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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, março 29, 2013

O novo Papa e o velho fundamentalismo

Pio XII e Hitler


Por Cléber Sérgio de Seixas

Como assinalou o jornalista Luiz Carlos Azenha, o Papa escolhido terá a dupla tarefa de "frear os evangélicos e a esquerda na América Latina". Jorge Mario Bergoglio está para os evangélicos e para as esquerdas latino-americanas assim como Karol Wojtyla estava para o comunismo polonês. Um homem forte, que supostamente fora conivente com um regime forte – uma ditadura, para ser mais exato –, seria o ideal para contrapor-se aos regimes de esquerda que pululam na América ao sul do Rio Bravo. Seria também o homem certo para combater o crescimento das igrejas evangélicas, sobretudo as neopentecostais, que com seus pastores midiáticos, cuja pregação centra-se no evangelho da prosperidade, dia-a-dia arranca fiéis das fileiras do catolicismo. A esquerda dentro da Igreja e sua “opção pelos pobres” também poderia ser alvo das investidas do novo Papa.

Engana-se quem pensa que o Sumo Pontífice será apenas o pastor do rebanho católico mundial. A História revela que os papas também agiam na esfera política e, salvo raríssimas exceções, sempre se posicionaram de forma conservadora ao lado das classes dominantes. Vide o exemplo de Pio XII, cuja omissão à perseguição aos judeus empreendida pelos nazistas lhe fez merecer de John Cornwell a alcunha de “O Papa de Hitler” em livro homônimo. É bom lembrar que no Brasil da primeira metade dos anos 60 a cúpula católica fora francamente contrária aos rumos progressistas tomados pelo governo Jango, tendo organizado, sob a batuta do padre irlandês Patrick Peyton, a famigerada “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, e louvado o golpe de 01 de abril de 64. O objetivo maior era deter o “perigo vermelho” supostamente aliado a Goulart. Só após o endurecimento do regime - quando jovens filhos de “boas mães católicas” começaram a ser trucidados nos porões da ditadura - e após os posicionamentos em defesa dos direitos humanos de alguns clérigos e alas da Igreja, com foi o caso dos frades dominicanos e de Dom Hélder Câmara – a Igreja assumiu uma postura crítica aos generais.
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*observadoressociais

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