Dilma afirma que década de 1990 fez América do Sul perder 'tempo valioso'
Ao lado da presidenta da Argentina, Cristina Kirchner,
brasileira ressalta que governantes da região não têm 'o direito' de
cometer o erro de não promover a integração
Publicado em 28/11/2012, 18:20
Última atualização às 18:22
Dilma enfatizou que as políticas de ajustes recessivos
levaram desemprego e desesperança aos cidadãos (Foto: Roberto Stuckert
Filho. Planalto)
São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff voltou a afirmar hoje (28) em
Los Cardeles, próximo a Buenos Aires, que a América do Sul foi
prejudicada pelas políticas recessivas adotadas pelos governos da região
durante as décadas de 1980 e 1990. “Naquele momento interrompemos a
nossa industrialização e perdemos um tempo valioso ao descuidarmos do
imprescindível projeto de integração regional”, disse a brasileira ao
lado da presidenta da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner.
Dilma dedicou boa parte dos seus 31 minutos de discurso durante o
encerramento de uma conferência de empresários da setor industrial a
promover comparações com o momento atual da Europa e ressaltar a
necessidade de parceria entre os governos de Brasil e Argentina. “Temos,
hoje, maturidade política e econômica para cooperar. Temos um quadro
internacional que nos impõe essa necessidade. É bom destacar que a volta
da democracia em nossos países soterrou os nefastos resquícios de
rivalidade regional do passado”, apontou. “Nós já perdemos oportunidades
no passado de estreitar as nossas relações, de nos integrarmos. Neste
momento não temos o direito, perante nossos povos e nossos países, de
cometer o erro de não nos integrarmos.”
Dilma recordou que o comércio bilateral cresceu quase seis vezes ao
longo da década, mas avaliou que o montante de US$ 40 bilhões alcançado
em 2011 ainda é pouco ao se levar em conta a complementaridade entre as
duas nações e do quadro atual do mundo, marcado por recessão. Durante a
conferência, a presidenta voltou a advertir que considera equivocadas as
medidas adotadas pela União Europeia para tentar frear o quadro de
crise. De 2008 para cá, as economias regionais têm imposto cortes de
direitos sociais e previdenciários na tentativa de diminuir o tamanho
das dívidas que assolam as nações, o que provoca protestos dos
trabalhadores e dos jovens, grupos mais afetados.
“O Brasil vem defendendo uma articulação, uma combinação entre
ajustes e estímulos fiscais, com vista à retomada do crescimento. Porque
doeu na nossa carne, aqui na América Latina, a terrível experiência dos
ajustes recessivos ocorridos em nossos países nas décadas de 80 e 90.
Desindustrialização, desemprego, perda de direitos sociais e
democráticos, desesperança”, afirmou.
A presidenta enumerou ainda as medidas tomadas pelo Brasil na
tentativa de conter os efeitos da crise internacional, como a
valorização do dólar frente ao real e os sucessivos cortes na taxa de
juros. Para ela, é possível que a Argentina colabore com os esforços do
governo federal em promover melhorias na infraestrutura, resolvendo os
problemas históricos que prejudicam o desenvolvimento nacional. “Eu
queria dizer que juntos nós somos muito mais fortes, juntos nós temos
condição de enfrentar, de uma forma mais efetiva, os desafios que o
mundo coloca diante de nós e as obrigações que os nossos povos nos
impõe, porque devemos a eles mais desenvolvimento, mais justiça social e
a manutenção desse quadro democrático e de paz que honra a nossa
região.”
Dilma retorna ainda hoje a Brasília. Ela cancelou a participação na
cúpula da União de Nações Sul-americanas (Unasul), marcada para
sexta-feira (30) em Lima, por problemas de agenda, segundo o Palácio do
Planalto.
*redebrasilatual