Páginas

Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, outubro 30, 2010

Vítimas de padres pedófilos organizam passeata no Vaticano






Por Redação Correio do Brasil, com Reuters - do Vaticano


Vítimas de abuso cometidos por padres católicos tentarão fazer uma passeata no Vaticano neste domingo, apesar da falta de autorização policial para o protesto. O objetivo é exigir que a Igreja se esforce mais para proteger as crianças e punir os responsáveis. Bernie McDaid e Gary Bergeron, fundadores do site de vítimas de abusos www.survivorsvoice.org, disseram nesta sexta-feira, em coletiva de imprensa, que iniciariam uma petição para que a Organização das Nações Unidas considere a pedofilia sistêmica um crime contra a humanidade.

– Não somos aleijados. Somos pessoas feridas e que agora estão dispostas a falar sobre isso. A culpa e a vergonha estão encobertas – afirmou McDaid, que se tornou uma das primeiras vítimas de abuso a se encontrar com o papa Bento 16, em Washington, há dois anos.

As revelações sobre crianças que foram abusadas sexualmente por padres nas últimas décadas abalaram a Igreja neste ano, particularmente na Europa, nos Estados Unidos e na Austrália. McDaid, de 54 anos, e Bergeron, de 47, foram abusados pelo mesmo padre quando eram crianças, em diferentes cidades da região de Boston. Os atos tiveram cerca de sete anos de espaço entre si e ocorreram na década de 1960.

Ambos eram coroinhas e disseram que foram molestados por um padre que foi denunciado pela primeira vez como pedófilo em 1962, mas acabou realocado de paróquia em paróquia em vez de ter sido excomungado. Eles se conheceram já como adultos, em 2002, quando os escândalos dos abusos sexuais da Igreja chegaram aos Estados Unidos, com seu epicentro em Boston.

Neste ano, um novo capítulo veio à tona, quando vítimas de outros países, incluindo Irlanda, Áustria, Itália e a Alemanha, terra onde nasceu Bento 16, contaram suas histórias. Bispos em várias nações europeias renunciaram ao sacerdócio por terem sido revelados como pedófilos ou pela conivência com casos de abuso. Bergeron e McDaid liderarão dois dias de atividades em Roma ao lado de vítimas de abuso de 12 países, com final programado para domingo, que eles intitularam o Dia da Reforma, o aniversário do dia, em 1957, quando Martinho Lutero iniciou a reforma protestante.

Depois de se juntarem no Castelo de Santo Ângelo, no Rio Tibre, eles pretendem fazer uma passeata à luz de velas até o Vaticano. A polícia italiana negou permissão para a última parte do protesto, mas os organizadores dizem que o farão de qualquer forma. Eles esperam a adesão de centenas de vítimas e apoiadores da causa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário