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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, outubro 12, 2013

A aliança da ultraesquerda com a esquerda ressentida, com a esquerda oportunista e com a pior direita contra Dilma e os dez anos que melhoraram o Brasil



Todos contra a Dilma

por Emir Sader


O fenômeno tem se repetido – na Bolívia, na Argentina, no Equador, no Brasil. Setores que saem dos governos – ou que sempre tinham se oposto – supostamente pela esquerda, percorrem uma trajetória que os leva a se situarem como oposições de direita.

Evo Morales, Rafael Correa, os Kirchner, Lula e Dilma – teriam “traído”. E seriam piores que outros contendores, porque seguiriam fingindo que defendem as mesmas posições que os projetaram como grandes líderes nacionais. Por isso tem que ser frontalmente combatidos, derrotados, destruídos, sem o que os processos políticos seguiriam retrocedendo e não poderia avançar.

Foi assim que setores que eram parte integrante do governo de Evo Morales declararam que ele é o inimigo fundamental a combater, porque teria “traído” o movimento indígena. Daí a proposta de uma frente nacional contra ele, que incorporaria a todos os setores opositores, não importa quão de direita sejam. 

A mesma coisa com Rafael Correa. Teria “traído” a defesa da natureza e se passado a um modelo extrativista, tornando-se o inimigo fundamental a combater. Daí que setores que se reivindicam porta-vozes dos interesses dos movimentos indignas e ecologistas, se aliam expressamente à direita, para combater a Correa.

Na Argentina, os Kirchner teriam “traído” o peronismo, daí setores que faziam uma critica de esquerda ao governo – expressados, por exemplo, no peronista Pino Solanas – se aliam a setores de direita – como Elisa Carrió, entre outros -, para combater ao governo de Cristina Kirchner.

Poderíamos seguir com a Venezuela, com o Uruguai, porque o fenômeno se repete. Para poder operar essa transição de uma oposição de esquerda a uma de direita, é preciso demonizar os lideres desses processos, que seriam, piores do que a direita, daí a liberação para alianças com esses setores contra os governos. 


No Brasil o fenômeno se deu, inicialmente, com o PSol e Heloisa Helena, que abertamente fizeram aliança com toda a oposição contra o governo Lula. Com a Globo, com os tucanos, com todos os candidatos opositores, na ação desenfreada e desesperada para tentar impedir a reeleição do Lula. 

Abandonaram as críticas de esquerda – sobre o modelo econômico e outros aspectos do governo – para se somarem à ofensiva do “mensalão”, sem diferenciar-se do tom da campanha da direita.

O fenômeno teve continuidade com a Marina, que repetiu de forma mecânica a trajetória da Heloisa Helena na volúpia contra o governo Lula e a Dilma, quatro anos mais tarde. O destempero faz parte do processo de diabolização, que se caracteriza sempre, também, pela ausência de qualquer tipo de critica à direita – à mídia monopolista, ao sistema bancário, aos tucanos, aos EUA.

A relação desses setores com a direita tradicional é explicita: a essa ausência de criticas à direita corresponde uma promoção explícita dos candidatos que se dispõem a esse papel: Heloisa Helena, Marina, agora Eduardo Campos.

Todos contra o Evo, todos contra o Rafael Correa, todos contra a Cristina, e assim por diante. Aqui, agora, todos contra a Dilma.

Não há nenhuma duvida que o campo opositor está composto pelas candidaturas do Aecio, do Eduardo Campos, ao que se soma agora a Marina. As reuniões de Eduardo Campos com Aecio, a entrada do Bornhausen, do Heraclito Fortes, entre outros, para o PSB e o discurso “anti-chavista” da Marina, completam o quadro. Vale tudo para tentar impedir que o PT siga apropriando-se do Estado brasileiro para seus fins particulares, impedindo que o Brasil se desenvolva livremente.

Nenhuma palavra sobre o tipo de modelo econômico e social que desenvolveria caso ganhassem. Nenhuma palavra sobre o tipo de inserção internacional do Brasil. Nada sobre o papel do Estado. Silêncio sobre tudo o que é essencial, porque do que se trata é de tentar derrotar a Dilma.

Na verdade hoje a direita – seus segmentos empresariais, midiáticos, partidários – já se contentaria em conseguir que a Dilma não triunfasse no primeiro turno. O que vier depois disso, será lucro. 

Em todos os países, esses setores tem sido derrotados fragorosamente. Suas operações politicas não tem dado resultados, por falta de plataforma, de lideranças e de apoio popular.

Aqui também tem acontecido isso. O PSol foi ferido de morte por suas atitudes em 2006. Marina abandona a plataforma ecológica para assumir o anti-comunismo de hoje (o anti-chavismo) e se somar à politica mais tradicional, sem sequer ter conseguido as assinaturas para registrar seu partido.

Termina no Todos contra a Dilma, cada um do seu jeito, mas com o objetivo comum. Esse cenário politico tem Evo, Correa, Cristina, como teve a Lula e agora tem a Dilma, como referência central. Os outros são os outros, sem plataforma, sem lideranças e sem apoio popular.



Construindo Marina














A novela midiática em torno da tal Rede ajudou a popularizar a candidatura de Marina Silva com uma eficácia de fazer inveja a muitos publicitários espertos.

Talvez não houvesse mesmo outro interesse por trás da mal encenada esquizofrenia dos analistas, que ora condenavam o oportunismo dos novos partidos, ora lamentavam o rigor legal imposto à honrosa exceção “sustentável”. A própria tentativa de criação da legenda soa demasiado amadora e inocente para os personagens envolvidos.

A construção de Marina sobressaiu nos argumentos usados para incensá-la. Seu grupo obscuro, de plataforma desconhecida e métodos esquisitos, se transformou na esperança de renovação política nacional. Menos de 500 mil assinaturas, num total de 140 milhões de eleitores, ganharam dimensões messiânicas. Um distante segundo lugar (estimulado) nas pesquisas de opinião passou a representar uma força capaz de impedir a vitória petista no primeiro turno.

A astúcia da manobra é inegável. As maiores fragilidades eleitorais de Marina sempre foram o baixo índice de reconhecimento popular e o escasso tempo de propaganda a seu dispor. Fatais para qualquer pré-candidato sem grandes recursos financeiros, essas limitações sumiram durante a contínua exposição da ex-senadora, nos horários e espaços nobres dos grandes veículos de comunicação do país, em plena fase de alianças partidárias visando 2014.

Há poucas semanas, Marina Silva era uma figura política tristonha, ameaçada pela irrelevância, atolada num confuso esboço de partido que não conseguia sequer legalizar-se. Hoje ela ocupa o centro das atenções, esbanja triunfalismo e encabeça um projeto de respeitável estrutura administrativa. Missão cumprida.
*guilhermescalzilli

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