Segundo amigos próximos, reencontro com Dirceu foi marcado por comoção e
ex-ministro passou um recado para a família, triste por nova decisão de
Barbosa: 'De agora em diante, quem cuida dele sou eu'
por Hylda Cavalcanti, da RBA
ALAN MARQUES/FOLHAPRESS
O ex-deputado durante exames recentes em Brasília: para médico pessoal, risco grave de problemas
Brasília – Neste sábado (3), o ex-deputado José Genoino Guimarães Neto
passará seu aniversário de 68 anos no complexo Penitenciário da Papuda,
no Distrito Federal, para onde retornou na última quinta-feira por
decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro
Joaquim Barbosa. Seus filhos, Miruna, Ronan e Mariana, e a esposa Rioco
planejam encaminhar uma encomenda e uma carta para que chegue às suas
mãos, numa forma de homenagem pela data, mas ainda não sabem se isso
será possível. Caso o presente – muito mais simbólico que de caráter
material – seja entregue, será por meio de uma tentativa do advogado
Cláudio Alencar, porque os dias de visita aos detentos na Papuda são
quartas e quintas-feiras, nunca os sábados.
Na família Kayano Genoino, o clima é de tristeza, inquietude e
preocupação com o estado de saúde de Genoino, condenado a prisão em
regime semiaberto na Ação Penal 470 (mensalão) em novembro passado, mas
que vinha cumprindo a pena em regime domiciliar por conta de seu estado
clínico até receber a decisão de Barbosa para que retornasse ao
presídio.
“Eles estão abalados e tristes, claro, mas não abatidos”, afirmou uma
amiga próxima, numa forma de definir os principais sentimentos dos
filhos e da esposa. Na próxima segunda-feira (5), a defesa do
ex-deputado entrará com pedido de recurso junto ao STF, pedindo que seja
revista a decisão, em razão da necessidade dele ser submetido a
medicamentos e dieta rigorosos – além de outras especificidades que uma
unidade prisional não tem condições de oferecer.
A família, desde que chegou o comunicado de que Genoino teria de
retornar ao cumprimento da pena em regime semiaberto, passou a receber
telefonemas diversos de amigos próximos. Três deles se deslocaram de São
Paulo a Brasília, assim como o filho Ronan, para passar com o
ex-parlamentar os últimos momentos antes de se apresentar. Conforme
informações dessas pessoas, foi o próprio José Genoino que confortou a
todos, dizendo que não se preocupassem porque ele estava se sentindo bem
e que estava resignado a cumprir o que lhe tinha sido determinado.
Reencontro emocionado
Um momento relatado como emocionante, também, foi o encontro dele com
José Dirceu, na chegada ao complexo penitenciário. José Genoino chegou
ao presídio acompanhado do seu médico particular, Geniberto Paiva
Campos, e do advogado, Cláudio Alencar, e recebeu grande e afetuoso
abraço de Dirceu, que passou um recado para a família. “De agora em
diante, quem cuida dele sou eu”, disse o ex-ministro, nesse reencontro.
“Fiquem tranquilos porque tomarei conta dele, verificarei horários,
dosagens de remédios e farei tudo para que fique bem.”
No resultado do laudo elaborado pela junta médica que avaliou as
condições clínicas de Genoino pela segunda vez, os médicos asseguraram
que a situação de saúde do ex-deputado é estável e intensificaram o
termo “sem excepcionalidades” para explicar sua situação clínica de um
modo geral. A filha mais velha de Genoino, Miruna, no entanto, divulgou
notas com documentos de médicos cardiologistas renomados
internacionalmente, além do laudo do seu médico particular, que mostram
as exigências e cuidados necessários para pacientes com o mesmo problema
de saúde.
Geniberto Paiva Campos, cardiologista que o atende desde o início,
durante entrevista concedida ao site Viomundo, foi taxativo: “Genoino
não conseguirá atingir o nível ideal de anticoagulação na cadeia”. Ele
chamou a situação de “temerosa”. Conforme suas explicações, em razão de
ter tido um pequeno derrame (acidente vascular hemorrágico) em meio às
complicações cardíacas, o deputado precisa tomar varfarina, um
anticoagulante que afina o sangue e evita a formação de trombos
(coágulos que vão crescendo e podem chegar a obstruir a passagem do
sangue para áreas nobres do organismo).
Acontece que para que esse anticoagulante tenha o efeito desejado, é
preciso que se atinja o nível ideal no sangue do paciente. E o índice
necessário de regularização normatizada internacional (sigla
identificada como RNI) fica entre os níveis 2 e 3. O do ex-deputado,
segundo o médico, estaria pouco abaixo de 2.
“Mesmo Genoino tomando todos os cuidados com a varfarina e a alimentação
em casa, ele ainda não está anticoagulado em nível ideal. Isso é grave,
pois ele tem risco de novo tromboembolismo. Se o Genoino não atingiu o
nível ideal de anticoagulação em casa, com todos os cuidados, protegido,
não será na cadeia que conseguirá”, afirmou. Paiva Campos, indo mais
além, definiu o retorno do ex-parlamentar para o complexo penitenciário
como uma “irresponsabilidade”. “Genoino tem risco de novo
tromboembolismo, que pode ser fatal”, completou.
Junta médica
Outra crítica que tem sido feita diz respeito à junta médica que
elaborou, pela segunda vez, o laudo com avaliação do ex-deputado. Com
exceção da médica Hilda Barros, que não integrou a segunda junta por
estar em licença, os demais profissionais são os mesmos designados
anteriormente. Embora não tenha sido questionada a credibilidade destes
médicos, detentores de currículo renomado, alguns se destacam por já
terem apresentado preferências políticas contrárias ao PT e favoráveis
ao julgamento do mensalão, motivo pelo qual a escolha tem sido
questionada quanto à isenção.
Quando foram convocados para integrar o grupo pela segunda vez, o
entendimento que prevaleceu, inclusive apresentado por representantes do
STF, foi de que é considerado mais preciso um laudo médico efetuado por
profissionais que já tinham avaliado o paciente anteriormente. Mas a
repetição dos nomes não agradou a militantes do PT e tem sido vista como
um erro de percepção por parte do presidente do tribunal, inclusive na
opinião de acadêmicos e operadores de Direito.
Dos integrantes da junta designada para examinar a situação de Genoino,
ao menos três médicos chegaram a se manifestar explicitamente favoráveis
à prisão dos réus da AP-470. Paulo Machado Ribeiro Junior costuma
publicar, em sua página no Facebook, várias críticas ao PT e à vinda de
médicos cubanos ao país. Ele também elogia o resultado do julgamento da
AP-470 constantemente nas redes sociais. Fernando Antibas Atik, outro
dos médicos, festejou, em comentários diversos no Twitter, a condenação
dos réus da ação, pelo STF, em novembro passado.
Hilda Arruda, que não integrou a última junta, também tem feito em
mídias sociais reclamações diversas ao programa Mais Médicos, do governo
petista. Mesmo os demais componentes do grupo que não expressaram
posições sobre a AP-470, são tidos como profissionais que possuiriam
ligações antigas com parlamentares da oposição.
“O que está em jogo é a questão do critério médico, da ética médica, não
a ideologia política destas pessoas. Um profissional da medicina
examina um paciente e ponto. O partido que ele apoia é irrelevante”,
chegou a colocar, em reunião, representante de uma entidade médica de
Brasília, em tom irritado e defendendo tal colegiado, diante das
especulações sobre as preferências político-partidárias desses
profissionais.
Mesmo assim, o ex-diretor de um hospital de São Paulo e uma
cardiologista que atua no Distrito Federal, que preferiram manter seus
nomes reservados, disseram, em entrevista àRBA, que independentemente de
ideologias políticas ou qualquer contestação ao laudo emitido pela
junta designada pelo STF, o tribunal poderia ter escolhido quaisquer
outros profissionais sem que isso viesse a representar problemas para a
avaliação do paciente.
Isso porque o exame de ressonância do miocárdio, pelo qual foi submetido
José Genoino, é de grande precisão, sem falar na quantidade de exames
correlatos realizados. Um destes médicos chegou a afirmar que,
clinicamente, consideraria melhor, até, que a junta tivesse sido formada
por médicos diferentes – para uma melhor percepção sobre o paciente.