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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, julho 27, 2011

O antídoto ao fascismo é o exercício da democracia e a preservação da dignidade humana como vetor de políticas sociais. Só se abate o preconceito acreditando na igualdade.

Noruega ensina que racismo não pode ser visto como folclore

Velas e mensagens são deixadas na praia em frente à ilha de Utoeya, na Noruega. Ali e na capital, Oslo, foram mortas 76 pessoas em tiroteio e explosão de bomba
Se existe algo que o massacre na Noruega pode nos ensinar é que racismo, machismo e xenofobia não devem ser tratados como mero folclore.
Entre as palavras e as ações há um longo caminho, mas sempre pode existir alguém disposto a percorrê-lo.
Sarah Palin, candidata republicana a vice-presidente e musa do ultra-conservador Tea Party, dizia que a deputada democrata Gabrielle Giffords era um dos "alvos a serem abatidos" na política norte-americana.
Tratava-se de uma metáfora, mas um atirador em Arizona, a levou ao pé da letra. A tentativa de abater o alvo, uma das vozes contra a política hostil aos imigrantes, resultou em seis mortes em janeiro último, na cidade de Tucson.
Não há hoje quem não tema as possíveis consequências políticas de uma Europa economicamente em frangalhos - a lembrança da mistura depressão-fascismo do século XX ainda é suficientemente viva para suscitar este temor. Mas parece não ser o bastante para afastar a xenofobia, agora focada na repulsa ao Islã e a imigrantes que vem da África e Ásia.
A recente era da globalização só funcionou enquanto serviu como uma segunda colonização.
Os países periféricos foram instados a abrir seus mercados, homogeneizar suas normas, privatizar e internacionalizar suas empresas estratégicas, criando mercados alternativos ao já saturados no hemisfério norte.
Mas o mundo tornou-se global apenas em uma direção, pois as fronteiras voltaram a se fechar de forma ainda mais vigorosa, com a construção de grandes muros e o recrudescimento das leis de imigração - imigração esta que em outros tempos supriu com mão de obra barata, serviços que nacionais se recusavam a cumprir.
Pouco se pode fazer, é verdade, para impedir de todo ações repentinas de vingadores que se sentem representantes de uma nova cruzada, propondo salvar o mundo com toscas visões.
Mas estimular o discurso do ódio certamente não é uma delas.
O alarmismo com a fé diversa, o maltrato com o forasteiro e o diferente, o apego extremado a valores moralistas, são o caldo de cultura próprio para gerar ações excludentes, que tanto podem reverter em atentados quanto desembocar em políticas de Estado. Afinal, o que pode ser mais terrorista que o Holocausto?
Se a história se repete, como profetizava Marx, o receio é que nos abata mais uma vez como tragédia. Parafraseando Martin Luther King, parece ser o caso de nos preocuparmos tanto com o silêncio dos bons, quanto com o grito dos maus, este cada vez mais ensurdecedor.
O Brasil não vive o momento depressivo que se espalha pela Europa e Estados Unidos, fruto dos desvarios neoliberais, que maximizaram os mercados e o lucro e minimizaram as regulações.
Ao revés, vive anos de crescimento que resultaram em inesperada mobilidade social, mas isto também é motivo para cautela.
À incorporação de direitos civis a grupos minoritários, como homossexuais, instaurou-se uma brigada da moral, com forte apelo religioso. À incorporação ao mercado consumidor de uma classe emergente, recém-saída da linha de pobreza, levantou-se reação de quem se sente invadido em espaços até então exclusivos, entre faixas de automóveis e assentos de aviões. Ao pujante crescimento do Nordeste, esboça-se uma xenofobia de cunho separatista.
Aqui, como na Europa, devemos temer, sobretudo, aos que se propõe a nos higienizar ou recuperar valores tradicionais, que apenas remontam a mais exclusão.
O antídoto ao fascismo é o exercício da democracia e a preservação da dignidade humana como vetor de políticas sociais.
Só se abate o preconceito acreditando na igualdade.
Marcelo Semer é Juiz de Direito em São Paulo. Foi presidente da Associação Juízes para a Democracia. Coordenador de "Direitos Humanos: essência do Direito do Trabalho" (LTr) e autor de "Crime Impossível" (Malheiros) e do romance "Certas Canções" (7 Letras). Responsável pelo Blog Sem Juízo.
*comtextolivre 

QUANDO TERRORISMO DE DIREITA TORNA-SE APENAS "INSANIDADE"





O episódio do neo-nazista norueguês serve-nos de mais um exemplo do "modus operandi" da poderosa direita conservadora, que sabemos, atende por muitos nomes, neste mundo.
Senão vejamos, logo que o atentado foi perpretado, os principais veículos de comunicação do mundo se apressaram a condenar a Al Qaeda, e os terriveis islamitas pelo acontecido. 
Tivemos até uma pequena declaração do presidente americano dizendo-se preocupado com a nótoria expansão do "perigo terrorista".
Passadas algumas horas e então sabemos que o autor do atentado é branco, loiro, de olhos azuis e cidadão noroeguês. 
Além disto, filho de banqueiro, e pertencente a um grupo de extrema direita que se diz "europeu cristão".

Próximo passo?
.


PRIMEIRO ATO
O  terrorista de extrema DIREITA passou a ser chamado de insano.
Óbvio. Um insano não pode responder pelos seus atos, muito menos pelo pensamento de extrema-direita.
Já não era mais interessante colorir as matérias com a filiação partidária, raça, credo ou qualquer outro parâmetro do caucasiano agressor.
Agora a grande mídia inicia a "desconstrução" do indivíduo, que não mais é considerado um perigoso terrorista, mas, apenas mais um "maluco" seguidor de Hitler.
Tudo muito conveniente.
Rapidamente se retira da extrema-direita ariana européia a co-responsabilidade pelos atos do norueguês.

SEGUNDO ATO
Há de se assegurar ao mundo que o neo-nazista atuou sozinho, sem qualquer tipo de ajuda, humana, financeira ou seja qual for.
Deve-se afirmar que foi um ato de loucura localizado e solitário.
Entrevista-se algum "sociólogo" e outro "psiquiatra" que atestará a insanidade do terrorista e ponto final.

ENTÃO EU PERGUNTO?
Um único homem faz explodir um prédio público na Noruega, se desloca após até uma ilha e, calmamente caça um a um os ilhéus e os fuzila, para só então haver alguma reação?
É tão simples e fácil assim que um homem apenas execute todo este "projeto"?
Pergunto sabendo a resposta.
A grande mídia já fez seu trabalho. 
Abafou e impediu o aprofundamento da questão.

Fosse um islamita, um esquerdista, e teríamos uma série de reportagens e programas, didáticos, a respeito do perigo deste tipo de gente.
Seríamos lembrados de Stalin, Mao, Pol Pot, e todo o "terror  comunista". 
E encerrando os programas, a Coréia do Norte e Cuba.

Mas, como tivemos um atentado sanguinário de extrema-direita tal cuidado com detalhes não é interessante.

A América do Sul foi vítima de regimes totalitários sanguinários de extrema-direita - patrocinados pelos EUA - por meio século, mas não haverão programas especiais para compará-los com os extremistas europeus.

Amanhã, novos atentados e desrespeito às leis em nome da "pureza racial", "bons costumes" e Jesus Cristo serão novamente impetrados, com a plácida cumplicidade da mídia mundial, que fazendo-se de cega, quer que ninguém mais veja os rumos que o mundo toma.

A resposta da extrema-direita branca está dada.
Se as democracias caminham à esquerda, há de serem recolocadas no devido lugar.
À força.
Como de costume.
Não faltarão manchetes saudando a boa nova.
*miguelgrazziotin

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