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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, maio 28, 2012


Comissão do Código Penal aprova descriminalização do uso de drogas

  1. Notícia

A Comissão de Juristas do Senado, criada para reformular o Código Penal brasileiro, aprovou nesta segunda-feira a descriminalização do uso de drogas no País. De acordo com a proposta, será presumido uso pessoal uma quantidade de entorpecente encontrada com o usuário que represente consumo médio individual de cinco dias, exceto quando se provar tráfico. A informação é da Agência Senado.
Essa quantificação dependerá ainda de regulamentação específica, a ser elaborada pela autoridade administrativa de saúde, exercida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Identificar se a droga sob a posse do usuário se destina a uso pessoal dependerá, não somente da quantidade, mas também da própria natureza da substância. Além disso, outros aspectos deverão ser examinados pelas autoridades no caso de um flagrante de droga, como a conduta do usuário no momento e ainda as circunstâncias sociais e pessoais em que encontre.
"Se a pessoa é surpreendida vendendo droga, não importa a quantidade: é tráfico", explicou o procurador regional da República, Luiz Carlos Santos, em entrevista após a reunião.
Para o tráfico de drogas, os juristas mantiveram tratamento rigoroso, com pena de cinco a dez anos de prisão, além de multa. Configura este tipo de crime um amplo conjunto de condutas: importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender ou até mesmo oferecer drogas ilegais gratuitamente. A mesma pena se estende ao cultivo de plantas para a fabricação de drogas.
As propostas feitas pela comissão de juristas devem ser encaminhadas ao Congresso até o final de junho. Apenas após votação na Câmara e no Senado, as sugestões viram lei.
*Terra

Rádios comunitárias poderão comprar equipamentos financiados pelo BNDES



Foi aprovado dia 23/05/2012, na Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado (CCT) o Projeto de Lei 556/07, que permite às rádios comunitárias receberem recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 

O financiamento poderá ser usado para aquisição de equipamentos, modernização das instalações ou para a produção de programas culturais e educativos, assim como cursos de formação profissional. 

O senador Walter Pinheiro (PT-BA), relator do projeto na CCT, justifica o parecer favorável lembrando da dificuldade que as emissoras comunitárias têm para se manter. “Havia a lacuna do financiamento. As rádios comunitárias não podiam ter acesso a recursos principalmente para aquisição de equipamentos, para melhoramentos, e até gozar de benefícios da legislação existente”


A sociopata

 

 

O quê? Um outro post? Mas que raio de blog é este? E a bexiga de Voz?
Calma, calma...é o último post de hoje; e à Voz já aconselhei um balde perto do ecrã, em caso de emergências...

É só para realçar as palavras da peruca de Christine Lagarde, fascinante directora do Fundo Monetário Internacional.
A simpática Christine era entrevistada pelo britânico The Guardian quando, num arara altura de sinceridade, afirmava:
É preciso que os Gregos comecem a ajudar-se reciprocamente, pagando as taxas.
Porque é verdade: a melhor forma de ajudar é pagar as taxas. Doutro lado, mesmo neste blog, aparecem muitas pessoas que não querem destinar para os desempregados as sobras dos restaurantes, melhor que fiquem no lixo. Pois este tipo de ajuda humilha, a solidariedade mata a alma das pessoas.

Pagar as taxas, pelo contrário, é vida. Não a vida de todos, mas no caso dos bancos privados sim, sem dúvida. Eu mesmo não consigo imaginar uma ajuda melhor.
Os pais gregos têm que pagar as taxas.
Repetiu mais logo, caso não tivesse ficado claro da primeira vez.
É importante repetir. Desta forma um grego se lavante de manhã e não pode ter dúvidas. "O que tenho que fazer hoje? Ah, pois, tenho que pagar as taxas, óbvio. Mas já paguei ontem...não faz mal, pago outra vez, já que perdi o trabalho e não tenho mais nada para fazer...".

É justo. Os gregos viveram acima das possibilidades nas décadas passadas, tal como Portugal.
Hoje nas ruas de Atenas e Lisboa é só topos de gama, o que é normal dado que os ordenados são os maiores do Velho Continente. É por isso que há milhões de Portugueses emigrados: fartos de ganhar muito, preferem trabalhar no estrangeiro, como no Luxemburgo, onde podem juntar apenas o mínimo para sobreviver.
Penso mais nas crianças duma pequena aldeia do Níger vão para escola duas horas por dia, com uma cadeira para três e que sonham ter uma boa instrução. Penso neles sempre. Porque precisam de mais apoio do que as pessoas de Atenas.
Meus senhores, o raciocínio não tem pontos fracos.
Até quando as crianças de Atenas não tiverem duas horas de escola e uma cadeira partilhada, não pode existir piedade. É por isso que trabalha o FMI e os resultados começam a aparecer.

No Níger, por exemplo, o FMI aprovou empréstimos (não ajudas, que humilham, mas empréstimos mesmo) que hoje constituem a maior fonte de dívida do País: e o País está mergulhado na dívida e na corrupção. Não acaso entre os principais "amigos" do Níger há também o Banco Mundial.
Resultado: 79% do Produto Interno Bruto do País desaparece para pagar as dívidas externas. E isto num País com uma dívida pública particularmente baixa, que nem atinge 20% do PIB.

Não admira que a simpática Lagarde pense nas crianças do Níger: são estes pequenos parasitas que obrigam o governo local a desviar fundos que poderiam ser utilizado de forma bem mais lucrativas, como, por exemplo, numa mais eficiente extracção do urânio, do qual o País é rico.

É tempo de escolher. Não é correcto que alguns sejam obrigados a viver miséria quando outros nem a fome passam: a miséria deve ser global.

O FMI já começou o trabalho, com uma série de empréstimos para a Grécia (e Portugal, sempre na vanguarda). Mas não chega, é a nossa mentalidade que tem de mudar.
O Leitor acha que o seu ordenado é demasiado baixo? Mas sabe quanto ganham no Bangladesh? Não tem um mínimo de vergonha? É este tipo de pensamento que arruína a sociedade: temos que comparar com quem vive abaixo do nosso nível e tentar alcança-los. Esta chama-se solidariedade.

Na Grécia podem dar-se fogo, podem enfiar-se uma bala no cérebro em frente do parlamento, podem atirar-se dos telhados, mas não adianta: não merecem nenhuma piedade.

A simpática Chrisinte tem todo o meu apoio. E paciência se não passa duma sociopata.


Ipse dixit.
*InformaçãoIncorrecta

De um lado, Lula, Dilma, e PF fazendo 'faxina' no Brasil... do outro, Cachoeira, PSDB, Demóstenes, Perillo, Gilmar, Veja, Globo

 

O PSDB inteiro resolveu enfiar o pescoço na guilhotina de uma vez por todas, ao carimbar na testa o selo de partido do bicheiro Cachoeira, anti-Lula.

Quem será o "gênio" que teve essa ideia de jumento?

Será o deputado Antônio Carlos Leréia (PSDB-GO) enquadrando o resto do PSDB a seguirem a liderança do bicheiro Cachoeira?

Será Marconi Perillo (PSDB-GO) dizendo que se cair, leva outros tucanos juntos?

Será Aécio Neves (PSDB-MG) às voltas com aparelhamento do estado de Minas por Cachoeira?

Será José Serra (PSDB-SP) e Paulo Preto, dizendo que não se larga um líder ferido na estrada?

Pois o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) e o deputado Francischini (PSDB-PR), aquele que é 'tchutchuca' com os tucanos do Cachoeira,  agora aparecem enquadrados na defesa de Cachoeira-Desmóstenes-Marconi-Veja-Gilmar e querem voltar sua artilharia contra Lula.

Ridículos, falam em varrer para debaixo do tapete Cachoeira e suas relações com Demóstenes, Leréia, Marconi Perillo, Paulo Preto, Siqueira Campos, Beto Richa, a parceria Veja-Cachoeira, o caso CELG-Gilmar, a viagem a Berlim, os R$ 8,25 milhões da JC Gontijo, e "convocar" logo o presidente Lula, atacado por esta turma porque apoiou uma CPI para desbaratar esse esquema que era tão nefasto que há até telefonemas entre Demóstenes e Cachoeira falando sobre derrubada da Presidenta Dilma, através de matérias de Policarpo Júnior na revista Veja.

Fala sério, tucanada. Tenham um pouco de vergonha na cara para fazer uma faxina em sua própria casa, pelo menos no que já está fedendo de tão podre.

Alguém duvida que, se não tivessem foro privilegiado, Demóstenes e Perillo já estariam no presídio da Papuda? Junto com Cachoeira e com o tucano Wladimir Garcez, ex-vereador de Goiânia?

O PSDB perdeu o pudor de exibir-se do lado de Cachoeira. Não é só a casa de Perillo que caiu com Cachoeira. É o partido inteiro.

Como é bom ver que Lula, Dilma, a Polícia Federal, os bons procuradores do Ministério Público, os bons parlamentares estão de um lado, oposto ao do outro lado do bicheiro Carlinhos Carlinhos em parceria com o PSDB, com seus Marconi Perillo, Alvaro Dias, Franscischini, José Serra, Paulo Preto, Aécio Neves, etc.
*osamigosdopresidentelula

A primavera brasileira

O conceito da “primavera” foi adotado para descrever países ou comunidades em que a Internet entrou quebrando barreiras de silêncio.
Nos países de regime ditatorial, a “primavera” significou romper o controle estatal sobre a informação. Mas em muitos países democráticos, significou romper cortinas de silêncio impostas pela chamada velha mídia – os grandes meios de comunicação nacionais.
Nos Estados Unidos, a blogosfera ajudou a romper o sigilo em torno das guerras do Iraque e Afeganistão. Na Espanha, antes mesmo da explosão da Internet, os sistemas de SMS (torpedos) telefônicos ajudaram a desarmar a tentativa de grandes grupos midiáticos de atribuir um atentado à oposição.
Na Argentina, há um conflito latente entre o governo Cristina Kirchner e os grandes grupos midiáticos. No momento, passeatas tomam as ruas da cidade do México, contra a imprensa local.
No Brasil, em pelo menos três episódios exemplares a blogosfera foi fundamental para romper barreiras de silêncio.
O primeiro foi na Operação Satiagraha, da Polícia Federal. Capitaneados pela revista Veja, a chamada grande mídia se esmerou em demonizar os agentes públicos, vitimizar o banqueiro Daniel Dantas e transformar Gilmar Mendes no maior presidente da história do STF (Supremo Tribunal Federal).
Apenas a blogosfera preocupou-se em mostrar o outro lado, o das investigações.
O episódio terminou com o Opportunity se safando junto à Justiça. Mas, no campo da opinião pública, poder judiciário, Ministros que se aliaram ao banqueiro, o próprio banqueiro e Gilmar Mendes saíram amplamente derrotados. O episódio mostrou os limites da grande mídia para construir ou destruir reputações.
Várias armações foram denunciadas pela blogosfera, como o caso do falso grampo no STF, o grampo sem áudio da suposta conversa entre Demóstenes Torres e Gilmar Mendes, a lista falsa de equipamentos da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) brandida pelo então Ministro da Justiça Nelson Jobim.
O segundo episódio relevante foi a promoção do livro “A Privataria Tucana”, com indícios de enriquecimento pessoal do ex-governador José Serra. Apesar de totalmente ignorado pela velha mídia, o livro bateu todos os recordes de vendas do ano.
Agora, tem-se o caso do envolvimento da revista Veja com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Foram quase dez anos de parceria, que transformaram o bicheiro no mais poderoso contraventor da república.
Graças às reportagens de Veja, o senador Demóstenes Torres tornou-se símbolo da retidão na política. Com o poder conquistado, participou de inúmeros lobbies em favor de Cachoeira e de avalista das denúncias mais extravagantes da revista.
Veja sempre soube das ligações de Demóstenes com Cachoeira. Mas por quase dez anos enganou seus leitores, não só escondendo essa relação, como difundindo a ideia de que Demóstenes era político inatacável.
Na velha mídia, não há uma linha sobre essas manobras, nada sobre as 47 conversas gravadas entre o diretor da revista em Brasília e Cachoeira, as quase 200 dele com todos os membros da quadrilha.
Assim como no Egito, Estados Unidos, Espanha, México, França, é a Internet que está explodindo cortinas de silêncio.
Luis Nassif
No Advivo
*comtextolivre 

Os resultados da entrega de Goiás ao crime organizado

Deputado estadual pelo PT de Goiás, o deputado Luis César Bueno afirma que a discussão em torno da organização criminosa Cachoeira-Demóstenes não está dando a ênfase correta. “A preocupação maior é o envolvimento do poder constituído com crime organizado e as consequências na ordem pública, especialmente na segurança pública”. Está-se repetindo em Goiás o que ocorreu no Espírito Santo nos anos 90. E pessoas estão morrendo por conta desse desmonte.
Com o pacto firmado com o governador Marconi Perillo, a a dupla Cachoeira-Demóstenes passou a comandar a Secretaria de Segurança Pública, o Detran, a Polícia Militar, a Corregedoria da Policia Civil, a Secretaria da Indústria e do Comércio, a Procuradoria Geral do Estado, entre outros cargos de segundo e terceiro escalão.
O crime organizado passou a atuar em contratos de construção, serviços de vigilância, locação de veículos. Mais grave: passou a atuar dentro das esferas da Segurança Pública. Houve o desmanche do aparelho de segurança fazendo explodir a criminalidade em todo estado de Goiás.
Recentemente o jornal O Popular divulgou algumas das estatísticas:
  • até final de abril o número de homicídios havia sido de 208, contra 211 no Rio de Janeiro;
  • o número de furtos de veículos saltou de 4.800 a 5.200 por ano para 10.800;
  • dos 246 municípios, 206 estão sitiados poelo crack e pela droga.
Tudo isso a partir do momento em que Cachoeira passou a tomar conta da Segurança Pública.
Representante da PM na AL, tempos atrás o deputado Major Araújo, junto com Associação de Oficiais reuniu a imprensa e disse que cada promoção de coronel na PM tinha que pagar R$ 100 mil para Carlos Cachoeira. A Operação  Monte Carlo mostrou gravações indicando que o Secretário de Segurança Pública e o Procurador Geral do Estado recebiam mensalidade de R$ 15 mil. Sem contar o envolvimento amplo de delegados e policiais com a organização criminosa.
Recentemente o governador Marconi Perillo trocou o comando da PM, colocando pessoas do quadro. Mas o estrago já estava feito.
Cachoeira comandava desde moedinha de 1 real do desempregado, megas fortunas de navios flutuantes no Caribe até a relação com crime organizado encastelado na estrutura do Estado.
Inicialmente, a Segurança Pública fechou os olhos para o jogo e os cassinos. Com isso, abriu espaço para todo tipo de crime correlato. Explodiu o mercado de drogas e de furtos de automóveis.
Vários deputado tiveram veículos roubados à mão armada. Explodiram furtos de caminhonetes, carros de luxo, como Corolla. As seguradoras aumentaram significativamente valor dos prêmios em função do alto índice de furtos.
Coincidentemente, quem controlava o Detran era um indicado de Cachoeira, citado na Monte Carlo. Para proteger as quadrilhas de roubo de carro, o Detran de Goiás passou a operar fora do sistema Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).
“A impressão que se dava é que Marconi era o laranja e Cachoeira o governador”, diz o deputado.
Para conseguir estatísticas da Secretaria de Segurança Pública, o jornal O Popular precisou abrir uma primeira página coalhada de cruzes – simbolizando as mortes ocorridas no período.
A situação é similar à do Espírito Santo nos anos 90, diz ele.
A parte visível da quadrilha, até agora, são os vinhos de R$ 30 mil de Demóstenes, a casa de Marcone Perillo, as extravagâncias de Cachoeira. A face soturna é o aumento do número de mortes em todo o estado, o fato de pequenas comunidades, de 5 mil, 6 mil habitantes, estarem tomadas agora pelo crack.
Luis Nassif
No Advivo

Charge foto do Dia

*Rubens Paiva no imagens&visions




Israel rouba casas e terras na Palestina

 do redecastorphoto
Expropriados obrigados a morar em cavernas
Baby Siqueira Abrão
Jornalista brasileira
Correspondente no Oriente Médio
A Coordenação dos Comitês Populares da Palestina lançou uma campanha de apoio aos moradores de Al-Mufaqarah. Eles estão vivendo em cavernas em consequência da demolição de sua vila roubada pelos judeus.
Assista ao vídeo de Haitham Al-Khatib com tradução para o inglês:
Al Mufaqarah R-Exist 26.05.2012 By haithmkatib@gmail.com



*GilsonSampaio

Argentina: outro silêncio que se rompe

 

Via CartaMaior
A cumplicidade ativa entre a Igreja Católica e a mais bárbara das ditaduras militares que sacudiram a Argentina nunca foi segredo para ninguém. Sua dimensão e profundidade, sim. O número de capelães militares denunciados como tendo assistido, impávidos ou quase, a sessões de torturas é amplo o suficiente para deixar claro que nada daquele horror podia ser ignorado pela hierarquia eclesiástica e, portanto, pelo Vaticano. O que agora se revela é estarrecedor.

Eric Nepomuceno, de Buenos Aires
A Argentina despertou no domingo, dia 27 de maio, com um silêncio a menos: um longo texto do veterano jornalista Horacio Verbitsky, no combativo ‘Página 12’, mostra como foi confirmado e reconhecido o que todo mundo, ou quase, desconfiava. Sim: a Igreja Católica admitiu formalmente, e diante da Justiça, que desde pelo menos 1978 sabia que a ditadura encabeçada pelo general Jorge Rafael Videla assassinava presos políticos. E mais: não satisfeita em saber e se omitir, a cúpula da Igreja Católica não se furtou a examinar, junto ao próprio Videla, como manipular a informação sobre esses assassinatos, como lidar com a aberrante figura do ‘desaparecido’.
A cumplicidade ativa entre a Igreja Católica e a mais bárbara das ditaduras militares que sacudiram a Argentina nunca foi segredo para ninguém. Sua dimensão e profundidade, sim.
O número de capelães militares denunciados como tendo assistido, impávidos ou quase, a sessões de torturas é amplo o suficiente para deixar claro que nada daquele horror podia ser ignorado pela hierarquia eclesiástica e, portanto, pelo Vaticano. As palavras públicas de padres, bispos e cardeais em apoio à ‘cruzada dos militares no combate ao caos’ – assim chamavam o genocídio – não eram mero jogo de cena para acobertar um trabalho humanitário feito nos bastidores, na tentativa de salvar vidas e evitar mais tormentos. Não, não: o papel nada cristão da hierarquia católica durante aqueles anos de horror e mortandade já foi revelado, mas, como acaba de ficar claro uma vez mais, ainda falta muito a ser desvendado, muito silêncio a ser rompido.
O que agora se revela é estarrecedor. Por exemplo: o cardeal Raúl Primatesta, arcebispo de Córdoba naquele 1978 de péssima memória, chegou a advertir o general Videla, durante um almoço junto a outros altos mandos da Igreja Católica, que o costume de ‘desaparecer’ presos políticos – ou seja, assassinar e depois sumir com os corpos – era um método que poderia ‘trazer más consequências’. Ele quase disse o seguinte: matar, dá para entender; sumir com os corpos, não.
O arcebispo de Buenos Aires, cardeal Juan Aramburu, foi na mesma direção: disse que era preciso encontrar um jeito para que as pessoas parassem de fazer perguntas sobre os desaparecidos. Vale repetir: o Vaticano sabia de tudo, o tempo todo.
Poucos dias antes da revelação feita por Verbitsky, outro documento – elaborado por médicos argentinos – denunciou a participação de pelo menos mil e duzentos de seus colegas em crimes de lesa humanidade. Acompanhavam ou participavam de sessões de tortura, supervisionavam o andamento dos tormentos, indicavam quando parar ou, em casos extremos e sem volta, quando liquidar de vez com a vítima. Não apenas médicos: também enfermeiros, psicólogos e paramédicos foram cúmplices ativos e diretos. Havia médicos civis que se juntavam aos seus companheiros fardados. Todos eles tiveram participação direta no mais abominável dos crimes cometidos pela ditadura que sufocou o país entre 1976 e 1983: separar os recém-nascidos de suas mães nos centros de tortura, e entregá-los a famílias que ninguém sabe ao certo quais foram.
Havia pelo menos 30 maternidades clandestinas. As mulheres davam à luz algemadas e encapuzadas, para não ver a cara dos médicos que as atendiam. Os bebês eram encaminhados a doações ilegais, as mães eram encaminhadas ao matadouro. Pelo menos 500 delas morreram sem saber o destino de seus filhos.
Também eram médicos os que aplicavam injeções dopantes em prisioneiros que eram retirados dos centros de tortura, embarcados vivos em aviões e, vivos, atirados no oceano Atlântico ou nas águas do rio da Prata. Não se conhece nenhuma estatística confiável sobre quantos dos desaparecidos desapareceram assim. O que sim, se sabe, é que dos cinco mil presos que passaram pelo mais notório centro de tormentos, o que funcionava na antiga ESMA (Escola Superior de Mecânica da Armada), pouco mais de 200 sobreviveram. Quantos dos outros foram jogados de aviões no vazio?
Existe um claro pacto de silêncio entre esses assassinos que um dia fizeram o juramento de Hipócrates, em que se comprometeram não a ser hipócritas para sempre, mas a, para sempre, salvar vidas humanas. E é esse pacto de silêncio que precisa ser roto, para que se saiba quem é quem entre os médicos do país.
Sim, é verdade: quanto mais se avança, na Argentina, no caminho da busca da verdade, do resgate da memória e do cumprimento da justiça, mais silêncios são rompidos, mais horrores são revelados. Mais justiça é feita.
Quanto mais a Argentina avança na revelação da verdade de seus tempos de opróbrios, mais se livra do peso e da mancha da impunidade. E mais claro fica que um país que não conhece a verdade do próprio passado não saberá merecer o próprio presente, e muito menos saberá aproximar o futuro.
Um vasto silêncio – o da cumplicidade da Igreja Católica com o regime genocida – se rompe cada vez mais. Outro vasto silêncio – o dos médicos transformados em carniceiros – começa a se romper de vez.
E assim, rompendo silêncios, removendo sombras, a Argentina ouve cada vez mais a própria voz, e sabe, cada vez mais, da importância da claridade.
*GilsonSampaio

Uma ilha no pacífico