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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, outubro 01, 2011

Frei Betto: Adeus Europa



Por Frei Betto, no sítio da Adital:

Lembram-se da Europa resplandecente dos últimos 20 anos, do luxo das avenidas do Champs-Élysées, em Paris, ou da Knightsbridge, em Londres? Lembram-se do consumismo exagerado, dos eventos da moda em Milão, das feiras de Barcelona e da sofisticação dos carros alemães?

Tudo isso continua lá, mas já não é a mesma coisa. As cidades europeias são, hoje, caldeirões de etnias. A miséria empurrou milhões de africanos para o velho continente em busca de sobrevivência; o Muro de Berlim, ao cair, abriu caminho para os jovens do Leste europeu buscarem, no Oeste, melhores oportunidades de trabalho; as crises no Oriente Médio favorecem hordas de novos imigrantes.

A crise do capitalismo, iniciada em 2008, atinge fundo a Europa Ocidental. Irlanda, Portugal e Grécia, países desenvolvidos em plena fase de subdesenvolvimento, estendem seus pires aos bancos estrangeiros e se abrigam sob o implacável guarda-chuva do FMI.

O trem descarrilou. A locomotiva – os EUA – emperrou, não consegue retomar sua produtividade e atola-se no crescimento do desemprego. Os vagões europeus, como a Itália, tombam sob o peso de dívidas astronômicas. A festa acabou.

Previa-se que a economia global cresceria, nos próximos dois anos, de 4,3% a 4,5%. Agora o FMI adverte: preparem-se, apertem os cintos, pois não passará de 4%. Saudades de 2010, quando cresceu 5,1%.

O mundo virou de cabeça pra baixo. Europa e EUA, juntos, não haverão de crescer, em 2012, mais de 1,9%. Já os países emergentes deverão avançar de 6,1% a 6,4%. Mas não será um crescimento homogêneo. A China, para inveja do resto do mundo, deverá avançar 9,5%. O Brasil, 3,8%.

Embora o FMI evite falar em recessão, já não teme admitir estagnação. O que significa proliferação do desemprego e de todos os efeitos nefastos que ele gera. Há hoje, nos 27 países da União Europeia, 22,7 milhões de desempregados. Os EUA deverão crescer apenas 1% e, em 2012, 0,9%. Muitos brasileiros, que foram para lá em busca de vida melhor, estão de volta.

Frente à crise de um sistema econômico que aprendeu a acumular dinheiro mas não a produzir justiça, o FMI, que padece de crônica falta de imaginação, tira da cartola a receita de sempre: ajuste fiscal, o que significa cortar gastos do governo, aumentar impostos, reduzir o crédito etc. Nada de subsídios, de aumentos de salários, de investimentos que não sejam estritamente necessários.

Resultado: o capital volátil, a montanha de dinheiro que circula pelo planeta em busca de multiplicação especulativa, deverá vir de armas e bagagens para os países emergentes. Portanto, estes que se cuidem para evitar o superaquecimento de suas economias. E, por favor, clama o FMI, não reduzam muito os juros, para não prejudicar o sistema financeiro e os rendimentos do cassino da especulação.

O fato é que a zona do euro entrou em pânico. A ponto de os governos, sem risco de serem acusados de comunismo, se prepararem para taxar as grandes fortunas. Muitos países se perguntam se não cometeram uma monumental burrada ao abrir mão de suas moedas nacionais para aderir ao euro. Olham com inveja para o Reino Unido e a Suíça, que preservam suas moedas.

A Grécia, endividada até o pescoço, o que fará? Tudo indica que a sua melhor saída será decretar moratória (afetando diretamente bancos alemães e franceses) e pular fora do euro.

Quem cair fora do euro terá de abandonar a União Europeia. E, portanto, ficar à margem do atual mercado unificado. Ora, quando os primeiros sintomas dessa deserção aparecerem, vai ser um deus nos acuda: corrida aos saques bancários, quebra de empresas, desemprego crônico, turbas de emigrantes em busca de, sabe Deus onde, um lugar ao sol.

Nos anos 80, a Europa decretou a morte do Estado de bem-estar social. Cada um por si e Deus por ninguém. O consumismo desenfreado criou a ilusão de prosperidade perene. Agora a bancarrota obriga governos e bancos a pôr as barbas de molho e repensar o atual modelo econômico mundial, baseado na ingênua e perversa crença da acumulação infinita.

WALL street









   
*Jumento

Charge do Dia

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Uma reflexão e uma proposta (espero) polêmica

Passou o Dia Mundial Sem Carro. Claro que a maioria das pessoas, desacostumadas a ficar sem seu carro, foram cumprir seus afazeres de carro, ainda que estivessem dando o maior apoio moral pro movimento.

O Dia Sem Carro foi coberto por vários veículos de comunicação e amplamente comemorado. É o tipo de ação que quase ninguém se opõe. Mas ontem um amigo me chamou a atenção: em seguida das notícia sobre o dia sem carro, quase todas as propagandas eram de carro.

Lembrando de um post recente no excelente blog do Sakamoto, é muita cara de pau vender um carro falando que ele vai a 300 km/h e tem um bilhão de cavalos de potência quando não há um pedaço de estrada no Brasil cuja velocidade máxima seja superior a 120 km/h.

Penso nisso quando vejo pessoas usando SUVs para se locomover até o mercado, a dez minutos, ou para ir na academia (!!!!) usando um carro enorme, super poluente e super caro. Penso nisso quando as pessoas parecem cada vez mais preocupadas em “consumir de maneira mais consciente”, o que se traduz em consumir mais, na verdade.

Seria bem melhor para o “verde” se as pessoas, em vez de consumir mais carros, mais poderosos, mais poluentes, mais espaçosos, de empresas que gastam uma triliardária verba publicitária para mostrarem como estão tão preocupados com o meio ambiente, levantassem a bundinha do banco do carro e andassem até a academia ou a padaria. Ou fossem de bicicleta, metrô, ônibus, bonde, teleférico...

Tenho perfeita noção do tamanho do fetiche que é o carro no mundo de hoje. O valor de um carro, é muito claro isso, não se resume ao seu valor de uso, ou seja, não basta um carro levar de um lugar pro outro. Para o consumidor médio, o carro é muito mais que isso. Por isso mesmo quero deixar aqui uma proposta que vai de encontro a isso e que pode, de fato, impactar esse mercado e os hábitos das pessoas:

- E se só fosse permitida a venda de carros com, no máximo, 1000 cilindradas?

- E que viessem com todos os itens de segurança, como air bag e freios ABS, de fábrica (isso já foi aprovado e entra em vigor em 2014 – hoje, esses itens são opcionais).

- E se todos os carros viessem com um sistema que restringe a velocidade máxima que ele atinge a 120 km/h?

- Estariam excluídos disso os carros de polícia, bombeiro e ambulâncias, claro. Além dos carros de corrida, etc.

Não seria mais efetivo que as elitistas e sempre presentes propostas de tirar os carros "mais poluentes" (leia-se velhos, de pobre), além de mais democrático?

Claro que as pessoas, com o dinheiro que têm, devem comprar o que bem entenderem. Mas quando falamos de um carro, falamos de algo que não diz respeito só à pessoa, mas também a todo mundo à sua volta que respira o ar, que tem que conviver com carros em alta velocidade ameaçando se descontrolarem e sendo projetados para pontos de ônibus, matando, mutilando, com o trânsito absurdo de milhares de carros, cada um com uma pessoa dentro, entre outros problemas... Nada contra quem gasta milhões com jóias, relógios, seja lá o que for.

Rodrigo Mendes de Almeida é jornalista e colunista do NR
*notasderodapé

Psicopatas com gravata

Quem trabalha nas Bolsas é uma pessoa normal?
Já olharam bem os olhos do director do vosso banco?

Na Universidade de St. Gallen, na Suíça, pensaram comparar as atitudes dum psicopático com aquelas dum trader: egoísmo, crueldade e falta de cooperação.

E o resultado é que afinal os psicopatas não são tão maus.

No âmbito duma tese Mba (Master in business administration), Thomas Noll e Pascal Scherrer compararam 27 profissionais da finança, comerciantes de matérias primas, banqueiros, operadores de hedge founds, com um grupo de 24 psicopatas mais um terceiro grupo de controle, formato por 24 pessoas "normais" (se assim podemos definir um Suíço).

Perante um teste estruturado como o clássico dilema do prisioneiro (o problema talvez mais clássico na teoria dos jogos, utilizado também para ilustrar a teoria do equilíbrio de Nash), os sujeitos do grupo de controle se mostraram mais cooperativos, seguidos pelo psicopatas e, em terceiro lugar, os magos da finança.

Portanto, os traders mostraram ser mais agressivos e egoístas do que os outros, manifestando como fim da própria acção apenas o ganho e acabando desta forma atrás dos psicopatas.

Coisa ainda mais espantosa, conseguiram ganhar menos do que os psicopatas. Pelo que surge a dúvida: é melhor deixar os hedge founds nas mãos dum trader ou dum psicopata? Os resultados do teste indicam que o psicopata dá mais confiança.

Apesar do estudo envolver um número reduzido de pessoas, Noll acha que permaneça estatisticamente significativo, considerado também a influência que um só trader pode ter no mercado.

Afirma Noll, psiquiatra e responsável do centro de detenção de Pöschwies:
Aquela mostrado pelo grupo dos operadores financeiros é uma atitude muito destruidora, é como tentar possuir o carro mais bonito do bairro arruinando os carros dos vizinhos com o taco de baseball.
Na Suíça (que, lembramos, é um dos mais importantes centros financeiros do Mundo) realçam que talvez não seria mal um teste antes de assumir um operador financeiro numa empresa; mas a dúvida e´que seja o mesmo ambiente de trabalho que acabe com incentivar atitudes extremamente agressivas como aquelas mostradas no laboratório.

Mas o problema de fundo permanece o mesmo: uma revolução cultural que possa subverter o mecanismo egoísta e absolutista que hoje está na base da sociedade.
Embora animal social, o Homem escolheu forçar a estrada da competição: e isso apesar da cooperação ter-se demonstrado como a forma mais rentável de viver.

John F. Nash Jr, prémio Nobel de Economia:
Um jogo pode ser descrito em termos de estratégia que os jogadores têm que seguir: há equilíbrio quando ninguém consegue melhorar de forma unilateral a própria atitude. Para mudar, é preciso actuar em conjunto: de forma unilateral podemos apenas evitar o pior, enquanto para atingir o melhor precisamos de cooperação.

Ipse dixit.

Fontes: Greenreport, Spiegel
*InformaçãoIncorreta

Crise mundial e a mediocridade de Aécio

Por Altamiro Borges

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Aécio Neves, candidato preferencial do PSDB à sucessão presidencial de 2014, expressa bem a total ausência de idéias e projetos da oposição demotucana. No Senado, ele é uma decepção, segundo seus próprios pares. Seus discursos são vazios, enfadonhos. Já na Folha de S.Paulo, jornal que lhe cedeu espaço para uma coluna, os seus artigos são de uma mediocridade impressionante.

Nesta semana, o senador resolveu falar sobre economia. Quando a própria mídia rentista passa a reconhecer a gravidade da crise mundial e alguns “calunistas” até recuam nas suas críticas à recente redução da taxa de juros, ele escreve um artigo, intitulado “Inflação”, para atacar a decisão do Banco Central. Sua coluna na Folha até podia ser batizada de “As platitudes de Aécio Neves”.

Os desgastados chavões neoliberais

Para o brilhante “economista” tucano, a redução dos juros é uma “medida inflacionária”. Ela sinalizaria que “o governo extinguiu a bem sucedida política – aqui e no mundo – de metas de inflação, inaugurada no Brasil em 1999... Nada justifica o retorno a políticas voluntaristas que emperraram no passado o crescimento da nossa economia”.

Além de bajular o governo do seu padrinho FHC, que colocou o Brasil de joelhos diante do Fundo Monetário Internacional (FMI), Aécio Neves repete velhos e desgastados chavões neoliberais. Ele insinua que o governo estaria dando uma guinada “abrupta” na política macroeconômica, superando o tripé ortodoxo dos juros elevados, superávit fiscal e libertinagem cambial.

“Propaganda eleitoral gratuita”

Na prática, o texto é uma cópia rastaqüera das conclusões do seminário do Instituto FHC de agosto passado. Nele, os economistas tucanos defenderam a radicalização do programa neoliberal, pregando “menos estado”, mais privatizações e “maior abertura” da economia brasileira. Ou seja: a coluna de Aécio Neves na Folha serve apenas como “propaganda eleitoral gratuita” do PSDB.

Quem afirma isto é a própria ombudsman do jornal, Suzana Singer, que detonou os textos do senador na sua coluna de domingo passado. “De 11 artigos do ex-governador tucano, pelo menos seis pareciam discurso de Congresso, com críticas nada originais ao governo federal e promoção de iniciativas de Minas Gerais”. As platitudes de Aécio Neves servem apenas de “palanque eleitoral”.

Onde você gostaria de ver Paulo Maluf?

STF começa a decidir se Maluf será réu por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha
O Supremo Tribunal Federal (STF) começou a julgar um inquérito envolvendo o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) para apurar crimes de formação de quadrilha e de remessa de dinheiro para o exterior.
Segundo o relator do processo, ministro Ricardo Lewandowski, há oito conjuntos de fatos a serem verificados. Há desde indícios de que Maluf teria praticado a ocultação de recursos oriundos de atividades ilícitas, quando foi prefeito de São Paulo, entre 1993 e 1996, até investigações envolvendo a remessa de milhões de dólares para a Ilha de Jersey, um paraíso fiscal.
Lewandowski citou informações do Ministério Público pelas quais as contas de Maluf, em Jersey, teriam recebido valores superiores a US$ 300 milhões. Em outra conta num banco, em Nova York, foram creditados US$ 527 milhões entre 1997 e 2006. Em Londres, foram registrados US$ 145 milhões.
O ministro ainda não votou. Ele está apenas lendo o relatório do processo.
Lewandowski também apresentou as alegações da defesa de Maluf e dos demais indiciados no inquérito, como a sua mulher, Sílvia, e seu filho, Flávio.
De acordo com o ministro, os acusados disseram que a denuncia é inepta, pois não individualiza as ações supostamente ilegais que teriam sido praticadas por cada um deles. Ainda segundo eles, a denúncia teria sido apresentada às pressas na mesma data em que Maluf foi diplomado deputado federal "para queimar etapas". "Não há nos autos nenhum elemento probatório para concluir que os denunciados tenham praticado qualquer dos delitos", informou a defesa da Maluf. "A acusação não descreve condutas específicas dos familiares de Maluf", continuou.