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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, outubro 08, 2013

““Pagar por software é um crime contra a humanidade




Tux, mascote do LinuxO desenvolvimento da computação e das tecnologias da informação atingiu tal proporção nas últimas décadas que os softwares estão hoje praticamente em todo lugar. Não só quando ligamos o computador, digitamos um texto ou navegamos pela internet estamos utilizando diversos softwares ao mesmo tempo, mas até ao atender uma ligação no mais simples telefone celular estamos utilizando um programa. Os softwares dão “vida inteligente” a dispositivos que, sem eles, seriam pouco mais que um limitado aglomerado de placas e circuitos.
No entanto, como tudo mais numa sociedade capitalista, os softwares não pertencem aos trabalhadores que os desenvolvem, mas apenas aos capitalistas que empregam esses trabalhadores – o que Karl Marx definiu como alienação do trabalho.
Os softwares assim produzidos, chamados softwares proprietários, representam um grande desperdício de esforços ao multiplicar trabalhos isolados que tem a mesma finalidade, pois as empresas não compartilham seu código-fonte (1) com a sociedade e com isso não propiciam a troca de informações e conhecimento – uma consequência da anarquia da produção capitalista. Isso mostra que o capitalismo é hoje um grande entrave ao desenvolvimento tecnológico, o qual se encontra ainda muito aquém do que já seria possível avançar, não obstante a difundida ilusão de que justamente neste aspecto residiria uma das provas do seu sucesso.
Por isso, ainda em 1983, o estadunidense Richard Stallman, partindo do ponto de vista de que “pagar por software é um crime contra a humanidade”, fundou o Movimento Software Livre, um movimento social que tem por objetivo alcançar e garantir liberdades para os usuários de softwares.
Uma das mais conhecidas contribuições de integrantes do movimento foi o desenvolvimento de um sistema operacional livre hoje conhecido como GNU\Linux. Este sistema, que substitui o Windows, pode ser utilizado gratuitamente por qualquer usuário ou instituição, além de ser mais seguro, mais rápido, imune a vírus e outras “pragas virtuais” típicas do sistema da Microsoft.
Por que usar software livre
Os escândalos recentes que revelaram toda a rede de espionagem dos EUA em conluio com as mega corporações de informática como Microsoft, Google, Facebook e Yahoo mostram que o objetivo dessas empresas não é dar liberdade às pessoas, mas vigiá-las. A burguesia nunca hesitará em utilizar todas as suas armas contra o povo. O seu predomínio no campo tecnológico significa que importantes informações sobre as pessoas estão em seu poder e serão utilizadas contra elas quando necessário.
Dessa feita, substituir softwares proprietários por softwares livres resulta não apenas em mais segurança, liberdade e conhecimento, mas é também uma contribuição na luta contra a “propriedade intelectual” e mitiga os efeitos da formação de monopólios no setor. Como ressalta Richard Stallman, “software livre é igual a desenvolvimento”.
É por isso que Bill Gates, ao se referir certa vez à luta do Movimento Software Livre por reformas na propriedade intelectual nos EUA, associou o movimento ao comunismo. Em uma entrevista à revista eletrônica CNET, em 2005, o bilionário afirmou: “Há um novo tipo de comunistas modernos que querem se livrar dos incentivos [...] aos produtores de softwares sob vários disfarces.” Para Bill Gates, portanto, quem defende software livre é comunista.
Tux GuevaraMas o caráter progressista do software livre não é reconhecido somente por quem tem a perder com ele, como é o caso de Bill Gates. Os que têm a ganhar também já o perceberam. Quando Cuba lançou sua própria distribuição GNU\Linux, em 2009, Hector Rodriguez, diretor da Universidade de Ciências da Informação, afirmou que “o movimento de software livre está mais próximo da ideologia do povo cubano, sobretudo por sua independência e soberania”.
A versão cubana do Linux, chamada Nova, tem o objetivo de substituir o Windows nos computadores da ilha devido às falhas de segurança, à espionagem e às dificuldade de atualização do sistema da Microsoft.
Outros países não alinhados com os EUA também buscam sua independência tecnológica, como a Coreia do Norte, por exemplo, que desenvolveu sua própria distribuição GNU\Linux, chamada Red Star (Estrela Vermelha).
A Venezuela também, em 2006, emitiu um decreto para substituir todos os softwares proprietários por softwares livres nos órgãos do governo. A chamada Declaração de Caracas, documento do Primeiro Encontro da Fundação de Software Livre da América Latina, proclamou “a Liberdade de Software como um ideal comum, pelo qual todas as nações da América Latina devem se esforçar.”
Glauber Ataide é diretor do SINDADOS-MG (Sindicato dos Trabalhadores em Informática e Processamento de Dados)
Notas
1) Código-fonte é uma sequência de instruções escritas em uma linguagem computacional próxima à linguagem humana. Todo software é escrito pelos programadores neste tipo de linguagem. Sem o código-fonte não sabemos como exatamente um software foi desenvolvido.
*Averdade

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