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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, fevereiro 12, 2011

E a fundação do Estado Palestino é uma questão de tempo.

Cerra larga o osso no Egito.
Nunca Dantes reconheceu Palestina

O Nunca Dantes viu antes

O Cerra do Egito largou o osso:

http://www.nytimes.com/

http://www.huffingtonpost.com/

E o Nunca Dantes, pouco antes de sair, reconheceu o Estado Palestino.

Como se sabe, o Oriente Médio Nunca será como Dantes.

Os Estados Unidos já mandaram mais.

Os Estados Unidos vão pagar a conta de subordinar o interesse nacional ao lobby israelense dentro dos Estados Unidos.

Os Porto Ricos cheios de petróleo – a Arábia Saudita é um bomba de gasolina dos Estados Unidos – verão que o Cala a Boca, Galvão tinha razão: depois de duas derrotas em seguida (Tunísia e Egito) há uma certa sensação de incômodo.

E a fundação do Estado Palestino é uma questão de tempo.

Esse pessoal do PiG (*) acha que o Celso Amorim estava lá para implicar com os Estados Unidos.

É que o Nunca Dantes e ele viam antes.

O Nunca Dantes é danado …

Paulo Henrique Amorim

Discurso do Presidente de Honra do PT


*comtextolivre

O PSDB é um partido de massa, mas massa cheirosa

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglT3XQ9pm1V49Wyg-Ns_4cDE2AvIOzlmQ6W1OaXbWdJYpMQUF8R6WE4RUnrbBUoYb67VWZ6RUCxJ_SSuHH5RjSAxNleF4C40VKynHLN6ZH2EKKtFp0xvHCVFajd9jzKzE_FaCsMidUPmU/s1600/tucano_ladrao.jpg


Justiça Eleitoral de RR cassa governador do PSDB por compra de votos
O governador reeleito de Roraima, José de Anchieta Júnior (PSDB), foi cassado pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) por usar a emissora de rádio do governo para se promover durante as eleições do ano passado.
A decisão foi por cinco votos a dois. O TRE determinou aplicação de multa de R$ 53.205 (50 mil Ufirs) e a diplomação de Neudo Campos (PP), o segundo colocado nas eleições. Ele deve assumir o governo de Roraima na segunda-feira.
De acordo com o TRE-RR, Anchieta poderá contestar a decisão no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mas terá que aguardar a decisão fora do cargo.
Anchieta Jr. perdeu o mandato por usar o programa de maior audiência da Rádio Roraima AM para se promover nas eleições. A emissora é vinculada ao governo.
A ação de cassação foi proposta por Neudo Campos. Ele embasou a acusação em áudios e transcrições de programas apresentados por Mário César Balduíno.
*celsojardim

O outro mundo possível chama-se Ecossocialismo

  




Entrevista com Joel Kovel, que teve um destacado papel em várias edições do Fórum Social Mundial (FSM), que nesta semana acontece em Dacar, e que afirma que o movimento deve ter por base uma práctica e uma lógica anticapitalistas. Por Kanya D’Almeida, da IPS.
Artigo | 11 Fevereiro, 2011 - 20:35
Joel Kovel, considerado o pai do movimento Ecossocialista.
Joel Kovel, considerado o pai do movimento Ecossocialista.
Considerado o pai do movimento Ecossocialista, Joel analisa a história, trajectória e o futuro do movimento. Também é um dos autores do Manifesto Ecossocialista, que detalha um caminho alternativo ao actual de destruição ambiental. Joel disse à IPS que é preciso dar nome a este “outro mundo” e posicioná-lo firmemente contra a ameaça do capital global.
IPS: Qual foi seu papel nas edições anteriores do FSM?
JOEL KOVEL: Ecossocialismo é um conceito inerentemente global, não internacional, por isso o FSM é um lugar ideal para discutir as suas principais ideias. Apresentámos o manifesto em Nairobi em 2007, e discutimo-lo com um grupo de centenas de pessoas. O Ecossocialismo cresce magnificamente no terceiro mundo, mas é o quarto mundo, dos indígenas e dos povos sem Estado, o que realmente está à frente neste assunto. As pessoas do quarto mundo vivem em relações comunitárias e são vítimas directas das corporações mineiras e petrolíferas predadoras que se enfiam no coração da terra e destroem as comunidades que são parte do solo. Por isso, dependemos do espaço único do FSM para difundir as ideias do Ecossocialismo.
IPS: O que se discute no FSM sobre a crise ecológica é suficiente?
JK: O FSM tende a concentrar-se em áreas específicas dentro do assunto mais amplo do ecocídio, ou ecodestruição, como as sementes geneticamente modificadas ou a acidificação dos oceanos e o desmatamento. É preciso atender esses assuntos, mas não é suficiente para lidar com a magnitude da crise, que exige um diagnóstico muito mais amplo do que apenas das causas subjacentes do problema. Há pouquíssimo rigor teórico ou agudo sobre a crise ecológica em geral no FSM por muitas razões. As pessoas estão tão aterradas, há tantas causas válidas para se lutar, os problemas são difusos, com diferentes assuntos arraigados em localidades dispersas e ninguém pode decidir quais são os limites entre uma crise e outra. São tantas interrogações, como a de quando a crise dos oceanos passou para a atmosfera. É compreensível que as pessoas se mostrem reticentes em questões simples como a proliferação das garrafas de plástico.
IPS: O que o FSM pode dar de novo para avançar rumo a uma solução?
JK: Actualmente existe um problema de definição no FSM. Surgem diferentes questões que são transtornos ecossistémicos, como a dúvida de quando se destrói a floresta pela monocultura, por exemplo. Cada crise ecossistémica tem sua própria realidade concreta e localização específica, como o desastre de Bhopal, na Índia. A verdadeira crise ecológica é o conjunto de todas elas, que se agravam com rapidez, se propagam pelo mundo e aumentam de forma exponencial. Se quisermos encontrar a causa das diferentes crises sistémicas, devemos olhar todas elas em conjunto e encontrar o que têm em comum. Cada problema tem a sua própria causa, mas, virtualmente, cada uma está vinculada à expansão capitalista e pode seguir-se o seu rastro até à porta de um banco ou uma potência imperial. Se o FSM pretende atender o problema, deve identificar e articular a questão do capital global, que pode ser pensada de forma metafórica como um cancro que apresenta metástase. Sem importar a forma escolhida para tratar a doença, deve reconhecer-se que é uma realidade.
IPS: Em que o FSM mudou desde sua primeira participação em 2003?
JK: Infelizmente, o FSM tem tendência a girar em falso devido aos limites inerentes ao seu lema de “outro mundo é possível”, que é repetido até cansar e acaba sendo desanimador porque nunca chega a ser realmente desenhado. Porém, facto é que o FSM é o único lugar no qual se pode articular uma nova realidade, não apenas pensar na possibilidade de uma. Logicamente, deveríamos poder dizer que este “outro mundo” é o do Ecossocialismo. Entretanto, dada a natureza das organizações não-governamentais e a sua especialização em certas crises, o FSM não se refere o suficiente à causa da crise do capitalismo. O Fórum deve identificar o inimigo e responder-lhe.
IPS: Pensa que Dacar oferece uma oportunidade para consegui-lo?
JK: Totalmente. A África é um dos lugares mais vulneráveis da Terra, o que é tremendamente irónico, pois é o menos industrializado do planeta. O continente é saqueado pela desapiedada extracção de recursos como em nenhum outro lugar do mundo, em primeiro lugar porque é rico. E, em segundo, pela falta de protecção para deter a chegada das companhias. Há mais incentivos na África para começar a pensar de forma sistémica. Dacar também é um centro mundial de pesquisa em ecologia, muito mais do que Nairobi, e até mesmo do que Mumbai. O calibre geral dos intelectuais de esquerda presentes é extremamente alto no Senegal.
IPS: O que o FSM pode fazer para lidar com os desafios apresentados no Fórum Económico Mundial que acontece quase simultaneamente?
JK: É preciso basear-se firmemente numa prática e uma lógica anticapitalistas. É difícil, mas certamente possível. Creio que acima de tudo o FSM é um lugar onde a grande variedade de tendências se encontra, conscientes de que os seus diferentes problemas são sistemáticos e têm a ver com a penetração do império e do capital global em cada recanto da Terra. Para continuar com a analogia médica, se você tem um paciente com um tumor no pâncreas, só é possível tratá-lo se os médicos concordarem que se trata de cancro. Só a partir daí se pode reunir e pensar no remédio, e há muitíssimas formas de curar isto.
11/02/2011, Nova York, Estados Unidos, IPS/Envolverde.

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

PT paulistano NÃO vende a mãe para Kassab

Resolução da Executiva Municipal do PT-SP:

A Executiva Municipal do Partido dos Trabalhadores, reunida hoje, terça feira dia 8 de fevereiro de 2011, diante das notas divulgadas pela imprensa, sobre supostas tratativas em relação às eleições de 2012 e 2014, com o prefeito Kassab, vem a público esclarecer o seu posicionamento frente ao governo municipal e ao processo de disputa eleitoral de 2012.

A Executiva deixa claro para a nossa militância, para a sociedade e para os partidos que tem constituído um campo democrático na cidade que:

1- Reafirma a nossa oposição ao governo Kassab na cidade de São Paulo. O Partido dos Trabalhadores na cidade continuará lutando contra o sucateamento dos transportes públicos, a ausência de políticas para minimizar os efeitos das enchentes, a odiosa política higienista que expulsa a população pobre do centro da cidade, o autoritarismo que tomou conta das subprefeituras, a falta de planejamento da gestão pública que se reflete na falta de vagas nas creches, e na terceirização sem controle da saúde, entre outras políticas prejudiciais aos paulistanos. Neste sentido, esclarece que não existe nenhuma “negociação” com o atual prefeito, pois temos claro que existem concepções e projetos totalmente distintos para a cidade.

2- Aproveitamos este momento para convidar todas as forças organizadas da cidade, movimentos sociais, movimentos por direitos, sindicatos e partidos para intensificarem a oposição às políticas antipopulares do governo Kassab.

3- O Partido dos Trabalhadores, que já foi por duas vezes governo em São Paulo, tem sido porta voz de diversas reivindicações e posições de importante setores sociais, tem lutado para que todos tenham um direito a uma cidade justa, equilibrada e sustentável, o que não tem sido garantido nos últimos anos, manterá sua coerência e defesa de sua base social. Diante disso, procurará construir um projeto político para a cidade e uma candidatura petista a ser apresentada e discutida com todos os aliados, para a disputa da prefeitura em 2012.

4- A Executiva municipal continuará zelando para que o debate democrático seja feito de maneira ampla em todas as instancias partidárias, envolvendo as direções zonais, os setoriais, dialogando sempre com as Direções Estadual e Nacional, e como é do Estatuto partidário, concluindo esse processo no Encontro Municipal que se realizará em 2012, instancia soberana e legitima para decidir sobre o programa, as alianças e a candidatura que lançaremos.

São Paulo, 8 de fevereiro de 2011

Executiva Municipal do DM PT-SP

*esquerdopata

Aos crimes da ditadura, tolerância zero



por Izaías Almada
A intransigência costuma ser um sentimento ou uma atitude humana mais arraigada entre nós do que propriamente a tolerância. Arriscaria a dizer que, em algumas situações, a intransigência é até mais apreciada, em particular quando se reveste de manifesto confrontamento às injustiças sociais. Ou contra as injustiças de modo geral, embora nem sempre seja fácil no mundo de hoje, dominado pela informação parcial e irresponsável, pela quase total mercantilização das relações humanas, abaixarmos o polegar acusador com a segurança de um imperador da Roma antiga.

Não transigir pode significar, por exemplo, ser coerente na defesa de determinados princípios, de determinadas ideias; significa ter força de caráter. Digamos que seria esse o lado positivo da intransigência, bem consideradas as circunstâncias em que ela se dá. Mas como tudo na vida, a intransigência tem também o seu lado nocivo, prejudicial ou até mesmo irracional. Nesse caso, o uso do antídoto da tolerância como remédio é sempre recomendável.

Tais reflexões, até comezinhas para espíritos mais eruditos, vêm a propósito de um tema bastante delicado na atual conjuntura política brasileira, qual seja, o início dos trabalhos da “Comissão da Verdade” na área dos Direitos Humanos e a esperada solução para os crimes de tortura e sequestro de cidadãos brasileiros durante a ditadura civil/militar de 64/68.

Tema delicado, espinhoso para muitos, mas que deve ser enfrentado com serenidade e determinação pelo novo governo da presidenta Dilma Roussef. Não se trata, e aqui faço coro com muitos defensores da tese, de revanchismo ou coisa do gênero, mas de justiça. Justiça não apenas aos que foram torturados, mas, sobretudo, aos mortos e desaparecidos políticos, pois para esses a tortura significou o seu assassinato.

A prática da tortura é um crime contra a Humanidade e, como tal, abominável e imprescritível. Cometido em que tempo for e sob qualquer condição, não se extingue e será passível de punição. Crime que não se beneficia de anistias, a não ser aquelas ainda geridas impropriamente num contexto de ilegalidade constitucional.

No caminho de uma possível e desejável maturidade democrática, o Brasil ainda se comporta como adolescente, com os problemas próprios inerentes a essa fase da vida. Contudo, torna-se imperioso que a nova geração de militares brasileiros, muitos deles já conscientes de que pertencem a um novo país, já muito diferente daquele herdado na vigência da guerra fria e de um conceito de segurança nacional ultrapassado, torna-se imperioso – repito – que trabalhem junto aos colegas ainda renitentes para apagar essa mancha na história do país.
Esse novo país que precisa ajustar-se internamente para fazer frente aos grandes desafios que se avizinham. Erradicar a pobreza, ampliar o emprego formal e distribuir a riqueza com mais justiça social, conquistar em definitivo sua soberania, defender a Amazônia, o Pré Sal, os Aquíferos, amazônico e guarani, estimular a cidadania e a convivência democrática, ampliar o acesso aos estudos, intervir na vergonhosa mercantilização da saúde, combater firmemente a corrupção e a impunidade.

Tarefa hercúlea, mas não impossível. E para isso, um bom começo é ajustar contas com o passado. Sob certos aspectos, em particular nessa questão de punição aos torcionários, penso que o bordão do momento deveria ser: tolerância zero.

Fonte: http://www.rodrigovianna.com.br/

Chico - canta

DEUS LHE PAGUE

Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer, e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague



Pelo prazer de chorar e pelo "estamos aí"
Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
Um crime pra comentar e um samba pra distrair
Deus lhe pague

Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi
Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
Deus lhe pague

Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague
*umpoucodetudodetudoumpouco

O sonho de Nabucodonosor


Por Frei Betto *

Os países ricos do Ocidente, cuja democracia se baseia no poder do dinheiro, não têm princípios, apenas interesses. Acusam Cuba de ser uma ditadura que não respeita os direitos humanos por não admitirem o caráter socialista daquela revolução que, há mais de 50 anos, resiste às agressões do maior império econômico e bélico da história da humanidade.

No entanto, tecem loas à China. Fazem vista grossa ao regime escravocrata de mão de obra barata, onde se fabrica tudo aquilo que, no Ocidente, exigiria pagar salários mais altos, reduzindo a margem de lucro das empresas ocidentais. Inúmeros produtos em oferta em nossas lojas, embora grifadas por marcas originárias do Ocidente, são “made in China”.

Para governos como o dos EUA, do Reino Unido, da França e da Alemanha, o fato de um ditador como Hosni Mubarak ocupar, por 30 anos, o poder no Egito não tem a menor importância. Desde que sirva a seus interesses geopolíticos numa região explosiva. Vale para Mubarak o que John Foster Dulles dizia do ditador Anastácio Somoza, da Nicarágua: “É um filho da p., mas é nosso filho da p.”

De olho no petróleo, os governos ocidentais sempre respaldaram os governos tirânicos do mundo árabe. Negócios, negócios, princípios à parte. Qual potência européia rompeu com uma das tantas ditaduras militares que assolaram a América Latina nas décadas de 1960 e 1970?

O ocidente nunca se incomodou com a ausência de eleições periódicas nos países árabes, a opressão da mulher, a perseguição aos homossexuais, o luxo nababesco dos governantes frente à miséria da grande maioria da população. Quantos ditadores africanos engordam os cofres dos bancos europeus?

Agora os EUA estão como o rei da história de Hans Christian Andersen: nu, despido de sua arrogância supostamente democrática, de sua prepotência imperial. E o pior, colocado entre a cruz e a caldeirinha: se Mubarak permanece, a Casa Branca sustenta uma ditadura e despreza o clamor do povo egípcio. Se é derrubado, há o risco de o Egito se transformar, como o Irã, numa nação islâmica, hostil a Israel e aos propósitos ocidentais.

Narra a Bíblia que o profeta Daniel (2, 31-36) foi convocado para interpretar um sonho que tanto inquietava o rei Nabucodonosor, da Babilônia: “Era uma grande estátua, alta e muito brilhante. Ela estava bem à frente de vossa majestade e tinha aparência impressionante. A cabeça era de ouro maciço; o peito e os braços eram de prata; a barriga e as coxas, de bronze; as canelas de ferro e os pés, parte de ferro e parte de barro. Vossa majestade contemplava a estátua quando, sem ninguém jogar, caiu uma pedra que bateu exatamente nos pés de barro e ferro da estátua, quebrando-os. Em segundos, tudo desmoronou. Ferro, barro, bronze, prata e outro ficaram como palha no terreiro em final de colheita, palha que o vento carrega sem deixar sinal. Depois a pedra que tinha atingido a estátua se transformou numa enorme montanha que cobriu o mundo inteiro”.

A pedra, no caso do mundo árabe, é a ânsia popular de democracia entendida como justiça social e paz. O que pensa um iraquiano vendo seu país há anos dominado por tropas ocidentais que tratam os habitantes como escória da humanidade? O que pensa um afegão vendo aviões ocidentais bombardearem aldeias, matando crianças, mulheres, idosos, sob a desculpa de se tratar de um refúgio talibã?

A pedra é a cultura religiosa, muçulmana, que grassa naqueles países, e que nada tem a ver com o suposto cristianismo do Ocidente. Em nome de Deus e de Jesus, o Ocidente subjugou durante séculos, a África, a Ásia e a América Latina. Escravizou habitantes, extorquiu riquezas, transferiu para a Europa preciosidades arqueológicas, como a pedra de roseta – hoje no Museu Britânico -, fragmento de uma estela de granodiorito do Egito antigo, cujo texto foi crucial para a compreensão moderna dos hieróglifos egípcios. Sua inscrição registra um decreto promulgado em 196 a.C., na cidade Mêmfis, em nome do rei Ptolomeu V.

O pensamento islâmico não distingue a fronteira entre religião e política. Esta deve ser monitorada por aquela. E a autoridade religiosa é encarada, como ocorria no Ocidente medieval, detentora do poder político.

Para tal conjuntura, o Ocidente só conhece uma resposta: armas, guerras, ocupações, subornos e ditaduras. Porque é incapaz de empreender o diálogo inter-religioso, de reconhecer o direito daqueles povos à autodeterminação, de pautar-se por princípios e não pela voracidade obsessiva do mercado por lucro.

Se o fundamentalismo islâmico incute em jovens a mística do martírio, introduzindo uma forma de terrorismo incontrolável, o fundamentalismo do mercado incute nos ocidentais a convicção de que igrejas e mesquitas devem ceder lugar aos shopping centers, templos de consumismo e miniaturização do paraíso na Terra.

Eis e pergunta que, esta semana, se repete em Dacar no Fórum Social Mundial, e exigem resposta urgente: Um outro mundo é possível?

* Frei Betto é escritor, autor de Calendário do poder (Rocco), entre outros livros.
*observadoressociais

Band censura Luíza Erundina e escancara corrupção na imprensa



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Os donos de uma empresa de ônibus ou avião, que tem concessão pública de linhas, podem se negar a transportar passageiros porque "não vão com a cara" deles?

É óbvio que não! Uma concessão pública serve ao público como um todo e não pode discriminar ninguém. Precisa atender e tratar a todos com impessoalidade.

Mas uma concessão pública de rádio se sentiu no direito de negar a transportar a palavra pelas ondas de rádio de uma deputada com mandato popular, como retaliação.

A Rádio Bandeirantes cancelou uma entrevista marcada com a deputada Luíza Erundina (PSB/SP), apenas porque ela apresentou um projeto de interesse público que contraria aos interesses econômicos dos donos da empresa.

É a mais clara prova cabal de que liberdade de imprensa, no Brasil, só existe de fato para o dono da rádio e TV.

Os donos das rádios e TVs censuram e sabotam quem não gostam e quem não atendem seus interesses corporativos e econômicos.

Corrupção ativa e chantagem

O caso é tão grave, que nem precisa esperar por mudança de lei nenhuma. O Ministério Público Federal precisa considerar o enquandramento dos responsáveis pela retaliação na rádio, em crimes de corrupção ativa e chantagem. Eles só fornecem seus microfones a quem "come na mão deles". Ou seja, a rádio favorece os políticos com exposição na mídia, mediante troca de "favores" no Congresso à seus interesses empresariais privados.

O controle da mídia existe, só que não é social, é privado, exercido pelos donos das emissoras, como se fossem donos de uma propriedade privada absoluta, onde mandam e desmandam, só entra quem eles deixam, e expulsam quem bem entendem. É uma ditadura privada sobre bens públicos (as frequências de rádio e TV), exercida com as técnicas de censura fascista.

Segue a íntegra da nota da Deputada Luíza Erundina:


Veto ao interesse público e ao direito à informação

A produção do programa Manhã Bandeirantes, na Rádio Bandeirantes de São Paulo, agendou uma entrevista por telefone com a deputada Luiza Erundina para esta quarta-feira, 9 de fevereiro, às 10h30. A pauta seria o Projeto de Lei n° 55/2011, apresentado pela deputada Erundina na Câmara, que institui referendo popular obrigatório para a fixação dos vencimentos do Presidente da República e dos parlamentares.

O projeto é de notório interesse público visto que o reajuste de 62% nos subsídios dos parlamentares aprovado no final de 2010 foi implacavelmente criticado por grande parte da população brasileira e pela imprensa. Inclusive, no dia anterior à entrevista com a deputada Luiza Erundina, o apresentador do programa Manhã Bandeirantes, José Luiz Datena, questionou a dificuldade para o reajuste do salário mínimo dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros enquanto que, o reajuste de 62% para os parlamentares foi votado e aprovado em caráter de urgência pela Casa, com voto da imensa maioria dos congressistas.

Nesse contexto estávamos, a deputada Luiza Erundina e sua assessoria, aguardando a ligação para a participar do programa quando, 1h antes da possível participação, recebemos uma outra ligação cancelando a entrevista. Tratava-se de um veto da direção do grupo. Questionados sobre o por que da censura, do veto à fala de uma parlamentar brasileira em um veículo da imprensa livre, sobre projeto de interesse público, fomos surpreendidos com uma justificativa de cunho absolutamente pessoal: “Este veto é uma resposta aos ataques que a deputada vem fazendo à Rede Bandeirantes”.

Ora, a deputada Luiza Erundina apresentou requerimento junto à Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da Câmara, para a realização de audiências públicas com o objetivo de debater a renovação de concessões públicas de rádio e TV. E ela não fez isso como um “ataque” pessoal à Rede Bandeirantes. Ela apresentou requerimentos solicitando audiências públicas para debater o processo de renovação de emissoras ligadas à Rede Globo, à Rede Record e à Rede Bandeirantes, não como um ataque a essas emissoras, mas com o objetivo de motivar mais democracia e transparência no processo de renovação das concessões PÚBLICAS de rádios e TVs. (REQ-205/2009 CCTCI e REQ-220/2009)

O pleito da deputada Luiza Erundina foi absolutamente isento de pessoalidade. Apenas suscita o uso de instrumentos democráticos do Congresso – as audiências públicas – para a avaliação de um serviço de interesse público, antes da sua renovação por mais 15 anos. Já o posicionamento da rede Bandeirantes revela exatamente o contrário: numa retaliação ao exercício parlamentar da deputada, priva a sociedade de ter mais informações sobre um Projeto de Lei de absoluto interesse público, já que os subsídios dos representantes do povo são oriundos do orçamento público, que pertence ao povo. Episódios como este, violam o direito à informação, e revelam que a liberdade de expressão no Brasil, definitivamente, não é uma realidade. Isenção, impessoalidade, interesse público, direito à informação ainda são expressões estranhas à maioria dos meios de comunicação. Lamentável para as comunicações. Lamentável para o Brasil.

*osamigosdopresidentelula