"Acima de tudo procurem sentir no mais profundo de vocês
qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa
em qualquer parte do mundo.
É a mais bela qualidade de um revolucionário."
(CHE)
Ernesto
Guevara de la Serna nasceu em 14 de junho de 1928, em Rosário,
Argentina, primeiro dos cinco filhos de Ernesto Lynch e Celia de la
Serna y Llosa, família de origem aristocrática, donos de terras. A mãe
descendia do último vice-rei do Peru e casou com Ernesto (pai),
estudante de arquitetura, em 1927. Embora de família tradicional que aos
poucos foi perdendo a sua riqueza, Che passou sua infância como menino
típico de família de classe média, nunca se preocupando muito com a
política. Celia teria papel importante na formação de Che, só inferior
ao de Fidel Castro, conforme o biógrafos. Mesmo de educação
católica, mantinha em casa um ambiente de esquerda, sempre cercada de
mulheres politizadas. Ela é que cuidaria da educação do primogênito, o
pai era muito amigo dos filhos, mas era mais distante e gostava da vida
boêmia. Passaria para o filho porém, o gosto pelo esportes.
Che
nasceu de oito meses, débil, aos quarenta dias de vida teve pneumonia e
antes dos dois anos já sofria a primeira crise de asma.
A
família mudava muito de cidade, em busca de um clima melhor para o
garoto, até parar em Alta García, na região serrana de Córdoba, onde ele
vai crescer. Ficava muito em casa, até de cama, por causa da asma, e
assim começou a gostar de literatura: Julio
Verne, Baudelaire, Antonio Machado, Cervantes, García Lorca, Pablo
Neruda e outros clássicos passam a fazer parte de seu universos, embora
esse último tenha o influenciado muito a política e a filosofia.
Era
bom aluno, estudando em escola pública, freqüentada por meninos da
cidade e da roça, remediados e pobres, e sempre teve facilidade imensa
de relacionamento com os outros, já exercitando sua capacidade de
liderança.
A adolescência será marcada fortemente pela Guerra Civil Espanhola e depois pela segunda Guerra Mundial, quando o pai forma a Ação Argentina , organização antifascista em que increve o filho.
Em
Córdoba começa a jogar rúgbi, tênis, golfe, além de se dedicar à
natação. Nessa cidade fica amigo dos irmãos Tomás e Alberto Granado,
colegas de colégio com os quais viverá grandes aventuras. No colégio,
revela-se bom em literatura e filosofia e medíocre em matemática e
química - em música e física, um desastre, conforme seu boletim da 4ª
série. Desde então é um grande enxadrista, brilhando nos tabuleiros da
Olimpíada Universitária de 1948, Aí já terminara os estudos secundários,
em 1946, e a família se mudara para Buenos Aires. Pensava em estudar
engenharia, mas a morte da avó, à qual era muito ligado e de quem
assiste à morte, leva-o adecidir-se pela medicina.
Aos
dezoito anos alista-se no serviço militar obrigatório, mas é dispensado
por causa da asma, sorte para um jovem de família antiperonista ( o
exército argentino era então o grande reduto de Perón ).
Namorador,
atrevido e divertido, não pertenceu a nenhuma organização estudantil.
Sempre foi relaxado com roupas, camisa fora da calça, sapatos
desamarrados e um fascínio por viagens o levaria, em 1949, aos 21 anos, a
percorrer, mochila às costas, o norte argentino numa bicicleta
motorizada que ele próprio desenhou e construiu.
Em
dezembro do ano seguinte, inscreve-se como enfermeiro da marinha
mercante Argentina e viaja em petroleiros e cargueiros para vários
países, inclusive o Brasil.
Em
4 de janeiro de 1952, com 23 anos e a dois anos de sua formatura como
médico, lançou-se com Alberto Granado, o melhor amigo em uma aventura
pela América Latina, 10.000 quilômetros, numa Norton 500 que apelidou de
"La Poderosa II". Durante oito meses, percorreram cinco países e a
aventura marcou sua ruptura com os laços nacionais.Para pagar as
despesas deviagem,
trabalharam como carregadores, lavadores de prato, marinheiros e
médicos, o que já revelava sua coragem, espírito de independência e
desprezo pelo perigo.
Foi
a partir dessa viagem, que começou a se sentir e se expressar como um
latino-americano e não apenas como argentino, quando viu o desamparo, a
exploração e a miséria como traço característico do nosso continente.
Quando voltou, escreveu em seu "Diário de Viagem" (Livro publicado em
enches no ano de 1970) "Já não sou mais o mesmo". Talvez a sua viajem
pelo continente tivesse mostrado-lhe a pobreza dos seus vizinhos....
Vai
a Machu-Pcchu, vai navegar o Amazonas de balsa, vai atravessar o
deserto de Atacama, conhecerá mineiros comunistas e povos indígenas.
Dessa viagem ficará um diário que vai virar grande recesso editorial e
pelo qual se nota sua crescente politização e o choque que lhe provocam a
pobreza, a injustiça e a arbitrariedade que encontrou pelo caminho. O
hábito de escrever diários irá acompanhá-lo até seus últimos dias, na
Bolívia.
Em
agosto de 1952 decide regressar a Buenos Aires para terminar o curso de
medicina, formando-se pela Universidade Nacional de Buenos Aires em
junho de 1953 como especialista em alergia e após fazendo doutorado.
Não
deixa passar um mês e já pega a estrada,dessa vez com outro amigo,
Calica Ferrer. Foi trabalhar em diversos países, na ânsia de descobrir a
cura para a sua terrível doença, a asma, que o atormentava desde
pequeno.Está com 25 anos e não voltará mais para a Argentina.
Rumou
para a Venezuela, com parada na Bolívia por ficar mais barata a
passagem do trem, onde ficara seu amigo Granados, para trabalhar na
pesquisa da lepra, conheceu o advogado argentino Ricardo Rojo (Autor do
livro Meu Amigo Che), que estava refugiado naquele país, por sua atividade política antiperonista. Rojo lhe fez um convite decisivo:
"Para
que queres ir a Venezuela, um país que só serve para ganhar dólares?
Vem comigo a Guatemala, porque ali vai ter lugar uma verdadeira
Revolução Social" .
Fica
cinco semanas em La Paz, estuda os intentos de reforma agrária, e
assiste ao país vivendo o primeiro ano do governo reformista de Paz
Estensoro, o que valerá a Che um aprofundamento político que os
biógrafos consideram de vital importância para seu amadurecimento,
embora venha depois a desencantar-se com os rumos tomados pelo governo
dito revolucionário.
Che
desembarcou na Guatemala a 24 de dezembro de 1953, acompanhado de Rojo e
do Dr. Eduardo Garcia, também exilado argentino. Na Guatemala, o
presidente Jacobo Arbenz Guzmán desenvolvia um governo Revolucionário do
qual Che participou através do Instituto Nacional da Reforma Agrária.
Tentou
formar um grupo armado para organizar a resistência contra a invasão
norte-americana. Passa pela Costa Rica, onde faz contatos políticos e
onde sua vida começa a dar guinadas definitivas: conhece em San José
dois cubanos exilados que haviam escapado da célebre tentativa de tomada
do Quartel Moncada, em 26 de julho de 1953. Os dois lhe contam a
espetacular porém malograda ação de Fidel Castro buscando derrubar a
ditadura de Fulgencio Batista a partir do assalto ao quartel da segunda
maior cidade cubana, Santiago.
Fica
amigo dos dois -Calixto García e Severino Rossel, e com eles irá para a
Guatemala, onde será apresentados a outros cubanos, no final de 1953.
Guevara está então com 26 anos, é admirador da URSS e deseja se
inscrever a um partido comunista de qualquer país que seja, enquanto
trabalha como médico para sindicatos guatemaltecos, reunido ainda mais
experiência à sua sólida bagagem ideológica.
Vai
permanecer quase nove meses na Guatemala e conhecer Hilda Gadea
marxista convicta, militante política peruana que mais tarde tornará sua
primeira mulher. Passa apertos, não consegue exercer a medicina, e tem
de vender enciclopédias de porta em porta. O país está passando por
grande reforma, conduzida pelo presidente eleito (era o segundo na
história) Jacobo Arbenz, que iniciara um amplo programa de reforma
agrária expropriando as terras da poderosa empresa norte-americana
United Fruit Company. Ao tocar nos interesses da empresa é derrubado do
poder por iniciativa de Washington e com o apoio da OEA, em junho de
1954.
A
18 de junho de 1954, mercenários pagos pelos americanos invadem o país
processando um golpe militar que derruba o governo constitucional de
Arbenz e instala a ditadura do coronel Castillo Armas, fiel aos
interesses exportadores da United Fruit, cujas terras são devolvidas.
Segundo alguns autores, esta experiência será decisiva na definição
política de Guevara. Ele teria de sair imediatamente da Guatemala, pois
tinha sido condenado à morte por ter apoiado o regime anterior.
Che,
por sua atuação nos sindicatos, é informado de que corre perigo e se
asila na embaixada Argentina. Hilda é presa, mas logo é solta e ambos
sairão legalmente do país.
Tomaram
a decisão de ir para o México, com Hilda já grávida, lá se casam em
agosto de 1955 e têm uma filha, Hilda Beatriz, Hildita.
No
México, onde vai ganhar o apelido de Che, por usar a expressão sempre
que fala com os outros, Guevara compra uma máquina fotográfica e começa a
ganhar a vida fotografando turistas nas
ruas da capital, Cidade do México. E é até contratado por uma agência
noticiosa Argentina para cobrir os Jogos Pan.Americanos de 1955, que se
realizam no País. Ao mesmo tempo, escreve artigos científicos sobre sua
especialidade, alergia.
Em
junho, é apresentado a Raúl Castro, líder estudantil cubano recém-saído
da prisão em Cuba. Poucos dias depois chega o irmão de Raúl, Fidel, em 8
de julho de 1955, que Raúl apresenta a Che. Fidel passaram um ano e dez
meses preso na ilha de Pinos, Cuba, pelo episódio do Quartel Moncada.
Fora anistiado por Batista, a quem derrubaria, com Che, Três anos
depois. Chegava ao México para dali dar início à insurreição contra a
ditadura em Cuba, instalada desde o golpe militar de 1952.
O treinamento para a luta armada em Cuba começa no México e Guevara se inscreve em setembro, dois meses após conhecer Fidel.
Na
madrugada do dia 25 de novembro com Fidel Castro e os exilados cubanos
do "Movimento 26 de julho" para combater a ditadura de Batista., zarpa
do porto mexicano de Tuxplan o iate Granma, com capacidade para vinte
passageiros, levando 82 guerrilheiros, entre eles Che Guevara,
encarregado de atender os eventuais feridos no desembarque em Cuba.
Junto
com mais 18 homens, organizaram e penetraram em Sierra Maestra,na ilha
de Cuba para no ano de 1959, tomar a cidade de Havana e, de uma vez por
todas por fim ao imperialismo norte-americano que habitava a pequena
ilha.
Desembarcam
no dia 2 de dezembro, e três dias depois são cercados e atacados pelos
soldados numa emboscada, sobrando apenas 12 homens.
Foi um dos doze sobreviventes que por méritos de guerra foi nomeado comandante.
Estes
conseguem refugiar-se em Sierra Maestra onde tomam contato com os
camponeses e a guerrilha se multiplica e ganha prestígio, tanto dentro
como fora de Cuba, obtendo inúmeras ações vitoriosas contra as tropas do
governo. Em 1957 Che é nomeado comandante da 2ª Coluna (
Ciro Redondo) . Invadiu Las Villas e, após atravessar toda a ilha,
junto com a coluna de Camilo Cienfuegos, em 1 de janeiro de 1959,
Guevara toma a cidade de Santa Clara e em 8 de janeiro, Fidel Castro
entra triunfalmente em Havana.
As
relações entre o governo de Fidel e os EUA tornam-se tensas a partir do
momento que este tenta diminuir o domínio norte-americano sobre a
economia cubana. Em abril de 1961 a CIA invadiu Cuba com um exército de
mercenários e refugiados cubanos. Esta invasão à Baía dos Porcos resulta
num fracasso total.
Os
E.U.A estabeleceram um embargo econômico junto á mesma para que se
fosse encerrada a Revolução. Mas nada disso aconteceu. Com a ajuda da
URSS, Cuba foi se protegendo.
Em
1959 ocupou o cargo de diretor do Instituto Nacional de Reforma Agrária
e posteriormente o de presidente da banca nacional, o de responsável
pelas finanças do país, chefe do banco central cubano.
Em
19 de agosto de 1961 de passagem pelo Brasil é condecorado com a Ordem
do Cruzeiro do Sul pelo então presidente Jânio Quadros que renunciaria
uma semana depois.
Che
transfere-se para a direção do Ministério das Indústrias(1961-1965).
Discursa numa reunião da OEA em Punta del Este e denuncia o imperialismo
americano e seu aliados.
Fidel
declara-se socialista e aproxima-se da URSS recebendo dela mísseis
nucleares que poderiam atingir os EUA, é a "crise dos mísseis" de 1962,
Kennedy ordena o bloqueio de Cuba pela Marinha e ameaça invadi-la. Sem
consultar os cubanos, os soviéticos retiram os mísseis. Durante todo
este período Che escreve e publica suas principais obras. Em 11 de
dezembro de 1964 discursa na ONU onde oferece o apoio de Cuba para as
lutas de libertação no Terceiro Mundo.
Mas
como ele mesmo dizia, era , para ele , impossível ficar sentado em uma
sala fechada, Che representando o governo revolucionário parte para a
África onde toma conhecimento dosmovimentos
de libertação nacional africanos. Realizou varias viagens por paises
afro-asiáticos e socialistas (Checoslovaquia, U.R.S.S., China popular,
etc.). Presidiu a delegação cubana na Conferencia de Punta del Este
(1961) e no seminário de planificação de Argel (1963). Após uma volta
pela África negra onde combateu pelo comunismo, volta a Cuba, e
desaparece da vida pública e, poucos meses depois, Castro veio a
conhecer sua renuncia a todos os cargos e sua partida da ilha. Após uma
estadia no Congo como instrutor das guerrilhas de Sumialot e Mulele
(1965-1966), em setembro de 1966 Che chega à Bolívia para estabelecer um
centro de treinamento de guerrilha, onde deveria servir de
quartel-general tanto para revolucionários bolivianos quanto para
aqueles que iriam chefiar revoluções em países vizinhos. A posição
boliviana era estratégica pois ocupava geograficamente o centro do
continente sul-americano. Uma série de desentendimentos entre o PC
boliviano e a guerrilha faz com que o primeiro retire o seu apoio,
deixando Guevara e seus homens completamente isolados.
Foi
dizimado pelo exercito dirigido e apoiado pelos Rangers
norte-americanos. Em 8 de outubro é ferido em combate em "la Quebrada
del Yuro" Bolívia.no dia 9 é executado covardemente por oficiais
Bolivianos (Patrocinados pela CIA - Estados Unidos).
Em
18 de abril de 1967 é publicado em Cuba a mensagem de despedida de Che,
após ter se tornado um líder para os cubanos e um dos responsáveis pela
vitória da revolução.
Em 29 de junho de 1997, seus restos mortais são encontrados, em uma fossa em Vallegrande junto com mais 6 guerrilheiros.
Ao
12 de julho de 1997 é recebido no aeroporto de "San Antônio de Los
Baños" por sua família e companheiros. Os restos de Che descansarão
temporariamente na sala Granma do Ministério das Forças Armadas e serão
levados em outubro a um mausoléu na Praça Ernesto Che Guevara em Santa
Clara.
Suas
ações e idéias tiveram um papel fundamental nas lutas do Terceiro Mundo
para libertarem-no do jogo do imperialismo e a modificação para
tornarem melhores as estruturas sócio-econômicas vigentes. As idéias e a
prática de Guevara abrangem um amplo espectro da vida política
contemporânea
http://gilsonsampaio.blogspot.com.br/2011/06/hoje-na-historia-1928-nasce-che-guevara.html
*Briguilino