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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, julho 07, 2011

Deleite - Rappa / Maria Rita



Que Humanidade é Esta?
JOSÉ SARAMAGO
Se o homem não for capaz de organizar a economia mundial de forma a satisfazer as necessidades de uma humanidade que está a morrer de fome e de tudo, que humanidade é esta? Nós, que enchemos a boca com a palavra humanidade, acho que ainda não chegámos a isso, não somos seres humanos. Talvez cheguemos um dia a sê-lo, mas não somos, falta-nos mesmo muito. Temos aí o espectáculo do mundo e é uma coisa arrepiante. Vivemos ao lado de tudo o que é negativo como se não tivesse qualquer importância, a banalização do horror, a banalização da violência, da morte, sobretudo se for a morte dos outros, claro. Tanto nos faz que esteja a morrer gente em Sarajevo, e também não devemos falar desta cidade, porque o mundo é um imenso Sarajevo. E enquanto a consciência das pessoas não despertar isto continuará igual. Porque muito do que se faz, faz-se para nos manter a todos na abulia, na carência de vontade, para diminuir a nossa capacidade de intervenção cívica. 
*aartedoslivrepensadores

A REBELIÃO DOS HOMENS

Imagine o leitor que em fevereiro de 1848 já houvesse a rede mundial de computadores. Vamos supor que, em lugar de imprimir os primeiros e poucos exemplares do Manifesto Comunista, Marx e Engels tivessem usado a internet, de forma a que todos os trabalhadores europeus e norte-americanos pudessem ler o texto. Qual teria sido o desenvolvimento do processo? Como sabemos, o ano de 1848 foi de rebeliões operárias na Europa, reprimidas com toda a violência.
O capitalismo selvagem de então, um dos filhos bastardos da Revolução Francesa, sentiu-se animado pela derrota dos trabalhadores. Na França a burguesia tomou conta do poder e, derrotada a monarquia, assumiu-o sem disfarces e sem intermediários, em um período que os historiadores denominam de “A República dos homens de negócios”. Os trabalhadores e intelectuais tentaram, mais tarde, em 1871, logo depois de a França ser derrotada pelos alemães, criar um governo autônomo e igualitário em Paris. Com a ajuda dos invasores, o Exército de Thiers executou 20.000 parisienses nas ruas.
As manifestações populares dos países árabes, que os governos e a imprensa dos Estados Unidos e da Europa saudaram como o fim dos tiranos e o início da democratização do mundo islâmico, entram em nova etapa, ao atingir os países ricos. Os analistas apressados são conduzidos a rever suas conclusões. O mal-estar que levou os povos às ruas não se limita ao norte da África: é fenômeno mundial. Uma das contradições do capitalismo, principalmente nessa nova etapa, a do imperialismo desembuçado, no qual os governos nacionais não passam de meros servidores dos donos do dinheiro, é a de sua incapacidade em estabelecer limites. Hoje, nos Estados Unidos – que foram, em um tempo, o espaço para a realização de milhões de pessoas mediante o trabalho – a diferença entre os ricos e os pobres é maior do que durante toda a sua História, incluído o tempo da escravidão. Um por cento da população norte-americana detém 40% de toda a riqueza nacional. A mesma situação se repete em quase todos os paises nórdicos.
Quando redigíamos este texto, milhares de pessoas se encontravam acampadas no centro de Madri, em continuidade ao movimento Democracia Real, Já, que se iniciou em 15 de maio, com protestos em todas as grandes cidades espanholas. A Espanha hoje está dominada pelos grandes banqueiros e companhias multinacionais, que não só exploram o trabalho nacional, como vivem de explorar os paises latino-americanos. Bancos como o Santander – cujos resultados mais expressivos ele os obtém no Brasil – dividem com os dois partidos que se revezam no poder (os socialistas e os conservadores) o resultado do assalto à economia do país. É contra esse sistema odioso que os espanhóis foram às ruas, e nas ruas continuam.
Não são apenas os jovens desempregados que se indignam. São principalmente as mulheres e homens maduros, os que estimulam o movimento. Eles sentem que seus filhos e netos estarão condenados a um futuro a cada dia mais tenebroso e mais violento, se os cidadãos não reagirem imediatamente. Os espanhóis estão promovendo a articulação internacional de movimentos semelhantes, que ocorrem em outros países, como a Islândia, a França, a Inglaterra e mesmo os Estados Unidos. Se o sistema financeiro se articulou, com o Consenso de Washington e os encontros periódicos entre os homens mais ricos do planeta, a fim de dominar e explorar globalmente os povos, é preciso que os cidadãos do mundo inteiro reajam.
Marx queria a união de todos os proletários do mundo. O movimento de hoje é mais amplo e seu lema poderia ser: Seres humanos do mundo inteiro, uni-vos.

WIKILEAKS: Jarbas Vasconcelos ‘previu’ que Lula não terminaria segundo mandato

Em conversa com diplomatas dos EUA em setembro de 2006, ex-governador do Pernambuco afirmou que reeleição lulista seria uma “tragédia”

Igor Ojeda, especial para a Pública

O segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva seria tão ruim que o ex-presidente poderia não terminá-lo, disse o ex-governador de Pernambuco (1999-2006) Jarbas Vasconcelos a diplomatas dos EUA que o visitaram em Recife em 5 de setembro de 2006, cerca de um mês antes do primeiro turno das eleições presidenciais que reelegeram Lula para mais quatro anos de governo. Para o atual senador pernambucano pelo PMDB, a reeleição do ex-presidente seria uma “tragédia”.

A conversa foi relatada em um telegrama da embaixada de Brasília dez dias depois. O documento, redigido pelo próprio embaixador estadunidense na época, Clifford Sobel, afirma que Vasconcelos “descreveu um cenário político desanimador”. Ele não especificou como o segundo mandato lulista terminaria de forma prematura, mas “pareceu sugerir que seria uma renúncia em virtude de uma implacável oposição”. Para o atual senador, Lula teria um páreo duro com o novo Congresso.

*esquerdopata

Liderança gay pede cassação do registro de psicólogo de Malafaia


Liderança gay pede cassação do registro de psicólogo de Malafaia



Líderes do movimento gay apresentaram ao CRP (Conselho Regional de Psicologia) do Rio de Janeiro pedido de cassação do registro profissional do pastor Silas Malafaia (foto), 52, sob a acusação de práticas homofóbicas. O pastor se formou em psicologia clínica e não exerce a profissão, mas faz com frequência menção a sua formação nas pregações aos fiéis.

O CFP (Conselho Federal de Psicologia), ao qual o CRP está atrelado, baixou em janeiro de 1999 resolução proibindo os psicológicos de se referirem à homossexualidade como distúrbio e também de fazer declarações em público discriminatórias contra os gays.

Malafaia é pastor da Assembleia de Deus, da subdenominação Vitória em Cristo. Ele tem se destacado por sua pregação contra o movimento reivindicatório por igualdade dos gays.

No começo do ano, ele distribuiu no Rio outdoors com a mensagem de que “Deus fez o macho e a fêmea”. Depois, em maio, em uma audiência pública na Câmara dos Deputados sobre a reforma do Estatuto das Famílias, disse que a legalização do relacionamento homoafetivo -- que acabou ocorrendo -- seria o primeiro passo para se aprovar “tudo o que se imaginar”, inclusive relação sexual com cachorro e cadáver. (ver vídeo)

O MP (Ministério Público) abriu inquérito para apurar se a intenção do pastor, com essas declarações, foi pregar a homofobia.

O CRP-Rio já tinha recebido no ano passado uma reclamação contra Malafaia, mas não deu em nada.

'Vamos colocar na lei tudo que se imaginar'
*umpoucodetudodetudoumpouco







América Latina tem tudo para ser rica e justa, diz Lula no Chile


“O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na segunda-feira, em visita ao Chile, que a América do Sul tem, atualmente, uma oportunidade "histórica" para ser uma região "rica, desenvolvida e socialmente justa". Ele esteve em Santiago para participar das comemorações pelos 200 anos do Congresso Nacional chileno. As informações são da Agência ANSA.

"Temos uma oportunidade histórica, extraordinária. Basta acreditarmos que é possível dar um passo a mais e fazer com que a América do Sul se transforme em uma região rica, desenvolvida e socialmente justa", disse. De acordo com Lula, este desenvolvimento é um fator decisivo para a construção de um mundo multipolar democrático.

Citando o Brasil, Lula também destacou que a América do Sul "nunca viveu" com tanta paz e democracia como atualmente. Segundo ele, a região não enfrenta nenhum problema grave entre os países, tampouco possui armas nucleares, as quais, segundo Lula, nenhum Estado latino-americano quer ter. "Nossas políticas nacionais de Defesa são de caráter dissuasivo."

O ex-presidente também ressaltou a necessidade da integração na América Latina, como forma de combater a "grave desconfiança" existente entre os países. Ele contou que "não se conforma" como o México "tem medo" do Brasil, e não dos Estados Unidos, pois, segundo ele, um empresário mexicano prefere fechar acordos com os norte-americanos em vez de se aliar com a indústria automotriz brasileira.

Além de participar das celebrações pelos 200 anos do Congresso Nacional chileno, Lula se reuniu com o presidente Sebastián Piñera e com os ex-mandatários Patricio Aylwin, Eduardo Frei e Ricardo Lagos. Para esta terça-feira, ele deve reunir-se com o ministro de Minas e Energia do Chile, Laurence Golborne, e encontrar-se com os 33 mineiros que foram resgatados em outubro do ano passado.”
*Brasilmostraatuacara

Audiência e receita da TV Cultura (do PSDB) desabam

Estudo interno da  TV Cultura  paulista, dirigido pelo PSDB  mostra ""traço"" no Ibope, captação de recursos abaixo do previsto e maior gasto com funcionários afastados

A média de audiência atual da TV Cultura, mantida pelo governo do PSDB no estado de São Paulo, é a mais baixa da História. Corresponde a 0,8 ponto, o equivalente a 47,2 mil domicílios. O "traço" de audiência se reflete na arrecadação da emissora: em maio, sete meses após a eleição do ex-secretário de Cultura João Sayad como presidente da Fundação Padre Anchieta, a receita obtida foi 58% menor que o previsto. Em 12 meses, período em que cortou 993 vagas (46% dos funcionários fixos), a Cultura perdeu 27% de sua audiência média.

Esse cenário não é uma visão externa pessimista dos rumos da fundação. Trata-se de relatório interno produzido pela emissora, ao qual o Estado teve acesso com exclusividade. Produzido para exame da direção e do Conselho Curador, o relatório pinta um retrato pouco animador da atual gestão.

Segundo a emissora, o documento "prova momento de transparência" na administração

Historicamente, as audiências da Cultura eram baixas, mas nunca chegaram a tal patamar. Raros programas ultrapassam 1 ponto de audiência (share de 1,8). A queda média de audiência é de 26% em um ano, e a Cultura ficou 21 dias no penúltimo lugar e 10 dias no último na Grande São Paulo em maio.

Todos os indicadores do relatório são negativos. A meta de arrecadação de fontes externas, em maio, era de R$ 4,7 milhões, e a emissora conseguiu levantar R$ 1,99 milhões. O governo investe R$ 84 milhões na Cultura, que tem dividido com a TV Gazeta os últimos lugares de audiência.

Ao assumir, Sayad adotou como estratégia enxugar custos e manter o equilíbrio das contas com corte de pessoal. "Mas corremos o risco de a TV não aguentar esse processo. É impossível de sustentar", afirmou um conselheiro, que prefere não se identificar. "Embora haja corte brutal de funcionários, há um aumento inexplicável de despesa com funcionários afastados."

O estudo aponta que 22 funcionários recebem pela emissora para, na verdade, atuarem na Secretaria de Estado da Cultura. Dividindo-se o valor pago mensalmente pelo número de empregados, chega-se a salários mensais de R$ 13 mil - certamente, funcionários da cúpula da secretaria. No Conselho, que antigamente não tinha remuneração, dois funcionários recebem R$ 45 mil.

Disputa. Os problemas de gestão da TV Cultura expõem com nitidez as divergências internas do PSDB, partido que controla a emissora desde o fim dos anos 1990. Em cinco anos, a emissora teve três presidentes, cada um ligado a um governador.

Marcos Mendonça, no período 2004-2007, começou o mandato no governo Geraldo Alckmin, mas teve de sair por exigência de José Serra. O tucano escolheu como substituto o jornalista Paulo Markun, que o desagradou progressivamente, por não conseguir "enxugar" a televisão no ritmo almejado.

Ao deixar o governo para disputar as eleições, em 2010, Serra encaminhou uma nova mudança: instruiu o sucessor, Alberto Goldman, a apoiar a eleição do então secretário de Cultura, João Sayad, para o comando. Mas o custo político que o desmonte da Cultura traz, segundos fontes, tem desagradado ao atual governador.
*osamigosdopresidentelula

A institucionalização da política de assistência social no Brasil

quarta-feira, julho 06, 2011

A falta de José de Alencar

Há políticos que, embora não se lhes perceba a importância que têm como articuladores – e aí reside uma de suas maiores virtudes – fazem muita falta, quando se trata da obra hercúlea de dar estabilidade política a um governo transformador que, necessariamente enfrenta todo tipo de pressões – internas e externas – e tem de acomodar umas para que possa vencer outras.

O momento que está vivendo o governo Dilma tem essa sombra, a da ausência de José de Alencar.

Dilma está agindo – e ninguém pode duvidar disso um instante sequer – em defesa da lisura dos negócios públicos.

Mas a política, muitas vezes, oculta interesses que dificilmente se percebem.

Ninguém tenha dúvida: embora o fogo se volte contra Alfredo Nascimento, o Ministro dos Transportes, existe muita gente interessada não na honestidade dos negócios públicos, mas no abocanhamento de fatias de poder. E, claro, de influência sobre estes mesmos negócios públicos.

Alencar, com a sua serenidade matreira, de mineiro que já visto muito de tudo, certamente estaria jogando, agora, um papel importante em não deixar que as ações de Dilma sejam percebidas em sua base no Congresso como uma ameaça à coalisão de Governo. Ou, mais claramente, que fossem usadas como tal por quem deseja vantagens políticas ou por ser, simplesmente, ingênuo e não entender que a solidez da maioria é uma ferramenta sem a qual não se governa.

A presidenta tem de traçar seus próprios atos, não de agir sob pressão. E seus colaboradores devem entender que precisam preserva-la destas pressões, em lugar de querer “dar satisfações” imediatas à mídia.

Até porque as iniciativas moralizantes têm sido dela, anteriores até à divulgação pela mídia.

Mas, quando são divulgadas, ela acaba sendo estimulada a reagir a elas, quase que para “provar” que está agindo quando, na verdade, já agiu.

E aí começam as idas e vindas, desnecessárias.E que são gasolina na fogueira oposicionista.

Segunda-feira, a declaração pleonástica de que mantinha a confiança no Ministro. Ora, se alguém está ministro, é porque, até ali, mantem a confiança da Presidenta. Portanto, é uma não-notícia divulgada como notícia. Quem gosta de futebol já ouviu isso centenas de vezes sobre técnicos e sabe no que dá. O que é dito é entendido como o inverso, inevitavelmente.

Ontem, a rebeldia do sr. Luis Pagot de declarar-se em férias, motivou a divulgação de uma nota canhestra através da agência Brasil, do governo, de que a presidenta, então, o demitiria ao fim do período das férias. Para que? A exoneração, se é o caminho, não depende disso.

Alencar, a esta altura, talvez estivesse dizendo a Dilma que ela, a presidenta, é como um general. E o general não tem, por mais coragem e desejo que possua, o direito de descer ao campo de batalha. Porque é preciso estar lá, do alto, conduzindo a guerra. Seus auxiliares, se tiverem a sabedoria do jogador de xadrez – e a política é um xadrez, jamais expõem “o rei” nos seus movimentos.

E não o sujeitam, como se diz lá no Sul, às resbaladas e prancheaços do combate raso.