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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, julho 29, 2011

Deficiente Ciente Denuncia:

Caro leitor,

Recebi  o e-mail abaixo do amigo João Pereira Lima, mais conhecido como João Motoka, 56 anos, pessoa com paraplegia. João trabalha fabricando triciclos na cidade de Abadiânia, Goiás.   Como se trata de um desabafo ou até mesmo uma denúncia, pedi sua autorização para publicar no blog.
Vera,
A Cabine dos Sonhos” do “Programa do Gugu”, esteve nesta sexta, sábado e domingo em Goiânia, Goiás. Fiquei pasmo ao ver quanta maldade com o ser humano. Na quinta-feira (21/07) já tinha gente dormindo na fila, a falta de respeito com as pessoas com deficiência foi  um absurdo,  a Constituição Federal para eles não vale nada. Olha, na fila tinha mais de mil pessoas, era distribuída  70 senhas das  11 da manhã ao meio dia. A gravação começava às 13 horas e o restante da fila ia aumentando cada vez mais, ficava esperando… Só no outro dia que seria distribuído mais 70 senhas. Fiquei chocado com a quantidade de gente que estava na fila esperando, esperando o quê? Acho muita maldade usar as pessoas desprovidas de informações. “Só vendo pra crer”… Idosos,  crianças, pessoas com deficiência sendo usados  só para dar Ibope. Quando procurei alguém da produção sabe qual foi a resposta  “não falo com ninguém”. Perguntei a  pessoa que estava distribuindo as senhas,  se as pessoas com deficiência tinha algum tratamento diferenciado,  ela me respondeu “seca” a preferência é de quem dorme na fila.
Será que o Gugu sabe disso? Será que precisa usar o sofrimento de cinco ou  seis mil pessoas para beneficiar “uma só”? Vera qual sua opinião?
Segundo João, ele ligou duas vezes para a emissora local para perguntar de que forma  as pessoas com deficiência seriam tratadas nesse evento, e recebeu a resposta de que essas pessoas teriam um tratamento que atendesse suas necessidades. Entretanto não foi isso que o João presenciou. Quando questionou a um dos organizadores, recebeu a resposta “não falo com ninguém” e “tem prioridade quem dorme na fila”. Pergunto:  por acaso o João é invisível  só porque ele é um homem simples e tem deficiência? Essa fala da organizadora nos mostra o quanto ainda somos invisíveis aos olhos da sociedade.
Indignado, João  imaginou a situação dos cadeirantes dormindo na fila, uma vez que eles não terão acesso aos banheiros químicos, pois esse tipo de banheiro, pelo que me consta,  não tem adaptação necessária.
Diante do relato de João,  penso que a “Cabine dos Sonhos”  pode se transformar na “Cabine dos Pesadelos” para alguns.
Tudo em nome do Ibope! (Vera Garcia)

João Pereira Lima, mais conhecido como João Motoka.
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