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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, agosto 21, 2011

22 anos sem Raul toca Raul







*Assis Ribeiro/LuisNassif

TRABALHO ESCRAVO NA CADEIA PRODUTIVA

A liberdade completa

A liberdade do consumidor 

Nesta semana, uma grande marca internacional foi flagrada usando trabalho escravo na confecção de suas roupas que estampam vitrines de shoppings caros e luxuosos no Brasil e no mundo.

Para os mais chatos, me retifico: condições análogas à escravidão, já que os trabalhadores modernos não são submetidos à chibata, ao pelourinho. Mas esqueçamos o tecnicismo, o fato é que existe no Brasil trabalho escravo, seja em fazendas longes dos grandes centros urbanos ou em fábricas no centro de São Paulo.

Por “análogas à escravidão” se entendem cerceamento de liberdade do trabalhador, condições insalubres no local de trabalho, jornadas de trabalho muito mais longas que o permitido por lei, e, claro, nenhuma garantia trabalhista, como férias, décimo-terceiro, descanso semanal etc…

O caso dessa grande confecção não é único, e muito menos o último, como afirma Vivian Whiteman, editora de moda da Folha de S. Paulo. Chama mais atenção apenas por se tratar de uma marca famosa, mas os casos de escravidão em confecções em São Paulo são bastante conhecidos e divulgados. (O jornalista Leonardo Sakamoto, por exemplo, tem se dedicado bastante a esta questão. Há, inclusive, uma lista suja do trabalho escravo.)

Em geral, a mão de obra escrava, ou análoga, aqui se utiliza de imigrantes que vêm de países vizinhos como Bolívia, Peru e Paraguai. Tentam fugir de duras condições de vida e caem nessa armadilha. Na Amazônia e Centro-Oeste, principais centros de trabalho escravo, mas não os únicos, são migrantes brasileiros, em especial do Nordeste, que chegam seduzidos por promessas de renda. Só conseguem sair dessa condição por atos de sorte e bravura.

Como um colega de Yahoo! me chamou a atenção, temos e devemos rechaçar toda e qualquer empresa que empregue trabalho escravo (quantas sobrarão? poderemos comer carne, açucar ou soja sem financiar essas empresas?), mas não podemos apenas individualizar a questão, e achar que são fatos isolados. É comum, é espraiado, e se baseia na lógica do lucro absoluto, desregulamentado.

Já escrevi aqui neste espaço sobre a China e seu überkapitalismus, e continuo achando que esse é o novo movimento do capitalismo. O fim do Welfare State, o fim das esperanças e da crença na meritocracia (as atuais revoltas pelo mundo têm que significar algo). Enquanto a desregulamentação completa não chega, o paraíso liberal sonhado pelos Tea Party do mundo, algumas empresas de vanguarda se adiantam a ela.

É liberdade completa do mercado, do consumo. Mas é apenas para alguns, porque esta precisa, justamente, do seu contrário para poder se realizar, precisa de “trabalho irregular”, em condições análogas à escravidão. Até porque seria muito feio chamar esse trabalho de escravidão, palavra que não cabe no mundo livre!

*esquerdopata

Mídia Esgosto prepara golpe para derrubar a presidenta Dilma

Setores reacionários da Sociedade, principalmente o PSDB e a Mídia Conservadora planejam derrubar a presidenta Dilma Rousseff. Essa turma é a mesma que derrubou Getúlio Vargas, Jânio Quadros, João Goulart e deu o Golpe de 1964, além de matar JK e João Goulart, no Exílio. É preocupante, muito preocupante. As derrotas em 2002, 2006 e 2010 para o Partido dos Trabalhadores, até agora não foi ingerida pela Elite Brasileira. A Mídia Esgoto declarou guerra contra o Governo Dilma Rousseff, e os caciques tucanos estão aproveitando desse momento para desestabilizar o país. Essa mídia não aceita os avanços que as Classes C, D e E tiveram durante o Governo Lula. É preocupante. Vivemos um momento crítico de nossa história.

Sindicalismo tucano

PALANQUE
Aécio Neves quer o apoio de entidades que reúnem 60 milhões de pessoas
Revista IstoÉ: De olho nas eleições de 2014, o PSDB atrai cerca de 150 sindicalistas e abre dissidências nos partidos da base aliada do governo Dilma.
Nos últimos quatro anos, seis das oito centrais sindicais brasileiras funcionaram como correias de transmissão do governo federal. Esse cenário, que ajudou as vitórias eleitorais petistas, começa a mudar no sábado 20, quando o senador Aécio Neves anuncia a filiação ao PSDB de mais de 150 sindicalistas de diversas origens, inclusive da maior central do País, a CUT, historicamente ligada ao PT. “Vamos acabar com a imagem negativa de que o PSDB é de viés elitista”, diz o presidente da Força Sindical em Minas Gerais, Rogério Fernandes, que trocará o PDT pelo PSDB. Apesar de ainda não estar claro se esse agrupamento engordará as fileiras da oposição no Congresso Nacional, a iniciativa tucana já desperta reações na base governista. “Se a CUT não se requalificar, ela será engolida por essa onda tucana”, avalia Wagner Xavier, consultor sindical ligado à corrente petista.

Dilma e a pressão de cortar aliados

Maurício Dias - Carta Capital
Ao subir a rampa interna do Palácio do Planalto na chegada ao trabalho na terça-feira 16, a presidenta Dilma Rousseff respondeu à pergunta se o combate à corrupção era o maior desafio do governo. Ela não vacilou. Deu à velha pergunta uma velha resposta: “O grande desafio deste país é desenvolver e distribuir renda”.
Sobre o combate à corrupção ela deixou o tema, como das outras vezes, à margem da resposta: “São ossos do ofício”.
Há razões de ordem filosófica contra as cruzadas moralistas que sempre têm o sabor de engodo. Relembre-se Jânio Quadros. Isso porque, como é sabido, nenhum sistema de normas suporta o conhecimento de todas as violações que sofre.
Para quem está no poder há também problemas práticos como o que me foi apontado, certa vez, pelo general Golbery do Couto e Silva. Ele estava no Rio de Janeiro, após deixar a chefia da Casa Civil no governo Figueiredo, na sequên-cia da bomba do Riocentro, o mais dramático episódio político no ocaso da ditadura.

“O espadim que os conecta com a história de Duque de Caxias”

Blog do Planalto: A presidenta Dilma Rousseff participou neste sábado da cerimônia de entrega de espadim a 441 cadetes da turma Bicentenário do Brigadeiro Sampaio, da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ), região Sul do estado do Rio. Em pronunciamento, a presidenta Dilma destacou que o espadim recebido pelos cadetes “os conecta com a história de Duque de Caxias”, o patrono do Exército Brasileiro.
“A sociedade brasileira reconhece o profissionalismo de nossos soldados em suas atribuições de defesa da pátria.”

Escassez de água e conflito mundial

Por Deutsche Welle

Ilustração Duas coisas são indispensáveis aos seres humanos, não importa como ou onde vivam: água e comida – sendo que a água é também insubstituível na produção de alimentos. Quando a demanda do “ouro azul” supera a oferta, é quase certo que o resultado seja um conflito.
Em tempos de mudança climática global, um exame do crescimento demográfico e do aumento no consumo de água gera inquietação quanto ao futuro. Sobretudo porque muitos fluxos hídricos atravessam fronteiras nacionais.
O relatório da Unesco para 2003 apresenta números exatos: em todo o mundo, 263 fluxos de água atravessam os territórios de 145 Estados. Eles correspondem a 60% do volume total de água doce disponível no planeta e abastecem 40% da população mundial.
Dezenove rios atravessam mais de cinco nações fronteiriças, e projetos de represas são a principal causa de conflitos entre os países que se encontram no curso superior ou inferior dos rios. Com seu projeto Atatürk, de represar o Rio Eufrates, por exemplo, a Turquia pode literalmente fechar as torneiras da Síria e do Iraque.
Bildunterschrift: Represa Merowe, no Sudão
Desequilíbrio na África
Num estudo realizado em fevereiro de 2011, o Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), sediado em Berlim, classifica como de alto risco a situação nos rios Amurdaya e Syrdaya, da Ásia Central, e no Nilo. Um dos autores dessa análise é Tobias von Lossow. Em entrevista à Deutsche Welle, o politólogo apontou para as décadas de conflitos entre o Egito e o Sudão, de um lado, e a Etiópia, do outro:
“Também por razões econômicas, até o momento a Etiópia não podia desenvolver plenamente seu potencial de utilização da água, seja na irrigação agrária, seja na produção de energia. Isso, porém, mudou basicamente com as novas possibilidades de financiamento e o apoio da China nos últimos anos.”
O Nilo, rio mais extenso da África, percorre quase 7 mil quilômetros do centro e leste do continente até o Mar Mediterrâneo e atravessa dez países – marcados por uma inegável assimetria na utilização de suas águas.
Divisão desigual
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift:  Represa de Assuan, Egito
Os Estados localizados no curso superior do rio possuem o maior volume da água diponível, mas é no curso inferior que ela é mais consumida, sobretudo pelo país que menos dispõe do “ouro azul”, o Egito. Tal situação está fixada num acordo de 1929, negociado ainda pela Inglaterra, potência colonial na época. Traduzido em termos atuais: o Egito pode usar 66% da água do Rio Nilo, e o Sudão, 18%.
Antes, quando as nações no curso superior do Nilo pouco utilizavam sua riqueza hidrográfica, o potencial de conflito era reduzido. Hoje em dia, contudo, a Etiópia, em especial, mas também Ruanda, Quênia e Uganda querem utilizar o precioso recurso para o próprio desenvolvimento, e pleiteiam novas regras.
O anúncio do governo etíope de que passaria a usar mais a água do Nilo na própria agricultura e na produção de energia já provocou ameaças indiretas de guerra por parte dos egípcios. Consta, por exemplo, que o ex-presidente Anwar Sadat teria declarado: “O único motivo que poderia levar o Egito mais uma vez à guerra seria a água”. Até agora, instâncias multilaterais, como a Iniciativa da Bacia do Nilo, tiveram pouco sucesso em harmonizar os diferentes interesses dos países rio acima e rio abaixo.
China x Índia
Na Ásia, por outro lado, o choque é entre duas nações emergentes: China e índia. A China tem uma sede tremenda e abriga as nascentes de alguns dos maiores e mais importantes rios da região, como o Mekong e o Brahmaputra. Pequim planeja gigantescos projetos hídricos, a fim de levar a água do norte até o seco sul. Nesse contexto, a Índia suspeita que a China também esteja desviando água do Himalaia.
Jagarnath Panda é perito em assuntos chineses do Institute of Defense Studies and Analyses, em Nova Deli. Como revelou à Deutsche Welle, ele acredita que a água possa se tornar um problema central entre a Índia e a China. “Os chineses negam em alto e bom som a tese de que planejem desviar água. Mas nós sabemos que eles se ocupam de projetos com esse fim.”
Segundo Panda, nos últimos anos, acima de tudo uma coisa mudou: “Em ambos os países, a opinião pública começou a falar do tema ‘água’. As pessoas já compreenderam: nem a questão fronteiriça, nem o papel da China ou da Índia em âmbito regional ou global, mas sim a água será o maior problema entre os dois países nos próximos anos”.
Bildunterschrift: Rio Mekong nasce na China e passa por Mianmar, Laos, Tailândia e Camboja até chegar ao Vietnam
Guerra pouco prática
De fato, a água é um dos elementos de diversos conflitos. Entretanto, Von Lossow considera distante a possibilidade de haver uma guerra pelos direitos da água, até porque isso seria bastante difícil, do ponto de vista da estratégia militar, a começar por considerações absolutamente práticas:
“Quem bombardeia uma represa fica de frente para a inundação rio abaixo”, observa o perito do SWP. Além disso, a água é pesada e tem um valor econômico relativamente baixo, de modo que não se pode transportá-la como diamantes ou petróleo bruto.
Devido a limitações topográficas naturais, para se controlar uma fonte de água seria necessário ocupar todo o território de uma bacia hidrográfica, o que, a longo prazo, assegura o politólogo Tobias von Lossow, seria simplesmente caro demais.
Do: Correio do Brasil
*OCarcará

Charge do Dia

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FHC apoia a faxina que ele nunca fez


 

Segundo o jornalista Kennedy Alencar, FHC parece que está empolgado com a alardeada operação “faxina” da presidenta Dilma Rousseff. “Nas conversas reservadas com dirigentes do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem defendido que o partido dê apoio à presidente Dilma Rousseff no combate à corrupção”, informa o repórter na Folha online.
Ainda segundo seu relato, “o ex-presidente conversou sobre o assunto com os governadores Geraldo Alckmin (SP) e Antonio Anastasia (MG). A recomendação foi transmitida ao senador mineiro Aécio Neves, hoje o primeiro da fila tucana para disputar o Palácio do Planalto em 2014. A presença de FHC no encontro de Dilma com governadores do Sudeste, na quinta (18/08), em São Paulo, foi calculada para se transformar num gesto de apoio à presidente”.
FHC nunca enfrentou a corrupção
A excitação do grão-tucano deveria gerar alguma desconfiança no Palácio do Planalto – ao menos, entre os seus ocupantes mais tarimbados, que não confundem assessoria com puxa-saquismo. Afinal, FHC nunca foi um opositor civilizado de Lula ou de Dilma. Pelo contrário. Desde que se converteu ao neoliberalismo, ele sempre articulou as forças de direita contra qualquer projeto de esquerda no país. Egocêntrico e elitista, ele nunca tolerou o êxito de um governo presidido por um peão, um operário.
Sua cruzada contra a corrupção e seu apoio entusiástico à “faxina” no governo Dilma só iludem os ingênuos e os pragmáticos que infestam a política nativa – que desprezam a luta de classes e não têm visão sobre as batalhas futuras. Quem é FHC para falar em combate à corrupção? Uma breve lembrança do que foi o seu longo reinado talvez sirva de alerta aos ingênuos que não percebem a manobra do tucano para desgastar o atual governo, paralisá-lo, implodir sua base de apoio e criar fissuras entre Dilma e Lula.
Os indícios das roubalheiras tucanas
Para aliciar sua base de apoio no Congresso Nacional e manter a governabilidade, FHC sempre foi complacente com a corrupção. A aliança principal do grão-tucano foi com o ex-PFL, atual DEM – e sabe-se lá qual será o novo nome da organização fisiológica que sucumbe na crise. Um dos líderes de FHC no parlamento foi o demo José Roberto Arruda, o mesmo que foi pego com a mão na botija no esquema do mensalão do governo do Distrito Federal. A lista de indícios de roubalheira no governo FHC foi grande:
Denúncias abafadas: Já no início do seu primeiro mandato, em 19 de janeiro de 1995, FHC fincou o marco que mostraria a sua conivência com a corrupção. Ele extinguiu, por decreto, a Comissão Especial de Investigação, criada por Itamar Franco e formada por representantes da sociedade civil, que visava combater o desvio de recursos públicos. Em 2001, fustigado pela ameaça de uma CPI da Corrupção, ele criou a Controladoria-Geral da União, mas este órgão se notabilizou exatamente por abafar denúncias.
Caso Sivam. Também no início do seu primeiro mandato, surgiram denúncias de tráfico de influência e corrupção no contrato de execução do Sistema de Vigilância e Proteção da Amazônia (Sivam/Sipam). O escândalo derrubou o brigadeiro Mauro Gandra e serviu para FHC “punir” o embaixador Júlio César dos Santos com uma promoção. Ele foi nomeado embaixador junto à FAO, em Roma, “um exílio dourado”. A empresa ESCA, encarregada de incorporar a tecnologia da estadunidense Raytheon, foi extinta por fraude comprovada contra a Previdência. Não houve CPI sobre o assunto. FHC bloqueou.
Pasta Rosa. Em fevereiro de 1996, a Procuradoria-Geral da República resolveu arquivar definitivamente os processos da pasta rosa. Era uma alusão à pasta com documentos citando doações ilegais de banqueiros para campanhas eleitorais de políticos da base de sustentação do governo. Naquele tempo, o procurador-geral, Geraldo Brindeiro, ficou conhecido pela alcunha de “engavetador-geral da República”.
Compra de votos. A reeleição de FHC custou caro ao país. Para mudar a Constituição, houve um pesado esquema para a compra de voto, conforme inúmeras denúncias feitas à época. Gravações revelaram que os deputados Ronivon Santiago e João Maia, do PFL do Acre, ganharam R$ 200 mil para votar a favor do projeto. Eles foram expulsos do partido e renunciaram aos mandatos. Outros três deputados acusados de vender o voto, Chicão Brígido, Osmir Lima e Zila Bezerra, foram absolvidos pelo plenário da Câmara. Como sempre, FHC resolveu o problema abafando-o e impedido a constituição de uma CPI.
Vale do Rio Doce. Apesar da mobilização da sociedade em defesa da CVRD, a empresa foi vendida num leilão por apenas R$ 3,3 bilhões, enquanto especialistas estimavam seu preço em ao menos R$ 30 bilhões. Foi um crime de lesa-pátria, pois a empresa era lucrativa e estratégica para os interesses nacionais. Ela detinha, além de enormes jazidas, uma gigantesca infra-estrutura acumulada ao longo de mais de 50 anos, com navios, portos e ferrovias. Um ano depois da privatização, seus novos donos anunciaram um lucro de R$ 1 bilhão. O preço pago pela empresa equivale hoje ao lucro trimestral da CVRD.
Privatização da Telebras. O jogo de cartas marcadas da privatização do sistema de telecomunicações envolveu diretamente o nome de FHC, citado em inúmeras gravações divulgadas pela imprensa. Vários “grampos” comprovaram o envolvimento de lobistas com autoridades tucanas. As fitas mostraram que informações privilegiadas foram repassadas aos “queridinhos” de FHC. O mais grave foi o preço que as empresas privadas pagaram pelo sistema Telebrás, cerca de R$ 22 bilhões. O detalhe é que nos dois anos e meio anteriores à “venda”, o governo investiu na infra-estrutura do setor mais de R$ 21 bilhões. Pior ainda, o BNDES ainda financiou metade dos R$ 8 bilhões dados como entrada neste meganegócio. Uma verdadeira rapinagem contra o Brasil e que o governo FHC impediu que fosse investigada.
Ex-caixa de FHC. A privatização do sistema Telebrás foi marcada pela suspeição. Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-caixa das campanhas de FHC e do senador José Serra e ex-diretor do Banco do Brasil, foi acusado de cobrar R$ 90 milhões para ajudar na montagem do consórcio Telemar. Grampos do BNDES também flagraram conversas de Luiz Carlos Mendonça de Barros, então ministro das Comunicações, e André Lara Resende, então presidente do banco, articulando o apoio da Previ para beneficiar o consórcio do Opportunity, que tinha como um dos donos o economista Pérsio Arida, amigo de Mendonça de Barros e de Lara Resende. Até FHC entrou na história, autorizando o uso de seu nome para pressionar o fundo de pensão. Além de “vender” o patrimônio público, o BNDES destinou cerca de 10 bilhões de reais para socorrer empresas que assumiram o controle das estatais privatizadas. Em uma das diversas operações, ele injetou 686,8 milhões de reais na Telemar, assumindo 25% do controle acionário da empresa.
Juiz Lalau. A escandalosa construção do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo levou para o ralo R$ 169 milhões. O caso surgiu em 1998, mas os nomes dos envolvidos só apareceram em 2000. A CPI do Judiciário contribuiu para levar à cadeia o juiz Nicolau dos Santos Neto, ex-presidente do TRT, e para cassar o mandato do senador Luiz Estevão, dois dos principais envolvidos no caso. Num dos maiores escândalos da era FHC, vários nomes ligados ao governo surgiram no emaranhado das denúncias. O pior é que FHC, ao ser questionado por que liberara as verbas para uma obra que o Tribunal de Contas já alertara que tinha irregularidades, respondeu de forma irresponsável: “assinei sem ver”.
Farra do Proer. O Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional (Proer) demonstrou, já em sua gênese, no final de 1995, como seriam as relações do governo FHC com o sistema financeiro. Para ele, o custo do programa ao Tesouro Nacional foi de 1% do PIB. Para os ex-presidentes do BC, Gustavo Loyola e Gustavo Franco, atingiu 3% do PIB. Mas para economistas da Cepal, os gastos chegaram a 12,3% do PIB, ou R$ 111,3 bilhões, incluindo a recapitalização do Banco do Brasil, da CEF e o socorro aos bancos estaduais. Vale lembrar que um dos socorridos foi o Banco Nacional, da família Magalhães Pinto, a qual tinha como agregado um dos filhos de FHC.
Desvalorização do real. De forma eleitoreira, FHC segurou a paridade entre o real e o dólar apenas para assegurar a sua reeleição em 1998, mesmo às custas da queima de bilhões de dólares das reservas do país. Comprovou-se o vazamento de informações do Banco Central. O PT divulgou uma lista com o nome de 24 bancos que lucraram com a mudança e de outros quatro que registraram movimentação especulativa suspeita às vésperas do anúncio das medidas. Há indícios da existência de um esquema dentro do BC para a venda de informações privilegiadas sobre câmbio e juros a determinados bancos ligados à turma de FHC. No bojo da desvalorização cambial, surgiu o escandaloso caso dos bancos Marka e FonteCindam, “graciosamente” socorridos pelo Banco Central com 1,6 bilhão de reais. Houve favorecimento descarado, com empréstimos em dólar a preços mais baixos do que os praticados pelo mercado.
Sudam e Sudene. De 1994 a 1999, houve uma orgia de fraudes na Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), ultrapassando R$ 2 bilhões. Ao invés de desbaratar a corrupção e pôr os culpados na cadeia, FHC extinguiu o órgão. Já na Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), a farra também foi grande, com a apuração de desvios de R$ 1,4 bilhão. A prática consistia na emissão de notas fiscais frias para a comprovação de que os recursos do Fundo de Investimentos do Nordeste foram aplicados. Como fez com a Sudam, FHC extinguiu a Sudene, em vez de colocar os culpados na cadeia.
Altamiro Borges
 

sábado, agosto 20, 2011

A democracia norte-americana sofreu um golpe de Estado encoberto



Golpe de Estado nos Estados Unidos

“O que às vezes se passa por alto em nossa situação é o fator propósito: a democracia norte-americana sofreu um golpe de Estado encoberto. Seus autores ocupam os postos mais altos dos negócios e das finanças, seus leais servidores dirigem as universidades, os meios de comunicação e grande parte da cultura, e igualmente monopolizam o conhecimento profissional científico e técnico”, escreve Norman Birnbaum em artigo publicado no jornal espanhol El País.

Publicado em português na página do IHU Online/Unisinos. A tradução é do Cepat.

Já se escreveu muito sobre a crise dos Estados Unidos. Aludiu-se à complacência e ao fracasso de nossas elites, à ignorante fúria de um segmento de cidadãos espiritualmente plebeus, à importância intelectual e política de boa parte do resto, à ausência de uma conexão entre uma intelligentsia crítica e os movimentos sociais que no passado deram suas ideias à esfera pública, à fragilização da própria esfera pública e à consequente atomização do país. Esses diagnósticos são corretos. O que às vezes se passa por alto em nossa situação é o fator propósito: a democracia norte-americana sofreu um golpe de Estado encoberto. Seus autores ocupam os postos mais altos dos negócios e das finanças, seus leais servidores dirigem as universidades, os meios de comunicação e grande parte da cultura, e igualmente monopolizam o conhecimento profissional científico e técnico.

Seus dispostos seguidores se encontram em toda parte, especialmente entre aqueles que sentem que são ignorados, inclusive desprezados, e experimentam uma desesperada necessidade de compensação íntima. Incapazes de atuar de forma autônoma, negam em voz alta que sejam dominados e explorados. Identificam como inimigos os grupos sociais a serviço do bem público, cuja existência rechaçam como princípio. Sua hostilidade ao Governo é tão grande quanto sua falta de conhecimento de como este realmente funciona, ou a história de seu próprio país.

Evidentemente, há uma substancial coincidência entre aqueles que deram sua aquiescência ao golpe de Estado e os muitos que pretendem a recristianização do país, que acreditam que o aborto e a homossexualidade são ao mesmo tempo crimes civis e pecados religiosos, que respondem à imigração com xenofobia. Esses são os brancos, principalmente no sul e no oeste, e nas cidades menores, que ficaram escandalizados pela eleição de um presidente afro-americano e que se criaram (e ainda se criam) muitas das falsidades sobre sua pessoa, desde o seu nascimento no Quênia até sua adesão ao islamismo.

Os iniciadores do golpe de Estado são, geralmente, muito sofisticados para essas vulgaridades, embora indubitavelmente não sejam muito escrupulosos na hora de utilizá-las para conseguir o apoio para os seus objetivos primários. Que não são outros senão reduzir as funções e poderes redistributivos e reguladores do Estado norte-americano, revogando, privatizando ou, ao menos, limitando importantes componentes do nosso Estado de bem-estar: Seguridade Social (pensões universais), Medicare (seguro público de saúde para os maiores de 65) e todo um espectro de benefícios e serviços nos campos da educação, emprego, saúde e na manutenção de ingressos. A possibilidade de uma regulação ambiental em grande escala, ou de um projeto para reconstruir toda a infra-estrutura de modo que seja mais compatível com um futuro benévolo com o meio ambiente, provoca igualmente sua sistemática oposição. Os obstáculos administrativos e legais à atividade sindical são outra parte do programa.

Os esforços do capital politicamente organizado para manter o controle do sistema político são tão velhos quanto a república norte-americana. De modo algum excluíram a utilização do Governo em muitas ocasiões em todas as épocas da nossa história. O que distingue a recente situação é a propagação explícita e resoluta de uma ideologia que declara o mercado como superior ao Estado, que busca transferir para o setor privado funções governamentais até agora reservadas ao Estado, e que não permite que a consideração de um maior interesse nacional (como no comércio com outros países) interfira nos interesses imediatos do capital.

A obra de inumeráveis economistas, as simplificações de um grande número de comentaristas e jornalistas, a intromissão nos sistemas escolares e sua manipulação, e, sobretudo, o fato de que os meios de comunicação e o que temos de discurso público fiquem excluídos da discussão séria de alternativas, culminaram na fervorosa obsessão com que os congressistas republicanos fizeram sua a crença de que os déficits orçamentários são uma ameaça para o país.

Em 1952, John Kenneth Galbraith publicou sua primeira obra-primaCapitalismo americano: o conceito do poder compensatório (Novo Século Editora). Nela sustentava que a busca do benefício sem limite, a cegueira de curto prazo do capitalismo, havia sido corrigida pelo Governo, apoiado por uma cidadania consciente de seus diferentes interesses, por grupos de interesse público, por sindicatos e por um Congresso (e Governos estatais) com um grau notável de independência política.

Em 1961, Galbraith pediu ao presidente Kennedy que não o nomeasse chefe do Conselho de Assessores Econômicos: era um alvo muito visível. Durante alguns anos o ponto de vista de Galbraith seguiu sendo convincente. No entanto, também foi se produzindo um gradual enfraquecimento das forças compensatórias com as quais Galbraith contava para tornar permanente o new deal; e um enfraquecimento, assim mesmo, das elites capitalistas com maior formação e visão de longo prazo, dispostas a aceitar um contrato social.

As razões deste duplo declive seguem sendo objeto de discussão para os historiadores. A absorção dos recursos materiais e morais do país pela guerra fria, que se converteu em um fim em si mesma, desempenhou certamente um papel. Tornou-se muito mais difícil desenvolver programas de reconstrução social em grande escala pela composição racial dos pobres nos Estados Unidos, embora os brancos – de modo geral, brancos do sul – fossem uma maioria entre eles. A própria prosperidade proporcionada pelo contrato social do pós-guerra socavou a combatividade e a militância da força de trabalho sindicalizada, que ficou relativamente indefesa diante da competição da indústria estrangeira e da fuga do capital norte-americano para outros países.

Os efeitos que essas mudanças estruturais tiveram foram magnificados à medida que o capital financeiro (o reino da pilhagem e a liquidação de empresas produtivas, dos derivados, dos hedge funds e da especulação arcana) se fez quantitativa e qualitativamente dominante.

Este tipo de capitalismo, especialmente, requeria a abstinência política do Estado, que somente se poderia obter se pouco a pouco se comprasse o Estado. O novo capitalismo fez sérios avanços no Partido Democrata, reduzindo a uma insistente atitude defensiva os herdeiros do new deal que havia em seu interior. Quando, em 2008, o presidente Obama mobilizou milhões de afro-americanos, latinos, jovens e velhos, mulheres e os restos do movimento sindical, não foi menos solícito com o novo capitalismo, que tinha muito menos votos, mas muito mais dinheiro. A singular insignificância das iniciativas da Casa Branca em 2009, 2010 e este ano em matéria de estímulo econômico, emprego e reconstrução nacional poderiam ser explicadas como um reflexo do real equilíbrio de forças políticas do país.

Deixando de lado o furor provocado pelo Tea Party e pelo limite da dívida, a explicação também poderia estar nessa quinta coluna constituída pelos agentes ideológicos e políticos do novo capitalismo, que está ocupando a própria Casa Branca. Deste ponto de vista, a extraordinária boa disposição do presidente ao acordo mútuo não é o resultado de um novo alinhamento da política norte-americana, mas uma parte previsível do mesmo

(*) Norman Birnbaum é professor emérito na Faculdade de Direito da Universidade de Georgetown.


Fotos: The Mad Tea Party (2005) Ilustração de Mark Bryan (EUA) 


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