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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, outubro 29, 2013

Kirchnerismo perde Buenos Aires, mas conquista maioria no Congresso


Na principal província argentina, vitória ficou com Frente Renovadora; Frente de Esquerda conquista resultado histórico em Mendoza

Apoiadores da oposição comemoram resultado das urnas: Kirchner perdeu em distritos-chave, mas mantém maioria do Congresso Agência Efe

Há exatos três anos da morte do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), os argentinos foram às urnas neste domingo (27/10) para renovar 127 cadeiras – a metade - da Câmara de Deputados e 24 - um terço - do Senado.

Com quase 100% das seções eleitorais apuradas em todo o país, os números mostram que o kirchnerismo foi derrotado nos principais distritos eleitorais. No entanto, a base governista FpV (Frente para a Vitória) e seus aliados se mantiveram como maior bloco em ambas casas do Congresso.

Na Câmara de Deputados, a legenda da presidente Cristina Kirchner manteve o mesmo número de bancas e, com 132 assentos, é a única força que supera os 129 deputados necessários para conformar quórum nas votações da casa. No Senado, a situação da FpV é parecida. Mesmo depois de perder duas bancas, seus 39 representantes superam em dois o mínimo de 37 presentes para conformar quórum.

A aliança governista tem 33,15% do total de votos para deputados nacionais e 32,13% para senadores. Na Argentina, para a Câmara, o número de representantes eleitos por distrito é proporcional ao número de votantes. Já no Senado, cada província (estado) tem três bancas. Algumas províncias e municípios também renovaram parte de seus legislativos locais.

Província de Buenos Aires

A maior derrota kirchnerista foi na província de Buenos Aires, onde se concentra o maior número de eleitores do país, com 37,4% de votantes registrados. O ex-chefe de gabinete de Cristina Kirchner e atual prefeito do município de Tigre, Sergio Massa, liderou a vitória da FR (Frente Renovadora), principal oposição ao governo no distrito. A coalizão encabeçada pelo antigo correligionário da presidente obteve 16 bancas na Câmara de Deputados, com 43.92% dos votos e uma vantagem de cerca de dez pontos percentuais sobre a FpV, que elegeu 12 deputados.

Buenos Aires não elegeu senadores nacionais. No legislativo local, a Frente Renovadora conquistou 13 das 23 bancas para senador provincial, enquanto a FpV ganhou sete assentos. Com 95,66% das seções eleitorais apuradas, a FpV liderou a disputa por deputados provinciais com vantagem de menos de 1% e ganhou 18 bancas locais, enquanto a Frente Renovadora levou 16 dos 35 assentos em jogo na casa.

Capital Federal

Na capital argentina, o PRO (Proposta Republicana), do chefe de governo Mauricio Macri, se impôs como a legenda com o maior número de votos para ambas casas do Congresso Nacional e para a Lagislatura local. Pela primeira vez o PRO terá representação no Senado, dois deles pela Cidade Autônoma de Buenos Aires.

Mauricio Macri será candidato pela oposição às eleições presidenciais de 2015  Agência Efe

Macri aproveitou a comemoração da vitória nas urnas para anunciar sua candidatura à presidência em 2015. O atual mandatário da capital argentina também rompeu sua aliança com Sergio Massa na província de Buenos Aires ao, de maneira informal, anunciar entre balões de ar e música de festa que em sua lista de 2015 “não vai haver nenhum ex-integrante de gabinete presidencial”, em alusão ao prefeito do município de Tigre.

O terceiro senador eleito pela cidade de Buenos Aires é o cineasta Fernando “Pino” Solanas. Sua coalizão, Unen, assim como o PRO, terá cinco deputados na Câmara, enquanto a FpV conquistou três bancas pela capital.

Unen, uma aliança entre distintos setores políticos - da centro-esquerda à centro-direita - e única legenda a disputar internas de candidatos durantes as primárias de agosto, se consolidou como segunda força nos três pleitos da Capital Federal. Daniel Filmus, que foi ministro de Educação de Néstor Kirchner, não conseguiu manter o cargo e a FpV ficou sem representação pela capital no Senado.

Cordoba, Santa Fe e Mendoza

Em Cordoba, estado que congrega 8,7% dos votantes e só elegeu deputados nacionais, a FpV ficou em terceiro lugar, com 15,25% dos votos e duas bancas. União por Cordoba, uma aliança integrada pelo peronista PJ (Partido Justicialista) conseguiu uma vitória com vantagem de 2% sobre a UCR. Ambas forças elegeram três deputados.

Em Santa Fe, província onde o governador pelo Partido Socialista Antonio Bonfatti sofreu atentado a tiros duas semanas antes das eleições, a vitória ficou com a FPCyS (Frente Progressista Cívica e Social), integrada pela legenda do executivo provincial. Assim como Cordoba, Santa Fe – onde se encontram 8,3% do eleitorado nacional - só votou por deputados nacionais. A FPCyS conquistou quatro bancas e segundo lugar ficou com a aliança integrada pelo PRO, que leva três assentos, enquanto a FpV, em terceiro, os dois restantes.

Em Mendoza, onde estão 4,3% dos eleitores argentinos e não houve eleição para o Senado, o primeiro lugar ficou com a UCR do ex-vice-presidente Julio Cobos, que rompeu com o governo que integrava em 2008 durante a crise entre Cristina Kirchner e produtores rurais. Das cinco bancas para deputados em disputa, três ficaram com os radicais, enquanto uma ficou com a FpV, segunda colocada na província.

Frente de Esquerda: resultado histórico

Com o terceiro lugar em Mendoza, a FIT (Frente de Esquerda e dos Trabalhadores) conquistou também um lugar na Câmara de Deputados pela província. O resultado histórico da aliança trotskista conformada pelo PO (Partido Operário), PTS (Partido dos Trabalhadores Socialistas) e IS (Esquerda Socialista) se repetiu na província de Buenos Aires e em Salta.

A FIT e seus aliados chegam dessa maneira ao parlamento argentino e terão três assentos na Câmara de Deputados. Jorge Altamira, referente do PO e candidato pela Capital Federal, ficou de fora, mas festejou a entrada de seu bloco ao legislativo nacional. Em 2011, durante as eleições presidenciais, uma campanha iniciada como piada entre jornalistas pedia “um milagre para Altamira”, para que o então candidato a presidente pudesse superar o piso de 1,5% de votos nas primárias e concorrer ao Executivo nacional. O dirigente do PO chegou ao pleito, mas terminou em penúltimo lugar, com 2,3% dos votos.

*comtextolivre

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