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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista
domingo, outubro 06, 2013
Ato lembra 21 anos do Massacre do Carandiru e pede Estado desmilitarizado
Via RedeBrasilAtual
“Vi
pessoas sendo executadas. Sobrevivi por milagre. Enquanto não houver
mudança política, isso vai continuar sendo um episódio normal”, diz
sobrevivente
Camila Maciel, da Agência Brasil
São
Paulo – No marco dos 21 anos do episódio conhecido como Massacre do
Carandiru e dos 25 anos da Constituição Federal, movimentos sociais e
organizações de direitos humanos fizeram ontem (5) um ato na capital
paulista para pedir o fim da violência policial.
A
atividade teve início por volta das 15h30 no Parque da Juventude, local
que abrigava a Casa de Detenção Carandiru, onde 111 detentos foram
mortos em 1992 na ação policial para reprimir uma rebelião.
O
ato encerrou a série de mobilizações da Semana contra a Democracia dos
Massacres promovida por diversas organizações populares de São Paulo.
“Foi muito importante tematizar com a sociedade em geral os diversos
problemas cruciais da chamada Constituição Cidadã. A gente quis reforçar
a luta contra a continuidade dos massacres cometido por agentes do
Estado, dito democrático, especialmente contra população negra, pobre e
periférica”, declarou Danilo Dara, integrante do Movimento Mães de Maio.
Parentes
do pedreiro carioca Amarildo de Souza, desaparecido em 14 de julho
deste ano, participaram da atividade. A gestora de projetos Michelle
Lacerda, 26 anos, sobrinha de Amarildo, considerou positiva a decretação
da prisão preventiva dos dez policiais acusados de participação na
morte do pedreiro. “O Estado tirou ele de dentro da sua residência e
tinha que ser responsabilizado por isso. Para a gente foi mais uma
batalha vencida, mesmo sabendo que a guerra é longa”, disse Michelle.
Ela
espera que a morte do tio contribua para mudar o cenário de violência
por agentes policiais nas favelas. “A noite, nós vemos nossos meninos
chegando da escola, tomando tapa na orelha, sendo chamados de negrinhos e
favelados. Essa é a nossa relação com a polícia. O que aconteceu com o
meu tio, na verdade, contribuiu para que a minha comunidade desamarrasse
as mãos e erguesse a cabeça”, apontou.
Sobrevivente
do Massacre do Carandiru, o ex-detento Sidney Sales, 46 anos, fez
questão de comparecer ao ato. “Vi várias pessoas sendo executadas. Eu
fui uma das pessoas escolhidas para ajudar a carregar os cadáveres.
Sobrevivi por um milagre”, relatou. Hoje, Sidney preside cinco centros
de reabilitação para dependentes em álcool e droga. “Eu luto pelo fim
dos massacres, mas enquanto não houver mudança política, isso vai
continuar sendo um episódio normal”, avaliou.
Uma
das principais propostas dos movimentos que organizam o ato é a
desmilitarização do Estado penal-militar. “Trata-se de um conjunto de
medidas que incluem não só as polícias, mas elas são, sim, um dos
primeiros pontos, porque elas são o braço armado do Estado sobre a sua
população”, declarou Danilo Dara. Para ele, o atual inimigo das forças
de segurança são identificados como os jovens negros da periferia.
Dara
destaca, ainda, que a desmilitarização passa pelo controle social da
atividade dos agentes do Estado. Entre os mecanismos, ele cita as
ouvidorias autônomas, corregedorias e o fortalecimento das defensorias.
“Sem isso, não há uma democracia direta e efetiva. Há uma farsa”,
avaliou.
*GilsonSampaio
Anarquia e criptografia: Julian Assange resgata movimento dos anos 80 em seu livro “Cypherpunks” – Livro
Julian Assange, editor do controverso
WikiLeaks, dava um novo passo em sua carreira de ativista: inaugurava um
programa de TV chamado The World Tomorrow.
Parecia um movimento ambicioso. Afinal,
ele sequer podia deixar a casa na qual está e exilado. E, desde 2010,
tinha que lidar com um bloqueio financeiro que dificultava o
funcionamento do WikiLeaks. Visto com desconfiança tanto pela mídia
quanto por outros ativistas, que chances Assange teria de ser levado a
sério ao se unir com uma rede de comunicação russa para produzir um talk
show?
Realmente, The World Tomorrow não foi um
dos seus projetos mais impactantes. Durou apenas 12 episódios, todos
disponíveis no YouTube. Cada um tinha cerca de 30 minutos, nos quais
eram entrevistadas figuras como o antropólogo David Graeber (Ocuppy Wall
Street), o escritor Noam Chomsky e até o “crítico cultural” pop Slavoj Žižek.
Obviamente, as conversas sempre giravam
em torno das complexas conexões entre política, tecnologia e
privacidade. Segundo as contas fornecidas pelo YouTube, os vídeos mais
assistidos foram vistos cerca de 40 mil vezes. E a repercussão de mídia
do programa foi morna. É que Assange deixara de ser novidade: era agora
um representante de um nicho, não mais exatamente uma ameaça política.
Cypherpunks é uma conversa aberta e
incompleta. Portanto, uma ótima introdução ao complexo problema da
comunicação on-line hoje em dia. A maior ferramenta de liberdade criada
nos últimos tempos também pode ser a maior ameaça política que já
enfrentamos.
Baixe o livro: Anarquia e criptografia: Julian Assange resgata movimento dos anos 80 em seu livro “Cypherpunks” – Livro
Não existem porões da Ditadura
do Fazendo Media
Comissões
da Verdade apresentam a estrutura de funcionamento da repressão
política dirigida pelas Forças Armadas, apoiada por entidades civis e
empresariais.
Thaís Barreto
A
Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” e a Comissão
Nacional da Verdade, durante a audiência pública realizada nesta
sexta-feira (20/9), apresentaram a estrutura de funcionamento do
terrorismo de Estado implantado a partir de 1964, constituído através de
ampla rede das Forças Armadas. O estudo foi feito partir de documentos
compilados dos órgãos de repressão.
“É uma prova
de que não existem porões da Ditadura. Esse sistema nacional é o
próprio sistema de terrorismo de Estado”, declarou Ivan Seixas,
responsável pelo estudo. Havia um conjunto de órgãos denominado Sistema
Nacional de Informação (SISNI) com a finalidade de produzir informações
para formular “política de segurança” e de “desenvolvimento” do país.
Segundo
Adriano Diogo, presidente da Comissão “Rubens Paiva”, esses grupos
organizados faziam reuniões no gabinete dos presidentes impostos pela
Ditadura e a estrutura até hoje não foi desmontada. “Essas cadeias não
foram desmontadas. Um exemplo é a [Agência Brasileira de Informação]
Abin. Infelizmente a ditadura não acabou nesse setor”, afirmou Diogo.
O
SISNI era formado pelo Centro de Informações da Aeronáutica (CISA);
Centro Nacional de Informações da Marinha (Cenimar); Centro de
Informações do Exterior (CIEx); Centro de Operações de Defesa Interna
(Codi) e seus Destacamentos de Operação e Informações (DOI); Divisões de
Segurança e Informação (DSI) dos ministérios civis e suas Assessorias
de Segurança e Informação (ASI).
A partir do
Centro de Informações do Exército (CIE) foi possível mapear os
movimentos de oposição política. Segundo Ivan Seixas, o CIE era ligado
ao gabinete do Ministério do Exército e era mantenedor dos centros
clandestinos de tortura como a Casa da Morte, de Petrópolis, no Rio de
Janeiro, a “boate” de Itapevi e a Fazenda 31 de Março, em São Paulo.
“O
CIEx não existia formalmente, usava a estrutura da Cenimar e do CIE”,
explicou Ivan Seixas, coordenador da assessoria da Comissão “Rubens
Paiva”. “O golpe foi imposto pra criar um Estado militarizado e
construir uma maquina de guerra”, afirmou Rosa Cardoso, membro da CNV.
Estrutura planejada
Havia
uma lógica imposta anterior ao Golpe. O Ato Institucional nº I, a
política de tortura, desaparecimento e mortes foram planejados com
antecedência, conforme explicou Rosa Cardoso, membro da CNV.
Universidades
como a USP constituíram seu departamento para fornecimento de
informações à repressão. A Comissão apresentou documento originado no
gabinete da Reitoria. Haviam criado a Assessoria Especial de Segurança e
Informação (AESI), que reunia informações dos alunos e funcionários de
interesse dos órgãos repressores.
Uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI), criada por iniciativa do deputado
federal Rubens Paiva apurou e comprovou a atuação de dois institutos
criados para preparar o terreno para o Golpe, o Instituto Brasileiro de
Ação Democrática (Ibad) e o Instituto de Pesquisa Econômica e Social
(Ipes). Depois do golpe, com a ditadura implantada e o sistema
repressivo dos DOI-CODIs agindo impunemente, o Deputado Rubens Paiva foi
preso, torturado e está desaparecido até hoje.
O
funcionamento desses institutos foi fundamental para origem do Serviço
Nacional de Informações (SNI). O Ibad foi financiado pelos Estados
Unidos e diversas entidades privadas, como o grupo Varig e o Banco
Nacional. Os fundadores ostensivos são: Ivan Haalocher; Gilbert Huber
Jr.; Glycon de Paiva e Paulo Ayres Filho.
O Ipes
teve como fundador direto Golbery do Couto e Silva em parceria com os
empresários Augusto Trajano de Azevedo Antunes (Grupo Caemi) e de
Antônio Gallotti (multinacional Light). A linha de atuação era voltada
para produção de material contra o governo democrático e treinamento de
agentes para atuarem contra pessoas que se opunham à ditadura.
Comunidades complementares
Na
escala do direcionamento das ações de repressão, também foram
estruturadas as ‘comunidades complementares’ de informações, divididas
por áreas. Em diversos Estados da Federação, havia os Departamentos de
Ordem Política e Social (Dops) e o Serviço Reservado da Polícia Militar
(P2).
Segundo apurou a Comissão da Verdade,
entidades privadas estavam integradas ao sistema repressivo e faziam um
trabalho complementar de controle e repressão, a critério do chefe do
SNI. Os livros de entradas do DOPS-SP registraram, por exemplo, a
presença de Geraldo Rezende de Matos, representante da Federação das
Indústrias do estado de São Paulo (Fiesp) e Paulo Sawaia, assessor do
Ministério da Fazenda, comandado por Antônio Delfim Netto.
As
mortes no campo também passam pela responsabilidade das comunidades
complementares. O latifúndio estava ligado à ditadura e havia um
subgrupo de repressão aos trabalhadores, conforme lembrou Ivan Seixas.
Para Rosa Cardoso será importante preencher essas cadeias com os nomes
dos responsáveis nos Estados e a nível nacional.
__________________
(*) Thaís Barreto é jornalista, assessora da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”
(*) Thaís Barreto é jornalista, assessora da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”
*GilsonSampaio
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