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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, janeiro 26, 2016

Stalin nunca foi um demônio: a obra de Domenico Losurdo

Stalin nunca foi um demônio: a obra de Domenico Losurdo


Domenico Losurdo é um historiador italiano comprometido com o comunismo (marxista-leninista). É professor de história da filosofia na Universidade de Urbano, na Itália, e autor de vários livros. Seu viés ideológico assumido não prejudica a obra, mas lhe dá clareza, pois sabemos de onde ele parte, qual é sua situação pessoal. Além disso, Losurdo é cuidadoso ao levantar muitos dados históricos e estatísticos que se não comprovam plenamente o que defende, pelo menos, abre uma dúvida sobre os acusadores.

Durante as férias de janeiro eu li a sua obra mais conhecida: “Stalin, história crítica de uma lenda negra”. São 350 páginas de defesa e combate. Losurdo assume nela a difícil tarefa de defender historicamente o “guia genial dos povos” e líder da antiga União Soviética, Joseph Stalin, das mais diversas e injustas acusações do pós-Muro de Berlim, em especial, das “mentiras e calúnias” dos trotskistas e do duvidoso “Relatório Kruschiov” — a narrativa dos vencedores — que seria o momento da “desestalinização” da URSS e dos partidos comunistas pelo mundo.

O primeiro capítulo vai direto ao ponto, o “Relatório Kruschiov” (em 25 de fevereiro de 1956), um suposto documento “secreto” — que os maiores inimigos do comunismo tiveram acesso rápido e em primeira mão — do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), liderado por Nikita Kruschiov, que tem como objetivo, na visão de Losurdo, “liquidar Stalin” no XX Congresso do partido. Stalin, que antes era visto como “Tio Joe”, “grande líder”, “homem que derrotou o nazismo”, “o salvador da Europa da barbárie de Hitler” etc. era, até então, elogiado por pessoas como W. Churchill, Harold Laski, Hannah Arendt, Benedetto Croci, Thomas Man, Norberto Bobbio, Carlo Rosseli e Arnold Toynbee e, especialmente a partir de 1956, redesenha-se o líder da URSS como “degenerado monstro humano”. Foi uma operação que “precipitou deus no inferno” e Losurdo tentará encontrar os motivos e questioná-los, um à um.

No capítulo 2, o autor analisará o conflito ideológico na URSS desde a Revolução Russa de 1917 até chegar nas origens do chamado “stalinismo” no capítulo 3. Depois disso, debruça-se sobre a “Era Stalin”, a democracia socialista e a ditadura do proletariado, os Gulags, a burocracia, a ditadura desenvolvimentista e a “necessidade” de um “universo concentracionário” — autoritarismo — para enfrentar as dificuldades e incertezas daquele tempo.

Losurdo dedica-se, nos capítulos 5, 6 e 7, a analise mitológica. O autor pretende demonstrar com diversos dados históricos, coletados inclusive de inimigos públicos de Stalin, como se deu a construção simbólica do “homem cruel”, a ideia de que Stalin e Hitler seriam “irmãos gêmeos” (a difícil tese que acusa de antissemitismo os comunistas daquele período), a paranóia ocidental e a psicopatologização de Stalin e como esse processo levou o homem Stalin a ter sua imagem submersa entre a história e a mitologia.

No último capítulo, Losurdo joga luz no mundo contemporâneo e traça como se deu a “demonização” — tudo que é ruim, ditatorial, concentracionário, autoritário é “stalinismo” — fazendo uma hagiografia do período. Acusa a “Nuremberg anticomunista” de reescrever a história do século XX não somente para desconstruir Stalin, mas para desmoralizar a própria ideia de comunismo.

No fim do livro, o ensaio de Luciano Cânfora, ácido crítico do que conhecemos como “democracia ocidental”, é um brinde para os leitores. Chama-se “De Stalin a Gorbatchov: como acaba um império”. Concordando com Losurdo, ambos vêem em Gorbatchov o artífice da patética derrocada da União Soviética, mas não compreendem os motivos exatos que levaram o projeto reformista de Gorbatchov o desastre geopolítico que favoreceu a hegemonia neoliberal e, em especial, dos Estados Unidos e da troika européia.

O livro é muito bom. O historiador se esforça para demonstrar que Stalin não era anjo, nem demônio, mas um homem de seu tempo que tomou medidas “apropriadas” ou somente compreensíveis no seu devido contexto. Trotski faria melhor? A resposta é um sonoro não, mas detalha os porquês.

Stalin morreu em 1953 e ainda hoje é um tema tabu dentro do campo marxista. Ainda há quem o admire no PCdoB, PCR, PPL (antigo MR-8), mas a hegemonia atual é dos seus críticos mais ferozes. No Brasil, o PT e o PSOL, dois partidos com forte hegemonia de trotskistas e ex-trotskistas, praticamente fez desaparecer os entusiastas do “Tio Joe”.

A leitura de Losurdo não absolve Stalin e o PCUS daquela época, mas relativiza as acusações mais levianas ao “stalinismo”, mostrando que o “totalitarismo” da URSS e seus satélites não pode ser posto em pé de igualdade com as barbaridades do nazi-fascismo.

Eu terminei o livro com a nítida impressão que Stalin não era “o monstro” que aprendi a atacar desde os tempos de militante do PCB nos anos 80. Continuo não sendo “stalinista” e defendo a democracia como valor universal, mas agora terei maior cuidado ao tratar do assunto. Só por isso, o livro valeu cada real investido.

MARCIO SALES SARAIVA é sociólogo/cientista político, apaixonado pelas reflexões teológicas, mestre em políticas públicas pelo PPGSS-UERJ e pai de Tatiana, Michel, Gabriela e Isabela. É um democrata de esquerda que defende os ideais de justiça, igualdade e direitos humanos. Milita na defesa de direitos da comunidade queer/LGBT e considera o amor/caridade como caminho sagrado para o encontro com o Divino.

segunda-feira, janeiro 25, 2016

Programas policialescos não podem ter carta branca para violar direitos

Programas policialescos violam leis e direitos


Categoria » Comunicação · Direitos Humanos
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O Ministério Público Federal em São Paulo ajuizou ação civil pública contra a Record e a União em decorrência de violações de direitos no programa “Cidade Alerta”. O apresentador Marcelo Rezende, ao transmitir ao vivo uma perseguição policial a dois homens suspeitos de roubo, disse: “Atira, meu filho; é bandido”, e os chamou de “marginais” e “criminosos”. A ação culminou com tiros disparado à queima roupa por um PM. “Como consequência, temos veículos que levam a todos os lares brasileiros discursos que criminalizam, sobretudo, setores cujos direitos são historicamente negados, como os jovens negros suspeitos de atos infracionais”, afirma Helena Martins, em artigo para a Ponte. Estudo aponta que programas policialescos violam cotidianamente 12 leis brasileiras e 7 tratados multilaterais
Por Helena Martins Do Brasil247
Programas policialescos não podem ter carta branca para violar direitos
O Ministério Público Federal em São Paulo ajuizou ação civil pública contra a Record e a União em decorrência de violações de direitos no programa “Cidade Alerta”. Estudo aponta que programas policialescos violam cotidianamente 12 leis brasileiras e 7 tratados multilaterais
“Atira, meu filho; é bandido”. Essa foi uma das frases proferidas por Marcelo Rezende, do programa Cidade Alerta, da Rede Record, ao transmitir, ao vivo, uma perseguição policial a dois homens que seriam suspeitos de roubo. A ação culminou com um tiro disparado à queima roupa pelo integrante da Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas (Rocam) da Polícia Militar de São Paulo contra aqueles que, repetidas vezes, foram chamados de “bandidos”, “marginais” e “criminosos” pelo apresentador.
A cobertura, feita em junho do ano passado, foi objeto de representação elaborada pelo Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação e pela ANDI – Comunicação e Direitos ao Ministério Público Federal em São Paulo. As organizações apontaram que houve desrespeito à presunção de inocência e incitação à desobediência às leis ou decisões judiciais. No texto, foram descritas as cenas e também as leis desrespeitadas pelo canal, em especial a Constituição Federal, que veda a veiculação de conteúdos que violem direitos humanos e façam apologia à violência, e o Código Brasileiro de Telecomunicações, que determina que “os serviços de informação, divertimento, propaganda e publicidade das empresas de radiodifusão estão subordinados às finalidades educativas e culturais inerentes à radiodifusão” (Art.38, d).
Agora, o Ministério Público Federal ajuizou ação civil pública contra a Rede Record e a União. O órgão pede que a emissora transmita uma retratação, por dois dias úteis, mostrando não compactuar com o comportamento hostil e com a incitação à violência perpetrada por Marcelo Rezende. Em caso de descumprimento, o grupo deverá pagar multa de R$ 97 mil por dia. O MPF requer ainda que a União cumpra com o seu dever e fiscalize o programa.
As medidas são importantes para enfrentar a perversidade praticada todos os dias pelos chamados programas policialescos. Não é mais possível calar diante de conteúdos midiáticos que se valem de uma concessão pública para ir ao ar e, então, violar direitos de forma sistemática, como comprova pesquisa realizada pela ANDI em colaboração com o Intervozes, a Artigo 19 e o Ministério Público Federal. O estudo (**) aponta que pelo menos 12 leis brasileiras e 7 tratados multilaterais são desrespeitados cotidianamente por esses programas, entre eles a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A análise de 28 programas veiculados por emissoras de rádio e televisão em dez estados diferentes, ao longo de 30 dias, constatou que 1.936 narrativas possuíam violações. Entre elas: 1.709 casos de exposição indevida de pessoa; 1.583 de desrespeito à presunção de inocência; 605 de violação do direito ao silêncio; 151 ocorrências de incitação à desobediência ou desrespeito às leis; 127 de incitação ao crime e à violência; 56 casos de identificação de adolescentes em conflito com a lei; 24 registros de discurso de ódio e preconceito; 18 ocorrências de tortura psicológica e degradante, entre outros crimes.
Os números servem para comprovar práticas que podem ser observadas praticamente sempre que ligamos o rádio e a TV, especialmente no período do almoço ou no turno da tarde, já que, por serem considerados jornalísticos, os tais policialescos não são submetidos à classificação indicativa – permanecendo, assim, facilmente acessíveis às crianças e aos adolescentes. Poucas são as emissoras que não aderiram à fórmula que combina exploração de sensações (a começar pela dor de quem passa por situações violentas), merchandising e populismo. A estética (e, portanto, a ética) deles penetra também os tradicionais programas jornalísticos, inclusive porque estes passaram, na última década, a buscar responder ao crescimento da audiência daqueles.
Como consequência, temos veículos que levam a praticamente todos os lares brasileiros discursos que criminalizam, sobretudo, setores cujos direitos são historicamente negados, como os jovens negros suspeitos de atos infracionais. Discursos que criam estereótipos sobre comunidades ou populações inteiras, que tratam a violência de forma superficial e que apresentam como resposta aos problemas a redução da idade penal e outras expressões do Estado penal.
Ao passo que este vem se tornando cada vez mais necessário para regular a vida em sociedade com base na força, na vigilância, na produção do medo e na exclusão, também cresce o papel dos meios de comunicação na produção do que Eugenio Raúl Zaffaroni chama de “criminologia midiática”. Esta constrói uma imagem do real na qual estão, em lados absolutamente opostos, as pessoas boas, vulneráveis, e a massa criminosa. Isso é feito, claro, por meio da fabricação do estereótipo do criminoso, de campanhas de ‘lei e ordem’, de ideias rígidas, como a suposta impunidade dos adolescentes que entram em conflito com a lei, entre outros artifícios.
A justificativa para a seletividade penal necessária à manutenção deste sistema excludente e opressor é, assim, construída e reforçada todos os dias. A retórica de que “bandido bom é bandido morto” é exemplo disso. Ademais, ao praticar populismo penal, apresentando, por exemplo, a privação de liberdade em um sistema penal falido como resposta à demanda de segurança, tais programas – e as emissoras responsáveis por eles – privam a sociedade de ter acesso a uma informação plural, contextualizada e completa. Ignoram, por exemplo, o fato de o Brasil ocupar hoje o patamar de terceiro País com a maior população carcerária – posição que galgou, sobretudo, nos últimos dez anos, quanto também vimos o crescimento da violência, o que deixa claro que a saída proposta é absolutamente equivocada.
A figura carismática, o tom apelativo, a apresentação de respostas fáceis e a tentativa de ocupar o papel do Estado como mediador de conflitos e detentor da possibilidade de aplicação do direito abrem caminhos para a eleição de parlamentares – e, em breve, possivelmente de mandatários de cargos no Executivo. Alçados à posição de representantes da sociedade, esses apresentadores muitas vezes passam a integrar a chamada “bancada da bala” e a adotar agendas conservadoras, em especial em relação à segurança pública e aos direitos humanos, contra os quais também rotineiramente são proferidos discursos inflamados no rádio e na TV.
Para enfrentar essa lógica, é necessária, de imediato, uma mudança de postura dos órgãos responsáveis pela fiscalização dos conteúdos veiculados pelas emissoras de rádio e televisão, em especial o Ministério das Comunicações (MiniCom). Hoje, o Ministério tem recuado de seu poder fiscalizador e sancionador. Além de não monitorar os programas, atua apenas diante de denúncias ou de casos com grande repercussão pública. Além disso, pesquisa mostra que, em diversos casos, houve omissão ou restrição da ação do órgão ao considerar apenas dois dispositivos legais do Código Brasileiro de Telecomunicações para analisar conteúdos, embora haja muitos outros relacionados à questão.
A postura omissa do MiniCom resulta em uma carta branca para práticas criminosas. Entre 2013 e 2014, apenas duas emissoras de TV foram multadas por violações cometidas por programas policialescos: a TV Band Bahia, multada em R$ 12.794,08, e a TV Cidade de Fortaleza, que pagou R$23.029,34. No primeiro caso, a apresentadora Mirella Cunha humilhou um suspeito negro por oito minutos. No segundo, dois programas da emissora veicularam o estupro de uma menina de nove anos de idade. Nas duas situações, a ação do Ministério ocorreu após denúncia e pressão por parte da sociedade civil.
No caso que envolve o apresentador Marcelo Rezende, essa permissividade mais uma vez ficou clara. Assim como o MPF, o MiniCom recebeu do Intervozes denúncia sobre a ocorrência de desrespeito à presunção de inocência e incitação à desobediência às leis ou decisões judiciais. Não obstante, em resposta encaminhada pelo Departamento de Acompanhamento e Avaliação de Serviços de Comunicação Eletrônica, o órgão disse que segue analisando denúncia, mas que o Poder Judiciário deveria ser procurado em busca de reparação. Segundo o comunicado, “só depois de ocorrer a condenação do culpado, é que o Ministério das Comunicações poderá, com a sentença condenatória transitada em julgado, instaurar processo administrativo contra a entidade detentora da outorga para executar o serviço de radiodifusão, ‘por abuso no exercício da liberdade de radiodifusão por ter sido este meio utilizado para prática de crime’.”.
Além do longo prazo para a sociedade ter retorno de algo que, pelas características da mensagem televisiva, tem forte impacto imediato, em geral as multas são irrisórias e não há uma campanha pública que mostre a ocorrência da sanção nem o problema cometido pela emissora. Assim, essas medidas acabam sendo insuficientes para desestimular práticas equivocadas. Essa situação torna ainda mais urgente a atuação crítica da sociedade e de órgãos com posicionamentos contundentes, como tem sido o Ministério Público Federal, em relação aos grupos midiáticos.
Nunca é demais lembrar que a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa devem conviver harmonicamente com os demais direitos e podem, inclusive, ser fundamentais para a promoção deles, caso sejam utilizadas com esse fim. Diante de tudo isso e tendo em vista a complexa conjuntura vivenciada no Brasil, sobretudo no campo dos direitos humanos, defendemos algo que pode ser feito desde já, como ocorre em democracias consolidadas ao redor do mundo: não aceitar violações. Se não enfrentarmos coletivamente essa agenda, estaremos fadados a viver em uma sociedade paralisada pelo medo e sujeita à reprodução de discursos que ampliamdesigualdades sociais e legitimam a exclusão de grupos populacionais por meio da criminalização, do encarceramento ou do extermínio.
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O Brasil no mundo: Um desenho para quem tem complexo de vira-lata entender




Categoria » Em Pauta
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A ilustração que retirei do Facebook da comunidade Planeta Fascinante é daquelas que quase dispensam legenda.
Por Fernando Brito Do Limpinho e Cheiroso
Ainda assim, é só olhar quem são os países que somam território, população e riqueza econômica.
Os cinco que ocupam a área de intersecção dos três conjuntos.
Deveria ser o que bastasse para entender que o Brasil é um país com destino próprio, não o de ser um satélite.
Como para ver onde estão nossas sinergias.
Repare, não disse ideologias.
Disse oportunidades.
Embora assim tão obvio, a elite brasileira não consegue enxergar.
Tem na cabeça que o Brasil deveria ser uma sub-Miami.
A burrice é uma coisa muito difícil de combater, porque prescinde de argumentos e sustenta verdades que ouviu de alguém e as repete.
Quem sabe assim, desenhando?
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Boris Casoy, Alexandre Garcia e mais preconceito

*Por Luiz Fernando Leal Padulla
Que a grande mídia é parcial, creio que ninguém hoje em dia tem a coragem de discordar. Manchetes e matérias tendenciosas e distorcidas do “Estado de S. Paulo”, “Folha de S. Paulo”, “Jornal Nacional”, “Veja”, “Época” são alguns desses exemplos fatídicos. Como bem definiu o jornalista Paulo Henrique Amorim, esses são os partidários do PIG: Partido da Imprensa Golpista. O gráfico abaixo, divulgado em 2010, mostra como age a imprensa parcial. No levantamento feito durante a candidatura de Dilma, entre os dias 28/08 a 27/9, ainda para seu primeiro mandato, três dos jornais mais vendidos do Brasil, publicaram 90 capas, das quais 61 eram negativas para candidatura presidencial do PT, enquanto apenas 3 eram positiva.
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http://www.brasildefato.com.br/node/3320

Se voltarmos ainda mais, poderíamos falar da manipulação de trechos do último debate de Collor contra Lula, em 1989, favorecendo descaradamente a eleição do “candidato da Globo”. Ou ainda em 2006, quando ex jornalistas da própria Globo denunciaram ordens expressas de “esquecer” de reportagens de economia porque poderiam beneficiar a reeleição de Lula. Paralelamente, reportagens sobre a “Máfia das sanguessugas”, que comprometia o governo do PSDB em São Paulo também foi censurado, enquanto que na véspera (literalmente) das eleições presidenciais, notícias do chamado “Escândalo do Dossiê”, foram armadas com conivência inclusive de membros da Polícia Federal, para impedir a reeleição de Lula – o compromisso com a verdade é tão falso que neste mesmo dia ocorreu o trágico acidente aéreo do Voo 1907 da Gol, que se chocou com o jato executivo Legacy, matando 154 passageiros e foi notícia no mundo todo…e o “Jornal Nacional” nada noticiou, focando apenas no tal Dossiê. A quem se interessar, deixo novamente a sugestão do livro “O quarto poder – uma outra história”, de Paulo Henrique Amorim, que destrincha todos esses acontecimentos.
quarto poder
E esse tipo de jornalismo tendencioso, baixo, comprado, golpista, continua. É de um mau-caratismo hercúleo o que alguns jornalistas – se é que merecem essa designação frente aos demais profissionais honrados e comprometidos com os fatos e as verdades – têm feito diante das câmeras ou com suas palavras redigidas em jornais e revistas – muitos dos quais nos lembram verdadeiras latrinas!
Há alguns anos ignoro e não assisto à Rede Globo, como forma de protesto por sua linha editorial e também para não dá-la audiência (por sinal, sugiro que você, caro companheiro(a), que busca a imparcialidade e verdades, faça o mesmo). Quando quero informação, tenho optado por blogs e portais independentes. Telejornais restrinjo à TV Cultura ou à Bandeirantes/BandNews. Mas nem sempre. Explico-lhes.
Gosto muito da seriedade e sinceridade do âncora Ricardo Boechat. No entanto, no início deste ano, devido às suas férias, cedeu lugar ao senhor Boris Casoy. Uma lástima. Pessoa antiquada, prepotente e arrogante em suas colocações. Usa o espaço para opinar suas vontades fascistas e destilar seu ódio para com a sociedade e seu povo. E não estou me referindo aos episódios passados, como o de 2009 (quando, em uma das reportagens, dois garis desejavam feliz ano novo e este senhor proferiu as seguintes palavras, sem saber que o áudio de seu microfone estava ligado: “Que merda, dois lixeiros desejando felicidades… do alto das suas vassouras… Dois lixeiros… O mais baixo da escala do trabalho”).
A situação mais recente que presenciei – devem ter tido outras, mas as náuseas não permitiram que eu continuasse a assistir ao Jornal da Band antes do retorno de Boechat – foi quando Boris Casoy, em mais um de seus esdrúxulos comentários, proferiu palavras de ordem, incitando e defendendo a violência da Polícia Militar de São Paulo contra os manifestantes do Movimento Passe Livre. Seu olhar de ódio, fúria e rancor falavam por si; só não se via as veias saltadas em seu pescoço pois a papada senil associada ao paletó impediam.
(Em tempo: em 1968, a revista “O Cruzeiro” trouxe em uma reportagem de Pedro Medeiros, afirmando que Boris Casoy fazia parte do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), uma organização paramilitar anticomunista brasileira, de extrema direitafavorável ao regime militar. Boris nega, mas a história segue mal explicada).
E o que falar do senhor Alexandre Garcia? Em mais uma fala infeliz (ou seria maldosa mesmo?), disse que “o país não era racista até criarem as cotas”. Estaria querendo corroborar com seu chefe, Ali Kamel, e impulsionar as vendas do preconceituoso livro “Não somos racistas”? Não sei o que passou na cabeça desse jornalista. Mas recentemente, mostrou que provavelmente é ignorância e ódio. Ao se referir aos ingressantes da Universidade de Brasília (UnB), Garcia disse que “temos que pensar na qualidade do ensino. Aqui no Brasil ele é todo assim por pistolão, empurrãozinho e ajuda. A tradução disso é a cota. Aí põe um monte de gente [na faculdade]… Só 67%, você viu, passaram por mérito”.alexandre-garcia
Mais do que preconceito, mostrou desconhecimento e parece ter ignorado o levantamento feito sobre a aprendizagem desses alunos cotistas. Os estudos apresentados pelo Ministério da Educação desmentem o mito de baixa qualidade da educação pela presença de cotistas. Para tristeza de Alexandre Garcia e cia., os resultados desses estudantes têm desempenho acadêmico superior ou igual ao dos não-cotistas. Além disso, é entre eles que se encontram as menores médias de faltas! Como diz em seu artigo “As cotas para negros: por que mudei de opinião”, o juiz federal William Douglas, “as cotas são justas, honestas, solidárias, necessárias”.
Felizmente, nem todos aceitaram esse abuso por parte desse cidadão e logo se manifestaram publicamente. Uma das respostas mais compartilhadas foi justamente de uma professora de uma escola pública, que respondeu à altura (veja o vídeo aqui: https://www.youtube.com/watch?v=0HsbVxEzhdg).
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General Figueiredo e Alexandre Garcia. Crédito: limpinhoecheiroso.com
(Em tempo: tal como Boris Casoy, Alexandre Garcia apoiou a ditadura militar, e foi porta-voz do último presidente militar do Brasil, General João Batista Figueiredo).
Tenho profundo respeito pelos jornalistas. Mas apenas àqueles que são dignos de meu respeito e consideração. Lastimo que muitos deles se travestem de intelectuais e promovem através de seus pensamentos retrógrados, estúpidos, racistas e boçais, uma divisão social cada vez maior. Simplesmente por não aceitarem a premissa básica do ser humano: a vida em sociedade. Como bem previu Joseph Pulitzer, “com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma”.
Mais recentemente, o Papa Francisco alertou que “todo cuidado com a mídia, é pouco: ela deturpa, calunia e desinforma”.
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Entendem por que esses “jornalistas” e seu patronato são contra a Lei de Democratização da Mídia? Entendem toda a histeria dos barões da mídia pela aprovação do Direito de Resposta no país? (Mesmo com os votos contrários do PSDB e DEM!)
Hoje falam o que querem, inventam e distorcem notícias na certeza de que não precisam se retratar. Ou quando a fazem, minúsculas notas de rodapé são mais do que suficientes. Seguem pregando o golpismo midiático, enchendo a cabeça e direcionando as opiniões das pessoas de acordo com seus próprios interesses. Em uma real democracia, isso deve acabar.
*Professor, biólogo