do Fazendo Media
Comissões
da Verdade apresentam a estrutura de funcionamento da repressão
política dirigida pelas Forças Armadas, apoiada por entidades civis e
empresariais.
Thaís Barreto
A
Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” e a Comissão
Nacional da Verdade, durante a audiência pública realizada nesta
sexta-feira (20/9), apresentaram a estrutura de funcionamento do
terrorismo de Estado implantado a partir de 1964, constituído através de
ampla rede das Forças Armadas. O estudo foi feito partir de documentos
compilados dos órgãos de repressão.
“É uma prova
de que não existem porões da Ditadura. Esse sistema nacional é o
próprio sistema de terrorismo de Estado”, declarou Ivan Seixas,
responsável pelo estudo. Havia um conjunto de órgãos denominado Sistema
Nacional de Informação (SISNI) com a finalidade de produzir informações
para formular “política de segurança” e de “desenvolvimento” do país.
Segundo
Adriano Diogo, presidente da Comissão “Rubens Paiva”, esses grupos
organizados faziam reuniões no gabinete dos presidentes impostos pela
Ditadura e a estrutura até hoje não foi desmontada. “Essas cadeias não
foram desmontadas. Um exemplo é a [Agência Brasileira de Informação]
Abin. Infelizmente a ditadura não acabou nesse setor”, afirmou Diogo.
O
SISNI era formado pelo Centro de Informações da Aeronáutica (CISA);
Centro Nacional de Informações da Marinha (Cenimar); Centro de
Informações do Exterior (CIEx); Centro de Operações de Defesa Interna
(Codi) e seus Destacamentos de Operação e Informações (DOI); Divisões de
Segurança e Informação (DSI) dos ministérios civis e suas Assessorias
de Segurança e Informação (ASI).
A partir do
Centro de Informações do Exército (CIE) foi possível mapear os
movimentos de oposição política. Segundo Ivan Seixas, o CIE era ligado
ao gabinete do Ministério do Exército e era mantenedor dos centros
clandestinos de tortura como a Casa da Morte, de Petrópolis, no Rio de
Janeiro, a “boate” de Itapevi e a Fazenda 31 de Março, em São Paulo.
“O
CIEx não existia formalmente, usava a estrutura da Cenimar e do CIE”,
explicou Ivan Seixas, coordenador da assessoria da Comissão “Rubens
Paiva”. “O golpe foi imposto pra criar um Estado militarizado e
construir uma maquina de guerra”, afirmou Rosa Cardoso, membro da CNV.
Estrutura planejada
Havia
uma lógica imposta anterior ao Golpe. O Ato Institucional nº I, a
política de tortura, desaparecimento e mortes foram planejados com
antecedência, conforme explicou Rosa Cardoso, membro da CNV.
Universidades
como a USP constituíram seu departamento para fornecimento de
informações à repressão. A Comissão apresentou documento originado no
gabinete da Reitoria. Haviam criado a Assessoria Especial de Segurança e
Informação (AESI), que reunia informações dos alunos e funcionários de
interesse dos órgãos repressores.
Uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI), criada por iniciativa do deputado
federal Rubens Paiva apurou e comprovou a atuação de dois institutos
criados para preparar o terreno para o Golpe, o Instituto Brasileiro de
Ação Democrática (Ibad) e o Instituto de Pesquisa Econômica e Social
(Ipes). Depois do golpe, com a ditadura implantada e o sistema
repressivo dos DOI-CODIs agindo impunemente, o Deputado Rubens Paiva foi
preso, torturado e está desaparecido até hoje.
O
funcionamento desses institutos foi fundamental para origem do Serviço
Nacional de Informações (SNI). O Ibad foi financiado pelos Estados
Unidos e diversas entidades privadas, como o grupo Varig e o Banco
Nacional. Os fundadores ostensivos são: Ivan Haalocher; Gilbert Huber
Jr.; Glycon de Paiva e Paulo Ayres Filho.
O Ipes
teve como fundador direto Golbery do Couto e Silva em parceria com os
empresários Augusto Trajano de Azevedo Antunes (Grupo Caemi) e de
Antônio Gallotti (multinacional Light). A linha de atuação era voltada
para produção de material contra o governo democrático e treinamento de
agentes para atuarem contra pessoas que se opunham à ditadura.
Comunidades complementares
Na
escala do direcionamento das ações de repressão, também foram
estruturadas as ‘comunidades complementares’ de informações, divididas
por áreas. Em diversos Estados da Federação, havia os Departamentos de
Ordem Política e Social (Dops) e o Serviço Reservado da Polícia Militar
(P2).
Segundo apurou a Comissão da Verdade,
entidades privadas estavam integradas ao sistema repressivo e faziam um
trabalho complementar de controle e repressão, a critério do chefe do
SNI. Os livros de entradas do DOPS-SP registraram, por exemplo, a
presença de Geraldo Rezende de Matos, representante da Federação das
Indústrias do estado de São Paulo (Fiesp) e Paulo Sawaia, assessor do
Ministério da Fazenda, comandado por Antônio Delfim Netto.
As
mortes no campo também passam pela responsabilidade das comunidades
complementares. O latifúndio estava ligado à ditadura e havia um
subgrupo de repressão aos trabalhadores, conforme lembrou Ivan Seixas.
Para Rosa Cardoso será importante preencher essas cadeias com os nomes
dos responsáveis nos Estados e a nível nacional.
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(*) Thaís Barreto é jornalista, assessora da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”
(*) Thaís Barreto é jornalista, assessora da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”
*GilsonSampaio
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