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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, abril 30, 2014

Padilha depena Alckmin e jornalistas demotucanos em entrevista na TV.




O ex-ministro da Saúde e pré-candidato ao governo de São Paulo Alexandre Padilha (PT) participou do Programa ‘Roda Viva’, transmitido pela TV Cultura.

A TV Cultura é do governo do Estado de São Paulo, em mãos tucanas, e escalou um grupo de jornalistas para fazer perguntas contra Padilha, em vez de vez perguntar sobre temas do interesse do cidadão telespectador, como o bom jornalismo deve fazer.

Para piorar tentaram interromper as respostas de Padilha sempre que ele criticava o Alckmin na resposta.

Mas não deu certo. Padilha trucidou um por um de seus inquisidores, e ainda, sem perder em nenhum momento a elegância, mesmo sendo bastante firme diante de perguntas venenosas.

No twitter, que serve para ver um pouco como os telespectadores estavam reagindo, o que eu vi foi tuiteiros demotucanos irritados dizendo que iam desligar a TV ou mudar de canal. Sinal de que Padilha estava se saindo bem nas respostas e os jornalistas não conseguiam fazer ele cair nas cascas de bananas e armadilhas preparadas nas perguntas.

Os tuiteiros que já simpatizam com Padilha estavam e estão todos comemorando e achando que ele se saiu melhor do que a encomenda. Foi inteligente, simpático, firme, com um discurso afiado que enche de confiança de que vai vencer.

E vi tuiteiros neutros politicamente (nem tucanos, nem petistas), uns dizendo que ainda não tinham visto ele falando e gostaram dele, outros ficaram bem impressionados com o preparo de Padilha, outros com a firmeza, outros dizendo que ele vai dar trabalho para o Alckmin.

Em algumas semanas de campanha e nos debates acho que Padilha já garantirá seu lugar no segundo turno. Se brincar ele ultrapassa Alckmin ainda no primeiro turno.

*
*Helena Sthephanowitz


terça-feira, abril 29, 2014

“Devo estar incomodando muita gente”, afirma Alexandre Padilha no Roda Viva

Saúde e segurança pública foram os principais assuntos abordados pela bancada do programa transmitido pela TV Cultura nessa segunda (28)
Por Mariana Blessa, Portal Linha Direta


Uma bancada afiada, com questões sobre segurança pública e saúde. Este foi o cenário que o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha encontrou no Roda Viva desta segunda-feira (28). O coordenador da Caravana Horizonte Paulista respondeu a todas as perguntas ao vivo no programa transmitido pela TV Cultura. Quando questionado sobre o embate com o atual governo do estado de São Paulo, Padilha destacou a forma do PSDB lidar com os problemas. “Quando apresentamos dados sobre a falta de água no estado de SP, por exemplo, recebemos de volta agressividade. Devo estar incomodando muita gente”, ressaltou.
Frente a jornalistas e representantes de diversos veículos de mídia, Alexandre Padilha voltou a elucidar as calúnias sobre seu envolvimento com o laboratório Labogen. No caso, o ex-ministro explica que filtros criados em sua gestão inviabilizariam a parceria com um laboratório de fachada. E esclarece: “meu nome não está em nenhum tipo de apuração, não é indiciado. A única citação que existe a mim no relatório é feita por terceiros”.

Saúde e segurança
“Os elogios que recebo do Mais Médicos vêm das pessoas que são atendidas por eles”, revela Alexandre Padilha. Durante a sabatina, o ex-ministro exemplificou a eficácia do programa com o cenário encontrado em Cananéia. Pertencente ao Vale do Ribeira, o município foi um dos beneficiados, pois antes da implantação do Mais Médicos uma ambulância percorria mais de 70km entre as cidades diariamente.

Questionado sobre a quantidade de leitos hospitalares, Alexandre Padilha explicou que durante sua gestão no Ministério da Saúde foram criados mais de 300 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs 24h) e que, em cada uma delas, são colocados mais 20 novos leitos para a população. “Precisamos também pensar em um novo modelo de atendimento”, avalia o ex-ministro.

Durante a entrevista, Padilha também ressaltou que concomitantemente a isso, o governo do estado de São Paulo – chefiado há vinte anos pelo PSDB – “cuidou de instalar presídios no oeste de São Paulo, mas deixou de fazer novos hospitais na região”. Ele enfatizou que segurança pública não se resume a construção de casas de detenção. “A grande marca do governo de São Paulo é querer disputar com a Polícia Federal ao invés de propor parcerias”.

*Linhadireta

“O problema do menor é o maior.”

Países que reduziram maioridade penal não diminuíram a violência


Países que reduziram maioridade penal não diminuíram a violência

Nos 54 países que reduziram a maioridade penal não se registrou redução da violência. A Espanha e a Alemanha voltaram atrás na decisão de criminalizar menores de 18 anos. Hoje, 70% dos países estabelecem 18 anos como idade penal mínima
Por Frei Betto, do Pragmatismo Político
Voltou à pauta do Congresso, por insistência do PSDB, a proposta de criminalizar menores de 18 anos via redução da maioridade penal.
De que adianta? Nossa legislação já responsabiliza toda pessoa acima de 12 anos por atos ilegais. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, o menor infrator deve merecer medidas socioeducativas, como advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. A medida é aplicada segundo a gravidade da infração.
Nos 54 países que reduziram a maioridade penal não se registrou redução da violência. A Espanha e a Alemanha voltaram atrás na decisão de criminalizar menores de 18 anos. Hoje, 70% dos países estabelecem 18 anos como idade penal mínima.
O índice de reincidência em nossas prisões é de 70%. Não existe, no Brasil, política penitenciária, nem intenção do Estado de recuperar os detentos. Uma reforma prisional seria tão necessária e urgente quanto a reforma política. As delegacias funcionam como escola de ensino fundamental para o crime; os cadeiões, como ensino médio; as penitenciárias, como universidades.
O ingresso precoce de adolescentes em nosso sistema carcerário só faria aumentar o número de bandidos, pois tornaria muitos deles distantes de qualquer medida socioeducativa. Ficariam trancafiados como mortos-vivos, sujeitos à violência, inclusive sexual, das facções que reinam em nossas prisões.
Leia também: Aécio Neves se declara a favor da redução da maioridade penal
Em rede nacional, professora desconstrói Aloysio Nunes e sua redução da maioridade penal
Já no sistema socioeducativo, o índice de reincidência é de 20%, o que indica que 80% dos menores infratores são recuperados.Nosso sistema prisional já não comporta mais presos. No Brasil, eles são, hoje, 500 mil, a quarta maior população carcerária do mundo. Perdemos apenas para os EUA (2,2 milhões), China (1,6 milhão) e Rússia (740 mil).
Reduzir a maioridade penal é tratar o efeito, e não a causa. Ninguém nasce delinquente ou criminoso. Um jovem ingressa no crime devido à falta de escolaridade, de afeto familiar, e por pressão consumista que o convence de que só terá seu valor reconhecido socialmente se portar determinados produtos de grife.
Enfim, o menor infrator é resultado do descaso do Estado, que não garante a tantas crianças creches e educação de qualidade; áreas de esporte, arte e lazer; e a seus pais trabalho decente ou uma renda mínima para que possam subsistir com dignidade em caso de desemprego.
Segundo o PNAD, o adolescente que opta pelo ensino médio, aliado ao curso técnico, ganha em média 12,5% a mais do que aquele que fez o ensino médio comum. No entanto, ainda são raros cursos técnicos no Brasil.
Hoje, os adolescentes entre 14 e 17 anos são responsáveis por consumir 6% das bebidas vendidas em todo o território nacional. A quem caberia fiscalizar? Por que se permite que atletas e artistas de renome façam propaganda de cerveja na TV e na internet? A de cigarro está proibida, como se o tabaco fosse mais nocivo à saúde que o álcool. Alguém já viu um motorista matar um pedestre por dirigir sob o efeito do fumo?
Pesquisas indicam que o primeiro gole de bebidas alcoólicas ocorre entre os 11 e os 13 anos. E que, nos últimos anos, o número de mortes de jovens cresceu 15 vezes mais do que o observado em outras faixas etárias. De 15 a 19 anos, a mortalidade aumentou 21,4%.
Portanto, não basta reduzir a maioridade penal e instalar UPPs em áreas consideradas violentas. O traficante não espera que seu filho seja bandido, e sim doutor. Por que, junto com a polícia pacificadora, não ingressam, nas áreas dominadas por bandidos, escolas, oficinas de música, teatro, literatura e praças de esportes?
Punidos deveriam ser aqueles que utilizam menores na prática de crimes. E eles costumam ser hóspedes do Estado que, cego, permite que dentro das cadeias as facções criminosas monitorem, por celulares, todo tipo de violência contra os cidadãos.
Que tal criminalizar o poder público por conivência com o crime organizado? Bem dizia o filósofo Carlito Maia: “O problema do menor é o maior.”
*revistaforum

BRASIL - GUERRA CIVIL E CONVULSÃO SOCIAL SÃO AS ÚNICAS OPÇÕES DA DIREITA BRASILEIRA PARA CHEGAR AO PODER 

 



Art by Antonio Berni

por Eduardo Bueres
Já deu para a maioria dos cidadãos notar que, desde o fim do Golpe Militar, o nível de provocação dos neo-fascistas brasileiros é parte real de um plano continentalista que visa sabotar a paz politica e social em que vive o Brasil com os seus atuais 200 milhões de consumidores; tudo em nome da defesa dos megas vilipendiosos interesses econômicos, empresariais, comerciais que circulam em torno da manipulação dos tesouros que o poder total oferece.

Indignados e  incomodados pela abissal incompetência parlamentar dos seus fieis agentes no Congresso Nacional e na Câmara do Deputados em Brasília  - refiro-me aqui aos políticos niilistas que andam atolados até o pescoço num lodaçal de decadência eleitoral -  o braço midiático e empresarial da direita -o chamado PIG - tem se comportado mal  ao tentar caricaturar os principais ícones do atual governo como bandidos. Até mesmo publicações no exterior reconhecem que a grande imprensa brasileira tem reagido de forma ensandecida, desproporcional, oportunista, covarde e sórdida, frente a tarefa até agora frustrada de anular as conquistas sociais da centro esquerda inspiradas por Lula e depois Dilma, usando para tal o seu enorme e bilionário poder de comunicação adicionado à um fanatismo editorial, tão tirano que, até Hitler ficaria com inveja!.

De 2004 aos dias de hoje, o eleitorado foi colocado diante de dois modelos distintos de desenvolvimento: um que valorizava e colocava o ser humano no centro do conjunto dos esforços para alcançar com exito os novos desafios do Brasil diante da necessidade de se renovar no seculo XXI, aproveitando melhor e com amplo realismo as suas enormes vantagens naturais, sem abrir mão da condição de nação soberana e dona absoluta de suas riquezas; 

o outro que colocava os especuladores e donos do capital transnacional no logar de Deus. 

Este último modelo privatista, subserviente, retrogrado e antipatriótico, por ser nocivo ao bem estar comum, por vontade da maioria absoluta do eleitorado nacional, à mais de uma década amarga uma clara rejeição nas urnas em favor das propostas e ações apresentadas em três mandatos consecutivos pelo partido criado pelos trabalhadores.
Muitos articulistas livres já alertaram e, continuam a alertar incansavelmente, pelas redes sociais e blogosfera, que todos os limites já foram ultrapassados por setores ligados a ultra direita golpista que, através dos meios de comunicação em massa, instigam bolsões da grande burguesia e classe média alta, para que estas se voltem com toda barbárie e fúria preconceituosa contra o atual governo popular de centro esquerda, que foi democraticamente eleito e tem colecionado um excepcional um bom conjunto de acertos e vitórias, apesar de muitos equívocos e contradições, especialmente no combate as desigualdades sociais e no campo geo-politico, entre outros, fazendo com que a Nação, mesmo conturbada por suas imensas distorções históricas, seculares, respire dadivosos dias de paz.

Continuando este indesejado estado de beligerância midiática, em ambos os lados, boa parte do povo mais rude já se prepara com muita coragem e disposição para a chegada do momento certo, que poderá ser entre junho e outubro de 2014, quando haverá um desabafo incontido e um chamamento por parte das forças de Esquerda progressista, para que a população saia as ruas em defesa do governo democrático, que tem sofrido toda sorte de vilanias e calunias; que já cansado levar nas costas punhaladas e chibatadas dos vendilhões da nação encarnados em canalhas milionários antipatriotas, poderá revidar equivocadamente as humilhantes provocações que vem sofrendo.
Pode ser também que a 'panela de pressão politica  possa explodir mais cedo do que se espera a partir de um fato novo e relevante e, a partir do primeiro insignificante confronto físico motivado por questões ideológicas, nunca mais haverá paz, nem vencedores nem vencidos. Todos perderemos!. Como a direita detém a primazia de comandar livremente a grande força representada pelo império das telecomunicações nacional, que obedece aos interesses transnacionais, através da senha maniqueísta diuturnamente martela, tentará lavar o cérebro de uma nação inteira apontando quem, segundo seu entendimento, representa o bem, e quem representa o mal,não sossegando enquanto não houver derramamento de sangue.


Cabe a Forças Esquerdas não caírem neste tipo de arapuca, cientes que, nestes novos tempos, somente através da guerra fratricida,do sangue derramado e do caos, com o apoio dos estados Unidos e seus lacaios tupiniquins -aqueles que tiram os sapatos para passar nas alfandegas do Império,mesmo sendo os donos trilionários das grandes emissoras- que a direita capitalista racista e gananciosa teria uma brecha de chance de tornar a governar o Brasil. 

Os escândalos que assombram a canonização de João Paulo II


Os escândalos que assombram a canonização de João Paulo II
João Paulo II, o papa que promoveu e encobriu pedófilos e violadores da Igreja, recebeu, ao mesmo tempo em que João XXIII, a canonização
Por Eduardo Febbro, na Carta Maior
Vítimas, que vítimas? – perguntou o cardeal Velasio de Paolis. E acrescentou: “Não são apenas estas vítimas”. Depois houve um silêncio de corpo e alma e o olhar um tanto perdido do superior geral dos Legionários de Cristo, nomeado em 2010 para esse cargo pelo então papa Joseph Ratzinger. À pergunta de de Paolis se seguiu uma resposta: as vítimas não eram só os milhares de menores que sofreram com os apetites sexuais das batinas hipócritas, mas também o próprio Vaticano. As vítimas não eram unicamente os menores ou adultos abusados e violentados pelo padre Marcial Maciel, o fundador dessa indústria dos atentados sexuais que foi, durante seu mandato, o grupo dos Legionários de Cristo. A vítima era a Santa Sé, que foi “enganada”.
João Paulo II, o papa que, entre outros horrores, promoveu e encobriu pedófilos e violadores da Igreja, recebeu, ao mesmo tempo em que João XXIII, a canonização. Para além do espetáculo obsceno montado para esta ocasião, dos milhares de fieis na Praça de São Pedro, dos três satélites suplementares para transmitir o ato, para além da fé de muita gente, a canonização do papa polonês é uma aberração e um ultraje para qualquer cristão do planeta. Declarar santo a Karol Wojtyla é se esquecer do escandaloso catálogo de pecados terrestres que pesam sobre este papa: amparo dos pedófilos, pactos e acordos com ditaduras assassinas, corrupção, suicídios jamais esclarecidos, associações com a máfia, montagem de um sistema bancário paralelo para financiar as obsessões políticas de João Paulo II – a luta contra o comunismo -, perseguição implacável das correntes progressistas da Igreja, em especial a da América Latina, ou seja, a frondosa e renovadora Teologia da Libertação.
O “vítimas, que vítimas?” pronunciado em Roma pelo cardeal Velasio de Paolis encobre toda a impunidade e a continuidade ainda arraigada no seio da Igreja. Jurista e especialista em Direito Canônico, De Paolis fazia parte da Congregação para a Doutrina da Fé na época em que – anos 80 – se acumulavam as denúncias contra Marcial Maciel. No entanto, foi ele quem firmou a segunda absolvição do sacerdote mexicano. O ex-padre mexicano Alberto Athié contou à Carta Maior como Maciel sabia distribuir dinheiro e favores para comprar o silêncio das hierarquias. Athié renunciou em 2000 ao sacerdócio e se dedicou à investigação e denúncia dos abusos sexuais cometidos por clérigos e organizações.
O destino de Maciel foi selado por Bento XVI a partir de 2005. Em 2004, antes da morte de Karol Wojtyla, Maciel foi honrado no Vaticano. Neste mesmo ano, Ratzinger reabriu as investigações contra os Legionários. O dossiê Maciel havia sido bloqueado em 1999 por João Paulo II e mantido invisível por outra das figuras mais soturnas da cúria romana, Angelo Sodano, o ex-secretário de Estado de Giovanni Paolo. Sodano é uma pérola digna de figurar em um curso de manobras sujas. Decano do Colégio de Cardeais, ele tinha negócios com os Legionários de Cristo. Um sobrinho dele foi um dos assessores nomeados por Maciel para construir a universidade que os legionários de Cristo têm em Roma, a Universidade Pontífica Regina Apostolorum.
Sodano, que foi o número dois de Juan Paulo II durante quase 15 anos, tinha um inimigo interno, Joseph Ratzinger, um clube de simpatias exteriores cujos dois membros mais eminentes eram o ditador Augusto Pinochet e o violador Marcial Maciel. Sodano e Ratzinger travaram uma batalha sem tréguas: o primeiro para proteger os pedófilos, o segundo para condená-los. Em 2004, Ratzinger obrigou Maciel a se demitir e a se retirar da vida pública. Dois anos depois, já como Bento XVI, o papa o suspendeu “a divinis”. As investigações reabertas por Ratzinger demonstraram que Maciel era um pederasta, tinha duas mulheres, três filhos, várias identidades diferentes e manejava fundos milionários.
As denúncias prévias nunca haviam passado o paredão levantado por Sodano e o hoje Santo João Paulo. A carreira de Sodano é uma síntese do Papado de Karol Wojtyla, onde se mesclam os interesses políticos, as visões ideológicas ultraconservadoras, a corrupção e as manipulações. Angelo Sodano foi Núncio no Chile durante a ditadura de Pinochet. Manteve uma relação amistosa com o ditador e isso permitiu que organizasse a visita que João Paulo II fez ao Chile em 1987. Seu irmão Alessandro foi condenado por corrupção após a operação Mãos Limpas. Seu sobrinho Andrea teve a mesma sorte nos Estados Unidos. O FBI descobriu que Andrea e um sócio se dedicavam a comprar – mediante informação privilegiada – por um punhado de dólares as propriedades imobiliárias das dioceses dos Estados Unidos que estavam em bancarrota devido aos escândalos de pedofilia.

Mas o mundo sucumbiu ao grito de “santo súbito” que reclamava a canonização de um homem que presidiu os destinos da Igreja em seu momento mais infame e corrupto. O papa “viajante”, o papa “amável”, o papa “dos jovens”, era um impostor ortodoxo que deixou desprotegidas as vítimas dos abusos sexuais e os próprios pastores da Igreja quando estes estiveram com suas vidas ameaçadas.
Sua visão e suas necessidades estratégicas sempre se opuseram às humanas. Na trama desta história também há muito sangue, e não só de banqueiros mafiosos como Roberto Calvi ou Michele Sindona, com quem João Paulo II se associou para alimentar com fundos secretos os cofres do IOR (Banco do Vaticano), fundos que serviram para financiar a luta contra o comunismo no leste europeu e contra  a Teologia da Libertação na América Latina.
João Paulo II deixou desprotegidos os padres que encarnavam, na América Latina, a opção pelos pobres frente às ditaduras criminosas e seus aliados das burguesias nacionais. Em 2011, cinquenta destacados teólogos da Alemanha assinaram uma carta contra a beatificação de João Paulo II por não ter apoiado o arcebispo salvadorenho Óscar Arnulfo Romero, assassinado em 24 de março de 1980 por um comando paramilitar da extrema-direita salvadorenha, enquanto celebrava uma missa. Romero sim que é e será um santo. O arcebispo enfrentou os militares para pedir-lhes que não assassinassem seu povo, percorreu bairros, zonas castigadas pela repressão e pela violência, defendeu os direitos humanos e os pobres. Em resumo, não esperou que Bergoglio chegasse a Roma para falar de “uma Igreja pobre para os pobres”. Não. Ele a encarnou em sua figura e pagou com sua vida, como tantos outros padres aos quais o Vaticano taxava de marxistas ou comunistas só porque se envolviam em causas sociais.
João Paulo II é um santo impostor que traiu a América Latina e aqueles que, a partir de uma igreja modesta, ousaram dizer não aos assassinos de seus povos. Se, no leste europeu, João Paulo II contribuiu para a queda do bloco comunista, na América Latina favoreceu a queda da democracia e a permanência nefasta de ditaduras e sua ideologia apocalíptica. Um detalhe atroz se soma à já incontável dívida que o Vaticano tem com a justiça e a verdade: o expediente de beatificação de Óscar Romero segue bloqueado nos meandros políticos da Santa Sé. João Paulo II beatificou Josemaría Escrivá, o polêmico fundador da Opus Dei e um de seus protegidos. Mas deixou Romero de fora, inclusive quando estava com sua vida ameaçada. “Cada vez mais sou um pastor de um país de cadáveres”, costumava dizer Romero.
João Paulo II foi eleito em 1978. No ano seguinte, Monsenhor Romero entregou a ele um informe sobre a espantosa violação dos Direitos Humanos em El Salvador. O papa ignorou o informe e recomendou a Romero que trabalhasse “mais estreitamente com o governo”. Como lembrou à Carta Maior Giacomo Galeazzi, vaticanista de La Stampa e autor de uma magistral investigação, “Wojtyla Secreto”, em “seus 25 anos de pontificado nenhum bispo latinoamericanao ligado à ação social ou à Teologia da Libertação foi nomeado cardeal por João Paulo II”. A resposta está em uma frase de outro dos mais dignos representantes da “Igreja dos Pobres”, o falecido arcebispo brasileiro Hélder Câmara. “Quando alimentei os pobres me chamaram de santo; mas quando perguntei por que há gente pobre me chamaram de comunista”.
O show universal da canonização já foi lançado. A imprensa branca da Europa tem a memória muito curta e sua cultura do outro é estreita como um corredor de hospital. Todos celebram o grande papa. Ela promoveu à categoria de santo um homem que tem as mãos sujas, que cometeu a infâmia de encobrir violadores de crianças, de beijar ditadores e legitimar com isso o rastro de mortos que deixavam pelo caminho, de negociar benefícios para a máfia, que sacrificou em nome dos interesses de uma parte da Europa a misericórdia e a justiça de outros, entre eles os da América Latina. Estão canonizando um trapaceiro. O cúmulo da esperteza, do erro imemorial.
Em que altar se ajoelharão as vítimas dos abusadores sexuais e das ditaduras? Podemos levantar todos juntos um lugar aprazível e justo na memória com as imagens do padre Múgica ou do Monsenhor Romero para nos reencontrarmos com a beatitude o sentido de quem, por um ideal de justiça e igualdade, enfrentou a morte sem pensar nunca em si mesmo, ou em baixas vantagens humanas.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
*revistafórum

Reunião BRICS em Fortaleza



Fortaleza recebe nesta terça-feira (29), no Centro de Eventos, o seminário preparatório para a reunião do Brics – o grupo de países com economias emergentes composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O encontro está agendado para 15 e 16 de julho, após a Copa do Mundo, também em Fortaleza.
Putin foi agente da KGB e vem a Fortaleza com dois aviões. (Divulgação/Federação Russa)
Putin foi agente da KGB e vem a Fortaleza com dois aviões. (Divulgação/Federação Russa)
Os chefes de Estado devem estar presentes em julho. E cada um com as suas peculiaridades. A Rússia, em fase de conflito com a vizinha Ucrânia, toma as suas precauções tradicionais. O presidente da federação, Vladimir Putin, é um sujeito cuidadoso. Ex-agente da KGB e ex-chefe do Serviço Secreto, ele deve trazer dois aviões a Fortaleza.
Uma das aeronaves deve trazer o presidente e sua comitiva. O outro avião, entre outros equipamentos, traz a bordo o carro para os deslocamentos de Putin e um helicóptero.
Leia mais postagens do blog Tribuna Livre.

domingo, abril 27, 2014

Deu no The New York Times: Brasil tem resposta para desigualdade

Foi preciso que um jornalista com visão limpa viesse do exterior, exatamente dos Estados Unidos, para informar aos brasileiros o óbvio ululante.


  Arquivo

Colunista sênior do The New York Times, Joe Nocera, escreveu sobre o Brasil na segunda feira agora, dia 20, apontando a surpresa que lhe despertou a cidade do Rio de Janeiro. Muniu-se de mais informações após sua viagem de volta aos Estados Unidos, reunindo-se com alguns economistas para procurar entender o que se passava com o país em particular onde se apoiavam seus pilares econômicos.

Chamou-lhe a atenção, o que os brasileiros já sabiam, a variedade de boas lojas em bairros como Ipanema e igualmente a quantidade de pobreza nas favelas ao redor. Segundo ele, para os visitantes, saltava aos olhos o número de cidadãos de classe média pelas ruas em meio aos carros por todos os lados e o tráfico congestionado. Por não ser ilusão o que via, passou a acreditar que tudo aquilo era sinal de uma classe média emergente. As pessoas tinham dinheiro para comprar carros.

Foi preciso que um jornalista com visão limpa viesse do exterior, exatamente dos Estados Unidos, país cuja cultura nos é bem conhecida, para informar aos brasileiros o óbvio ululante, salve Nelson Rodrigues, já que os profissionais dos nossos jornalões e televisões de plantão não informam por não saberem ver ou não conseguirem enxergar.

Se tivesse dito só isto já era o suficiente para mostrar que as mídias sociais, baluartes modernos da resistência informativa, veem como ele o país. Mas suas observações foram mais carregadas ainda de tinta ao destacar a queda na desigualdade de renda na última década, os recordes atuais do baixo desemprego e a saída da pobreza de cerca de 40 milhões de pessoas. Por fim, ainda assinalou que, embora o crescimento do produto tenha reduzido, a renda per capita continua a subir.

Já os economistas reunidos com ele relativizaram as conquistas. Disseram que a boa forma da economia brasileira tem voo curto a despeito dos ganhos obtidos.
Estariam faltando ganhos em produtividade para sustentar a volta dos investimentos. O baixo desemprego dos que querem trabalhar seria porque, enquanto a economia cresce pouco e com eficiência contida, o Estado compensa incentivando o consumo com programas sociais. Para eles o país teve mais sorte do que sucesso.

Não é sorte, embora os santos possam ter ajudado! Com a retração dos investimentos, apesar do esforço e incentivo do governo, a estratégia de expansão do consumo foi estabelecida para segurar a economia, mesmo a crescimento baixo, exatamente nesses anos de vacas magras desde o início da crise financeira mundial com a quebra do Lehman Brothers. O Brasil foi um dos poucos países que suportaram o baque, outros entraram em recessão ou mais leves ou mais graves, todos eles fazendo o dever de casa imposto pelas autoridades financeiras mundiais de ajustar e pagar suas dívidas públicas e privadas, desviando os olhos dos impactos sociais. Pois então, enquanto o Brasil cresce devagar, a economia mundial não conseguiu ainda se levantar.

De fato, o viés de consumo da política econômica é opção do governo que deu certo interna e externamente. Aqui, liderado pelos programas sociais somam-se outras medidas complementares, entre elas, correções maiores que a inflação no salário mínimo, aposentadorias e pensões e repasses parciais à gasolina dos aumentos de custos. Lá fora, os economistas com ele reunidos não viram: o próprio governo dos Estados Unidos e a ONU se interessaram pelo Programa Bolsa Família e pretendem implementá-lo para reduzir o desemprego, melhorar a renda familiar e sustentar o consumo. Joe Nocera destaca o papel do programa e compara seu êxito com a recusa do Congresso americano em melhorar o seguro desemprego e outros programas sociais naquele país.

Do lado do investimento, os economistas se esqueceram de mencionar que há muitas fichas apostadas na expansão e modernização da infraestrutura e na exploração do pré-sal não só pelos efeitos produtivos diretos, mas também pelos efeitos indiretos. Um forte incentivo e impulso do complexo industrial são esperados, o que tem tudo para promover a volta de novos projetos e a expansão de muitas plantas industriais existentes. Seguras e concretas alternativas brasileiras mesmo diante da crise mundial que arrasta as economias dos países.

Ao contrário do Brasil, o jornalista afirma que a produtividade americana voltou a crescer, mas apesar disso o desemprego não desce dos 7% e a classe média aos poucos perde posição social (em parte por conta de não serem distribuídos melhor os ganhos de produtividade). Diz taxativamente que a desigualdade de renda é um fato na vida dos Estados Unidos e ninguém tem sido capaz de fazer alguma coisa a respeito. Será que no fundo querem seguir a receita desandada do Brasil de esperar o bolo crescer para distribuir algumas migalhas?

O objetivo do governo atual e dos dois anteriores no Brasil foi exatamente garantir o desenvolvimento com a melhoria das condições de vida da população, em especial dos mais pobres; os Estados Unidos querem o desenvolvimento a qualquer custo. Infelizmente só o jornalista americano consegue entender isto, parabéns!, os nossos da grande mídia não.

*cartamaior