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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, setembro 10, 2015

Com tiros e incêndios forçados, seguem ameaças aos Guarani Kaiowá

Estudantes indígenas da UnB fazem marcha na Esplanada dos Ministérios em repúdio à situação de violência sofrida pelos Guarani Kaiowá, em Mato Grosso do Sul, no último fim de semana (José Cruz/Agência Brasil)
INTERSINDICAL – Central da Classe Trabalhadora
Os trabalhadores e a sociedade em geral precisam atentar para o que os ruralistas e seus capangas estão fazendo contra as populações indígenas, particularmente na região de Dourados, no Mato Grosso do Sul.
Após o assassinato de Semião Vilhalva, da comunidade Guarani Kaiowá, os ruralistas seguiram atacando os indígenas, com tiros e incêndios forçados.
Segundo o Conselho Missionário Indigenista, o presidente do Sindicato Rural de Rio Brilhante (que representa os grandes fazendeiros) convocou os fazendeiros da região, fez ameaças aos Guarani e Kaiowá e mandou mensagens aos servidores da Funai de que o conflito seria inevitável. Diante disso, segundo o Cimi, o Ministério Público Federal pediu abertura de inquérito policial para apurar as denúncias.
“Não podemos ficar de braços cruzados enquanto o agronegócio dizima os povos e impedem a demarcação das terras indígenas. É preciso agir para impedir esse massacre. Além de denunciar os fazendeiros e seus capangas, é preciso cobrar do governo, do judiciário e do legislativo ações concretas para por fim a essa situação. Chega de massacre e desrespeito ao território indígena”, cobra Edson Carneiro Índio, Secretario Geral da Intersindical Central da Classe Trabalhadora.
Leia a carta do CIMI:
Durante a última noite, dia 04, e ao longo manhã deste sábado, 05, os ataques promovidos por milícias rurais contra famílias Guarani e Kaiowá do tekoha (lugar onde se é) Guyra Kambi’y, localizado entre os municípios de Douradina e Itaporã, a 35 km de Dourados, no Mato Grosso do Sul, continuaram fortes e intensos. Apesar disso, não há sinalização de deslocamento de forças de segurança para a região até o presente momento.
Os indícios de que haveria continuidade das ações paramilitares, levadas a cabo por grandes fazendeiros, seus jagunços e sindicalistas rurais, foram amplamente evidenciados desde a manhã desta sexta-feira, 04. Enquanto fotografias de projeteis e cartuchos de armas de fogo de diversos calibres, evidenciam os ataques desferidos contra os Guarani-Kaiowá na noite de quinta-feira, 03, mensagens trocadas em redes sociais, advindas, sobretudo de dirigentes de sindicatos rurais, demonstram o planejamento de ações contra os índios. O fato gerou a instauração de um inquérito por parte do Ministério Público Federal (MPF), anunciado na tarde desta sexta-feira, com finalidade de investigar a formação de milícia privada por parte de produtores rurais.
As ações milicianas desrespeitam o pacto estabelecido com o Ministério da Justiça, na quarta-feira, dia 02. Desrespeito que parece ser intencional e deliberado uma vez que, segundo os indígenas, alguns fazendeiros foram enfáticos em afirmar que para “a ação contra os índios não seriam constituídos advogados”, uma vez que “os produtores não creditam mais na justiça”.
Por volta das 19 horas desta sexta-feira, 04, diligências da Polícia Federal e da força tática da Brigada Militar foram até o local. Ao encontrarem um grupo amplo de produtores organizados, os policiais realizaram a qualificação dos produtores rurais no inquérito instaurado. Mesmo assim, logo após o retorno das diligências policiais para a cidade de Dourados, os ataques armados recomeçaram contra os Guarani e Kaiowá.
Foram mais de duas horas de muitos disparos e investidas de fazendeiros que avançaram contra os indígenas com um grande número de caminhonetes, decretando novamente, às margens da lei, uma noite de terror para as famílias de Guyra Kambi’y. Com muita dor e medo, avaliando a situação de alto risco e sem nenhuma perspectiva de segurança, os indígenas abalados tiveram de deixar a pequena área retomada há quatro dias, que fica localizada dentro de seu próprio território tradicional. Os Guarani e Kaiowá regressaram para a aldeia de apenas dois hectares onde vivem há mais de quatro anos.
Mesmo com o recuo dos indígenas, os ataques paramilitares ruralistas não cessaram ficando ainda mais perigosos, visto estarem sendo praticados contra a pequena sede do tekoha onde os indígenas encontram-se agora confinados. Os indígenas denunciam que fazendeiros, assim como nas duas noites anteriores, estão novamente organizados, armados e já voltaram a efetuar disparos contra as famílias indígenas neste sábado, 05. Denunciam também que a força tática esteve, no início da tarde de hoje, noutro tekoha bastante próximo, porém, bateram em retirada negando-se em realizar a segurança das famílias de Guyra Kambi’y que está novamente sobre ataques.            
Há três dias, o Cimi e muitas outras organizações da sociedade civil brasileira cobram, junto ao Ministério da Justiça, o envio e a permanência de força de segurança no local dos ataques paramilitares. No entanto, até a tarde deste sábado, 05, as milícias rurais continuam agindo, com liberdade, inclusive à luz do dia, à revelia do Estado democrático e de direito.
Brasília, DF, 05 de setembro de 2015.
CIMI (Conselho Indigenista Missionário)

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