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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, outubro 05, 2013

UM FILMAÇO PARA VOCÊ VER : "SACCO E VANZETTI"


Cucciola e Volonté, perfeitos...
Foi enorme a minha satisfação ao ver disponibilizada no Youtube esta impecável reconstituição do Caso Sacco e Vanzetti - tanto que me inspirou a abrir uma janela no blogue para meus filmes prediletos e os cults da minha geração
A dramaticidade do episódio se deve a ter sido um dos piores assassinatos legalizados cometidos pela Justiça estadunidense em todos os tempos: um sapateiro e um peixeiro italianos foram condenados à pena capital, sem provas, por um latrocínio ocorrido em abril de 1920.

A evidente tendenciosidade do tribunal de Massachussetts causou enorme indignação --manifestações de protesto reuniram multidões por todo o mundo, um sem-número de celebridades e juristas deram declarações candentes e até o Papa tentou evitar que eles fossem executados. Tudo inútil.

O fato de serem ambos anarquistas havia sido o fator preponderante para sua condenação --os EUA viviam um período de histeria anticomunista após a revolução soviética de 1917-- e a inevitável politização do caso acabou determinando a não aceitação de provas e de uma confissão que os inocentavam.

Ou seja, quando surgiram gritantes evidências de que os crimes haviam sido cometidos por bandidos comuns, as autoridades já tinham ido muito longe e preferiram perseverar no erro do que o admitir honestamente. Cometeram homicídio premeditado, portanto; elas sim mereciam a cadeira elétrica!

...nos papéis de Sacco e Vanzetti.
Em agosto de 1927, após mais de sete anos de tensão e sofrimento,  foram eletrocutados. Meio século depois, o governador do Massachussets reconheceu-lhes oficialmente a inocência.
Esta saga foi levada às telas em 1971 pelo diretor e roteirista Giuliano Montaldo, um especialista em cinebiografias e dramas que têm acontecimentos históricos como pano de fundo (Giordano Bruno, Deus está conosco, L'Agnese va a morire, L'addio a Enrico Berlinguer, a mini-série Marco Polo, etc.).

Ele foi feliz em apresentar uma síntese bem essencializada do caso, sem prejuízo da sua enorme carga emocional. E teve a felicidade de contar com uma dupla de atores magníficos, extremamente identificados com seus papéis (Gian-Maria Volonté e Riccardo Cucciola); e com mais uma trilha musical memorável do gênio Ennio Morricone, incluindo a felicíssima escolha de Joan Baez para interpretar as três partes da Balada de Sacco e Vanzetti e o tema final, Here's to You.

Na minha opinião, o Caso Battisti foi um Caso Sacco e Vanzetti que acabou bem. Assistindo ao filme, vocês poderão tirar as próprias conclusões.
 


Não esqueçam de clicar no botão "ativar legendas"
*naufrago dautopia

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