Milhares
de pessoas ocuparam as ruas de São Paulo e Belo Horizonte nessa tarde
de sábado pelo fim da violência contra a mulher. Pelo quarto ano seguido
as cidades realizam as suas edições da Marcha das Vadias e expõem na
pele uma das feridas mais abertas: a luta contra a Cultura de Estupro.
Iniciado
em abril de 2011, no Canadá, o movimento de mulheres já puxou marchas
em Los Angeles, Chicago, Buenos Aires e Amsterdã. No Brasil já passou
por Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ), Santa Maria (RS), Cuiabá (MT),
João Pessoa (PB), Itabuna (BA), entre várias outras.
No
mesmo ano da fundação da iniciativa no Brasil foram notificados 12.087
casos de estupros no SINAN (Sistema de Informação de Agravos de
Notificação), dado que não reflete a totalidade da violência sexual
contra a mulher, já que algumas cidades mantém registros fora do Sistema
e muitas mulheres não tem coragem de denunciar seus agressores, temendo
repressão social. Do número apontado, 70% do estupros vitimizam
crianças e adolescentes, sendo que 51% delas se declaram negras ou
pardas.
Uma pesquisa recente do IPEA revelou que
26% da população brasileira acredita que mulheres merecem ser
estupradas baseadas em seu comportamento. Os movimentos de mulheres
responderam com a campanha "Não Mereço ser Estuprada" que mobilizou
milhares de usuários nas redes sociais no inicio de abril deste ano.
ABORTO NO SUS
O
estupro também está ligado a não criminalização do aborto, luta
histórica que já começa ter alguns reflexos. De acordo a com a Portaria
415 do Ministério da Saúde, apresentada na última quarta-feira (21), o
aborto passa a ser financiado pelo estado brasileiro na rede pública de
saúde (SUS) para quem alegar que sofreu abuso, quando a gravidez
oferecer risco de vida à mulher ou em caso de gestação de anencéfalo.
Para luta feminista, no entanto, nenhuma mulher é obrigada a parir se
não quiser, ao contrário do que pregam as religiões.
Apesar
de uma garantia gratuita ao direito da mulher de acesso ao
procedimento, a política pública ainda mostra-se insuficiente. Segundo
dados da Organização Mundial da Saúde, a média anual de abortos
provocados no Brasil é de um milhão. Em muitos casos, o fator
determinante sobre a saúde da mulher é a qualidade dos métodos aos quais
são submetidas - sem higiene, prática ou conhecimentos necessários, as
internações por complicações pós aborto chegam a 250 mil por ano.
Invariavelmente os riscos estão ligados às condições socioeconômicas da
mulher.
MARCHA 2014
A
Marcha 2014 acontece em um momento intenso das pautas de disputa de
gênero no Brasil, com uma forte mobilização feminista a favor do parto
humanizado, contra a "Cura Gay" e o abuso sexual no transporte público.
Em
SP a concentração se deu no vão do MASP, passando pela Rua Augusta e
fechando na a Praça Roosevelt, com aproximadamente 3 mil manifestantes.
Em BH centenas de pessoas estiveram presentes, saindo da Praça da
Estação e chegando até a região da Savassi. Além do movimento homônimo a
Marcha, outras organizações como o Conlutas, Coletivo Feminista Magu,
Juntos, Coletivo Rua e a Marcha Mundial das Mulheres, estiveram nas ruas
nas cidades.
Fotos: Oliver Kornblihtt / Mídia NINJA