A direitona mostra organização para chegar ao poder: “Nossa marca é crise” moral
por Luiz Carlos AzenhaO resultado do segundo turno é uma incógnita. Tudo pode acontecer. O eleitorado já demonstrou, às vésperas do primeiro turno, que é volátil.
Dilma Rousseff chegou a atingir 56% da preferência (no tracking do Vox Populi) faltando duas semanas para a eleição.
Desde então, no entanto, vem caindo. Está claro que o governo, a candidata, os assessores dela e o PT subestimaram a campanha subterrânea movida não somente, mas principalmente através da internet. Uma campanha científica, provavelmente adotada por recomendação do tal consultor indiano, que deixou o Brasil antes que suas digitais fossem parar na Polícia Federal.
As técnicas empregadas pela oposição se parecem muito com as utilizadas pela campanha de John McCain, nos Estados Unidos, contra Barack Obama, como descrevi em artigo de 26 de abril de 2010: objetivam deslocar o eixo do debate do racional para o emocional, estimulando medos, preconceitos e oferecendo um “salvador da pátria”.
Esta campanha continua enquanto você lê este texto. O eixo dela se desloca para assuntos novos, que ainda não foram saturados no bombardeio virtual. De Dilma, a abortista, para a guerrilheira que pede indenização milionária; de Dilma, apoiadora das FARC, para a candidata que é mera figurante de uma profecia segundo a qual ela morre e assume o vice satanista (é a nova, entre os evangélicos).
Esta campanha tem o dom de deslocar o debate das questões que realmente importam para o futuro do Brasil. Tem o dom de afastar o debate das questões econômicas e dos projetos de governo. Como é que José Serra, se eleito, governaria com minoria na Câmara ou no Senado? Que benesses ofereceria para atrair apoio? Seria obrigado a lotear a máquina pública?
Todas estas questões, pertinentes, não figuram no debate eleitoral. O objetivo, que está sendo conseguido pela direitona, é criar no eleitorado um intenso nojo da política e das eleições. De tal forma que as pessoas não discutem, não debatem, nem participam. O cenário ideal para uma midiocracia com leves toques teocráticos.
Nos últimos dias, por conta do feriado, acompanhando mais de perto a moderação dos comentários do blog, pude notar como os trolls da direitona agem de forma coordenada e inteligente. Não me refiro a antigos comentaristas conservadores do Viomundo, como a Orsola Ronzoni ou o Rodrigo Leme. Falo dos que aparecem de vez em quando, utilizando IPs nunca registrados por aqui. Assim que um tema novo é colocado no blog, são os primeiros:
1. Pregando o voto nulo;
2. Desqualificando o autor do texto;
3. Mudando de assunto;
4. Dizendo que votam na Dilma, mas que a eleição está perdida;
5. Oferecendo links que desviam leitores (no caso do Ciro Gomes, apontando para um vídeo no You Tube em que ele discute com um jornalista).
É preciso reconhecer, portanto, que além da campanha sórdida há também uma campanha aparentemente sofisticada e bem gerida.
Ou seja, do ponto-de-vista meramente político (eleição, afinal, se ganha com voto), na internet José Serra fez 2 a 0.
Hoje, três ações aparentemente isoladas me chamaram a atenção.
O Ministério Público Eleitoral, da dra. Cureau, entrou com ação contra Paulo Henrique Amorim, do Conversa Afiada, por publicar um e-mail de um partidário de Dilma Rousseff.
Está no site do TSE.
O link para o post aparece aqui.
A mesma dra. Cureau deu parecer favorável a um pedido da campanha de Serra que acusa a TV Record de ter colocado no ar uma reportagem jornalística pró-Dilma (sobre o padrão de votação em São Paulo, cidade na qual Serra teve maioria no centro mas perdeu na periferia).
Nas campanhas da direitona que testemunhei pessoalmente sempre houve essa conjugação: medo + intimidação.
Desfazer redes, desligar pessoas, desconectar.
E impor uma pauta única, onde não haja espaço para questionar de forma legítima — e jornalística — a imagem santa de um candidato (Paulo Preto quem?)
Ah, sim, quanto à terceira ação, encontra-se num post de um blogueiro da Folha, que pela segunda vez tenta ligar Dilma ao homossexualismo, a partir da pergunta de um repórter não identificado, feita no Piauí.
Acompanhem comigo: o boato nasceu em um blog apócrifo, com uma acusação lançada de forma verrosímil.
Primeiro o boato se espalhou nos subterrâneos das redes sociais, por e-mail e via twitter.
Agora, associado a um grande jornal, ele se cristaliza na superfície e pode ser disseminado com ares de credibilidade. Coloca a candidata na defensiva para os próximos debates.
Até 31 de outubro o objetivo contínuo será: acusar + intimidar + deslocar o debate para o campo do moralismo, de valores subjetivos e emocionais.
Vocês viram o documentário Our Brand is Crisis, sobre a atuação de marqueteiros dos Estados Unidos na campanha que elegeu Gonzalo Sanchez de Losada, com uma base de apoio político frágil, na Bolívia, em 2002?
*Viomundo
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