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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, julho 21, 2011

Reduto italiano em SP apoia escolha de negra como Miss Itália no Mundo


A brasileira Silvia Novais, modelo de 24 anos, 1,77 m e 55 kg, que se tornou alvo de ataques racistas na internet após ter sido eleita na semana retrasada Miss Itália no Mundo 2011, recebeu o apoio de italianos e de seus descendentes que vivem no Brasil, nesta quarta-feira (20).
Para saber o que a comunidade italiana em São Paulo pensa da polêmica, a reportagem foi ao bairro da Bela Vista, no Bixiga, na região central de São Paulo, um dos principais redutos italianos.
“Muito bonita”, disse João Batista Nalo, de 88 anos, ao ver a foto de Silvia. “Eu não tenho preconceito nenhum. Principalmente com mulher. É bonita. Ela é muito bonita”, afirmou o aposentado Victor Griecco.
Donato Rapolli, neto de italiano e herdeiro de uma das cantinas mais antigas de São Paulo, assistiu ao concurso pela TV e torceu pela brasileira.
Maria Carmagnano tem Itália e Portugal no sangue. É casada com um espanhol. A família se encantou com a beleza de Silvia, e se revoltou ao saber das reações racistas à vitória dela no concurso. “Sabe o que digo? Inveja pura”, disse a aposentada. O marido disse que a brasileira merecia ganhar o concurso em qualquer lugar do mundo.
Na opinião de todos as pessoas ouvidas na Bela Vista, é justamente a miscigenação que faz a beleza de Silvia e de tantos outros brasileiros.
O cabeleireiro Gil Santos, que é negro e mora no Bixiga, disse que é pernambucano com mameluco e que, por isso, saiu “essa belezura”.
“Lá o concurso, a eleita é eleita pelo público, é o televoto que tem lá. Então, os italianos votaram em mim”, disse a miss Silvia, explicando como foi feita a sua escolha.
Site nacionalista (Foto: Reprodução)Site que se intitula nacionalista branco possui comentários racistas contra miss 

Ataques racistas


Os elogios dos moradores do Bixiga são bem diferentes dos comentários logo acima. Silvia passou a sofrer ataques racistas de grupos de intolerância pela internet desde que venceu o concurso na Europa como a mais bela descendente de italianos. Seu bisavô materno nasceu em Florença, mas isso não impediu que ela escapasse do preconceito, como mostrou o G1em matéria publicada na terça-feira (19).
Logo após superar outras 39 candidatas na final, no dia 3 de julho, em Reggio Calabria, Sul da Itália, Silvia teve sua foto como miss reproduzida em um fórum de discussão do Stormfront, site internacional de nacionalistas brancos, com alguns adeptos de Adolf Hitler e contrários à escolha dela como miss. Abaixo da imagem da baiana com a coroa e a faixa, foram feitas diversas ofensas racistas. Num dos insultos, ela foi xingada em inglês de “negra nojenta”. Também há comentários em português e em italiano.
Em outro post do site Stormfront, um participante, que disse morar em São Paulo, chamou Silvia de “criada” de Nero (imperador romano, considerado tirano por alguns historiadores). “Isso é beleza italiana? Se fosse na Roma antiga, essa 'italianinha' seria uma criada de Nero!”, escreveu um integrante da comunidade.
“Nunca assim cara a cara ninguém me falou: ‘você é negra, você não merecia. Sempre foi pelo site, sempre pela internet”, disse Silvia.
Silvia já está com um advogado, mas ainda não sabe se vai entrar com processo contra a página da internet onde foram colocados os comentários. Ela, no entanto, não esconde que se incomoda com o racismo.
“O mundo que a gente vive é mundo miscigenado, Brasil cheio de raças... essa mistura maravilhosa e acho que é uma ignorância. Não me abalo. Isso me fortalece mais pra quebrar barreira e querer vencer. Racismo é uma coisa que não deveria existir.”
Neonazistas


A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil de São Paulo, investiga o Stormfront (frente de tempestade) por suspeita de ser uma comunidade neonazista que recruta brasileiros.
G1 não conseguiu localizar os responsáveis pelo Stormfront para comentar o assunto. No site, há citações e fotos de oficiais de Hitler, suásticas e símbolos nazistas. Também há um recado em inglês que informa os visitantes sobre o conteúdo que vão encontrar: "Somos uma comunidade de nacionalistas brancos. Há milhares de organizações que promovem os interesses, valores e patrimônio de não brancos. Promovemos o nosso. Você está convidado a navegar nos nossos 7 milhões de postos, mas você deve se registrar antes de postar em qualquer fórum, exceto aqueles designados como aberta a convidados”.


  1. Atores italianos participam de sessão de fotos com Silvia em Roma, em frente à Basílica de São Pedro (Foto: AP/Miss Italy in the World)
Atores italianos participam de sessão de fotos com Silvia em Roma, em frente à Basílica de São Pedro (Foto: AP/Miss Italy in the World) *cappacete

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