Ato lembra 21 anos do Massacre do Carandiru e pede Estado desmilitarizado
Via RedeBrasilAtual
“Vi
pessoas sendo executadas. Sobrevivi por milagre. Enquanto não houver
mudança política, isso vai continuar sendo um episódio normal”, diz
sobrevivente
Camila Maciel, da Agência Brasil
São
Paulo – No marco dos 21 anos do episódio conhecido como Massacre do
Carandiru e dos 25 anos da Constituição Federal, movimentos sociais e
organizações de direitos humanos fizeram ontem (5) um ato na capital
paulista para pedir o fim da violência policial.
A
atividade teve início por volta das 15h30 no Parque da Juventude, local
que abrigava a Casa de Detenção Carandiru, onde 111 detentos foram
mortos em 1992 na ação policial para reprimir uma rebelião.
O
ato encerrou a série de mobilizações da Semana contra a Democracia dos
Massacres promovida por diversas organizações populares de São Paulo.
“Foi muito importante tematizar com a sociedade em geral os diversos
problemas cruciais da chamada Constituição Cidadã. A gente quis reforçar
a luta contra a continuidade dos massacres cometido por agentes do
Estado, dito democrático, especialmente contra população negra, pobre e
periférica”, declarou Danilo Dara, integrante do Movimento Mães de Maio.
Parentes
do pedreiro carioca Amarildo de Souza, desaparecido em 14 de julho
deste ano, participaram da atividade. A gestora de projetos Michelle
Lacerda, 26 anos, sobrinha de Amarildo, considerou positiva a decretação
da prisão preventiva dos dez policiais acusados de participação na
morte do pedreiro. “O Estado tirou ele de dentro da sua residência e
tinha que ser responsabilizado por isso. Para a gente foi mais uma
batalha vencida, mesmo sabendo que a guerra é longa”, disse Michelle.
Ela
espera que a morte do tio contribua para mudar o cenário de violência
por agentes policiais nas favelas. “A noite, nós vemos nossos meninos
chegando da escola, tomando tapa na orelha, sendo chamados de negrinhos e
favelados. Essa é a nossa relação com a polícia. O que aconteceu com o
meu tio, na verdade, contribuiu para que a minha comunidade desamarrasse
as mãos e erguesse a cabeça”, apontou.
Sobrevivente
do Massacre do Carandiru, o ex-detento Sidney Sales, 46 anos, fez
questão de comparecer ao ato. “Vi várias pessoas sendo executadas. Eu
fui uma das pessoas escolhidas para ajudar a carregar os cadáveres.
Sobrevivi por um milagre”, relatou. Hoje, Sidney preside cinco centros
de reabilitação para dependentes em álcool e droga. “Eu luto pelo fim
dos massacres, mas enquanto não houver mudança política, isso vai
continuar sendo um episódio normal”, avaliou.
Uma
das principais propostas dos movimentos que organizam o ato é a
desmilitarização do Estado penal-militar. “Trata-se de um conjunto de
medidas que incluem não só as polícias, mas elas são, sim, um dos
primeiros pontos, porque elas são o braço armado do Estado sobre a sua
população”, declarou Danilo Dara. Para ele, o atual inimigo das forças
de segurança são identificados como os jovens negros da periferia.
Dara
destaca, ainda, que a desmilitarização passa pelo controle social da
atividade dos agentes do Estado. Entre os mecanismos, ele cita as
ouvidorias autônomas, corregedorias e o fortalecimento das defensorias.
“Sem isso, não há uma democracia direta e efetiva. Há uma farsa”,
avaliou.
*GilsonSampaio
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