A falta de José de Alencar
Há políticos que, embora não se lhes perceba a importância que têm como articuladores – e aí reside uma de suas maiores virtudes – fazem muita falta, quando se trata da obra hercúlea de dar estabilidade política a um governo transformador que, necessariamente enfrenta todo tipo de pressões – internas e externas – e tem de acomodar umas para que possa vencer outras.
O momento que está vivendo o governo Dilma tem essa sombra, a da ausência de José de Alencar.
Dilma está agindo – e ninguém pode duvidar disso um instante sequer – em defesa da lisura dos negócios públicos.
Mas a política, muitas vezes, oculta interesses que dificilmente se percebem.
Ninguém tenha dúvida: embora o fogo se volte contra Alfredo Nascimento, o Ministro dos Transportes, existe muita gente interessada não na honestidade dos negócios públicos, mas no abocanhamento de fatias de poder. E, claro, de influência sobre estes mesmos negócios públicos.
Alencar, com a sua serenidade matreira, de mineiro que já visto muito de tudo, certamente estaria jogando, agora, um papel importante em não deixar que as ações de Dilma sejam percebidas em sua base no Congresso como uma ameaça à coalisão de Governo. Ou, mais claramente, que fossem usadas como tal por quem deseja vantagens políticas ou por ser, simplesmente, ingênuo e não entender que a solidez da maioria é uma ferramenta sem a qual não se governa.
A presidenta tem de traçar seus próprios atos, não de agir sob pressão. E seus colaboradores devem entender que precisam preserva-la destas pressões, em lugar de querer “dar satisfações” imediatas à mídia.
Até porque as iniciativas moralizantes têm sido dela, anteriores até à divulgação pela mídia.
Mas, quando são divulgadas, ela acaba sendo estimulada a reagir a elas, quase que para “provar” que está agindo quando, na verdade, já agiu.
E aí começam as idas e vindas, desnecessárias.E que são gasolina na fogueira oposicionista.
Segunda-feira, a declaração pleonástica de que mantinha a confiança no Ministro. Ora, se alguém está ministro, é porque, até ali, mantem a confiança da Presidenta. Portanto, é uma não-notícia divulgada como notícia. Quem gosta de futebol já ouviu isso centenas de vezes sobre técnicos e sabe no que dá. O que é dito é entendido como o inverso, inevitavelmente.
Ontem, a rebeldia do sr. Luis Pagot de declarar-se em férias, motivou a divulgação de uma nota canhestra através da agência Brasil, do governo, de que a presidenta, então, o demitiria ao fim do período das férias. Para que? A exoneração, se é o caminho, não depende disso.
Alencar, a esta altura, talvez estivesse dizendo a Dilma que ela, a presidenta, é como um general. E o general não tem, por mais coragem e desejo que possua, o direito de descer ao campo de batalha. Porque é preciso estar lá, do alto, conduzindo a guerra. Seus auxiliares, se tiverem a sabedoria do jogador de xadrez – e a política é um xadrez, jamais expõem “o rei” nos seus movimentos.
E não o sujeitam, como se diz lá no Sul, às resbaladas e prancheaços do combate raso.
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