Um rapapé demodé
Pedro Ayres
Jornalista
Há dias que os mais variados meios de comunicação, numa bem orquestrada ação lobista, divulgam o desejo do governo estadunidense de que a Presidenta eleita Dilma Rousseff vá a Washington para conversar com Barack Obama. O velho falcão do Departamento de Estado/CIA, agora embaixador no Brasil, Thomas Shannon, tem sido muito generoso em termos de entrevistas e pressões para que tal visita se realize. É evidente que em condições normais de temperatura, meio-ambiente e ânimo, não seria nada demais que a Presidenta eleita do Brasil mantivesse um bom diálogo com o presidente dos Estados Unidos. Só que agora o quadro desaconselha qualquer tête-à-tête entre os dois.
Do ponto de vista político o quadro é bem desinteressante, pois, enquanto o velho amigo do Negroponte e do Billy Joya fala em afáveis conversas diplomáticas. Em Washington, sob o patrocínio da bancada de ultradireita no Congresso dos EUA, liderada por Ileana Ros-Lehtinen, Connie Mack, Elliot Engel e Ron Klein, há uma reunião com prófugos e criminosos latino-americanos - Gonzalo Sánchez de Losada, Carlos Sánchez, por exemplo - para cuidar da destruição de todos os movimentos de integração regional, inclusive com o apelo ao tradicional Golpe de Estado,peça fundamental da política externa estadunidense.
Do ponto de vista econômico-comercial, segundo insuspeitos dados oficiais brasileiros, os Estados Unidos têm boa vantagem no intercâmbio comercial, pois, têm exportado mais do que importado. O que lhes dá um dos poucos saldos comerciais na atualidade. Querer que esse saldo seja muito superior ao existente, não só é um esbulho, como é desejar que a nossa economia volte a ser o que foi em priscas eras.
Se olharmos para o passado, logo veremos que a lógica norteadora de todas as práticas - diplomáticas, políticas, comerciais, econômicas e de ajuda - sempre teve os interesses de suas empresas como base teórica e objetiva de seus atos. Um fato que foi publicamente confessado pelo marine, general Smedley Darlington Butler, que agiu na América Central em defesa da United Fruit e outras empresas do nascente imperialismo estadunidense durante parte do século XX. Ou seja, não tem nenhum motivo ou razão geopolítica que nos ligue. Até porque para os EUA, nós, da América Latina, fazemos parte do "legado" que a "divina providência" e o seu manifest destiny lhes deixou como direito e herança.
Hoje, quando se vê o avanço da crise econômica estrutural do capitalismo, mais do que nunca é importante fazermos a pergunta: por que temos que salvar aqueles que foram nossos algozes? Entretanto, é o que desejam as autoridades estadunidenses, maiores ou menores, pombas ou falcões.
O que Barack Obama poderia dizer de novo? Que o seu país vai deixar o mundo em paz? Que vai abandonar a loucura de pensar que só os interesses do empresariado capitalista são importantes? Que buscarão um novo tipo de política externa, com um relacionamento baseado na real fraternidade e na solidariedade, a exemplo do que fazem Cuba e Venezuela?
Enfim, nada disso será dito e nada disso será feito. Mas, em troca, aberta ou veladamente lembrarão da 4ª Frota, da necessidade de combater o "narcotráfico e o terrorismo"(sic) e da fundamental importância que a atualização militar de nossas Forças Armadas seja realizado com equipamentos fabricados por eles. E assim, mais uma vez, o Brasil estará cumprindo um antigo ritual colonialista de preito e homenagem ao centro metropolitano. Uma prova de que tal visita é desnecessária, inoportuna e ofensiva aos novos objetivos da nação brasileira.
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Pedro Ayres
Jornalista
*cronicascriticasAL
Durante a campanha eleitoral circulou na internet uma pergunta espalhada por pessoas ou melhor, por topeiras:
BOA PERGUNTA!SE POR UMA INFELICIDADE, A DILMA FOR ELEITA, QUEM REPRESENTARÁ O BRASIL NAS REUNIÕES QUE FOREM REALIZADAS NOS EUA, CONSIDERANDO QUE ELA NÃO PODE ENTRAR NAQUELE PAÍS POR TER PARTICIPADO DO SEQUESTRO DO EMBAIXADOR AMERICANO QUANDO MILITANTE DOS MOVIMENTOS DE GUERRILHA EM NOSSO PAÍS?
Os fascistas poderiam perguntar diretamente ao governo americano:
Obama touts trade in meeting with Brazil?
Resposta à topeiras que acreditaram: Nos próximos dias, a presidenta eleita, Dilma Rousseff, se reúne com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. A data do encontro, na Casa Branca, em Washington, ainda está sendo definida, mas será antes da posse de Dilma. A agenda inclui uma série de temas, desde a crise cambial até o desenvolvimento sustentável e os projetos do pré-sal. Assessores do presidente norte-americano confirmaram que ele deverá vir ao Brasil no primeiro semestre de 2011.
A reunião de Dilma e Obama deve se dividir em duas etapas: uma em que ambos estarão com assessores brasileiros e norte-americanos e outra em que os dois líderes ficarão a sós. A previsão é que o encontro dure pouco mais de uma hora.
O presidente Lula e a presidenta eleita encontraram-se na semana passada, em Seul, com o presidente norte-americano durante a Cúpula do G20 (que engloba as maiores economias mundiais). Dilma e Obama já haviam se encontrado antes, em julho do ano passado, em Washington, quando Dilma ainda era chefe da Casa Civil da Presidência da República.
Assessores que preparam a reunião, em Washington, informaram ainda que Obama e Dilma deverão também tratar das preocupações dos empresários norte-americanos. Nos últimos meses, eles vêm perdendo espaço no Brasil para os chineses, no caso dos investimentos no país, assim como para os canadenses, no que se refere às exportações brasileiras.
A perda de espaço no mercado nacional acende a luz de alerta para os empresários norte-americanos, considerando que historicamente os Estados Unidos ocuparam o lugar de primeiros investidores no Brasil.
Em Washington, a presidenta eleita terá oportunidade de conversar também com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, e mais um grupo de autoridades do governo nas áreas de segurança nacional, energia e meio ambiente.
Em pauta, a guerra cambial – causada por medidas unilaterais, inclusive por parte dos Estados Unidos, para o fortalecimento da economia de certos países, e que gera um desequilíbrio global –, o estímulo ao uso de energia limpa, os projetos do pré-sal, ações de cooperação para os países pobres, em especial, o Haiti e, por fim, as questões relativas às mudanças climáticas e propostas para o desenvolvimento sustentável.
*CelsoJardim
A questão quente é ainda a dos Pigs, que estamos a tratar nestes dias.
Mas o mundo vai em frente, com ou sem Pigs.
E enquanto no nosso cantinho olhamos com desespero aos problemas caseiros que parecem os maiores do planeta, "fora" a vida continua e o futuro está a preparar-se.
Esta semana o Economist apresenta na capa um retrato de
Mao, que com as mãos cheias de dólares
prepara-se a comprar, um pedaço de cada vez, todo o Ocidente.
Exagero? Nem por isso. Aliás, a capa é um claro convite à reflexão, embora o tema está longe de ser novo.
Sabemos que no Oriente as estratégias, por razões diversas, não são de curto prazo e existe a capacidade de gerir o tempo e não de sofre-lo.
Um breve resumo:
- Em 1997, o Reino Unido devolve Hong Kong para a China
- desde 2004 é dado o direito de realizar depósitos em Yuan em Hong Kong
- em 2009, são lançadas as primeiras emissões de obrigações denominadas em Yuans
- em Março 2010, o premier Wen Jiabao manifesta publicamente a preocupação com os activos denominados em Dólares dos EUA
- hoje, Novembro de 2010, nasce a proposta para abrir a negociação de acções denominados em Yuans, na praça em Hong Kong
O caminho parece prosseguir numa percurso sólido, provavelmente estabelecido há muito.
Enquanto hoje o mercado (além de preocupação para Pigs) sente o peso do possível maior rigor da política monetária na China, devido ao
aumento da inflação que terá que descer mesmo à custa do crescimento, o governo chinês parece estar a preparar o terreno pouco a pouco para um Yuan mais "autoritário"
nos mercados internacionais: até muito recentemente, o Yuan era rigidamente fechados dentro das fronteiras nacionais, era proibida a sua exportação e isso limitava a capacidade de obtenção de um IPO (
Initial Public Offer, o início da participação duma sociedade na Bolsa).
Fora dos tecnismos: a abertura é muito significativa, pois uma vez que estará operacional, cerca da metade das trocas comerciais entre a China e os Países emergentes deixarão de ser feitas
em Dólares. A "nova" moeda será o Yuan, e China exportará não apenas mercadorias mas também acções.
Tudo isso ajuda a criar um mercado de negociação cada vez maior para o Yuan, afastando-o lentamente do controle do governo e da correlação com o Dólar, do qual o mesmo Yuan entende ocupar o lugar como moeda de referência internacional.
A valorização do Yuan será cada vez mais inevitável e cada vez mais interessante para a própria China: se realmente após a fase de angariação de fundos começará uma fase de compras no Ocidente, um Yuan mais forte tornará as aquisições ainda mais rentáveis.
Fonte:
Bimbo Alieno*InformInc