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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, março 30, 2013

A importância dos paraísos fiscais para o neoliberalismo

Por Marco St.
Paraíso perdido: Chipre
Os paraísos fiscais não são segmentos marginais da economia mundial: a sua dimensão demonstra que fazem parte da sua estrutura íntima. Estes pequenos céus fiscais são um componente chave do setor financeiro mundial e das suas operações de rotina.
DE ALEJANDRO NADAL, Do Portal Esquerda.Net

O episódio mais recente da crise económica coloca os chamados paraísos fiscais no centro da cena. Chipre é uma pequena economia e uma grande dor de cabeça, mas o essencial é que revelou uma vez mais a importância destes espaços na economia mundial: a globalização neoliberal não teria podido desenvolver-se sem a ajuda destes instrumentos da acumulação financeira.
Começamos com uma definição: um paraíso fiscal é um espaço económico com impostos muito baixos (ou zero) sobre capitais e seus rendimentos. Também oferecem regras de regulação muito fracas sobre todo o tipo de transações financeiras (especialmente as realizadas com derivados) e mantêm o sigilo bancário de maneira quase absoluta sobre titulares de contas e beneficiários, assim como da origem e destino dos depósitos e levantamentos. Em suma, é o campo ideal para a evasão de impostos e para introduzir recursos de procedência ilegal mos fluxos convencionais da economia mundial. Se a crise em Chipre adquire relevância é porque estamos em presença de um dos paraísos fiscais mais importantes do mundo.
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*Nassif

Processos da Globo calam o Viomundo

Do Viomundo

Globo consegue o que a ditadura não conseguiu: calar imprensa alternativa


por Luiz Carlos Azenha

Meu advogado, Cesar Kloury, me proíbe de discutir especificidades sobre a sentença da Justiça carioca que me condenou a pagar 30 mil reais ao diretor de Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, supostamente por mover contra ele uma “campanha difamatória” em 28 posts do Viomundo, todos ligados a críticas políticas que fiz a Kamel em circunstâncias diretamente relacionadas à campanha presidencial de 2006, quando eu era repórter da Globo.

Lembro: eu não era um qualquer, na Globo, então. Era recém-chegado de ser correspondente da emissora em Nova York. Fui o repórter destacado para cobrir o candidato tucano Geraldo Alckmin durante a campanha de 2006. Ouvi, na redação de São Paulo, diretamente do então editor de economia do Jornal Nacional, Marco Aurélio Mello, que tinha sido determinado desde o Rio que as reportagens de economia deveriam ser “esquecidas”– tirar o pé, foi a frase — porque supostamente poderiam beneficiar a reeleição de Lula.

Vi colegas, como Mariana Kotscho e Cecília Negrão, reclamando que a cobertura da emissora nas eleições presidenciais não era imparcial.

Um importante repórter da emissora ligava para o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dizendo que a Globo pretendia entregar a eleição para o tucano Geraldo Alckmin. Ouvi o telefonema. Mais tarde, instado pelo próprio ministro, confirmei o que era também minha impressão.
Pessoalmente, tive uma reportagem potencialmente danosa para o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, censurada. A reportagem dava conta de que Serra, enquanto ministro, tinha autorizado a maior parte das doações irregulares de ambulâncias a prefeituras.

Quando uma produtora localizou no interior de Minas Gerais o ex-assessor do ministro da Saúde Serra, Platão Fischer-Puller, que poderia esclarecer aspectos obscuros sobre a gestão do ministro no governo FHC, ela foi desencorajada a perseguí-lo, enquanto todos os recursos da emissora foram destinados a denunciar o contador do PT Delúbio Soares e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, este posteriormente absolvido de todas as acusações.

Tive reportagem sobre Carlinhos Cachoeira — muito mais tarde revelado como fonte da revista Veja para escândalos do governo Lula — ‘deslocada’ de telejornal mais nobre da emissora para o Bom Dia Brasil, como pode atestar o então editor Marco Aurélio Mello.

Num episódio específico, fui perseguido na redação por um feitor munido de um rádio de comunicação com o qual falava diretamente com o Rio de Janeiro: tratava-se de obter minha assinatura para um abaixo-assinado em apoio a Ali Kamel sobre a cobertura das eleições de 2006.

Considero que isso caracteriza assédio moral, já que o beneficiado pelo abaixo-assinado era chefe e poderia promover ou prejudicar subordinados de acordo com a adesão.

Argumentei, então, que o comentarista de política da Globo, Arnaldo Jabor, havia dito em plena campanha eleitoral que Lula era comparável ao ditador da Coréia do Norte, Kim Il-Sung, e que não acreditava ser essa postura compatível com a suposta imparcialidade da emissora. Resposta do editor, que hoje ocupa importante cargo na hierarquia da Globo: Jabor era o “palhaço” da casa, não deveria ser levado a sério.

No dia do primeiro turno das eleições, alertado por colega, ouvi uma gravação entre o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno e um grupo de jornalistas, na qual eles combinavam como deveria ser feito o vazamento das fotos do dinheiro que teria sido usado pelo PT para comprar um dossiê contra o candidato Serra.

Achei o assunto relevante e reproduzi uma transcrição — confesso, defeituosa pela pressa – no Viomundo.

Fui advertido por telefone pelo atual chefão da Globo, Carlos Henrique Schroeder, de que não deveria ter revelado em meu blog pessoal, hospedado na Globo.com, informações levantadas durante meu trabalho como repórter da emissora.

Contestei: a gravação, em minha opinião, era jornalisticamente relevante para o entendimento de todo o contexto do vazamento, que se deu exatamente na véspera do primeiro turno.

Enojado com o que havia testemunhado ao longo de 2006, inclusive com a represália exercida contra colegas — dentre os quais Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e Carlos Dornelles — e interessado especialmente em conhecer o mundo da blogosfera — pedi antecipadamente a rescisão de meu contrato com a emissora, na qual ganhava salário de alto executivo, com mais de um ano de antecedência, assumindo o compromisso de não trabalhar para outra emissora antes do vencimento do contrato pelo qual já não recebia salário.

Ou seja, fiz isso apesar dos grandes danos para minha carreira profissional e meu sustento pessoal.

Apesar das mentiras, ilações e tentativas de assassinato de caráter, perpretradas pelo jornal O Globo* e colunistas associados de Veja, friso: sempre vivi de meu salário. Este site sempre foi mantido graças a meu próprio salário de jornalista-trabalhador.

O objetivo do Viomundo sempre foi o de defender o interesse público e os movimentos sociais, sub-representados na mídia corporativa. Declaramos oficialmente: não recebemos patrocínio de governos ou empresas públicas ou estatais, ao contrário da Folha, de O Globo ou do Estadão. Nem do governo federal, nem de governos estaduais ou municipais.

Porém, para tudo existe um limite. A ação que me foi movida pela TV Globo (nominalmente por Ali Kamel) me custou R$ 30 mil reais em honorários advocatícios.

Fora o que eventualmente terei de gastar para derrotá-la. Agora, pensem comigo: qual é o limite das Organizações Globo para gastar com advogados?

O objetivo da emissora, ainda que por vias tortas, é claro: intimidar e calar aqueles que são capazes de desvendar o que se passa nos bastidores dela, justamente por terem fontes e conhecimento das engrenagens globais.

Sou arrimo de família: sustento mãe, irmão, ajudo irmã, filhas e mantenho este site graças a dinheiro de meu próprio bolso e da valiosa colaboração gratuita de milhares de leitores.

Cheguei ao extremo de meu limite financeiro, o que obviamente não é o caso das Organizações Globo, que concentram pelo menos 50% de todas as verbas publicitárias do Brasil, com o equivalente poder político, midiático e lobístico.

Durante a ditadura militar, implantada com o apoio das Organizações Globo, da Folha e do Estadão — entre outros que teriam se beneficiado do regime de força — houve uma forte tentativa de sufocar os meios alternativos de informação, dentre os quais destaco os jornais Movimento e Pasquim.

Hoje, através da judicialização de debate político, de um confronto que leva para a Justiça uma disputa entre desiguais, estamos fadados ao sufoco lento e gradual.

E, por mais que isso me doa profundamente no coração e na alma, devo admitir que perdemos. Não no campo político, mas no financeiro. Perdi. Ali Kamel e a Globo venceram. Calaram, pelo bolso, o Viomundo.
 *Nassif
Estou certo de que meus queridíssimos leitores e apoiadores encontrarão alternativas à altura. O certo é que as Organizações Globo, uma das maiores empresas de jornalismo do mundo, nominalmente representadas aqui por Ali Kamel, mais uma vez impuseram seu monopólio informativo ao Brasil.

Eu os vejo por aí.

PS do Viomundo: Vem aí um livro escrito por mim com Rodrigo Vianna, Marco Aurelio Mello e outras testemunhas — identificadas ou não — narrando os bastidores da cobertura da eleição presidencial de 2006 na Globo, além de retratar tudo o que vocês testemunharam pessoalmente em 2010 e 2012.

PS do Viomundo 2: *Descreverei detalhadamente, em breve, como O Globo e associados tentaram praticar comigo o tradicional assassinato de caráter da mídia corporativa brasileira.

sexta-feira, março 29, 2013

EUA enviam bombardeiros nucleares à Coreia do Sul


Charge foto e frase do dia







































Documentário - Derrubaram o Pinheirinho

Mário Sérgio Cortella - A Mídia Como Corpo Docente


Entrevista coletiva concedida pela presidenta Dilma durante V Cúpula dos BRICS

O novo Papa e o velho fundamentalismo

Pio XII e Hitler


Por Cléber Sérgio de Seixas

Como assinalou o jornalista Luiz Carlos Azenha, o Papa escolhido terá a dupla tarefa de "frear os evangélicos e a esquerda na América Latina". Jorge Mario Bergoglio está para os evangélicos e para as esquerdas latino-americanas assim como Karol Wojtyla estava para o comunismo polonês. Um homem forte, que supostamente fora conivente com um regime forte – uma ditadura, para ser mais exato –, seria o ideal para contrapor-se aos regimes de esquerda que pululam na América ao sul do Rio Bravo. Seria também o homem certo para combater o crescimento das igrejas evangélicas, sobretudo as neopentecostais, que com seus pastores midiáticos, cuja pregação centra-se no evangelho da prosperidade, dia-a-dia arranca fiéis das fileiras do catolicismo. A esquerda dentro da Igreja e sua “opção pelos pobres” também poderia ser alvo das investidas do novo Papa.

Engana-se quem pensa que o Sumo Pontífice será apenas o pastor do rebanho católico mundial. A História revela que os papas também agiam na esfera política e, salvo raríssimas exceções, sempre se posicionaram de forma conservadora ao lado das classes dominantes. Vide o exemplo de Pio XII, cuja omissão à perseguição aos judeus empreendida pelos nazistas lhe fez merecer de John Cornwell a alcunha de “O Papa de Hitler” em livro homônimo. É bom lembrar que no Brasil da primeira metade dos anos 60 a cúpula católica fora francamente contrária aos rumos progressistas tomados pelo governo Jango, tendo organizado, sob a batuta do padre irlandês Patrick Peyton, a famigerada “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, e louvado o golpe de 01 de abril de 64. O objetivo maior era deter o “perigo vermelho” supostamente aliado a Goulart. Só após o endurecimento do regime - quando jovens filhos de “boas mães católicas” começaram a ser trucidados nos porões da ditadura - e após os posicionamentos em defesa dos direitos humanos de alguns clérigos e alas da Igreja, com foi o caso dos frades dominicanos e de Dom Hélder Câmara – a Igreja assumiu uma postura crítica aos generais.
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*observadoressociais

O CERCO RELIGIOSO AO ESTADO LAICO

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"Quando se legisla sob bases religiosas, abre-se o caminho para todo tipo de intolerância e perseguição religiosa" (W.B Yeats)

“Perseguição não é uma característica original em nenhuma religião, mas é sempre a característica marcante de toda lei baseada em religião, ou religião estabelecida pela lei” (Thomas Paine)
Desde que se tornou República, há 123 anos, o Brasil é um Estado laico ou secular, o que significa que é um Estado que não adota uma religião oficial, nem se confunde com nenhuma confissão religiosa, permite a ampla liberdade de crença e descrença, com igualdade de direitos entre as diversas crenças e “descrenças”. E, acima de tudo, não aceita fundamentações religiosas para definir os rumos políticos e jurídicos do país.

Diferimos, pois, de Estados confessionais, que são aqueles que, embora não se confundam com a religião da maioria, adotam-na como religião oficial, permitindo que ela influa nos rumos do país, além de lhe concederem privilégios. Foi o que aconteceu com o Brasil Imperial e é o que acontece ainda hoje com países como a Argentina, o Paraguai e a Costa Rica, entre outros. E ainda existem as teocracias, nas quais o Estado se confunde com a religião e esta decide os rumos da nação e de seus cidadãos, com os dogmas religiosos pautando as políticas estatais e as relações privadas. É o caso da maioria dos Estados islâmicos, como a Arábia Saudita e o Irã.          

Mas, apesar disso, o laicismo ainda não criou raízes no Brasil. A presença de crucifixos em repartições públicas e instituições escolares, os feriados religiosos, a assinatura, há alguns anos, de uma concordata entre o Brasil e o Estado do Vaticano, na qual se concede privilégios à Igreja Católica  e, mais recentemente, a aprovação, no Rio de Janeiro, de uma lei que estabelece o ensino religioso na grade curricular obrigatória das escolas de ensino fundamental da rede municipal são exemplos disso.

Agora, segundo matéria do jornal O Globo de domingo, mais da metade das escolas públicas brasileiras subvertem a Constituição ao obrigar os alunos a assistir aulas de religião e mesmo a fazer orações. Segundo levantamento feito pelo portal Qedu.org.br, a partir dos dados do questionário da Prova Brasil 2011, em 51% dos colégios há o costume de se fazer orações ou cantar músicas religiosas. De acordo com a reportagem, nas escolas públicas de ensino fundamental que oferecem aulas de ensino religioso (dois terços do total), 49% dos diretores admitiram que a presença nessas aulas é obrigatória. A maior incidência dessas práticas ocorre no Tocantins, onde 73,9% dos diretores admitiram ser comum a prática de cânticos e orações nas escolas. Na sequência, estão os estados de Goiás (67,4%) e Espírito Santo (65,8). Os estados de menor ocorrência são Amapá (35,4%); Rio Grande do Sul (35,1%) e Santa Catarina (34,5%). 
A prática contraria frontalmente a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), segundo a qual a religião é uma disciplina facultativa. Como se não bastasse, em 80% dessas escolas não há atividades alternativas para estudantes que não queiram assistir aulas de religião. E a reportagem relata ainda casos de bullying contra alunos praticantes do candomblé ou sem confissão religiosa, levados a cabo inclusive por professores.

Cristina Kirchner e o papa Francisco
Por essas e por outras é que podemos considerar “uma benção” para o Brasil o fato de o Conclave não ter elegido um papa brasileiro. Vocês já imaginaram a pressão que a santa madre igreja católica iria fazer sobre o governo federal para tentar impor sua agenda medieval – combate ao aborto, veto à pesquisa de células-tronco, à camisinha, aos direitos das mulheres, dos homossexuais e de outros “desviantes” – caso isso acontecesse? Para quem duvida, convém prestar atenção nos movimentos da Santa Sé em relação à Argentina. Principalmente agora que Cristina Kirchner disse que o papa Francisco é peronista...