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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, outubro 27, 2010

Adeus à Nestor Kirchner

Ex-presidente da Argentina Néstor Kirchner morre aos 60 anos

Via BBC Brasil

 

Nestor e Cristina Kirchner em reunião da Unasul, no início de outubro (Reuters)
Nestor Kirchner vinha sofrendo com problemas cardíacos
O ex-presidente argentino Néstor Kirchner morreu nesta quarta-feira aos 60 anos, em Buenos Aires.
Ele sofreu uma parada cardiorrespiratória após ter sido internado às pressas no hospital José Formenti, na capital argentina.
Esta foi a terceira internação do ex-presidente neste ano. Ele sofria de problemas cardíacos.
Néstor Kirchner - marido da atual presidente, Cristina Fernández de Kirchner - governou a Argentina entre maio de 2003 e dezembro de 2007.
Ele era tido como um provável candidato a retornar à Presidência argentina, no ano que vem.


Lula diz que morte de Kirchner é “notícia triste” e que ele era “aliado e amigo”

DE SÃO PAULO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira em Itajaí que ficou sabendo da morte do ex-presidente argentino Néstor Kirchner por meio do embaixador do Brasil na Argentina.
Quando foi informado, Lula participava de uma solenidade de inauguração de obras de ampliação do porto de Itajaí (93 km de Florianópolis).
“Nós recebemos uma notícia triste, que acaba de falecer de ataque cardíaco o ex-presidente da Argentina Néstor Kirchner. Quero saber se é verdade (…) Outro dia, eu estava num comício e anunciaram quatro vezes a morte do [senador Romeu] Tuma.”
Argentine Presidency/Reuters
Néstor Kirchner ao lado de Lula; brasileiro lamenta morte de "aliado e amigo"

Ex-presidente argentino Néstor Kirchner ao lado de Lula; brasileiro lamenta morte de “aliado e amigo”
Ainda na solenidade, o presidente pediu um minuto de silêncio à plateia em homenagem à memória do senador petebista, que morreu ontem em São Paulo.
Também nesta quarta-feira, Lula divulgou uma mensagem de pesar pela morte de Kirchner, que atualmente ocupava o cargo de secretário-geral da Unasul (União das Nações Sul-Americanas). Segundo a nota, a notícia deixou Lula “consternado”, pois considerava Néstor um “aliado e amigo”.
“Sempre tive em Néstor Kirchner um grande aliado e um fraternal amigo. Foram notáveis o seu papel na reconstrução econômica, social e política de seu país e seu empenho na luta comum pela integração sul-americana. Os brasileiros se associam à dor de nossos irmãos argentinos neste momento amargo”, disse Lula no comunicado.
“Transmito, em nome de meu governo e do povo brasileiro, à presidente Cristina Fernandez de Kirchner nosso imenso pesar e solidariedade”, diz ainda a nota.
No comunicado, Lula também anuncia luto oficial por três dias como “expressão dos sentimentos [pela morte]“.
MORTE
Kirchner morreu na manhã desta quarta-feira aos 60 anos, depois de ser internado com urgência por problemas cardíacos em um hospital de El Calafate, na Província de Santa Cruz.
De acordo com o jornal argentino “Clarín”, ele foi internado pela manhã no hospital José Formenti, acompanhado da mulher, a atual presidente da Argentina, Cristina Kirchner, e morreu pouco antes das 10h (11h no horário de Brasília).
Néstor governou a Argentina de 2003 a 2007 e exercia três cargos simultaneamente. Além do posto como secretário-geral da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), era deputado federal e dirigia o PJ (Partido Justicialista).
Segundo a imprensa local, ele teria sofrido uma parada cardiorrespiratória com morte súbita.
Kirchner e sua mulher estavam desde o último final de semana em sua casa em El Calafate, na região da Patagônia.
*Luis Favre

América Latina enlutada com a morte de Néstor Kirchner

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Pedro Ayres
Jornalista
Há uma frase que é comum quando há a morte de uma grande personalidade política, como o ex-Presidente da República Argentina, Néstor Kirchner - o mundo ficou mais pobre e menos rico de sabedoria e generosidade. Neste caso, mais do que uma simples frase, é uma profunda verdade, tanto para a Argentina, quanto para a América Latina.
Quando os historiadores latinoamericanos tiverem que falar sobre os primeiros anos do século XXI e da luta que era sobreviver sob o azorrague neoliberal, veloz e alegremente utilizado pelo império estadunidense neocon de George W. Bush, a figura de Néstor Kirchner sobressairá dentre os maiores. Primeiro porque, correndo todos os riscos possíveis em seu país, envolvido numa enorme crise econômico-social que ameaçava sangrento desenlace, ousou dizer não para as ordens do grande capital, do império e de seus capitães-do-mato, o FMI e o Banco Mundial e com isso deu início ao resgate da soberania nacional e da própria auto-estima dos argentinos. Eram tempos de ameaças e tenebrosos vaticínios. bushkirchnermarldelplata.jpg
Foi, pois, em solo argentino, em Mar del Plata, com Nestor Kirchner, junto a Luiz Inácio Lula da Silva, Hugo Chávez, Tabaré Vazquez e Nicanor Duarte, que foi encerrada a tentativa estadounidense de implantar o seu modelo neocolonial através da ALCA, como vinha fazendo através dos TLC's com diversos países da América Latina. Essa derrota de Bush, muito mais do que uma simples negativa aos seus sinistros projetos, representou a ampliação do novo sentimento de nacionalismo e integração que havia na América do Sul e em toda a Latinoamérica e Caribe. A digna e corajosa posição adotada por Néstor Kirchner, não só o inscrevia no rol dos grandes próceres continentais, como dava respaldo institucional ao que era um apelo das massas argentinas e latinoamericanas. noalalca.jpg
É a partir dessa Conferência de Mar del Plata, em 2005, que surgem os primeiros esboços diplomáticos e políticos da UNASUL (UNASUR), da CALC (Comunidade da América Latina e Caribe) e o fortalecimento do Mercosul. Mais do que situar o seu país no mapa da nações soberanas e livres, Néstor Kirchner, obtinha, como consequência dessa política independente e defensora da autodeterminação dos povos, sucessivos avanços em algumas questões sociais e econômicas internas, como a gradual recuperação da atividade produtiva massiva e a diminuição dos terríveis índices de miséria e pobreza que tinha herdado do neoliberalismo de Menem, Cavallo, De la Rua e Alfonsín. Com isso, além de aumentar o seu cabedal político, fazia o resgate do nacionalismo democrático que fazia parte do idéario político de Eva Perón.chavezevonestorlula.jpg
Nestor, Evo, Lula, Chávez e Correa, mais do que presidentes de países irmãos e ligados por uma fraterna amizade, compartilhavam do mesmo sonho - a unidade do continente sulamericano e da integração dos países da América Latina e do Caribe. Um sonho que produziu benefícios e vantagens para seus povos. Com Néstor Kirchner vai um pouco dessa generosidade e carinho por nossos povos, entretanto, ficará como um exemplo de homem público argentino, sulamericano e latinoamericano. Alguém que terá, sem a menor dúvida, direito de estar ao lado da Pachamama, zelando e cuidando das terras que muito amou e cuidou. Ao Povo Argentino e à Presidenta Cristina Fernández de Kirchner nossas sinceras e tristes condolências pela morte desse honrado e ilustre político latinoamericano.
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Pedro Ayres
Jornalista

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