Hora da freada de arrumação na CPMI de Cachoeira
A CPMI fez bem em não convocar Policarpo Jr para depor. E a sessão de ontem deveria servir de lição para os próximos passos.
Nos últimos anos a perda de legitimidade da velha mídia – encabeçada
pela Veja – se deveu à sua arrogância e absoluto desprezo pelas
instituições e pelos preceitos legais. Foi isso que a levou à aliança
com o crime organizado, à disseminação da intolerância, aos ataques
desmedidos à reputação de quem atravessasse seu caminho. E são esses
procedimentos que estão na raiz do profundo processo de descrédito que
atinge a revista.
O que de pior poderia acontecer para todos os que querem uma mídia
limpa seria a repetição dos mesmos métodos pela CPMI. Só faltava, a esta
altura do campeonato, atitudes que possam ser utilizadas para vitimizar
a revista ou legitimar seu álibi de que defende o país contra manobras
autoritárias da esquerda.
Em que pese o clima passional e de acerto de contas que cerca toda
CPMI, não se pode fugir das boas técnicas de investigação nem recorrer a
qualquer método que possa ser utilizado para comprometer a
credibilidade das investigações.
Por exemplo, há suspeitas fundadas de que a revista participava de um
conluio criminoso com Carlinhos Cachoeira. Se há suspeitas, mesmo
baseadas em indícios veementes, investigue-se antes. E existem todas as
condições na própria análise do material a ser fornecido pela Polícia
Federal – as 47 gravações de conversas diretas de Cachoeira e Policarpo e
as infindáveis de Policarpo com outros membros da quadrilha.
Ouvidas as conversas, haverá um trabalho de relacioná-las com
matérias da própria revista e com os ganhos diretos e indiretos das duas
organizões: Cachoeira e Abril. Não há lógica em produzir um escândalo
por dia, mas a necessidade de construir diligentemente todas as amarras
que comprovem os procedimentos criminosos da revista.
Deve-se escutar, analisar e divulgar, sem pressa, sem arrogância. Se,
de fato, mostrarem provas contundentes de envolvimento criminoso, que
se convoque Policarpo e Roberto Civita. Mas sem colocar o carro antes
dos bois. E por dois motivos: para impedir que o sentimento de vingança
se sobreponha ao da justiça; e para ouvir Policarpo apenas quando se
dispuser de elementos consistentes para um bom interrogatório.
Quando o senador Pedro Taques passa a engrossar a tal Bancada da Veja
há alguma coisa de errado – e não propriamente com ele. Miro Teixeira e
Álvaro Dias dependem umbilicalmente da aliança com a mídia para sua
própria sobrevivência. Taques tem uma biografia impecável e é
fundamentalmente um legalista.
A CPMI deveria amainar o espírito de vingança e ensinar à própria
Veja como utilizar técnicas de investigação correta e consistentes, com
direito ao contraditório e sem ceder ao clamor das ruas.
A punição de Veja ocorrerá seguindo todos os procedimentos legais e
analisando-se seu papel com um senso de justiça que sempre faltou à ela
própria. Baixe-se a fervura e que os parlamentares comportem-se com a
dignidade que sempre faltou à revista.
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