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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, junho 03, 2011


Quem confia na Globo morre em suas garras

 

A se confirmar que o Ministro Antonio Palocci vai falar, com exclusividade, para o Jornal Nacional, terá errado antes de começar a falar.
À esquerda e aos que conhecem o que representa a Globo no sistema de comunicações brasileiro, não evitará – ainda que não o seja – a impressão de que  é uma “entrevista” combinada com alguém que é “amigo da casa”.
Para os formadores de opinião,qualquer explicação que o ministro dê será pouca. Porque ficará a impressão de que foi “combinado”.
Os apresentadores do Jornal Nacional foram mais espertos que Palocci. Perceberam isso e vão deixar a entrevista para um repórter em Brasília, como se noticia.
Ao mesmo tempo, por temperamento, por natureza, por posições políticas e, para culminar, pelo veículo escolhido, Palocci não poderá usar aquela antiquíssima máxima de que a melhor defesa é o ataque.
Não é apenas um erro político esta decisão.  É um erro estratégico.
A Globo não tem amigos, tem interesses.
Se Palocci foi um interlocutor forte para ela no Governo Lula e, potencialmente, poderia vir a ser no Governo Dilma.
Mas, politicamente fraco, Palocci não é interlocutor para nada.
E a Globo será a primeira a usa-lo – sem piedade – em favor dos seus interesses: enfraquecer o Governo Dilma e criar intrigas entre ela e Lula.
Quem não entende isso está fadado a ser devorado pela Globo de quem um dia pensou ser amigo.
*tijolaço

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