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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, setembro 19, 2015

A justiça reacionária de Gilmar Mendes em 5 atos

Por que Gilmar Mendes conferiu Habeas corpus a Daniel Dantas e Roger Abdelmassih? Por que protegeu a Rede Globo e os financiadores privados de campanha?


Filipe Sampaio / STFDa Redação

 
Embora o julgamento tenha sido suspenso devido a um pedido de vistas do ministro Gilmar Mendes, seis outros já votaram pela procedência do pleito, reconhecendo que o financiamento privado de campanha desequilibra o sistema eleitoral brasileiro, enquanto apenas um foi contrário. Mendes pediu vistas do processo justamente após fazer as contas e ver que o resultado caminhava para este desfecho. Gilmar Mendes, sempre ele, travou a porta com o pé direito ao pedir vista do processo. E Fux adicionou a sua relatoria — impecável, como uma ponte de sobrevivência depois do mergulho no lamaçal da AP 470 — um prazo capaz de jogar a regra para 2018.
 

Foto: Secretaria Nacional De Antidrogas do Paraguai
 
2) Habeas corpus em favor de Roger Abdelmissih 
Para quem já esqueceu o episódio, Roger Abdelmassih mantinha uma clínica de genética na Avenida Brasil, região nobre da capital paulista, onde atendia clientes milionários. Durante muito tempo, ele foi paparicado pela mídia privada. Em 2008, porém, surgiram as primeiras denúncias de que o médico sedava as pacientes e cometia crimes sexuais. Em junho de 2009, ele foi indiciado por estupro e atentado violento ao pudor. Aos poucos, 35 pacientes denunciaram os crimes do “médico das elites”, que teria cometido 56 estupros. Abdelmassih chegou a ficar detido de 17 de agosto a 24 de dezembro de 2009, mas foi beneficiado por um habeas corpus concedido pelo ministro Gilmar Mendes.
 

Foto: Wilson Dias / ABr
 
Para Procuradores, Regime Democrático foi atingido pela decisão do Presidente do STF, proferida em tempo recorde, desconstituindo a decisão que decretou a prisão temporária de conhecidas pessoas da alta sociedade brasileira, sob o argumento da necessidade de proteção ao mais fraco. Juízes federais também divulgam carta de protesto.
 

Foto: Viomundo
 
Em 2007, uma funcionária da Receita Federal, Cristina Maris Meinick Ribeiro, foi denunciada pelo Ministério Público Federal por ter dado sumiço no processo contra a Globopar, controladora das Organizações Globo, por sonegação fiscal. Como não poderia deixar de ser nesses casos, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, deu sua contribuição às trevas: foi ele que relatou o habeas corpus que soltou a funcionária da Receita, depois da ação de CINCO advogados junto ao STF.
 

Fábio Rodrigues Pozzebom / ABR
 
5) Gilmar Mendes votou contra a lei da Ficha Limpa
 
O ministro chegou quase a perder a compostura ao defender seu ponto de vista. E, no calor do debate, distribuiu críticas aos legisladores que aprovaram a lei, por unanimidade, na Câmara e no Senado. Também sobrou para os membros dos conselhos de classe (como a OAB e o Conselho Nacional de Medicina, por exemplo), que, pela Lei da Ficha Limpa, também tornariam inelegíveis profissionais expulsos por infrações ético-profissionais. 
*CartaMaior

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