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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, julho 06, 2011

A falta de José de Alencar

Há políticos que, embora não se lhes perceba a importância que têm como articuladores – e aí reside uma de suas maiores virtudes – fazem muita falta, quando se trata da obra hercúlea de dar estabilidade política a um governo transformador que, necessariamente enfrenta todo tipo de pressões – internas e externas – e tem de acomodar umas para que possa vencer outras.

O momento que está vivendo o governo Dilma tem essa sombra, a da ausência de José de Alencar.

Dilma está agindo – e ninguém pode duvidar disso um instante sequer – em defesa da lisura dos negócios públicos.

Mas a política, muitas vezes, oculta interesses que dificilmente se percebem.

Ninguém tenha dúvida: embora o fogo se volte contra Alfredo Nascimento, o Ministro dos Transportes, existe muita gente interessada não na honestidade dos negócios públicos, mas no abocanhamento de fatias de poder. E, claro, de influência sobre estes mesmos negócios públicos.

Alencar, com a sua serenidade matreira, de mineiro que já visto muito de tudo, certamente estaria jogando, agora, um papel importante em não deixar que as ações de Dilma sejam percebidas em sua base no Congresso como uma ameaça à coalisão de Governo. Ou, mais claramente, que fossem usadas como tal por quem deseja vantagens políticas ou por ser, simplesmente, ingênuo e não entender que a solidez da maioria é uma ferramenta sem a qual não se governa.

A presidenta tem de traçar seus próprios atos, não de agir sob pressão. E seus colaboradores devem entender que precisam preserva-la destas pressões, em lugar de querer “dar satisfações” imediatas à mídia.

Até porque as iniciativas moralizantes têm sido dela, anteriores até à divulgação pela mídia.

Mas, quando são divulgadas, ela acaba sendo estimulada a reagir a elas, quase que para “provar” que está agindo quando, na verdade, já agiu.

E aí começam as idas e vindas, desnecessárias.E que são gasolina na fogueira oposicionista.

Segunda-feira, a declaração pleonástica de que mantinha a confiança no Ministro. Ora, se alguém está ministro, é porque, até ali, mantem a confiança da Presidenta. Portanto, é uma não-notícia divulgada como notícia. Quem gosta de futebol já ouviu isso centenas de vezes sobre técnicos e sabe no que dá. O que é dito é entendido como o inverso, inevitavelmente.

Ontem, a rebeldia do sr. Luis Pagot de declarar-se em férias, motivou a divulgação de uma nota canhestra através da agência Brasil, do governo, de que a presidenta, então, o demitiria ao fim do período das férias. Para que? A exoneração, se é o caminho, não depende disso.

Alencar, a esta altura, talvez estivesse dizendo a Dilma que ela, a presidenta, é como um general. E o general não tem, por mais coragem e desejo que possua, o direito de descer ao campo de batalha. Porque é preciso estar lá, do alto, conduzindo a guerra. Seus auxiliares, se tiverem a sabedoria do jogador de xadrez – e a política é um xadrez, jamais expõem “o rei” nos seus movimentos.

E não o sujeitam, como se diz lá no Sul, às resbaladas e prancheaços do combate raso.

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