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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, outubro 14, 2010

“Vídeo bomba” mostra o que está em jogo no segundo turno







Não seria nada mal se eleitores e eleitoras dedicassem alguns minutos de seus dias para conversar um pouco sobre o assunto exibido em um pequeno vídeo que fala sobre o presente e o futuro do país. Considerando a quantidade de baixarias que circula na internet e fora dela, esse vídeo é, como gosta de dizer nossa imprensa, uma bomba. Feita para pensar.
O Brasil está entrando na reta final da disputa eleitoral. Uma disputa eleitoral que deveria estar sendo marcada por um grande debate público sobre qual caminho o país deve seguir nos próximos anos. Infelizmente, a candidatura de José Serra (PSDB) decidiu enveredar por um caminho sombrio e introduziu no debate político uma agenda fundamentalista de extrema-direita, detonando uma brutal campanha de difamação contra Dilma Rousseff (PT).

Em um certo sentido, é compreensível que esta tenha sido a escolha da campanha de Serra. Trata-se de uma escolha que tem como motivação a necessidade de desviar a atenção da população brasileira para o verdadeiro debate que devia estar sendo feito. O debate sobre as idéias e propostas do candidato para o presente e o futuro do país.

Entre tantos vídeos que vêm circulando pela internet, vale a pena destacar um que mostra claramente um dos principais debates que devia estar sendo feito, a saber, o debate sobre as propostas econômicas dos candidatos. Considerando a quantidade de baixarias e mentiras que vem circulando na internet e fora dela, essa pequena produção aparece como algo bombástico: vídeo-bomba mostra o que está em jogo no segundo turno! – poderia ser a manchete no medíocre tom sensacionalista que viceja em nossas redações.

Afinal de contas, é isso que vai, em grande medida, decidir como será a vida de milhões de brasileiros e brasileiras nos próximos anos. Não é pouca coisa. Portanto, é preciso atenção sobre o que as duas candidaturas representam. O vídeo acima traça uma cronologia da crise mundial (2008-2009) sob a ótica da imprensa brasileira e da oposição ao governo Lula. Além disso, mostra como o governo de FHC e Serra (1995-2002) conseguiu quebrar o Brasil três vezes, a despeito de ter vendido quase todas as empresas públicas lucrativas. Essa retrospectiva adquire atualidade redobrada no momento em que Serra, finalmente, sai em defesa das privatizações, ainda que o faça de um modo envergonhado, tentando esconder o que realmente pensa sobre o assunto. 
Também é compreensível. As idéias de Serra levaram o Brasil à estagnação e agravaram o quadro de desigualdade social no país. Aliás, não levaram apenas o Brasil à estagnação. São as mesmas idéias, filhas da ideologia do Estado mínimo e da supremacia dos mercados, que levaram a economia mundial à beira do precipício. Neste momento, milhares de pessoas saem às ruas em diversos países da Europa para protestar contra os efeitos perversos dessa crise.
A imprensa brasileira, é claro, fiel à sua indigência política e cultural, não estabelece nenhum nexo entre o que está acontecendo na economia mundial e a situação brasileira. Acha mais importante debater aborto e questões religiosas. E tem muita gente boa embarcando nesta canoa furada. Então, vale a pena gastar alguns minutos do dia para ver esse vídeo e pensar. Não dói.

Os diagnósticos e previsões que aparecem nele sinalizam o que seria um governo Serra no Brasil. No vídeo, apesar da auto-proclamada “sólida formação” em economia, as profecias e diagnósticos de Serra e seus aliados sobre a economia brasileira acabam se revelando totalmente furadas. Quando estourou a crise mundial, economistas e políticos tucanos remetiam o mesmo discurso: o governo precisa cortar gastos, não há outra coisa a fazer, repete Serra. Pois havia outra coisa a fazer. E o governo Lula fez.

O conteúdo desse vídeo é um ótimo tema para o segundo turno da campanha eleitoral. Deveria ser ao menos. A população brasileira tem o direito (e o dever, me atreveria a dizer) de conhecer a “sólida formação” do economista Serra que, no auge da crise, disparou a dar entrevistas em que apontava os “graves erros” do governo Lula. O Brasil, lembre-se, foi um dos primeiros países a sair da crise e hoje ostenta taxas de crescimento acima da média mundial. A sólida formação de Serra errou todas suas previsões e suas receitas, felizmente, não foram aplicadas pelo governo Lula. São essas idéias e propostas que estarão em disputa no dia 31 de outubro.

Não seria nada mal se os eleitores e eleitoras dedicassem alguns minutos de seus dias, daqui até lá, para conversar um pouco sobre o assunto.

Marco Aurélio Weissheimer é editor-chefe da Carta Maior (correio eletrônico: gamarra@hotmail.com)
*Turquinho
 

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