Droga Mata!
Publicado em 29/05/2012 por Mário Augusto
Jakobskind*
A revista Veja, pouco confiável
por ser useira e vezeira em editar matérias que não se sustentam, desta vez fez
alarde com uma acusação do Ministro Gilmar Mendes, segunda a qual o
ex-Presidente Luis Inácio Lula da Silva teria lhe proposto o adiamento do
julgamento do chamado mensalão.
O encontro entre Mendes e Lula, no
escritório de Nelson Jobim, ocorreu há um mês e só agora o ministro revelou o
suposto pedido. O adiamento proposto por Lula, ainda segundo a revista Veja, se
daria em troca do silêncio da Comissão Parlamentar de Inquérito mista sobre
Cachoeira em relação ao próprio ministro, que se encontrou com o senador
Demóstenes Torres em Berlim.
Há denúncias de que Cachoeira de
lama pagou as passagens e estadas tanto de Mendes como do senador que ditava
regra sobre moralidade e por debaixo do pano fazia o jogo sujo de Carlos
Cachoeira de lama. Mendes garante que ele mesmo custeou a viagem e volta e meia
vai a Berlim visitar a filha, que la reside.
Se o Ministro puder provar que
pagou a passagem daquela vez (ninguém pediu), afinal a denúncia é grave,
encerraria de uma vez por todas com a dúvida. Por enquanto vale apenas a palavra
de Mendes, considerada bastante questionável.
A notícia divulgada pela Veja,
como sempre acontece, foi repercutida na Folha de S. Paulo, em O Globo e no
Jornal Nacional. Lula negou que tenha feito a proposta.
A matéria da revista Veja com a
denúncia de Mendes deve ser encarada com reserva e se for melhor analisada não
se sustenta. Por que Lula faria o pedido quando a mídia de um modo geral está em
cima dos ministros do STF exatamente para apressar o julgamento do mensalão? Com
a experiência que tem como ex-presidente por que ele se exporia dessa forma tão
grosseira?
Jobim também desmentiu a matéria
da revista Veja, uma publicação sob suspeita de prática de baixo jornalismo. O
esquema é conhecido. Os repórteres saem em campo já com a pauta determinada e
dirigida para chegar a uma conclusão. Seja o que for falado por alguém alvo dos
Civitas, a matéria conclusiva está pronta antes mesmo de ser elaborada. Os
inimigos não serão poupados.
Desta vez, Gilmar Mendes se
superou. Ele já esteve envolvido em outras matérias no mínimo discutíveis, uma
delas a de ter concedido habeas corpus a Daniel Dantas e na tentativa de
desmoralizar o então delegado Protógenes Queiroz, que conduzia o inquérito
contra o referido banqueiro acima de qualquer suspeita.
Se Lula tivesse mesmo feito o
pedido seria uma demonstração de incompetência política, algo que até seus
inimigos admitem que não corresponde aos fatos. Seria até um expediente
prejudicial aos próprios implicados no mensalão que está para ser julgados nas
próximas semanas.
Vários Ministros do STF, entre
eles Ricardo Lewandovsky, já disseram que nunca foram pressionados por Lula
quando ele exercia a Presidência da República.
Seria absolutamente descabido e
pouco inteligente, o que não é uma característica de Lula, reconhecido até pelos
inimigos como um político hábil e inteligente, que agora sem mandato
pressionasse Gilmar Mendes. E uma pressão, diga-se de passagem, prejudicial aos
próprios petistas, entre os quais José Dirceu e Jose Genoino, que serão julgados
antes das eleições.
Não se exclui a possibilidade de
que este novo apronto da sujísima Veja com Mendes tenha se destinado a retirar
dos holofotes algumas questões vinculadas à Comissão Parlamentar de Inquérito do
Congresso sobre as ligações de Cachoeira de lama com o mundo político e mesmo
midiático.
A Veja foi pautada pelo meliante
Cachoeira e nestes dias ganhou uma defensora de peso, a Senador Kátia Abreu,
agora no PSD de Gilberto Kassab, que escreveu artigo tomando as dores da revista
que lhe dá grande acolhida. Usou os mesmos argumentos que outros defensores da
publicação, como o imortal Merval Pereira, ou seja, que a convocação de
Policarpo Júnior seria um atentado à liberdade de imprensa.
Quanto ao Prefeito Kassab, a
revista IstoÉ e o Ministério Público o acusaram de estar também envolvido em
falcatruas, juntamente com um funcionário que recebeu de propina 106
apartamentos ao liberar obras irregulares na capital paulista. Nenhuma linha em
O Globo ou na TV do mesmo nome.
A Veja pratica um jornalismo que
lhe vale a denominação de sujíssima. Para se ter uma ideia, recentemente um
repórter da revista tentou invadir o quarto de um hotel em Brasília onde estava
hospedado o ex-ministro José Dirceu para possivelmente espionar alguma material
que o incriminasse ou mesmo instalando algum microfone oculto. A camareira
impediu que a transgressão acontecesse. Corre até uma investigação policial
sobre o fato e o público não vem sendo informado a respeito.
Não se trata de defender José
Dirceu, um dos responsáveis pela atual praxis fisiológica do PT em nome da
governabilidade, mas de se repudiar uma prática que depõe verdadeiramente contra
o jornalismo. E a corrida a qualquer custo para incriminar o ex-ministro Chefe
da Casa Civil é sintomática.
Policarpo Júnior, chefe da
sucursal da Veja em Brasília, tem culpa no cartório no mencionado episódio. Além
disso, foi pautado por uma Cachoeira de lama, como demonstra cristalinamente
vídeo apresentado pela TV Record, no ar também no YouTube. O jornalista está sendo
blindado para não comparecer na CPMI.
Assim caminha a mídia de mercado.
O mais recente apronto da Veja e Gilmar Mendes está realmente inserido no
contexto enlameado do baixo jornalismo. E toda vez que se contesta a revista da
família Civita, que para muitos forma uma gang, convoca entidades e colunistas
para protestar conta o que eles alegam ser perseguição à liberdade de
imprensa.
A Sociedade Interamericana de
Imprensa (SIP) já deve estar de prontidão para qualquer emergência que
porventura venha a envolver a sujíssima Veja na CMPI.
Em tempo: depois de na semana
passada cancelar a reunião, o Ministro da Justiça, Jose Eduardo Cardozo, voltou
a convocar familiares de desaparecidos políticos citados no livro Memórias de
uma guerra suja sobre o depoimento do ex-delegado Claudio Guerra revelando, entre
outras coisas, a incineração de dez combatentes contra a ditadura em um forno de
uma usina de açucar em Campos.
Mário Augusto Jakobskind* é correspondente no Brasil do semanário uruguaio
Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor
internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário
Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia,
Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE.
Enviado por Direto
da Redação
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