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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, julho 26, 2014

A esquerda e a direita, de acordo com Ariano Suassuna



Ariano Suassuna, o ícone do Movimento Armorial (1927-2014). 

Carta Maior

"Quem, na sua visão do social, coloca a ênfase na justiça, é de esquerda. Quem a coloca na eficácia e no lucro, é de direita".
Ariano Suassuna, reproduzido da página do MST

Não concordo com a afirmação, hoje muito comum, de que não mais existem esquerda e direita. Acho até que quem diz isso normalmente é de direita. 
Talvez eu pense assim porque mantenho, ainda hoje, uma visão religiosa do mundo e do homem, visão que, muito moço, alguns mestres me ajudaram a encontrar. Entre eles, talvez os mais importantes tenham sido Dostoiévski e aquela grande mulher que foi santa Teresa de Ávila. 
Como consequência, também minha visão política tem substrato religioso. Olhando para o futuro, acredito que enquanto houver um desvalido, enquanto perdurar a injustiça com os infortunados de qualquer natureza, teremos que pensar e repensar a história em termos de esquerda e direita.
Temos também que olhar para trás e constatar que Herodes e Pilatos eram de direita, enquanto o Cristo e são João Batista eram de esquerda. Judas inicialmente era da esquerda.
Traiu e passou para o outro lado: o de Barrabás, aquele criminoso que, com apoio da direita e do povo por ela enganado, na primeira grande “assembléia geral” da história moderna, ganhou contra o Cristo uma eleição decisiva.
De esquerda eram também os apóstolos que estabeleceram a primeira comunidade cristã, em bases muito parecidas com as do pré-socialismo organizado em Canudos por Antônio Conselheiro. Para demonstrar isso, basta comparar o texto de são Lucas, nos “Atos dos Apóstolos”, com o de Euclydes da Cunha em “Os Sertões”.
Escreve o primeiro: “Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum. Não havia entre eles necessitado algum. Os que possuíam terras e casas, vendiam-nas, traziam os valores das vendas e os depunham aos pés dos apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um, segundo a sua necessidade”.
Afirma o segundo, sobre o pré-socialismo dos seguidores de Antônio Conselheiro: “A propriedade tornou-se-lhes uma forma exagerada do coletivismo tribal dos beduínos: apropriação pessoal apenas de objetos móveis e das casas, comunidade absoluta da terra, das pastagens, dos rebanhos e dos escassos produtos das culturas, cujos donos recebiam exígua quota parte, revertendo o resto para a companhia” (isto é, para a comunidade).
Concluo recordando que, no Brasil atual, outra maneira fácil de manter clara a distinção é a seguinte: quem é de esquerda, luta para manter a soberania nacional e é socialista; quem é de direita, é entreguista e capitalista. Quem, na sua visão do social, coloca a ênfase na justiça, é de esquerda. Quem a coloca na eficácia e no lucro, é de direita.
*militanciaviva

Holocausto de Gaza: criaram o monstro, coloquem coleira e rédeas...



  1. por Eros Alonso

    Os sionistas destroem as oliveiras centenárias, os pomares, a economia de Gaza, envenenam as águas ou as desviam, de forma a forçar os palestinos a irem embora. A cada dez anos Israel tem praticado pelo menos um Genocídio como este que ocorre agora. 
     
    Já passaram dos limites. Serão bombardeados de verdade e não por essas grotescas armas feitas em fundo de quintal por um povo desesperado, por terem lhe tirado tudo. Israel deve entender que foi criada pelo mundo, via ONU, e pode ser eliminada pelo mundo também, e isso pode ocorrer até com a ONU, que se não tomar decência vai desmoronar como entidade, até porque já vem ruindo faz tempo sua integridade, na medida em que criou Israel e depois Israel desrespeitou mais de 40 Resoluções do órgão criador, e praticou inúmeros crimes sequenciais, avançando com colônias em terras palestinas. 
    Aviação sionista bombardeia crianças indefesas e adultos em hospitais e escolas de Gaza

    Armas poderosas já cercam e estão apontadas para Israel a espera apenas da hora oportuna, da hora certa, para serem disparadas.Israel usará armas nucleares quando se vir derrotada no front e isso é tudo que muitos que aguardam estão esperando. Um país artificial, isolado, sem vizinhos, porque na Jordânia o reizinho cai já, já. 

    O Egito já não é como na época de Mubarak. Um movimento de boicote a tudo que produz em Israel, e às empresas e seus produtos que operam em Israel, já é uma realidade em todo o mundo, que agora foi às ruas em várias capitais para protestar por mais um Genocídio praticado por sionistas. 
     
    Recairão nos judeus os crimes dos sionistas, que se escondem, usam como escudo o Holocausto, e por trás desse escudo uma infinidade de crimes contra a Humanidade, inclusive a tortura de crianças. Criação maléfica que a ONU fez, nunca mais o Oriente Médio viveu em Paz, e de lá para cá a criatura massacrou os povos vizinhos aos milhares, de todas as nações. 

    Criaram um monstro tecnológico com a maior concentração nuclear per capita do mundo. São portanto, os maiores alvos do mundo também. Ou o mundo coloca rédeas no monstro criado ou teremos uma guerra nuclear dentro de poucos anos. 

    A tecnologia se dissipa cada vez mais rapidamente, e ela pode ser mortal nas mãos de qualquer religião, ideologia, raça ou situação social, quando associada a ódio. 
    Colocaram um anão amoral e assassino para dirigir uma nação de admirável tradição civilizatória e religiosa. O povo judeu não merece o castigo moral e o legado de ódio que este bandido deixará escrito durante sua passagem pelo poder.
    Israel caminha para um grande confronto, é uma pulga atômica, mas ainda assim uma pulga. Sequer terá tempo para usar suas 300 armas nucleares, sendo que as primeiras 12 foram roubadas de um navio francês por terroristas judeus no início da década de 60, e por esse ato podemos avaliar a ideologia do Sionismo em Israel, e também a verdadeira face da França, que nunca sequer reclamou do navio com armas nucleares roubado. 

    Criaram o monstro, o bicho não obedece, mata tudo ao seu redor faz mais de 50 anos, agora ou colocam rédeas ou teremos uma grande guerra nuclear. 
     
    Faço questão de repetir essa frase. E que o mundo se prepare porque sinagogas espalhadas pelo mundo passam agora a correr cada vez mais risco, basta ver as manifestações em várias das principais capitais do mundo. São os judeus que devem se manifestar agora contra esse Genocídio antes que sejam associados aos crimes praticados pelo Sionismo de Israel, que passou do tolerável e deve pagar por isso, antes que arraste o Oriente Médio ao caos. Ou coleira e jaula para Israel ou a criação da ONU será perene. Creio que não são os sionistas de Israel que devem construir muralhas para se separarem dos palestinos, mas a Humanidade que deve construir muralhas para se defender do Sionismo de Israel.

    Fonte: 247/comentários
  2. *MilitanciaVIva
247 – Após assumir dianteira na censura contra os abusos cometidos por Israel na Faixa de Gaza, o Brasil articula posição do Mercosul contra o país de Benjamin Netanyahu.
O tema será discutido pelos líderes dos cinco países que compõem o Mercado Comum do Sul (Mercosul), na 46ª Cúpula do bloco, marcada para a próxima terça-feira (29), em Caracas, Venezuela.
O governo Dilma e o Itamaraty divulgaram notas condenando "energicamente o uso desproporcional da força" por Israel em conflito na Faixa de Gaza. O massacre já matou 700 palestinos em Gaza, a maioria civis. As declarações foram hostilizadas pelo país.
Em resposta, o ministro Luiz Alberto Figueiredo rebateu comentário feito pela chancelaria de Israel de que o Brasil é um "anão diplomático": "Somos um dos 11 países do mundo que têm relações diplomáticas com todos os membros da ONU e temos um histórico de cooperação pela paz e ação pela paz internacional. Se há algum anão diplomático, o Brasil não é um deles",

sexta-feira, julho 25, 2014

O governo LULA, por Ariano Suassuna


"O maior avanço político no Brasil ocorreu nos oito anos do governo Lula.

Você não sabe a humulhação que eu sentia pela dívida do Brasil ao FMI. Olha, o presidente brasileiro não tinha condições de escolher um ministro que não fosse aprovado pelo FMI. O FMI tinha o direito de vetar. Agora, o Brasil pagou a dívida e o FMI está devendo à gente. E Lula disse: 'Já pensou que coisa chique, o FMI está devendo ao Brasil.' Foi para o povo brasileiro recuperar a autoestima.

Lula baixou o número de pessoas que viviam na miséria. Ele baixou de 34% para 18%. Ele, Lula. E o percentual deve estar mais baixo ainda porque esses dados são do ano passado.

Eu morria de vergonha do governo Fernando Henrique. Bastava dar um chapéu de doutor para ele entregar tudo.

Eu votei no Lula em todas as vezes e não me arrependo. Escrevi, falei em comício, fiz o diabo. O que eu posso fazer eu faço. Eu não tenho poder político, nem econômico, nem nenhum outro, mas tenho uma língua afiada que só a peste, e ela está a serviço do meu país."
_________________

Ariano Suassuna, em entrevista ao repórter Fernando Coelho, publicada no jornal Gazeta de Alagoas, edição impressa de 29/08/2010 (domingo), em resposta à pergunta abaixo:

"Recentemente o senhor esteve com o presidente Lula e a candidata à Presidência Dilma Rousseffnum evento de campanha em Garanhuns, terra natal de Lula, aliás. Como o senhor avalia seus oito anos de governo?

Foto: Ricardo Lêdo, em Gazeta de Alagoas
^BlogAndre

Desembargador Siro DarlanDesembargador Siro Darlan
Reproduzimos a declaração do Desembargador carioca Siro Darlan, que emitiu no dia ontem habeas corpus para a libertação dos 21 ativistas indiciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro por formação de quadrilha armada:
A cultura do aprisionamento que levou o Brasil ao terceiro lugar do encarceramento mundial tem sido muito cara e dispendiosa para nossa sociedade. Sua inutilidade tem sido demonstrada pelo número de reincidências e violência oriunda dos cárceres. O dispêndio inútil de recursos para aprisionar poderia e deveria ser destinados para a construção de uma sociedade mais justa, onde a educação e saúde seriam a prioridade para nosso povo.
No caso concreto a denúncia do Ministério Público, embora as mídias interessadas em enganar seus leitores tenham noticiado incêndios, lesões corporais, danos ao patrimônio público, porte de explosivos, dentre outros, é exclusivamente o delito de quadrilha armada – artigo 288, parágrafo único do Código Penal, cuja pena pode variar entre um e três anos de reclusão, podendo ser dobrada.
Ora, ainda que os acusados venham a ser condenados, na pior das hipóteses a pena não ultrapassará dois anos por serem réus primários e de bons antecedentes. Sabe-se que pela nossa legislação a condenação até quatro anos pode e deve ser substituída por penas alternativas em liberdade.
Assim sendo o que justifica manter presas pessoas que ainda que condenados, permanecerão em liberdade? Prejuízo maior terá a sociedade se tais pessoas vierem posteriormente acionar o Estado para que paguemos com os tributos que nos são cobrados, indenizações por terem sido presos ilegalmente, apenas para saciar a “fome de vingança” de setores raivosos, incapazes de raciocinar além do noticiário indutivo.
São explicações que me cabem fazer, por dever de oficio, para, mesmo respeitando as posições em contrário, justificar que a decisão além de amparada na melhor interpretação da lei, visa proteger a própria sociedade de eventuais excessos e prejuízos possíveis.
Acrescento ainda que o próprio Ministério Público, fiscal da lei e principal defensor da sociedade, afirmou expressamente nos autos de processo contra dois dos acusados que “os indiciados não representam qualquer perigo para a ordem pública, entende o Parquet que não se encontram presentes os requisitos autorizadores da manutenção da custódia cautelar dos indiciados”…” o Ministério Público é pelo deferimento do pleito libertário formulado em favor dos indiciados CARJ e IPD`I.” Paulo José Sally – Promotor de Justiça.
Reitero meus agradecimentos por todas as manifestações favoráveis e contrárias
Desembargador Siro Darlan
Âverdade

Brasil volta a repudiar covardia de Israel, que responde

Brasil reforça crítica a Israel por morte de 700 palestinos em Gaza e retira embaixador do país. Governo israelense responde com duras críticas: "país irrelevante"

brasil israel gaza dilma benjamin palestina
Benjamin Netanyahu e Dilma Rousseff. Brasil e Israel trocam farpas por causa de massacre em Gaza (Edição:Pragmatismo Político)
O governo brasileiro voltou a criticar nesta quarta-feira (23/07) a ofensiva de Israel em Gaza, pediu a implementação de um cessar-fogo e chamou para consultas o embaixador do país em Tel Aviv. Na semana passada, Dilma chamou de “desproporcional” a invasão de Israel a Gaza.
O Ministério das Relações Exteriores, em comunicado, considerou “inaceitável a escalada de violência entre Israel e Palestina” e condenou “energicamente o uso desproporcional da força por Israel na Faixa de Gaza”.
Este foi o segundo comunicado oficial do governo sobre o conflito desde que Israel lançou há duas semanas uma ofensiva contra o Hamas em Gaza.
Nos 16 dias que duram as hostilidades, pelo menos 700 palestinos e 35 israelenses perderam a vida e há registros de 4,3 mil feridos.

Israel rebate o Brasil

Após gesto diplomático do governo brasileiro, que convocou ontem seu embaixador em Tel Aviv, Henrique Pinto, para consulta sobre a morte de 700 palestinos, chancelaria de Israel respondeu duramente: “Seu comportamento nesta questão ilustra a razão por que esse gigante econômico e cultural permanece politicamente irrelevante”.
O comentário do governo de Benjamin Netanyahu foi recebido com indignação por autoridades do governo da presidente Dilma Rousseff. O Palácio do Planalto e o Itamaraty avaliaram juntos qual seria a melhor reação para um comentário “tão duro”.
O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, rebateu as declarações do porta-voz da chancelaria de Israel. “Somos um dos 11 países do mundo que têm relações diplomáticas com todos os membros da ONU e temos um histórico de cooperação pela paz e ação pela paz internacional. Se há algum anão diplomático, o Brasil não é um deles”, disse a jornalistas.
com agência Efe
..uma experiência ímpar que precisa ser compartilhada!...
Parto de homem. É sobre isso que quero falar. E é para eles que escrevo. Então vou começar do começo. Ela estava no avião, foi ao banheiro e me telefonou: "estou grávida". Não teve tempo de falar mais nada. As portas já estavam em automático. Desligou. Fui buscá-la no aeroporto e, no caminho para o laboratório mais perto, completou a frase interrompida pela aeromoça: "quero ter o nosso filho em casa". A cabeça dura-sertão do macho pernambucano, dos miolos encaretados pelo sol, desinformado e suposto senhor das ações, travou. "Em casa? Você é maluca?". Ela não falou mais nada. Nem eu. Segui calado, com aquela angústia-catapora, que faz tudo coçar por dentro.
No outro dia, comecei a pesquisar sobre nascer em casa. Em apenas um dia, li muito. Um turbilhão gigantesco de informações. No outro dia, li mais ainda. E assim seguiu. Fui a todos os encontros e consultas. Ouvi depoimentos lindos sobre o nascimento. Escutei também um relato de uma mulher decepcionada, pessimamente atendida num hospital público de Brasília porque apenas queria que o filho nascesse na hora que ele quisesse nascer. Ouvi muito mais. Com três meses de gestação, não tinha absolutamente mais nenhuma dúvida. Meu filho nasceria aqui, no seu quarto, com o cheiro da nossa casa, num ambiente afetuosamente preparado para tentar parecer o escurinho quente da morada onde viveu por nove meses. E assim aconteceu.
Mulher foi feita para parir. Homem não. Mas homem também foi feito para sentir. E o parto em casa me proporcionou isso. Eu pari junto. Eu eu Cecilia viramos um só dentro da água. É sobre isso que quero falar. Sou um homem que senti o corpo da minha mulher tremer a cada contração. Sou um homem que senti os músculos da minha mulher esticar e relaxar numa dança perfeita. Sou um homem que emprestei meu corpo para minha mulher beliscar e aliviar a dor do nascimento. Choramos muito. Ela de dor. Eu de outro tipo de dor. Parimos.
É isso. Eu não estava num baby-lounge, longe do meu filho, olhando tudo por uma televisão. Também não estava separado por um pano verde, impossibilitado de perceber o olhar do meu filho na primeira vez que viu o mundo. Eu estava ali, do lado, sentindo e vendo a natureza no seu estágio mais verdadeiro. Vendo minha mulher virar um bicho, gritando e se contorcendo para proporcionar ao nosso filho uma chegada sem nenhum tipo de intervenção. Uma chegada sem luz forte no rosto, sem mãos estranhas, sem aquela higienização terrorista de manual, sem a impessoalidade de um quarto frio com objetos que não são nossos, que não foram colocados por nós.
Desajeitado que sou, descobri que sei fazer massagem. Ah como foi bom perceber o alívio imediato quando apertava as costas de Cecília e ela mudava de som. Fiz isso por duas horas seguidas. Na verdade, posso dizer que era uma espécie de automassagem. Quando percebia que, de alguma maneira, era ator ativo do parto da minha mulher, do nosso parto, descobri que era mais do que pai. Muito mais.
Não escrevo para encorajar mulheres. Escrevo para encorajar os homens. Se puderem, passem por isso. A experiência mais incrível de toda minha vida. Francisco demorou cinco horas para nascer. Não houve nenhum tipo de intervenção. Ninguém sequer tocou em Cecília. Ele nasceu quando queria nascer. Passou dez minutos com a cabeça dentro da água. Ninguém o puxou. A natureza o empurrou quando achava que deveria empurrar. E ele saiu direto para os nossos braços. Ficamos ali por uns 20 minutos acarinhando o nosso filhote, tentando ainda entender como uma pessoa sai de dentro de outra. E foi lindo. Esperamos a placenta sair, cortamos o cordão umbilical e pronto. Cecilia se levantou, eu me levantei e fomos conversar na cama. Ficamos ali por horas, olhando o nosso filho. O melhor: na nossa casa.
Nada disso seria possível sem as parteiras incríveis Ana Cyntia Paulin Baraldi eIara Silveira. Sem o auxílio de Carmen Palet, a mulher que ensina a coisa mais simples da vida: respirar.
Nada disso seria possível sem eu e Cecilia.
*IsisdeCastro
'Forças Armadas devem pedido formal de desculpas ao País', diz Franklin Martins

Ex-ministro de Lula, protagonista do sequestro do embaixador Elbrick, diz que erro de avaliação levou Jango a não resistir ao golpe, na esperança de que se tratava de um movimento efêmero
Protagonista de um dos episódios mais marcantes da resistência à ditadura – o sequestro do embaixador norte-americano, Charles Burke Elbrick –, o jornalista Franklin Martins tinha apenas 15 anos quando se engajou na luta contra o regime militar. Ex-ministro da Secretaria de Comunicação do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele foi obrigado na época a se exilar em Cuba, Chile e França. Passou períodos na clandestinidade e articulou movimentos de esquerda contrários ao regime ditatorial instalado pelos militares com apoio da direita conservadora.
Passados 50 anos do golpe que na noite do dia 31 de março de 1964 mudaria os rumos políticos do Brasil, Franklin cobra um gesto contundente do Exército: “As Forças Armadas devem um pedido formal de desculpas ao país.”
O ex-ministro defende uma mudança profunda na formação dos militares brasileiros para que eles passem a enxergar que o que ocorreu no Brasil foi um golpe e não uma revolução. Desta forma, defende o jornalista, as Forças Armadas se tornariam mais integradas à sociedade, atuando permanentemente subordinadas ao poder civil. “As Forças Armadas não podem continuar nas academias com currículos que tratam o golpe de 64 como uma revolução libertadora”, critica ele. “Instituições de Estado não podem ir contra a democracia”, disse em entrevista ao iG.
Franklin ponderou ainda que as Forças Armadas “foram manipuladas por comandos que as colocaram contra o País”. “Para colocá-las contra o País tiveram de fazer um expurgo nas Forças Armadas de dimensões gigantescas. Não houve só golpistas nas Forças Armadas. Tinha gente que era contra o golpe”, afirma.
Erro de avaliação
Franklin lembrou o contexto de “efervescência” na política, na cultura e na economia brasileira no início da década de 1960 no Brasil e, apesar disso, a falta de um movimento de resistência ao golpe. Segundo ele, a maioria do País apoiava o cronograma de reformas apresentado e defendido pelo então presidente João Goulart e esse segmento acabou, entretanto, carente de apoio quando buscou um baluarte de resistência. “Quem tentou resistir procurou as lideranças políticas e as lideranças políticas não sabiam o que fazer”, contextualiza o ex-ministro.
Para Franklin, um “erro de avaliação” levou o ex-presidente João Goulart a não resistir ao golpe. “Ele não tinha um esquema militar preparado, o que demonstra a falácia das teses de que ele estaria preparando um golpe de Estado. Não tinha golpe de Estado coisa nenhuma”, diz ele. “Acho que havia da parte do Jango um certo erro de avaliação semelhante ao que havia por parte de vários dirigentes políticos do País, inclusive dirigentes da direita que apoiaram o golpe, que é o seguinte: o golpe vem, ele durará seis meses, um ano, depois se convoca eleição e aí se retoma a normalidade democrática”.
Para Franklin, o golpe foi a realização de uma empreitada que visava impedir que demandas populares entrassem na pauta política do País. “O golpe, no fundamental, é uma tentativa de evitar que os trabalhadores, as forças populares, os camponeses, a intelectualidade, tudo isso, pudessem formar uma nova agenda do País, com modernização do País baseada na justiça social”, resume ele.
O ex-ministro falou brevemente sobre as reedições das passeatas que em 1964 canalizaram apoio ao golpe, como a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, ressuscitada recentemente e que aconteceu em São Paulo no sábado (22). “Acho isso uma bobagem sem tamanho”, dispara. “Tem um pessoalzinho no Brasil que vive dentro de um cápsula, uma bolha. Nem as Forças Armadas irão para uma coisa dessas”, emendou, ao defender que o Brasil não abandonará a democracia. “Quem pensar em algo diferente será isolado e não terá influência na vida política do país”.
'Forças Armadas devem pedido formal de desculpas ao País', diz Franklin Martins
Ex-ministro de Lula, protagonista do sequestro do embaixador Elbrick, diz que erro de avaliação levou Jango a não resistir ao golpe, na esperança de que se tratava de um movimento efêmero
Protagonista de um dos episódios mais marcantes da resistência à ditadura – o sequestro do embaixador norte-americano, Charles Burke Elbrick –, o jornalista Franklin Martins tinha apenas 15 anos quando se engajou na luta contra o regime militar. Ex-ministro da Secretaria de Comunicação do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele foi obrigado na época a se exilar em Cuba, Chile e França. Passou períodos na clandestinidade e articulou movimentos de esquerda contrários ao regime ditatorial instalado pelos militares com apoio da direita conservadora.
Passados 50 anos do golpe que na noite do dia 31 de março de 1964 mudaria os rumos políticos do Brasil, Franklin cobra um gesto contundente do Exército: “As Forças Armadas devem um pedido formal de desculpas ao país.”
O ex-ministro defende uma mudança profunda na formação dos militares brasileiros para que eles passem a enxergar que o que ocorreu no Brasil foi um golpe e não uma revolução. Desta forma, defende o jornalista, as Forças Armadas se tornariam mais integradas à sociedade, atuando permanentemente subordinadas ao poder civil. “As Forças Armadas não podem continuar nas academias com currículos que tratam o golpe de 64 como uma revolução libertadora”, critica ele. “Instituições de Estado não podem ir contra a democracia”, disse em entrevista ao iG.
Franklin ponderou ainda que as Forças Armadas “foram manipuladas por comandos que as colocaram contra o País”. “Para colocá-las contra o País tiveram de fazer um expurgo nas Forças Armadas de dimensões gigantescas. Não houve só golpistas nas Forças Armadas. Tinha gente que era contra o golpe”, afirma.
Erro de avaliação
Franklin lembrou o contexto de “efervescência” na política, na cultura e na economia brasileira no início da década de 1960 no Brasil e, apesar disso, a falta de um movimento de resistência ao golpe. Segundo ele, a maioria do País apoiava o cronograma de reformas apresentado e defendido pelo então presidente João Goulart e esse segmento acabou, entretanto, carente de apoio quando buscou um baluarte de resistência. “Quem tentou resistir procurou as lideranças políticas e as lideranças políticas não sabiam o que fazer”, contextualiza o ex-ministro.
Para Franklin, um “erro de avaliação” levou o ex-presidente João Goulart a não resistir ao golpe. “Ele não tinha um esquema militar preparado, o que demonstra a falácia das teses de que ele estaria preparando um golpe de Estado. Não tinha golpe de Estado coisa nenhuma”, diz ele. “Acho que havia da parte do Jango um certo erro de avaliação semelhante ao que havia por parte de vários dirigentes políticos do País, inclusive dirigentes da direita que apoiaram o golpe, que é o seguinte: o golpe vem, ele durará seis meses, um ano, depois se convoca eleição e aí se retoma a normalidade democrática”.
Para Franklin, o golpe foi a realização de uma empreitada que visava impedir que demandas populares entrassem na pauta política do País. “O golpe, no fundamental, é uma tentativa de evitar que os trabalhadores, as forças populares, os camponeses, a intelectualidade, tudo isso, pudessem formar uma nova agenda do País, com modernização do País baseada na justiça social”, resume ele.
O ex-ministro falou brevemente sobre as reedições das passeatas que em 1964 canalizaram apoio ao golpe, como a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, ressuscitada recentemente e que aconteceu em São Paulo no sábado (22). “Acho isso uma bobagem sem tamanho”, dispara. “Tem um pessoalzinho no Brasil que vive dentro de um cápsula, uma bolha. Nem as Forças Armadas irão para uma coisa dessas”, emendou, ao defender que o Brasil não abandonará a democracia. “Quem pensar em algo diferente será isolado e não terá influência na vida política do país”.