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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, outubro 15, 2010

Templos consumistas campeiam

Templos consumistas


Falando de imponência arquitetônica, podemos com segurança comparar os shopping centers de hoje, templos modernos e arrojados do consumismo, com os templos religiosos suntuosos e imponentes originados na Contra-Reforma. Tanto um quanto outro exaltam o culto a seres superiores. O primeiro diviniza o “deus-lucro”, ou seja, o “deus-capital”, enquanto o segundo constitui-se na morada do Deus bíblico, segundo a Igreja Católica, o criador de todas as coisas. No entanto, olhando para os dois tipos de estruturas e considerando as condições de cada época, observamos, através do movimento de reação da Igreja Católica, a Contra-Reforma, acontecido como forma de resistência à Reforma Protestante, que era preciso resgatar fiéis e conquistar imediatamente outros tantos para que o Catolicismo não perdesse a força que tinha junto ao povo e ao aliado poder do Estado. Para tanto, a arquitetura das igrejas tinha de chamar a atenção para conquistar fiéis através da pompa, do requinte, do luxo, da suntuosidade e da riqueza extremada. Era preciso até causar um certo temor, por isso a grandiosidade das construções, a fim de convencê-los da existência de Deus como um ser supremo e que deveria ser respeitado. Então, a questão da fé religiosa estava para a época como os shoppings centers estão para a atualidade no sentido de arrecadar o maior número possível de compradores, ou seja, de consumidores para seus produtos,angariando muito lucro (trabalho não pago) É necessário impressionar por meio das requintadas decorações, do luxo das lojas, da arrojada arquitetura, das grifes dos produtos e dos seus altos preços. Não há, portanto, que se dissociar essa comparação da realidade atual, já que existe até hoje uma ligação muito forte entre o Estado e as instituições que o legitimam. Ambos consomem o nosso dinheiro, o nosso tempo para fazer o "bem" e as nossas ideias. Hoje quem impera é o capital, ou seja, o deus-capital, idolatrado pela maioria das pessoas e parece que valemos pelo que carregamos no carrinho do supermercado. Tanto a Igreja quanto o capital submetem o ser humano à escravidão e à submissão.

Tânia Marques  12 de outubro de 2010

*palavraseImagens

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