade entre o representante da Pessoa Jurídica que ofereceu trabalho a José Dirceu e este, bem como a suposta dificuldade em fiscalizar um ente privado nessa hipótese. Com razão, o Tribunal, a partir do voto do Ministro Barroso, reconheceu que esses supostos obstáculos, além de carentes de qualquer fundamento racional, seriam sérios entraves à desejada ressocialização do preso por meio do trabalho, que muitas vezes só é possível a partir de iniciativas de determinadas empresas ou a partir de vínculos pessoais de confiança, por conta da natural desconfiança com relação a egressos do sistema carcerário.
Com isso, o Tribunal evitou ceder à sanha de parte da “opinião pública”, que cegamente clama por tratamento mais rígido aos réus da AP 470 do que às demais pessoas que cumprem penas no país, percebendo o enorme risco sistêmico e de retrocesso civilizatório que esse tratamento diferenciado poderia ocasionar.
Já com relação à prisão domiciliar de José Genoino, há que se discordar do entendimento majoritário do Supremo. Já disse, em artigo recente, que respeito profundamente o Ministro Barroso como pessoa, magistrado e acadêmico, assim como o admirava como advogado. Mas tal admiração não me impede de exercer o direito de crítica. Nesse caso o Ministro Barroso, a meu ver, parece ter feito pequena concessão à “opinião pública” (ou publicada), que acusaria (injustamente, é claro) o relator e quem votasse com ele de prestigiar a impunidade. Isso porque, no seu voto, o Ministro mencionou que a decisão seria excepcional, por se verificar a mesma situação no caso de diversos outros detentos do mesmo sistema prisional, e que não gozam do direito pleiteado.
Ora, com o devido respeito, a lógica me parece, nesse ponto, invertida. Até o senso comum indica que não se deve justificar um erro por outro. Se diversos presos estão indevidamente privados de cumprirem pena domiciliar, que se lhes garanta esse direito, e não se negue seu exercício a quem legitimamente o tem, apenas por uma suposta isonomia.
De todo modo, ainda que discordando da decisão, reitero minha satisfação do início de nova fase no Supremo Tribunal Federal, esperando que continue exercendo suas funções sem os arroubos e paixões individuais que tanto prejuízo podem causar à sociedade brasileira como um todo.
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Wadih Damous foi presidente por duas vezes da OAB do Rio de Janeiro e atualmente é presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB e da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro.
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*ocafesinho

As 13 previsões mais catastróficas e furadas sobre a Copa do Mundo no Brasil, por Najla Passos, da Carta Maior.


1 – O mago Paulo Coelho: “A barra vai pesar na Copa do Mundo”
Em entrevista à revista Época, publicada em 5/4/2014, o mago, guru e escritor Paulo Coelho, que mora na Suíça, disse que não viria ao Brasil assistir aos jogos da Copa do Mundo nos estádios, apesar de ter sido presenteado com os ingressos pela FIFA. “A barra vai pesar na Copa. A Copa será um foco de manifestações justas por um Brasil melhor. Os protestos vão explodir durante os jogos porque vai haver mais gente fora do que dentro dos estádios”, afirmou.
O Mago, que “previra” que o Brasil ia ganhar a Copa das Confederações, evita arriscar o resultado para o mundial. E apresenta certezas já desconstruídas pela realidade, como a de que o Brasil deveria disputar a final com a Espanha, eliminada na 1ª fase: “Agora não sei. Certamente o Brasil irá à final com a Alemanha ou a Espanha, duas seleções fortíssimas nesta Copa. A Argentina não. A Suíça vai surpreender. Eu ousaria dizer que a Suíça vai para as quartas. No futebol, você tem que ser otimista, não tem outra escolha. O Brasil tem chances de não ganhar”.
2 – Arnaldo Jabor: “A Copa vai revelar ao mundo a nossa incompetência”
No dia 6/6/2014, às vésperas da abertura da Copa, o cineasta Arnaldo Jabour, emcomentário para a Rádio CBN, ainda insistia no pessimismo em relação à Copa, com o objetivo claro de influir no processo eleitoral de outubro. “Nós estamos jogando fora a imensa sorte que temos, por causa de dogmas vergonhosos que não existem mais. Estamos antes do Muro de Berlim e a Copa do Mundo vai revelar ao mundo a nossa incompetência”, afirmou.
3 – Veja: “Por critérios matemáticos, os estádios da Copa não ficarão prontos a tempo”
Em 25/5/2011, a Veja previu o fracasso da Copa do Mundo no Brasil. E com a ajuda da matemática, uma ciência que se diz exata desde tempos imemoriais. Na capa, a data da logo do mundial era substituída por 2038. O intertítulo explicava: “Por critérios matemáticos, os estádios da Copa não ficarão prontos a tempo”.
De lá para cá, foram muitas outras matérias, reportagens e artigos anunciando o fracasso do mundial. E mesmo com o início dos jogos, com estádios prontos e infraestrutura à altura do desafio, a revista estampou, na edição desta semana, uma nova catástrofe iminente: “Só alegria até agora - Um festival de gols no gramado, menos pessimismo nas pesquisas, mais consumo, visitantes em festa e o melhor é aproveitar, pois legado duradouro, esqueça”.
Melhor mesmo é torcer para que, quem sabe até 2038, a Veja aprenda a fazer jornalismo!

4 – Cineasta brasileira radicada nos EUA: “Não, eu não vou para a Copa do Mundo”
Em junho de 2013, a cineasta brasileira Carla Dauden, radicada em Los Angeles, nos Estados Unidos, fez sucesso na internet com o vídeo “No, I’m Not Going to the World Cup” (“Não, eu não vou para a Copa do Mundo”), que alcançou quatro milhões de curtidas. Mas antes mesmo da bola começar a rolar nos gramados brasileiros, a ativista já era vista circulando pelo país.
No Twitter, ela justificou a abrupta mudança de planos: “Não vim para ver a Copa, vim para falar dela. A Copa nunca vai ser a mesma para os brasileiros. As pessoas não vão se esquecer do que acontecerá por aqui”, diagnosticou, antes da abertura. A frase, de fato, parece fazer sentido. Mas por motivos opostos do que aqueles que a ativista advoga!
5 - Protesto do chuveiro no “modo quentão” vai causar apagão!
Até bem pouco tempo antes do início da Copa, eram muitos os setores que insistiam no risco iminente de blackout no país, da oposição à imprensa monopolista. Um grupo de internautas, porém, levou as ameaças infundadas a sério e decidiu criar uma página no Facebook destinada a acelerar o caos: usar os jogos da Copa para provocar um apagão generalizado no Brasil e, assim, boicotar a realização do evento.
A estratégia definida foi a utilização sincronizada dos chuveiros no “modo quentão”. “Chuveiros devem ser ligados na hora dos hinos nos jogos. A carga elétrica anormal derrubará a energia em bairros, cidades, regiões, estados e o país inteiro, em efeito dominó. Acompanhem os hinos por rádio, para maior garantia de sincronização”, diz a descrição do evento que conquistou pouco mais de 4,5 mil curtidas.
Dado o fracasso do evento, a página agora é utilizada para a troca de memes contra o PT, a esquerda e as pautas sociais e progressistas!
6 – Marília Ruiz: “Vai ser um vexame. Um vexame!”
No dia 26/1/2014, a TerraTV publicou um comentário da jornalista esportiva Marília Ruiz em que ela previa que, se o Brasil conseguisse realizar a Copa, já seria uma grande vitória. A antenada comentarista até admitia que os estádios ficariam prontos. Mas sem qualidade: "Se eu sentaria o meu corpinho numa cadeira recém colocada, com um parafuso a menos? Eu não sei”.
Do alto de sua experiência em cobertura de outras copas e de um etnocentrismo latente, ela também alertava que, mesmo fazendo sua Copa após a da África, o país passaria vergonha. “Eu achei que a gente ia passar vergonha, que nós, brasileiros, que o país ia passar vergonha. Aí eu pensei, é até um alento porque a Copa do Brasil vai ser depois da Copa da África: ninguém vai lembrar muito como foi na Alemanha. Muito menos as pessoas vão lembrar como foi no Japão e na Coreia. E eu posso dizer porque estive lá. É uma vergonha ao cubo!”
Confira o comentário completo e saiba quem é que está passando vergonha!
7 - Álvaro Dias: “O país ficará com mais prejuízo do que lucro”
De todas as aves de mau agouro que bravatearam contra a realização da Copa no Brasil, o tucano Álvaro Dias, senador pelo PSDB, foi uma das mais barulhentas. Previu que o governo amargaria um prejuízo de mais de R$ 10 bilhões com a realização do evento, que os turistas não apareceriam, que os aeroportos não ficariam prontos e não dariam conta do fluxo de passageiros.

“O legado da copa do mundo me parece ser um grande fracasso. O país ficará com mais prejuízo do que lucro”, disse ele em entrevista à TV Senado, publicada no Youtube em 7/8/2013. Agora que os turistas chegaram, os investimentos estrangeiros entraram e o país tá fazendo bonito em mobilidade e infraestrutura, o senador desapareceu por completo do noticiário. Não se sabe se está esperando o evento acabar para profetizar outro apocalipse ou aproveitando as férias para curtir os jogos, como fez durante a Copa das Confederações!
8 - Ex-presidente FHC: “A Copa do Mundo como símbolo de desperdício”
Em artigo publicado no norte-americano The Wold Post, em 21/1/2014, o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso se referiu à Copa como símbolo do desperdício de dinheiro público. Tal como seu companheiro Álvaro Dias, perdeu a chance de ficar calado. Segundo a Fipe, só a Copa das Confederações rendeu R$ 9,7 bilhões ao PIB brasileiro. A projeção de retorno da Copa é de R$ 30 bilhões. A Apex-Brasil, aproveitando a Copa do Mundo, trouxe ao Braisil mais de 2,3 mil empresários estrangeiros, de 104 países. A agência estima trazer US$ 6 bilhões em negócios para o Brasil.
9 - Redação Sport TV: do fracasso ao espírito de porco!
No Programa Redação Sport TV de 22/1/2014, o apresentador deu sonoras gargalhadas ao exibir a foto de um estádio da copa ainda sem gramado e fazer previsões catastróficas sobre o evento. Na edição de 26/6/2014, o tom mudou completamente: um outro apresentador mostrou como a imprensa internacional elogiava o evento e ouviu do entrevistado Ruy Castro: “A nossa imprensa foi rigorosamente espírito de porco antes do evento começar”.
Confira o vídeo com os dois momentos e os dois humores do Sport TV
10 – Governo alemão: “O Brasil é um país de alto risco”
Há seis semanas do início da Copa, o Ministério de Assuntos Exteriores da Alemanha divulgou um relatório pintando uma imagem desoladora do Brasil, descrito como um país ode as leis não são respeitadas e o turista corre o risco de ser roubado, sequestrado e se envolver em conflitos entre policiais e criminosos. O documento listava uma série de cuidados que os gringos deveriam tomar, incluindo atenção redobrada com as prostitutas, apontadas como membros e organizações criminosas, e vigilância contínua com os copos, para não serem vítimas de um “Boa noite, Cinderela”.
Pelo documento, até mesmo a seleção alemã estaria em perigo em terras tupiniquins. E não apenas dentro de campo. “Arrastões e delitos violentos não estão descartados, lamentavelmente, em nenhuma parte do Brasil. Grandes cidades como Belém, Recife, Salvador, Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo oferecem altas taxas de criminalidade”, ressaltava.
O Ministério ainda não divulgou relatórios sobre o número de alemães que vieram ao Brasil e o que estão achando da experiência. Mas quem circula pelas ruas brasileiras, repletas de gringos felizes e sorridentes, já sabe!
11 - Der Spiegel: “Justamente no país do futebol, a copa poderá ser um fracasso”
Um dos principais semanários da Europa, a revista alemã estampou, um mês antes do início da Copa, a manchete “Morte e Jogos”, destacando que, justamente no país do futebol, a Copa poderia ser um fiasco, por causa dos protestos, da violência nas ruas, dos problemas do transporte coletivo, dos aeroportos e dos estádios. Praticamente um alerta vermelho recomendando que os europeus não viessem ao Brasil.
Mas os turistas vieram e estão adorando. A imprensa estrangeira também: o jornal norte-americano The New York Times, fala em “imenso sucesso”. O francês Le Monde, em “milagre brasileiro”. O espanhol El País diz “não era pra tanto” para as previsões catastróficas. A revista inglesa The Economist, remenda que “as expectativas, que eram baixas, foram superadas”. A própria Der Espiegel, na edição desta semana, dá destaque para a animação da torcida e admite que os protestos em massa ainda não aconteceram.

12 – Ronaldo, o fenômeno: “Da vergonha à constatação de que a Copa é um sonho”
Na véspera do início do mundial, o ex-atacante Ronaldo se disse envergonhado com os atrasos das obras da Copa. Mas, membro do Comitê Organizador Local da FIFA que é, defendeu a entidade e culpou o governo Dilma por todos os problemas. “É uma pena. Eu me sinto envergonhado porque é o meu país, o país que eu amo. A gente não podia estar passando essa imagem”, disse à Agência Reuters o cabo eleitoral e amigo do senador Aécio Neves, candidato do PSDB à presidência.
Agora, consolidado o sucesso do evento, tenta mudar o discurso. Em coletiva nesta quinta (26), procurou se justificar. "Não critiquei a organização da Copa, até porque eu faço parte dela. Disse que poderia ser muito melhor se todas as obras de mobilidade urbana tivessem sido entregues”, remendou. ”Vivíamos um clima muito tenso, com a população muito descontente. Começou a Copa, e agora estamos vivendo um sonho", concluiu.

13 – O vira vira lobisomem de Ney Matogrosso
De passagem por Lisboa, em 11/5, Ney Matogrosso resolveu usar a Copa para criticar duramente a política brasileira na TV ATP. Só esqueceu de estudar, primeiro, os argumentos. “Se existia tanto dinheiro disponível para gastar com a Copa, por que não resolver os problemas do nosso país?”, disse ele, desconhecendo que, desde 2010, quando começaram os preparativos para a Copa, o governo já investiu R$ 850 bilhões em saúde e educação, enquanto os investimentos totais no mundial – incluindo federais, locais e privados – atingem R$ 25,6 bilhões.
Foi ácido quanto à construção dos estádios que, segundo ele, irão virar “elefantes brancos” e não serão usados para mais nada. Embolou dados, números e fatos em vários argumentos. Acabou sustentando uma visão preconceituosa sobre as classes populares. Questionado se há uma maior consciência dos pobres em exigir seus direitos, concordou: “O escândalo é tamanho que até essas pessoas param para refletir”.
Descurtir*cartamaior

Presidente do núcleo negro do PSDB é loira


Presidente do núcleo negro do PSDB é loira

Talvez seja preciso instituir cotas para negros dentro do #Tucanafro, que é o núcleo negro do PSDB. A presidente da entidade em Roraima, delegada Candida Bentes, é loira.

É justo que uma pessoa branca abrace a causa racial e também lute, ao lado dos negros, por igualdade de condições e pelo fim da discriminação de cor. Mas parece inusitado que um cargo de liderança para questões raciais seja exercido por uma loira, sobretudo num país repleto de negros, mulatos e mestiços.

A explicação reside no distanciamento histórico do PSDB dos movimentos sociais — movimento negro incluso. Prova disto é que é raríssimo encontrar simpatizantes, filiados, candidatos ou políticos eleitos negros dentro da legenda, até mesmo na Bahia, estado com o maior número de autodeclarados pretos no Brasil.

Fonte: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/05/presidente-nucleo-negro-psdb-e-loira.html

segunda-feira, junho 30, 2014

Para decidir os rumos do Brasil ESCRITO POR FREI BETTO

Para decidir os rumos do Brasil
ESCRITO POR FREI BETTO



Mês que vem começa a propaganda eleitoral compulsiva e compulsória. Mais uma eleição em outubro, da qual é importante todos nós participarmos. Antes, porém, haverá algo tão importante quanto: o Plebiscito Popular por uma Constituinte Exclusiva e Soberana, na Semana da Pátria (1 a 7 de setembro).

Eis a ocasião de dar uma virada no jogo! Vamos responder à questão: “Você é a favor de uma Constituinte Exclusiva e Soberana sobre o sistema político?”. Adianto aqui a minha resposta: eu sou.

Não será a primeira vez que isso acontece. Em 2002, o presidente FHC queria que o Brasil integrasse a ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), monitorada pelos EUA. O povo brasileiro foi consultado em plebiscito. Foram coletados 10.234.143 votos em 46.475 urnas em todo o país. O resultado comprovou a vontade popular: 98,32% dos eleitores se manifestaram contra a entrada do Brasil na ALCA.

No mesmo plebiscito havia outra pergunta: se o Brasil deveria ceder o território de Alcântara (MA) para os EUA instalarem uma base militar. Resultado: 98,54% votaram contra. O acordo foi anulado.

Outros plebiscitos foram convocados: em 2000, sobre a dívida externa; em 2007, sobre a privatização da Vale do Rio Doce (que só piorou após sair do controle do Estado).

A Constituição de 1988, em vigor, representa uma transição conservadora da ditadura à democracia. Teve o erro de não ser exclusiva. Foram seus formuladores os mesmos deputados e senadores eleitos para o Congresso pelo atual sistema político viciado. Por isso, preservaram muitos resquícios da ditadura, como a militarização da polícia, a estrutura fundiária favorável ao latifúndio, o pagamento da dívida pública, a injusta anistia aos torturadores e assassinos do regime militar, impunes até hoje!

A Constituinte Exclusiva e Soberana deverá ser unicameral, sem o Senado, e sem tutela do Judiciário e ingerência do poder econômico. Só através dela nosso país alcançará, de modo pacífico, as tão almejadas reformas de estruturas, como a agrária e a tributária, e priorizará a qualidade da educação, da saúde, do transporte público e de outras demandas populares.

Com essa Constituinte, proposta pelos movimentos sociais, poderemos aperfeiçoar a democracia representativa e participativa, e fortalecer o controle social sobre as instituições brasileiras.

Participe desde já! Esta é a forma e o momento de mudarmos o sistema político do Brasil, que hoje monopoliza em mãos do Congresso a convocação de plebiscitos e referendos.

Organize um Comitê Popular ou participe dos já criados em sua cidade, bairro, sindicato, movimento social ou partido político. Faça de seu computador uma arma para o aperfeiçoamento de nossa democracia! Saiba como fazê-lo e onde os comitês já atuam através destes contatos:www.plebiscitoconstituinte.org.br / facebook.com/plebiscitoconstituinte /

Email: plebiscitoconstituinte(0)gmail.com


Frei Betto é escritor, autor do romance “Aldeia do silêncio” (Rocco), entre outros livros. 

Cinco coisas que nunca agradecemos a União Soviética







1 - Direitos da Mulher: Enquanto algumas ilhas haviam concedido para as mulheres o direito ao voto já no século XIX, a primeira grande mudança ocorreu no começo do século XX. No ano de 1917, somente quatro países (Austrália, Finlândia, Noruega e Dinamarca) haviam adotado o sufrágio feminino. A Revolução Russa de 1917, que defendeu a igualdade de direitos para todos, difundiu o temor de que as feministas encontrassem no comunismo um sistema mais atrativo, e puderam conspirar junto com os bolcheviques para importar a ideologia nos países ocidentais. A melhor forma de cortar a raiz semelhante ameaça era conceder as mulheres o direito ao voto. A Grã Bretanha e a Alemanha legalizaram em 1918, e os EUA em 1920, outros logo tomariam o mesmo caminho. A França foi a única potência que não reconheceria esse direito até 1944.



2 - Legislação Trabalhista: Isso é bastante óbvio. Contamos com uma semana trabalhista de 5 dias, férias pagas de 2 a 4 semanas, licença maternidade, assistência de saúde, além de equipamentos de segurança para os operários, etc... Pela pressão que exerceu o comunismo sobre o capitalismo. Nunca conseguimos ver a face humana do comunismo, mas graças a URSS, foi possível ter tido a noção do lado mais humanitário frente ao capitalismo.



3 - A Segunda Guerra Mundial e a reconstrução depois da vitória: A URSS desempenhou um papel fundamental na derrota da Alemanha nazista. Stalingrado é o famoso campo de batalha que conseguiu dar trégua na guerra relâmpago (“Blitzkrieg”) e mudou o desenvolvimento da guerra. A URSS sofreu a perca de 23,4 milhões de pessoas (mais que na Alemanha e mais de 26 vezes o número de mortes que sofreram os Estados Unidos e o Reino Unido juntos). Uma vez concluída a guerra, foi desenhado o Plano Marshall devido que os países aliados do Ocidente não queriam que a Europa fosse sucumbida pelo socialismo, com a velha desculpa de que os habitantes de cada país seriam submetidos pela “doutrina da fome e da desolação”. Contudo, o Plano foi desenvolvido somente sob a condição de que os comunistas fossem excluídos dos parlamentos dos países que recebiam ajuda. Claro “exemplo de democracia”.



4 - O caminho anti-colonial: Enquanto o imperialismo alimentava a maquinaria industrial e capitalista, a URSS defendia a causa das colônias exploradas. Estendeu sua ajuda aos países que lutavam pela sua libertação e aos países que recentemente haviam conseguido sua independência. As inclinações soviéticas pela luta libertadora na Índia não são um segredo para ninguém, para um país pobre que lutava para se manter em pé, a ideologia socialista resultava naturalmente atrativa.



5 - Descobrimentos científicos: Os primeiros soviéticos lançaram o primeiro satélite, logo enviaram o primeiro cachorro, o primeiro homem e a primeira mulher ao espaço. Também desenvolveram diversos desenhos televisivos. Para resumir, não havia um Tata Sky (sistema de difusão direta pelo satélite) senão fosse pela magia soviética. Além do mais, os soviéticos também tiveram o êxito de terem criado órgãos artificiais, o primeiro helicóptero, a xerografia e também o mais famoso e célebre fusil AK-47.

Aqui estão apenas cinco coisas a agradecer a URSS, mas poderiam selecionar outras muitas coisas como a alfabetização universal, a luta contra o fanatismo religioso e nacional, a elevação do nível de vida da classe trabalhadora, o advento da arte e da cultura e vários outros exemplos.

Fonte: http://es.rbth.com/articles/2012/01/06/cinco_cosas_que_nunca_le_agradecimos_a_la_union_sovietica_15110.html

Padre Júlio Lancellotti é intimidado por ter dado entrevistas contra a PM

Nestes tempos de protestos, aqueles que estão do lado de cá, da rua, longe do sistema institucionalizado, sofrem as consequências por criticar o sistema. Quando estas pessoas buscam mudanças nas formas de se fazer política, e começam a ter êxito, imediatamente se sujeitam a várias formas de intimidações.
Intimidar é fazer com que outros façam o que alguém quer, através do medo. A intimidação é a resultante do desajuste da compulsão competitiva normal de dominância inter-relacional, geralmente vista em animais, mas que é mais completamente modulada por forças sociais em seres humanos.
Basta o cidadão querer exercer os seus direitos de ter voz, ou defender aqueles que não têm, que logo, os braços armados deste malfadado sistema insistem em reprimir. Não é de hoje que a violência Estatal alcançou o asfalto, e também há tempos que elas estampam as capas dos jornais. Entretanto, muita coisa acontece aos sussurros dos torturadores psicológicos, que atormentam a segurança do cidadão que se presta manifestar.
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Pessoas como o Padre Julio Lancellotti, grande parceiro dos moradores de rua e apoiador dos protestos populares. Ao olhar mais atento,  é comum o vê-lo cruzando a multidão em meio a faixas e gritos de ordem. Sempre sereno em suas palavras, trata-se de uma figura que conforta àqueles que estão ali presentes. De outra forma, o Padre Júlio, apesar da serenidade e postura pacífica, não é um cidadão passivo. Ele tem enfrentado intimidações e ameaças veladas do sistema e dos seus maus policiais.
Estes dias, após ser acertado por um estilhaço de uma bomba de gás lacrimogênio durante um protesto, ele concedeu entrevistas à mídia, repudiando a atitude daqueles policiais que o teriam acertado. - “O que me feriu mais foi a repressão e violência geral da PM. Acho que eles precisam ter outras formas para agir”, disse o Padre ao portal G1. “Toda ação tem uma reação. É preciso saber lidar com essa insurgência da juventude” – complementou. No dia seguinte, o Lancellotti recebeu mensagens no celular enviadas por militares da alta cúpula repudiando a entrevista concedida e intimidando-o de forma velada.
Esta foi a mensagem encaminhada para o Padre Júlio:
Senhor Padre - Bom dia.
Em face do sue total desconhecimento sobre a atuação da Polícia Militar nas manifestações de rua, demonstrado no seu depoimento prestado em matéria do Estadão, nesta data, iremos chamá-lo para acompanhar os próximos planejamentos e reuniões: quem sabe o Sr possa nos ajudar, não é?”
É claro que um funcionário público, militar, em uma instituição altamente burocratizada não deveria ter a liberdade para enviar mensagens de texto de cunho intimidatório. Caso a polícia quisesse que o Padre Júlio acompanhasse as reuniões da corporação, que o fizesse por meio de ofício formal, assim como sempre o fizeram. A atitude de tal policial eventualmente pode não ser encarada como crime, porém é no mínimo anti-ético e intimidador.
Juridicamente falando, intimidar é ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto grave. Os tribunais brasileiros têm aceito, embora nem sempre este posicionamento não seja dominante, ameaças vagas e incertas. Ameaça vaga é aquela em que o agressor não discrimina devidamente o que ocorrerá ou contra quem se voltará a ação (ex. “a sua família vai pagar o preço”, “você pode perder tudo” se” divulgar o meu vídeo, irá pagar caro” etc). Para a jurisprudência brasileira, é necessário também ter o chamado animus freddo, caracterizado pelo tom calmo do agente, do mesmo modo como ocorreu na mensagem irônica direcionada ao padre.
Assim como no caso do Padre Júlio, são corriqueiras às intimidações veladas aos jornalistas quando retratam os fatos sombrios da corporação militar. A mesma atitude ameaçadora atingem os advogados quando são perseguidos por policiais após as manifestações e até mesmo quando são vigiados enquanto tomam cerveja numa mesa de bar.
Se não bastasse estas intimidações corriqueiras, no qual infelizmente já estamos aprendendo a lidar, ativistas estão sendo ameaçados dentro dos coletivos e ocupações, invadidos por policiais. Diversas buscas sem mandado insistem em ocorrer e até mesmo a família destes jovens ativistas estão apanhando dentro de suas casas, quando destas invasões, sem direito a câmera, holofotes, nem defesa. E tudo isto está ocorrendo como uma forma de intimidação institucionalizada para que a rua se cale. Mas não.