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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, setembro 10, 2015

Os 39 kg de cocaína de Escobar versus a meia tonelada do helicoca.

 Por Paulo Nogueira

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Juntos.
Reflitamos juntos.
Pablo Escobar virou celebridade na Colômbia quando foi apanhado com 39 quilos de cocaína.
A imprensa colombiana notou: havia um novo rei do tráfico no país.
No Brasil, o helicóptero de um senador é apanhado com meia tonelada de pasta de cocaína e, bem, e não acontece nada.
A Polícia Federal, tão operosa e tão espetaculosa quando se trata de vazar informações ou pseudoinformações e de prender os suspeitos de sempre, não esclarece nada.
E a imprensa tratou o assunto como se tivesse sido encontrada meia tonelada de pasta de amendoim. (O único esforço de reportagem foi do DCM. Graças à contribuição de seus leitores, pudemos investigar o caso. Produzimos um documentário que pode ser visto aqui. O responsável pelos trabalhos, Joaquim Carvalho, está agora investigando a Lista de Furnas, e outra vez pedimos sua ajuda para financiar a reportagem.)
Em suma: 39 quilos semearam a fama mundial de Escobar. Meia tonelada semeou coisa nenhuma.
Há uma única razão para isso.
É que o dono do helicóptero, o senador Perrela, é amigo de Aécio.
Blindagens se transmitem.
E amigo de baladas, como mostram fotos em que os dois não estão exatamente sóbrios.
O silêncio criminoso da mídia sobre o helicoca veio em hora boa para Aécio, em plena campanha presidencial.
Isso tem que ser lembrado sempre: Aécio conseguiu perder mesmo com uma operação fabulosa de favorecimento pela imprensa.
Mas o helicoca sobreviveu na mente e na consciência de quem não se deixa manipular por jornais e revistas altamente comprometidos.
Na semana passada, Luciana Genro evocou-o numa treta no Twitter com Feliciano.
Luciana defende, com razão, a descriminalização das drogas. Pablos Escobares nascem exatamente da guerra às drogas.
Ela expôs sua tese no Twitter. E afirmou que há traficantes até no Congresso.
Feliciano pediu que ela explicasse isso. E ela citou o helicóptero do senador Perrela.
O resultado é que quem está tendo dor de cabeça com o helicóptero não é seu dono, mas Luciana.
A Câmara decidiu interpelá-la judicialmente, por iniciativa de Feliciano e com o apoio de Eduardo Cunha.
E então nós ficamos assim.
Menos de 40 quilos consagraram o banditismo histórico de Pablo Escobar – cuja história você pode ver na brilhante série Narcos, da Netflix.
Meia tonelada de pasta consagrou a impunidade de um certo grupo privilegiado de brasileiros para os quais pau que bate em Chico não bate em Francisco.
Sobrou para Luciana Genro.
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Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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